A Grande Maçã.
New York.
Terra das oportunidades.
Quando eu era pequeno, via o natal e a passagem de ano pela tv. Não conseguia entender a diferença de horários entre os locais que via pela tela e ria sobre como em New York podia ser noite, se em Seul já era dia. Mesmo a estranheza da contagem do tempo não conseguia tirar para mim o brilho da festa de ano novo aos pés do Empire State. Todos os telões coloridos e as pessoas cantando juntas me entusiasmava, e então começava a contar.
DEZ!
Eu imagino uma pequena criança que se levanta da cama escondido dos pais e corre até a janela. As cores a impressionam tanto quanto a mim e minha tenra idade.
NOVE!
O idoso diminui o volume de seu aparelho auditivo irritado com tanto barulho desnecessário. Bufa e toma seu champanhe aos poucos, fitando a todos aqueles corpos jovens vibrarem por algo tão efêmero.
OITO!
O pai e a mãe seguram as mãos nervosos com o futuro de seu próprio amor quebrado. Seus olhares se cruzam com cumplicidade e prometem o que nunca irá se realizar.
SETE!
O tio está meio bêbado com a taça cheia na mão. Seu olhar viaja pelos convidados até a esposa do irmão. Seu sorriso é triste e sarcástico. Ele vira a bebida enquanto a contagem continua.
SEIS!
O adolescente está no quarto com a prima aos beijos, meio esbaforidos, meio babados, eles não se importam com os gritos do andar de baixo. A paixão queima seus corpos nus que se entregam um ao outro para se arrepender na manhã do ano novo.
CINCO!
A tia está compenetrada, pedindo a qualquer Deus que lhe tire da solidão e da seca sexual em que está a anos. Sua alma velha pesa em seu corpo jovem e já lhe fadiga caminhar sozinha. O irmão de seu cunhado parece bêbado o suficiente para uma diversão momentânea.
QUATRO!
A adolescente está no terraço do apartamento, com seu binóculo apontado para o céu. Ajeita os óculos esperando pelo espetáculo de cores que irá presenciar. Sua contemplação é interrompida pelo espirro do irmão na sacada ao lado. Um sorri para o outro em um acordo selado com o silêncio.
TRÊS!
Um mendigo anda pela rua entoando canções esquecidas. As pessoas dizem que ele é louco, mas entre nós todos sua mente é a que mais atina, na festa ele é o único que está realmente feliz. Feliz por um ano novo e uma oportunidade a mais para acertar ou errar.
DOIS!
No coração da grande maçã, há um fantasma. Seus olhos brilham quando fita a multidão, o Empire State e as luzes dos letreiros. As pessoas fingem que não o veem, pois não querem ter a noite estragada por um desconhecido. Ele não se importa, contanto que elas lhe emprestem um pouco de sua felicidade e dancem sob as cores para sua alegria.
UM!
As luzes subiam aos céus e eu em minha mente de infante pensava nunca ter visto nada mais lindo e deslumbrante em toda a minha vida. Meu maior desejo naquele momento era um dia ir a New York e assistir ao show de fogos de artifícios aos pés do Empire State.
Minha mãe bagunçou meus cabelos escuros e com seu sorriso carinhoso prometeu que brevemente eu poderia visitar New York.
Tenho certeza que essa é a promessa que ela mais odiou cumprir.
- Sehun! - Meus devaneios são interrompidos pelo advento de Baekhyun. Sua respiração é pesada e suas roupas brancas, antes tão alinhadas, estão bagunçadas e molhadas de suor. Suas mãos seguram meus braços e seu olhar e cheio de medo. - Você é louco? Sabe que não pode sair do quarto.
Meu corpo magro finalmente cede e o enfermeiro segura meu corpo com dificuldade. Seus gritos aumentam, mas o som começa a sair mais abafado, e as figuras se embaçam diante dos meus olhos. Ao longe eu vejo uma figura vestida de negro, sua face é como a de uma criança e seus olhos transbordam inocência. Seus lábios se movem, ele está me chamando, mas sinto o toque de Baekhyun me puxar e me obrigar a encara-lo.
- Sehun. Você conseguiu. Viu as cores, mas por favor, eu imploro, não desista ainda! Eu estou com você! Eu estou com você, Sehun! - Os olhos castanhos de Baekhyun estão cheios de lágrimas, sua voz está quebrada, enquanto outros enfermeiros se aproximam e as pessoas abrem espaço para a maca que surge para me buscar.
- Não, Baek. Essas cores são falsas. Tudo aqui é falso. Eu quero ver as cores verdadeiras. - Balbucio.
- Sehun. - A voz dele é chorosa e sua mão esmaga a minha com força - Por favor.
- Baek - chamo - você pode me mostrar as cores verdadeiras?
- Todas elas são verdadeiras, Hunnie. Só significam coisas diferentes para cada um. - Não sei o que responder a ele. Do meu lado está novamente o rapaz de negro. Ele parece jovem e frágil. Seu sorriso é puro e suas mãos delicadas seguram minha. Eu sei que Baekhyun não o vê. Os dois entram na ambulância comigo em silêncio, mas os olhos dos dois estão cheios de palavras e transbordam seus pedidos desesperados.
"Fique comigo"
Meus olhos se fecham e minha mente parece silenciosa. Busco o mais fundo que posso e meus neurônios ignoram minha indagação. Eu já sei a resposta, mas tenho medo.
Baekhyun está rezando.
Ele não acredita em Deus.
Sua voz rouca e desesperada não para mais um segundo, pedindo por ajuda.
Ajuda para mim.
Minha mãe fez isso a vida toda e nunca funcionou.
"Sehun"
A voz do rapaz de negro invade minha mente. Eu sei que é a voz dele, mas não sei como. Nenhum som saiu de sua boca, eu senti sua voz em minha mente, entorpecendo meus sentidos e enchendo o vazio em mim.
"Está na hora"
"Seu nome. Por favor. Apenas diga seu nome primeiro."
Ele sorri. Seus lábios se repuxam e forma um coração.
"Kyungsoo"
- Kyungsoo. - Balbucio testando seu nome em minha língua.
"Você tem que se despedir"
Baekhyun ainda está rezando. Meu corpo sacoleja com o movimento do veículo e a dor se espalha cada vez mais pelo meu corpo. Solto um gemido tentando resistir ao desconforto e viro o rosto para fitar o enfermeiro.
- Eu preciso... preciso...
- Shiu. Você tem que se abster. Você vai conseguir. - Ele estava dizendo mais para si mesmo do que para mim. Seu rosto estava cheio de angústia e sua voz quebradiça parecia mais sem vida do que eu próprio.
- Baek... Amo...
- Sehun - ele choraminga apertando minha mão ao seu peito.
- Amo você, não esqueça. - O choro dele se intensifica.
- Hunnie, eu também amo você.
Eu sei que morri sorrindo. Me certifiquei disso. Kyungsoo segurou minha mão naquele dia e me guiou por um dos caminhos mais deslumbrantes que já andei. Pelo tempo em que ficamos juntos, seu sorriso sempre foi o mesmo, mas seus olhos pareciam a cada dia mais brilhantes.
- Eu esperei por você desde o início de tudo. - Ele sussurrou em meu ouvido no primeiro dia. Eu sorri para Kyungsoo também e, pelo para sempre em que ficamos juntos, fomos felizes e mesmo que minha mente vagasse por um nome que se perdeu na ampulheta dos anos que se passaram. Ele nunca perguntou e fico grato por isso.
Ao lado de Kyungsoo, entendi o quão delicada e inocente pode ser a morte, por mais brutal que ela pareça primeiramente aos nossos olhos. Seu toque é na verdade quente e seus braços aconchegantes. Ninguém nunca poderá, como eu, testemunhar com veracidade sobre estas coisas.
Por favor.
Diga a Baekhyun que eu estou feliz e que ele será feliz também. Basta apenas seguir, procurar a sua cor verdadeira.
Ah, a grande Maçã.
Kyungsoo está bebericando seu café, enquanto segura minha mão. O fluxo de pessoas era intenso e eu podia ver o fio de suas vidas se desfazendo cada vez mais rápido. Suas vozes são altas e emboladas em si mesmas, assim como seus destinos que cruzavam-se fazendo nós e mais nós em seus fios.
Baekhyun está vindo pela calçada. Eu reconheço o rapaz ao seu lado como seu vizinho Yixing, suas mãos estão entrelaçadas. Kyungsoo aperta a minha e sorrio para ele, satisfeito.
As luzes do ano novo tocam o céu novamente, gritos de euforia enchem o ar e as cores preenchem o céu opaco da cidade. Mais uma oportunidade para acertar ou errar nos foi dada.
Vielen Dank für das Lesen!
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