Uma mãe desolada...
Perambula atordoada,
verso a rampa do Planalto,
Moradora indignada da Ceilândia Brava,
como tantos que sonharam
numa vida melhor na capital inventada,
Ali encontra um velho cego,
Sentado no único banco da praça
Ornado por uma viola,
E chapéu de palha
Ela, sem forças...senta-se ao seu lado..
E lhe diz:
...Eis aqui uma mãe ferida
Seu filho único, morto no assalto
Do ônibus da madrugada!
Seus passos a levaram solitária
Ao encontro do Gigante da praça
Do candango de ferro
Dos poderes desta grande Brasilis,
Ela, armada de uma rosa branca,
Lhe conta emocionada a vida
Do filho amado que a deixou,
Obra de um tiro que partiu
Seu coração e derramou Sangue
Na avenida da cidade planejada.
..A quem posso pedir auxílio?
Sussurra ao vento do cerrado.
Peço apenas um consolo,
Um pedido de retorno...
Ontem meu filho me deixou,
Sem se despedir de mim.
Colocou uma roupa surrada,
Ai fiquei brava com ele,
Mas apenas sorriu,
Deixou de lado os sapatos novos,
Usou os mais feios,
Queria guardar para impressionar
A namorada no final de semana.
Ele partiu e nem mesmo me deu um beijo,
Nem mesmo um olhar final de despedida,
Um cheiro ou mesmo um toque,
Um abraço, aquele que tanto lembro
De quando era criança no meu colo,
Que saudade...
E aqui meu Deus,
Um filho teu partiu de vez
Sem criar coragem de dizer a sua mãe
Que não voltaria mais,
Já que seu destino estava marcado.
Meu filho me deixou de vez,
Apenas ao acordar pediu
Toni Martin
Logo um pouco de café saboreou,
E nem mesmo comeu,
Estava atrasado,
A cidade não perdoa,
As ruas fervem pela manhã,
E sempre me falava que dormia
Um pouco no Ônibus.
O sono que se sonha e se lembra ao acordar...
Um dia contou-me
O sonhou precioso:
Que me daria uma casa nova,
Linda, perfeita, de jardim de rosas
E quartos com banheiros como sempre
Lhe falava que sonhara ter.
Neste sonho somente me entristeceu
Ao escutar dizer:
Mãe um dia farei isto se tornar realidade!
E hoje, ele partiu sem completar a promessa!
Para o diabo a casa!
Eu quero você meu amor!!!
Volta te peço!
A quem suplicar a volta do meu menino?
A Deus?
A nossa pátria que permite tanta violência?
...Sonolenta embriagada pela alba,
Abri a porta para nunca mais ser a mesma,
A Carta
João da padaria tomará coragem,
E me despertará para a notícia
Que destruiu-me por completo.
O silêncio marcou os minutos seguintes
Apenas dor profunda, coração ofegante
Mal lembro se saí vestida descente
O que ainda tinha em mim,
levei comigo.
Dor muita dor,
Profunda ferida verso a cena do crime...
Não pude reconhecer seu rosto,
Ninguém me deixou vê-lo,
O ônibus que pegava era amarelo e branco
Sempre às 5:45,
Rasgava a alvorada do cerrado,
Essa lotação que gostava de dormir
No último banco..
Parado estava no meio da estrada,
Todos de lado de fora,
As luzes piscavam,
Policia e Samu ao lado.
Quando sussurrei seu nome,
Marco...
Acordei desesperada,
Do pesadelo verdade,
Meu coração parou,
Eu morri de vez.
Ele, deitado no banco de trás,
Coberto por um pano branco contornava
Aquele pequeno que nasceu de mim,
Que tanto o amo...
Reconheço a sua silueta,
Uma mancha vermelha
Marcava a sua cabeça.
Parecia dormindo,
Parecia tão calmo,
Suas mãos lindas estavam
Pingando gotas de sua vida,
Um pequeno lago se formou
No corredor do ônibus.
Não senti nada, apenas peguei
Um pano a recolher seu
Sangue derramado...
O que mais poderia fazer?
Minha alma não tem mais alma,
Apenas um corpo sem corpo,
Um ser sem ser,
Pedindo a fome de amor,
Aquele por quem sempre lutei.
...Sinto vazio em mim,
Por isto venho aqui!
A praça de tantos poderes
hoje se cala,
O som tórrido do agreste se faz presente
Percebo hoje aqui da realidade macabra,
Da falta de flores,
Do verde perfumado,
De gente sem destino...
A praça hoje me consola,
Feita de pedra e aço,
É isso que sinto hoje,
Sou esqueleto vivo
Que esqueceram de enterrar,
Morta, destruída,
Sentenciada a sofrer pela eternidade.
Meus Deus,
Por que não cuidaste do meu filho?
Ele iria ao trabalho,
Um cidadão de bem,
Um filho da pátria, que tanto amava tuas cores.
Por quê não cuidastes de mim?
Que tanto lavei os corredores do senado,
Confesso:
Ria do modo engraçado
De comandar o país,
Dos vaidosos de palitó, dos que sempre
Riram do povo trabalhador...
Que se dane! gente maldita,
Povo é povo,
Nascem como vermes
Sempre estarão reclamando.
Escutei um dia, do senador da Bahia....
Ontem meu filho se foi,
Deixou a cama para ganhar a vida,
Nem mesmo provou o bolo que fiz para ele.
Hoje, soube que o ônibus do crime,
Corre de novo nas vias da agonia...
Limparam o seu sangue,
Voltou a rodar madrugada afora,
Mais pessoas dormem,
Como o meu Marco na alvorada,
Verso a imprecisão da vida,
Ele dormiu
Não acordou mais.
Segundo os que estavam ao seu lado,
No momento do disparo da bala,
Abriu os olhos e disse: Mãe!
logo se calou e seu rosto banhou-se em sangue.
Há mais tristeza que me consola,
É saber que outra mãe também sofre,
Pela insensatez do seu filho de menor
Que atirou assustado,
sem querer, segundo ele,
Queria a grana do cobrador,
Mas o medo da ação
Lhe fez coçar o dedo,
Apertou o revolver por engano,
Seu gatilho criou a bala vida.
Dizem que a projétil
Correu pelo ônibus
Bateu duas vezes no teto e chão
Até atingir ele,
Meu filho abriu os olhos
Disse: Mãe!
Meu Deus onde estava
Nesse momento?
Por quê não pedi para ele
Me ajudar na cozinha?
Maldita hora que o acordei
Para o trabalho!
Ele queria ficar, estava cansado,
Queria dormir, “Sonho Bom” resmungou...
Eu que pedi que levanta-se,
A vida corre mocinho!
Deixa de ser preguiçoso! lhe disse,
Levanta!
Ah se pudesse voltar o Tempo,
Talvez fui eu a culpada,
Apenas Eu!
Sem prévio aviso
a mulher se apartou do homem cego,
Da praça, do poder,
Rumo a vida que lhe restava..
Vielen Dank für das Lesen!
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