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Byun Baekhyun, um professor solitário de literatura, tem sua vida virada de cabeça para baixo quando sua melhor amiga grávida falece durante o parto de seu bebê, rejeitado pelo pai biológico e pela própria família dela. Baekhyun era literalmente a única pessoa que havia restado para ficar com o bebê recém-nascido. Com pouco espaço em seu apartamento, muda-se para um lugar melhor, não esperando que seu vizinho de porta vá ensaiar com sua banda indie todo sábado à noite. Desesperado com o sono desregulado do filho, o professor precisa tomar providências. E enfrentar Park Chanyeol e seu charme desajeitado com certeza não deveria fazer parte dessas providências. Querubim é a doce história de Kyubin, um bebê muito amado, que acaba fazendo florescer um amor inesperado.


Fan-Fiction Bands/Sänger Nur für über 18-Jährige.

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Sopa de legumes

Sábado, 14 de janeiro de 2017

É... não sou muito bom na frente das câmeras, e você vai perceber isso com o tempo. Meu negócio é escrever, mas decidi gravar porque... porque acho que você vai aproveitar melhor assim. Meu nome é Byun Baekhyun, sou professor de literatura e melhor amigo de sua... de sua mãe. Sua mãe, Son Chaeyoung, faleceu há uma semana na mesa de parto, enquanto você nascia. Então, estamos juntos, eu e você, há uma semana, e durante esses dias que se passaram eu não fiz ideia do que estava fazendo. Na verdade, na maior parte do tempo eu chorei junto com você, Kyubin. Choro quando acordo, choro quando vou dormir. Estou chorando agora, pensando na sua mãe, enquanto você dorme no seu novo quarto. Nos mudamos pra esse apartamento um pouco maior, foi o que eu consegui pagar, porque o meu antigo mal tinha espaço pra mim. Você vai precisar de espaço pra brincar, então cá estamos. Não sou seu pai biológico, mas acompanhei sua trajetória desde quando você era apenas uma sementinha na barriga da sua mãe. Na verdade, eu estava com ela quando ela descobriu que você existia! Legal, não é? É, parece que estamos juntos já há um bom tempo. A única diferença é que antes existia uma linda barriga entre a gente e agora eu posso te pegar no meu colo. Apesar de eu não... não ser seu pai biológico, eu vou dar o máximo de mim pra que você seja feliz. Quando você começar a falar, pode me chamar de “pai” ou de “Baek”, pra mim tanto faz. Desde que você esteja confortável. Mas saiba que já te considero meu filho. Sua mãe contou comigo durante toda a gravidez, e tenho certeza que ela, lá do céu, acha que você não poderia estar em um lugar melhor do que no meu colo. Posso ser bastante atrapalhado de vez em quando, afinal eu não imaginaria que iria ganhar um filho, e eu realmente estou sozinho nessa, então teremos de nos ajudar. Foi uma primeira semana difícil, muito difícil mesmo, mas vai melhorar. Eu prometo que vai melhorar, Kyubin. Quero lhe deixar no final de cada depoimento uma citação, espero mesmo que você goste de literatura quando ficar mais velho, se não esses vídeos vão ser muito chatos. Essa aqui é de Charles Dickens, do livro A Loja de Antiguidades: “O próprio sol é fraco quando nasce, e ganha força e coragem conforme o dia passa”.

Até semana que vem, Bin. Nos vemos novamente aqui na escrivaninha do meu quarto-barra-escritório. Eu já te amo muito. Te amei antes de você pensar em existir nesse mundão.

P.S.: Eu acho que nosso vizinho é um pouco barulhento. Estou ouvindo risadas e música alta. Boa sorte pra gente.


- Eu sei, eu sei... papai está demorando muito, não está? – Baekhyun encarou o bebê que havia acabado de soltar gemidinhos de desconforto de dentro do carrinho que havia finalmente conseguido comprar depois daquele sofrido mês de economias. Nada de sair para jantar nas sextas-feiras. Nada de comprar livros de ficção científica, seu maior vício desde criança. Zero gastos. - É que... quero que seu quarto seja perfeito, Bin. Vai ser o quarto mais bonito do apartamento. Por isso estou dando aulas particulares aqui em casa além das aulas na universidade. Tudo vai valer a pena.

Terminou de ajeitar o colchão do berço novo em folha, partindo para as cobertas que estavam dobradas em cima da cômoda. Havia feito da suíte do pequeno apartamento o quarto de Kyubin, ficando para si com o quarto menor. Iria passar a maior parte do tempo dentro do quarto do bebê, de qualquer forma. Não fazia sentido tornar a suíte apenas sua. Havia passado o último mês inteiro decorando o ambiente com a sua temática favorita: espaço sideral. As paredes azuladas infestadas de estrelas formando constelações, o móbile do berço branco contendo todos os planetas do sistema solar. Ele próprio havia feito aquele móbile e se orgulhava muito de seu árduo trabalho, porque não era nada habilidoso para atividades artesanais.

Depois de ajeitar os cobertores fofinhos também de estampa espacial, forrando a guarda do berço com parte do conjunto, aproximou-se do carrinho-berço – leu em um livro de pais de primeira viagem que era o melhor tipo para recém nascidos – e pegou Kyubin com todo o cuidado em seus braços. O bebê resmungou baixinho, fazendo a careta que sempre fazia quando se sentia incomodado por terem interrompido seu descanso.

- Não faz caretinha pro papai, sabia que eu fico chateado? – Baekhyun sussurrou baixo, sorrindo ao perceber a expressão facial do bebê relaxar aos poucos. O nanou por alguns minutos, cantarolando as músicas calmas que lembrava – não muitas, não costumava ter tanto tempo para entender de música – e, ao perceber que Kyubin havia pegado no sono, o colocou devagar no berço e o embrulhou bem protegido daquele frio do inverno de janeiro. Soltou todo o ar que estava prendendo ao notar que havia conseguido fazê-lo pegar no sono. Não era tarefa muito fácil, primeiro porque ele era um bebê recém-nascido, de apenas um mês de vida, e segundo porque Baekhyun não tinha experiência nenhuma como pai. Na verdade, há um mês, não sabia que se tornaria pai.

Era loucura, mas era a loucura mais maravilhosa que já havia acontecido em sua vida. E, ao mesmo tempo, a loucura mais maravilhosa e trágica. Eram tantos sentimentos conflitantes pairando em torno da vida de Baekhyun e Kyubin que ele nem sabia direito como reagir. Às vezes chorava de tristeza, às vezes chorava de felicidade. Sentia-se culpado por ficar feliz, mas também se sentia culpado por ficar triste, pois Kyubin não merecia tristeza alguma. Era o bebê mais lindo e fofo que já havia nascido no planeta Terra e Baekhyun, na noite em que perdeu sua melhor amiga e também mãe biológica de Kyubin, prometeu a si mesmo e ao bebê que faria de sua vida a melhor vida possível.

Era verdade que Kyubin não havia sido planejado e que a família da mãe e do pai biológico não queriam saber dele. As únicas pessoas que possuíam algum carinho pelo bebê enquanto ele ainda era um feto em desenvolvimento haviam sido Baekhyun e a própria mãe de Kyubin. Chaeyoung havia lidado sozinha com a gravidez, ouvindo do pai biológico repetidas vezes para que abortasse. A garota nunca quis abortar e ninguém a havia apoiado em sua decisão, a não ser por Baekhyun. Quando ela se foi na mesa de parto por causa de uma hemorragia inesperada, Baekhyun chorou. Soluçou como nunca antes, dando-se conta de que sua melhor amiga havia dado sua vida por Kyubin. Naquela noite, prometeu à Chaeyoung, à Kyubin e à si mesmo que iria realizar o último desejo da melhor amiga. Kyubin iria ser a criança mais feliz no mundo. E, como não havia mais ninguém acompanhando Chaeyoung durante o parto, registrou-se no hospital como guardião do bebê.

Era seu filho agora. Aos vinte e oito anos, solteiro e no início da carreira como professor de literatura, havia adotado um bebê. Era loucura, mas era sua missão. A missão mais significativa que poderia ter surgido em sua vida.

E, imerso na paz de suas reflexões, enquanto observava o peito do bebê subir e descer por conta da respiração dentro do pijaminha, foi despertado pelo som grave e alto. Kyubin também despertou, começando a chorar alto. Baekhyun franziu o cenho, não entendo de onde aquela música alta estava vindo. Estava tão próxima que parecia vir de dentro do próprio apartamento. Levou um minuto para se dar conta de que morava em um prédio com vizinhos. Furioso, pegou Kyubin no colo, enrolando-o nas cobertas que já usava para não pegar nenhum frio, e saiu do quarto. Atravessou a sala e saiu pela porta do apartamento para o corredor. O som vinha da porta logo ao lado. Já era o quarto final de semana seguido daquela música alta. Quatro finais de semana nos quais Kyubin tinha o sono agitado, fazendo com que ele não dormisse direito à noite e acabasse por dormir de dia. E então, na noite seguinte, não iria dormir direito de novo. Aquele vizinho estava arruinando o sono de seu filho e Baekhyun já estava esgotado. Ajeitou o bebê em um dos braços na maior insegurança – ainda não tinha muita habilidade – e bateu na porta com a mão livre fechada. As batidas fizeram Kyubin chorar mais ainda, mas não tinha jeito. Tocou a campainha, intercalando com as batidas, mas ninguém apareceu. Não podia ficar por ali batendo e tocando aquela campainha por mais de um minuto, porque além de si próprio fazendo todo aquele barulho, a música alta se somava àquela cacofonia caótica e assim Kyubin chorava incomodado. Desistiu um minuto depois, voltando para o seu apartamento e mantendo o bebê em seu colo, o nanando enquanto andava pelas peças, até o maldito vizinho parar com aquela música. O choro de Kyubin era alto e lhe doía os ouvidos, mas aguentou firme por quase uma hora. Ficou até com medo de as cordas vocais do recém-nascido terem se prejudicado.

Aquilo não poderia continuar assim. Não mesmo. Seu filho não iria sofrer daquele jeito todo o final de semana por causa de um vizinho sem noção. Já passava da meia noite, caramba! E a regra das 22h? Por onde andava? Pelo jeito não existia mais!

Levou Kyubin de volta para o berço, já adormecido, e saiu do quarto na ponta dos pés. Sentou no sofá da sala de estar e fechou os olhos, aproveitando o silêncio por alguns instantes antes de apagar as luzes e ir para o próprio quarto dormir.

Naquela noite, acordou três vezes com os choros do bebê. Foi até o quarto dele, o tirou do berço e o nanou até ele voltar a dormir. No terceiro choro, precisou trocar a fralda. Ser pai solteiro era mais complicado do que imaginava. Na verdade, nunca havia de fato parado para pensar sobre aquilo. Você acaba vendo em filmes e lendo em livros sobre paternidade e maternidade, e como tudo é sofrível no começo, mas só percebe realmente o significado quando passa por aquilo. Nunca nem teve a intenção de passar por aquilo antes de Kyubin entrar em sua vida, e agora não se imaginava mais sem ele. Apenas um mês havia se passado e sua vida não poderia mais ser a mesma sem o bebê. Era incrível como tudo mudava muito rápido.


* · * · * · *


Acabou acordando antes de Kyubin na manhã seguinte. Durante a noite, em uma das levantadas para atender o choro do bebê, decidiu que iria bater na porta do vizinho mais uma vez, mas sem Kyubin chorando nos braços e sem a música alta, para resolver aquilo e tentar entrar em um acordo. Explicaria sua situação na maior paciência que Deus lhe permitisse – provavelmente não seria muita – e se ele não o compreendesse, chamaria a polícia se aquilo viesse a se repetir. Era isso. Precisava ter punho firme, agora tinha um bebê para cuidar. Se morasse sozinho naquele apartamento, não iria ligar. De verdade, não se incomodava com barulho. Aprendera a aturar barulho desde cedo, com os pais quebrando tudo dentro de casa enquanto brigavam e como resultado os irmãos chorando alto. Aprendera a se concentrar nas leituras sendo criado em uma família barulhenta e deveras violenta, nada poderia lhe afetar. Mas afetava Kyubin. E se afetava Kyubin, lhe afetava também porque agora era o seu filho. E ninguém fazia o seu filho sofrer daquele jeito.

Sem a menor vontade de se trocar para ir tirar satisfação com o vizinho, levantou da cama, colocou as pantufas, checou Kyubin dormindo profundamente em seu berço, lavou o rosto, escovou os dentes e partiu para o corredor. Tocou a campainha e bateu três vezes na porta para garantir que seria ouvido.

E dessa vez, foi.

A porta foi aberta devagar. Bem devagar. Nunca viu uma porta ser aberta com tanta lerdeza. Teve vontade de empurrar logo e acabar com aquela palhaçada. Na medida em que a porta era aberta, o corpo esguio e parcialmente descoberto foi ficando visível. Era a pessoa mais alta que Baekhyun já havia visto na vida, e olha que tinha alunos bem altos. No topo daquela altura toda, um rosto sonolento e um tanto infantil, orelhas enormes e um cabelo tingido de vermelho vivo. Chegou a dar um passo para trás de susto.

O gigante coçou os olhos e levou alguns segundos para de fato abri-los e focar na figura de Baekhyun bem na sua frente. Depois de finalmente fazer isso, sorriu de canto.

- E aí?

Quê? Baekhyun franziu o cenho, confuso. Estava louco ou aquele delinquente estava flertando? Será que estava drogado? Bem, agora que a porta estava aberta até que dava para sentir cheiro de maconha. Justificável.

- “E aí?” E aí que eu sou o seu novo vizinho aqui do lado. – Baekhyun respondeu, cerrando os dentes, morrendo de vontade de ser grosso.

- Ah, é? – O garoto lhe olhou de cima a baixo e o sorriso aumentou. – Irado.

O professor suspirou, sem paciência. Sim, estava recebendo uma cantada. Era inacreditável. Até porque nunca imaginaria que aquele garoto se interessaria por homens, e muito menos homens mais velhos. Seu radar homossexual era péssimo, diga-se de passagem. Isso explicava o porquê de estar solteiro há 84 anos.

- Não vai achar nada irado quando eu te falar que você vem atrapalhando o sono do meu filho há quatro finais de semana. Todo sábado é a mesma história. Música alta até tarde da noite. O coitadinho não consegue pegar no sono por horas. Estraga toda a rotina dele por dias.

Talvez, apenas talvez, também estivesse solteiro há 84 anos porque não era a pessoa mais fácil de se conviver. Mas só talvez. Sua sinceridade – para não dizer outra coisa – afastava qualquer pretendente em potencial. O delinquente coçou os olhos mais uma vez e Baekhyun, por algum motivo patético, pegou-se checando seu tronco descoberto. Nojento. Atendendo a porta daquele jeito, vestindo apenas calças velhas de moletom.

Fechou o botão do seu pijama listrado até a gola.

- Eu sinto muito, mas eu e os caras precisamos ensaiar. Não temos outro lugar e nem outro horário. – O garoto respondeu com sinceridade, deixando o flerte um pouco de lado e parecendo falar sério pela primeira vez naquele protótipo de diálogo.

- Eu que sinto muito, mas vocês estão infringindo a lei. – Se aquele garoto sabia ser sincero, Baekhyun era o dono da sinceridade. O filho da deusa da sinceridade. - Não podem fazer essa barulheira de madrugada. Se me incomodar eu posso chamar a polícia. E pretendo fazer isso se meu filho não conseguir dormir de novo. Ele acabou de fazer um mês. Um. Mês.

Foi a vez do garoto suspirar, fechando os olhos por um momento.

- Quer entrar? – Ele perguntou, ainda de olhos fechados. Baekhyun franziu o cenho.

- Não.

- Tá. Qual seu nome?

- Baekhyun.

- Meu nome é Chanyeol. Olha, vamos ter que chegar em um acordo. Não quero atrapalhar seu filho recém-nascido, mas preciso ensaiar com a minha banda.

O professor levou uma das mãos até as têmporas e as massageou. Que grande enrascada acabar sendo vizinho logo de um cara com uma banda. Mas que grande bosta. Era piada, só podia ser. Não existia combinação mais desastrosa do que uma banda e um bebê recém-nascido.

- Impossível não ter outro lugar pra você ensaiar. Tem que ter. – Baekhyun falou, sem paciência. Até que o garoto era minimamente consciente por ter sugerido um acordo, mas o professor ainda estava irritado. - Quantas pessoas tem nessa sua banda?

- Três.

- Nenhum dos três tem outro lugar pra ensaiar?

- Não, já disse. – O garoto cruzou os braços e Baekhyun acompanhou o movimento. Aquele mísero segundo de distração pareceu uma eternidade humilhante e ele pigarreou, desconfortável. Notou o garoto, Chanyeol, lhe devolvendo o olhar.

- Você mora sozinho aqui? – perguntou, voltando rapidamente para a conversa e ignorando suas bochechas coradas e o calorão dentro daquele pijama comprido.

- Sim.

- Quantos anos tem?

- Vinte e um.

- Estuda?

- Está me interrogando? – O tal de Chanyeol perguntou de volta, levantando as sobrancelhas de forma atrevida. Baekhyun ficou irritado novamente.

- Estou tentando achar uma solução! – explicou, cruzando os braços também.

- Sim, estudo música na universidade Yejun. – A resposta saiu em um tom malcriado que Baekhyun conhecia muito bem. Professor lida com má-criação dos filhos de milhares de pessoas, então sabia identificar sem nenhuma dificuldade. E então percebeu o que o garoto havia acabado de falar. Ele estudava em uma das universidades que Baekhyun dava aulas. Que coincidência agradável.

- Eu sou professor lá. – falou, deixando o tom irritado um pouco de lado. A solução já havia começado a ser rascunhada em sua mente ativa.

- Nunca vi você lá. – Chanyeol deu de ombros, ainda malcriado.

- É um campus enorme, com milhares de professores. Obviamente não foi meu aluno. – Adotou seu tom acadêmico para ver se ele parava de ser atrevido. Não adiantou nada.

- Professor de quê? – perguntou, sem formalidade alguma.

- Literatura.

- Credo. – Ele fez uma careta. As bochechas de Baekhyun esquentaram de novo. - É, lembraria de você se tivesse sido meu professor.

- O que quer dizer com isso? – Baekhyun franziu o cenho, desconfiado e meio ofendido.

- Nada. – Chanyeol desviou o olhar para um ponto atrás de Baekhyun e por um momento o professor achou que viu ele sorrir.

- ENFIM – falou alto, atraindo de volta a atenção do garoto, que se sobressaltou. Se não estivesse irritado com toda aquela situação, o acharia engraçado. Chanyeol era meio atrapalhado e distraído. - Posso conseguir um horário semanal pra você e sua banda no estúdio do seu departamento de Artes. Sei como é difícil, está sempre ocupado, mas conheço um bocado de gente. Quando estão livres durante a semana?

- Ah, velho... – Chanyeol fez uma careta, olhando para trás por um instante. Baekhyun suspeitou que os colegas de banda estavam dormindo por ali. - Tenho que perguntar pra eles. Não memorizei a rotina dos meus colegas de banda. – completou, como se saber a rotina dos amigos fosse absurdo. Para Baekhyun, que praticamente cuidou de Chaeyoung por um bom tempo, saber da rotina da amiga era essencial. Não via o que tinha de absurdo naquilo.

- Pois pergunte e bata na minha porta quando tiver uma resposta. Qualquer horário hoje antes das 20h.

- Não é mais fácil você me dar seu telefone?

- Não.

Baekhyun lhe deu as costas e voltou para dentro de seu próprio apartamento, batendo a porta sem nem olhar para o garoto, que continuou parado onde estava. Era completamente chapado. Se fosse seu aluno também teria lembrado. Insolente.


* · * · * · *


Do Kyungsoo e Kim Junmyeon tagarelavam sem parar ao seu lado. Os três estavam parados na entrada do café da universidade Yejun, um belo chalé amadeirado coberto de trepadeiras, assim como boa parte dos prédios antigos do campus. Era um belo campus com uma rica flora bem cuidada, arborizado e de cores muito vivas, principalmente tons de verde. Para Chanyeol, aquela parte mais antiga e clássica lhe remetia à um labirinto. A maioria de suas aulas acontecia nos prédios mais modernos, então sempre que frequentava aqueles prédios acabava se impressionando com a beleza natural. O café possuía uma varanda coberta por quase toda a sua volta, decorada com bancos também amadeirados e estofados. Muitos estudantes ficavam por ali antes das aulas começarem, comendo ou apenas conversando.

- Qual é a exata função das luvas de lã se elas não esquentam as mãos? Eu tenho a impressão de que elas deixam as mãos mais geladas ainda.

Se Chanyeol não estivesse tão distraído naquela manhã de terça-feira, estaria tagarelando junto com eles e rebatendo que aquele comentário de Kyungsoo era absurdo e sem sentido nenhum. Junmyeon concordou com a cabeça, dando um gole no seu copo de cappuccino e soltando um gemido cômico de prazer. Estava realmente muito frio naquela manhã.

- Ei, Park Chanyeol! Por que ainda não discordou de nada do que a gente disse hoje? Tem certeza que está acordado? O frio congelou seu cérebro? – Kyungsoo estava mais falante do que o normal, disso ele tinha certeza. Estava pronto para responder, desencostando-se da parede da varanda do chalé, quando seus olhos reconheceram alguém. Apressado, descabelado, com um cachecol pendurado quase arrastando pelo chão, uma touca que mais havia bagunçado seu cabelo loiro do que escondido, e uma bolsa que não parava em seu ombro, seu novo vizinho e professor de literatura Byun Baekhyun subiu os degraus da varanda. Falava, estressado, no telefone.

Chanyeol o acompanhou com o olhar, esperando que ele o notasse para que se cumprimentassem – ora, eram vizinhos! – mas o professor estava tão ocupado que quase não notou nem a porta de vidro na sua frente.

- Conhece ele? – A voz de Junmyeon estava muito longe de sua consciência, mesclada com o som dos passarinhos.

- É Baekhyun, o vizinho professor – Chanyeol murmurou, distraído. Baekhyun havia conseguido um horário para a banda ensaiar nas quintas à tarde no estúdio, único dia da semana que os três estavam livres, e como Junmyeon e Kyungsoo já estavam cientes da mudança por conta do bebê, sabiam quem ele era apenas por nome.

- Sério? Aquele é o vizinho professor histérico? Não gostaria de ser aluno dele. Deve dar chilique na sala de aula. – Kyungsoo comentou e Junmyeon riu baixo, mas Chanyeol não estava mais prestando atenção. Os deixou para trás e deu alguns passos até a entrada, puxando a porta de vidro e voltando para dentro do ambiente aquecido. Era bem grande lá dentro, com um espaço enorme cheio de mesas e um balcão que dava para a cozinha para retirar os pedidos. No balcão de pagamento, havia uma pequena fila, e Baekhyun estava nela. Chanyeol não sabia o que estava fazendo, só queria interagir. Ele era histérico por causa do filho, era verdade, mas muito charmoso. O tipo de pessoa que você quer se aproximar porque, mesmo descabelado daquele jeito, continuava parecendo que sabia muito sobre tudo. O tipo de pessoa que faz você querer se aproximar mesmo sem sabendo exatamente por qual motivo.

- Seu filho não o deixou dormir essa noite? – Chanyeol murmurou baixo, parado atrás do homem mais baixo que já havia desligado o celular. Baekhyun deu um pulo no lugar e o encarou, semicerrando os olhos. – Não foi minha culpa dessa vez. Mas pelo seu cabelo, seu neném é bem ativo.

- É senhor Byun para você – Baekhyun murmurou de volta, mal-humorado, no mesmo volume para que as outras pessoas da fila não ouvissem. – E obviamente Kyubin é um bebê ativo, acabou de fazer um mês. Depende de mim vinte e quatro horas por dia, ainda não está acostumado com o mundo fora da barriga da mãe.

- Eu sei, só estou brincando por causa do seu cabelo. Mas não se preocupe, continua bonito. – Chanyeol falou com um sorriso de canto, notando o professor corar e ficar mais irritado ainda. – Espera um pouco. O nome do bebê é “Querubim”?

- Kyubin. K-Y-U-B-I-N. – O professor soletrou baixo, mas sem paciência. Era engraçado provocar ele, ficava fofo todo vermelho.

- Nome bonito, foi o senhor que escolheu?

- Não, foi a mãe dele. Você não tem aula agora? Vai chegar atrasado. É melhor ir logo.

- Quero comprar um café. E me apresente à sua esposa da próxima vez, afinal, ela também é minha vizinha.

- Sou pai solteiro – Baekhyun resmungou, voltando a atenção para o celular. Não parecia querer falar sobre aquilo. Para ser honesto, não parecia querer falar sobre nada com Chanyeol. Talvez ainda o odiasse por causa do mês de barulhos. Precisava pensar em algo para que fosse perdoado.

E então Chanyeol se deu conta da nova informação que havia acabado de obter. Baekhyun era um pai solteiro. Cuidava sozinho de um bebê recém-nascido, e provavelmente trabalhava muito para sustentá-lo, já que estava fora de casa naquela hora da manhã.

- Oh. Me desculpe, não fazia ideia. – Chanyeol se desculpou, ouvindo Baekhyun soltar um resmungo qualquer. Um silêncio se instalou entre os dois, apesar das conversas paralelas no ambiente, e Chanyeol resolveu tentar uma última vez. – Se precisar de alguma ajuda, pode bater lá em casa. Também moro sozinho, como já sabe. Não entendo de bebês, mas dois corpos trabalham melhor do que um de vez em quando.

Percebeu segundos depois que sua última frase soou ambígua e muito inadequada. Foi a sua vez de ficar todo vermelho. Quis enterrar a cabeça no concreto.

- Obrigado, mas não vou precisar. Me viro muito bem sozinho – Baekhyun murmurou, sem o encarar.

- Bem, de qualquer forma, estarei na porta ao lado. E o senhor tem razão, preciso ir para minha aula. Nos vemos por aí. – Chanyeol decidiu que era melhor se afastar e não forçar mais interação, Baekhyun não estava dando muita abertura. Deu meia volta, mas, antes de sair do lugar, o ouviu atrás de si:

- Quinta-feira à tarde, seu ensaio no estúdio. Não se esqueça.

Virou o rosto para encarar o professor, que o encarava sem nenhuma expressão aparente.

Chanyeol sorriu de canto, fazendo-o lhe dar as costas e se ajeitar na fila novamente.

Sim, Byun Baekhyun era uma pessoa difícil de lidar. Muito difícil, diga-se de passagem. Mas Chanyeol não se importava. Era um pai solteiro muito dedicado e seu estresse tinha justificativa. Mal o conhecia, mas o admirava como homem. E o achava muito bonito também, mas isso era apenas um mero detalhe.

Passou o resto do dia todinho pensando em como se redimir depois daquele mês inteiro arruinando o sono de Querubim.


* · * · * · *


Sábado, 18 de fevereiro de 2017

Finalmente fui falar com o nosso vizinho barulhento no domingo passado. Não vai acreditar, Bin, mas ele estuda na Yejun. Sim, a mesma universidade que eu dou aula! Tive de mexer muitos pauzinhos para conseguir um horário no estúdio da universidade para que Chanyeol – esse é o nome dele, a propósito - ensaie lá com a banda dele e deixe você dormir. Como pode perceber, estou dando meu depoimento no sábado à noite, como de costume, e não tem mais nenhuma música alta no fundo. Isso significa que Chanyeol já está ensaiando no estúdio e você está dormindo feito um anjinho no seu quarto. Estou me sentindo um pai decente pela primeira vez nesse seu primeiro mês de vida, porque resolvi um problemão sozinho. Mas, para ser honesto, estou um pouco cansado porque hoje dei aulas particulares ali na sala de jantar o dia inteiro. Então não ligue para minhas olheiras cansadas durante essa gravação. Ou talvez para os meus cabelos bagunçados. Acho que vou tentar dormir um pouco enquanto você não acorda, tudo bem? Antes de me despedir, vou lhe deixar uma citação como de costume. Hoje é do livro O Coração das Trevas, de Joseph Conrad: “Eu não gosto de trabalhar – ninguém gosta – mas eu gosto do que há no trabalho – a chance de achar a si próprio. Sua realidade – para você, não para os outros – que ninguém mais vai poder compreender. Eles apenas assistem ao show, e nunca poderão saber o que realmente significa”.

Ainda não acredito que você já fez um mês de vida, Bin. O tempo está voando. Quando eu perceber, você já estará conversando comigo. Mal posso esperar.

Eu te amo, até semana que vem.

P.S.: Chanyeol até que é simpático, puxou assunto comigo essa semana na fila do café. Mas ainda estou irritado porque ele fez dos seus primeiros finais de semana um inferno. Acho que está arrependido. É bom que esteja!


Domingo. O único dia da semana no qual Baekhyun podia levar Kyubin para tomar um ar no parque da outra quadra... chovendo torrencialmente, com direito a trovoadas aleatórias. O dia inteirinho. Fez sol a semana toda, e quando ele precisava do sol, o sol não aparecia.

O frio e a chuva o manteve dentro do apartamento, então ele aproveitou para tentar, pela primeira vez, algo que havia visto na internet e que aparentemente fazia bem para o bebê. Dar banho no Kyubin embaixo do chuveiro, no seu colo, em vez de dar banho na banheirinha em cima da bancada da pia, como de costume. No vídeo que assistiu, era explicado que o contato da pele do bebê e da pele do pai durante o banho embaixo do chuveiro era importante, criando um laço afetivo necessário. Estava nervoso. Antes de trazer Kyubin para o banheiro, testou a temperatura da água um milhão de vezes para garantir que não queimasse o bebê. Gostava de banhos quentes e tinha plena noção que a temperatura da água para um bebê precisava ser bem mais morna. Tirou a roupa, ficando apenas de cueca, e tirou a roupa de Kyubin também, o pegando no colo e o apoiando em seu peito.

- Vamos tentar algo diferente hoje, meu amor – Baekhyun murmurou, observando o bebê com a cabeça apoiada em seu peito. – Sei que não imagina o que seja um chuveiro, mas é onde as pessoas crescidas tomam banho. Não se preocupe, não vai precisar ficar em pé e nem se lavar sozinho. Vou fazer tudo por você – riu do próprio comentário idiota antes de entrar para baixo da água corrente com o filho. De início, Kyubin soltou seus sonzinhos de desconforto, mas na medida que a água morna foi caindo no seu corpo – e consequentemente no de Baekhyun – o bebê foi relaxando e até sorriu enquanto Baekhyun ensaboava seu corpinho. Foi uma das tarefas mais difíceis de sua breve vida como pai. Durante todo o banho, morria de medo de Kyubin escorregar do seu colo enquanto o ensaboava, mesmo que aquilo parecesse absurdo porque o estava segurando firme. De qualquer forma, o medo era real. Saiu debaixo do chuveiro depois de desligar a água e enrolou Kyubin em uma toalha bem macia e grossa para que o bebê não pudesse ter tempo de sentir frio. O levou de volta para o quarto e o colocou em cima da cômoda estofada onde geralmente trocava as fraldas dele. Abriu uma das gavetas e procurou a roupinha mais quente que encontrou – todas compradas com suas próprias economias. Sua poupança no banco estava zerada, afinal, ninguém o ajudou com o enxoval, já que sua própria família não dava a mínima para si depois que descobriram que era homossexual. Baekhyun pagou literalmente tudo de Kyubin sozinho, de sua poupança que teoricamente servia para emergências futuras. Bem, Kyubin era uma emergência, só que do presente. E era prioridade.

Depois do talco e da fralda, o vestiu com um macacãozinho cinza felpudo de mangas compridas e fechado nos pés. Aquele modelo era bom porque não precisava colocar meias nele, e tinha quase certeza que Kyubin odiava meias. O devolveu para o berço e percebeu que ele estava ativo, então pegou um chocalho em formato de elefante que havia deixado por ali e o balançou, iniciando uma brincadeira que fazia Kyubin rir e balançar as perninhas. Kyubin gostava daquele chocalho na mesma medida que odiava meias. Brincou com o filho por quase meia hora, intercalando os chocalhos e bichinhos de pelúcia que havia comprado. Quando percebeu que Kyubin já estava começando a ficar sonolento, lhe deu a chupeta e o observou pegar no sono. Amava observar Kyubin. Poderia ficar encarando ele o dia inteiro.

Foi até a janela do quarto e fechou as cortinas, embora estivesse chovendo lá fora, ainda era de manhã e estava claro. Sentiu seu estômago roncar e procurou seu celular, mas notou que ainda estava de cuecas molhadas. Nem havia percebido. Correu para tomar o banho mais rápido que conseguiu – não lembrava mais como era tomar um banho lento – e vestiu uma jeans qualquer, uma blusa de mangas compridas e um blusão de lã. Voltou para o quarto de Kyubin e verificou se as cobertas eram o suficiente, colocando mão entre o corpo do bebê e elas. Estava quentinho ali e Kyubin já estava em um sono profundo, então julgou estar tudo certo. Saiu do quarto, sempre deixando a porta aberta, e alcançou seu celular na bancada da cozinha. Já passava do meio dia. Resolver preparar uma sopa para si e esquentar o leite de Kyubin, pois tinha quase certeza que o bebê iria acordar com fome. Ligou a televisão da sala de estar – conseguia enxergá-la da bancada da cozinha - e a deixou em um volume bem baixo para poder ouvir qualquer som que Kyubin viesse a emitir. Havia acabado de começar a cortar os legumes quando a campainha tocou.

De cenho franzido, limpou as mãos em um pano de prato e foi atender a porta. Não estava esperando ninguém e geralmente não recebia visitas, então ficou bastante confuso antes de entender quem era.

Abriu a porta e encarou Park Chanyeol encasacado e cheio de sacolas. Seu cenho franziu tanto que chegou a doer os músculos do rosto.

- Chanyeol?

- O-olá – O garoto respondeu, parecendo pela primeira vez tímido ao falar com o professor. Suas orelhas e a ponta de seu nariz estavam vermelhos de frio. – Eu... eu comprei... é... bem, me sinto culpado por ter atrapalhado tantas noites de sono do seu filho e, por consequência, atrapalhando o seu sono, então... eu comprei algumas coisas para me redimir. – Ele levantou as sacolas que pareciam ser de uma loja de bebês. Baekhyun arregalou os olhos, chocado.

- Está maluco, garoto? Gastar tudo isso comigo? Quantas sacolas tem aí?

- Não tem problema. Meus pais me dão uma mesada mensal para eu me sustentar e comprar o que eu quiser do que sobrar, e esse mês eu não gastei quase nada porque não saio de casa no inverno.

- GASTOU O DINHEIRO DOS SEUS PAIS COMIGO? – Não foi um berro, mas foi um sussurro histérico. Chanyeol engoliu em seco e concordou com a cabeça. – Pode devolver tudo. Não vou aceitar, seus pais não trabalhar pra você gastar o dinheiro deles com vizinho.

- Não é como se eu tivesse enlouquecido e comprado sem motivos! É um pedido de perdão! Foi ideia da minha mãe! Eu queria lhe dar algo e ela disse que o melhor presente para um pai solteiro são acessórios para o seu bebê.

- O quê? Contou pra sua mãe sobre mim?

- Eu... a gente almoça juntos todo sábado e... eu comentei que estava me sentindo culpado...

- Caramba. Tudo bem. Obrigado, não precisava. De verdade, já estamos resolvidos, foi um mal-entendido. Agradeça sua mãe por mim.

- Pode deixar. – Chanyeol estendeu as quatro sacolas grandes e Baekhyun o encarou sem se mover por um instante. E então suspirou. – Quer entrar? Estou fazendo almoço pra mim, se quiser... posso fazer pra você também....

- Quero – Chanyeol respondeu, sorrindo, e Baekhyun pigarreou, lhe dando espaço para entrar e fechando a porta logo em seguida. – Onde está Querubim?

- Kyubin está dormindo, acabei de dar banho nele. – Baekhyun o corrigiu, pegando as sacolas das mãos de Chanyeol enquanto ele retirava os tênis e o casaco e ficava de meias.

- Quer ajuda com o almoço? – O garoto perguntou, largando o casaco no cabideiro perto da entrada e olhando curioso em volta. – Nossa, seu apartamento é bem mais bonito e organizado que o meu.

- Obrigado. Eu estava cortando legumes, mas quero ver o que comprou pro Kyubin antes. – Era a primeira vez que Baekhyun sorria para o garoto, um sorriso completamente desajeitado, mas ainda sim um sorriso. Chanyeol devolveu com um sorriso empolgado e o acompanhou até a sala de estar. Baekhyun largou as sacolas no chão e sentou no sofá, sendo copiado pelo garoto que sentou ao seu lado. – Por onde começo? Caramba, ainda não acredito que gastou tudo isso com meu filho.

- Pare de pensar assim. É pouco perto do barulho que fiz por um mês inteiro. – Chanyeol se abaixou e tirou o primeiro pacote de dentro da sacola. – Eu achei isso tão divertido. Não sei se Querubim já tem um assim, se tiver tudo bem, mas eu queria um pra mim então comprei. Não que eu vá usar, obviamente, mas só por ter. Porque é maneiro.

Baekhyun acabou se esquecendo de corrigir o nome do filho e riu enquanto abria o pacote. Era uma chupeta com uma girafinha de pelúcia acoplada no lugar da alça, facilitando para o bebê segurar.

- Que fofo!

- Irado, né? – Chanyeol perguntou, animado. Baekhyun aproximou a girafinha do rosto e a apertou contra a bochecha.

- Demais. Eu adorei. – respondeu, ainda encarando o primeiro presente enquanto Chanyeol pegava o segundo pacote.

- Esses não são tão divertidos, mas acho que vão ser úteis. São mordedores, comprei três coloridos – Chanyeol explicou enquanto Baekhyun abria o embrulho.

- Nossa, muito obrigado, eu ainda não tinha comprado mordedores. Só chocalho e chupeta. – Baekhyun comentou, tirando-os para fora do embrulho e os sentindo nas mãos. Havia um azul, um cor de rosa e um verde.

- Ah, então ótimo! Quando os dentinhos dele começarem a crescer ele vai sentir coceira, lembro da minha irmã porque sou seis anos mais velho. E esse... – Ele puxou o último embrulho da sacola. – Também é bastante útil e talvez você já tenha, mas nunca é demais.

Baekhyun sentiu o pacote mais macio dessa vez, e ao abrir encontrou dois babadores, um rosa e um azul.

- Babadores nunca são demais! Muito obrigado, vou usar um deles daqui a pouco – Baekhyun comentou empolgado, admirando as estampas de ursinhos no tecido.

- Acho que só falta mais um de acessório e depois o resto é roupa. Nunca havia percebido o quão fofas são as roupinhas, então me empolguei. – Chanyeol colocou a sacola vazia de lado e puxou a segunda, tirando um embrulho em formato cilíndrico, mas pequeno. Baekhyun imaginou ser uma mamadeira e acertou. – É só uma mamadeira, mas eu achei bonitinha porque tem desenhos de animais marinhos.

- É muito fofa, a que estou usando não tem desenhos. Obrigado.

- Imagina. Bem, agora... – Chanyeol tirou todos os embrulhos de roupas das sacolas, eram sete no total. Baekhyun ficou vermelho, nunca havia ganhado tanto presente na vida. – É, eu sei, me empolguei, desculpe. A maior parte é de inverno.

O professor abriu o primeiro pacote e encontrou um macacão de corpo inteiro cinza listrado, meinhas azul-marinho e uma touquinha também listrada. Segurou a risada ao encarar as meias, atraindo a atenção de Chanyeol.

- O que houve? – O garoto perguntou, rindo também mas sem saber do quê.

- Kyubin odeia meias, sempre mexe os pezinhos até elas saírem. Todas que comprei acabam no pé do berço quando acordo para olhá-lo.

Chanyeol riu, agora compreendendo o motivo.

- Nem todos os conjuntos tem meias, acho que esse é o único na verdade. Eu gostei daqueles macacões com pés, então comprei três eu acho.

- Eu também gosto desses – Baekhyun comentou, sorrindo de canto enquanto abria o próximo pacote. Distraído, não notou Chanyeol observando seu rosto. – Meu Deus, que amor! – O professor levantou o macacão na frente do rosto. A estampa era toda com cachorrinhos dálmata num fundo azul-marinho. Vinha com uma touca com orelhinhas e onde ficavam os pezinhos, havia a cara de dois dálmatas com orelhinhas pra fora e tudo. – É o meu favorito até agora! Amei de verdade.

- Que bom – Chanyeol murmurou, e Baekhyun lhe lançou um olhar de um milésimo de segundo, notando o rosto vermelho do garoto.

- Você é ótimo escolhendo coisas de bebê. Tem certeza que não tem filhos e esqueceu de me contar?

- Absoluta – O garoto respondeu, rindo.

As roupinhas seguintes eram macacões também, todos muito bonitinhos, do tamanho certo de bebês recém-nascidos. Baekhyun dobrou todas em uma pilha e deixou de lado no sofá.

- Muito obrigado mais uma vez, comprou tanta coisa que... nem sei o que dizer... pra alguém como eu que não tem tanta grana assim, isso faz bastante diferença.

- Fico feliz em saber que ajudei. – Ele respondeu, sorrindo sincero. Baekhyun admirou a pilha de roupinhas mais uma vez antes de perguntar:

- Com fome?

- Ah, estou um pouco, mas gostaria de conhecer o Querubim. É estranho falar dele com você e não saber como ele é.

- Puxa vida, verdade. Você nunca o viu. Vem comigo. – Sem perceber, Baekhyun pegou Chanyeol pela mão e o puxou até o corredor dos quartos. O quarto de Kyubin estava mais escuro que o resto da casa, mas ainda dava para ver bastante. Entraram dando passos cautelosos e Baekhyun conduziu Chanyeol até o berço. Os olhos do garoto brilharam ao encarar o bebê dormindo pacífico.

- É muito lindo e fofo! – Chanyeol sussurrou, fazendo Baekhyun segurar a risada com a mão na boca. – É um anjinho, senhor Byun. Realmente um Querubim.

- Pode chamar assim, já percebi que gostou. Eu chamo de Bin. Ou Binnie, quanto tenho acessos de fofura e preciso me expressar. – Baekhyun sussurrou de volta, sem tirar os olhos do bebê, assim como Chanyeol.

- Bin? É a cara dele. Vou intercalar Bin e Querubim. – O garoto decidiu, aproximando-se um pouco mais do berço e diminuindo o volume da voz mais ainda. – Oi Bin, aqui é o seu vizinho barulhento Chanyeol. Desculpe por ter feito seus finais de semana infernais, prometo nunca mais fazer barulho nenhum. Seu papai é muito dedicado a você, sabia? Agora eu tenho um estúdio pra ensaiar com a minha banda, tudo porque ele conseguiu pra mim. Vai ter as melhores noites da sua vida aqui nesse apartamento, e as melhores lembranças também. Seu quarto é tão bonito...

Chanyeol realmente estava conversando com ele em um volume baixo, quase inaudível. Baekhyun o observou por um minuto inteiro até ele parar de falar e encarar o professor.

- Você é muito sortudo, senhor Byun. Ele é a coisinha mais linda que eu já vi na vida.

- É, eu sei... – Baekhyun concordou, corando. – Obrigado.

- Vamos deixar ele descansar, não quero nunca mais ser o motivo por ele acordar. – Chanyeol comentou, fazendo o professor assentir. Os dois saíram do quarto, percorreram o pequeno corredor e voltaram para a sala. – Acha Bin parecido com o senhor ou com a mãe dele?

A pergunta fez Baekhyun suspirar e engolir em seco antes de responder. Achava que Chanyeol merecia saber a verdade sobre Kyubin, afinal era seu vizinho de porta e realmente estava demonstrando bastante interesse pelo bebê. Um garoto jovem, com hábitos jovens, demonstrando interesse no bebê do vizinho que o fez ter de parar de ensaiar com sua banda dentro de seu apartamento, mudando sua rotina radicalmente... Baekhyun nunca esperaria que aquele garoto fosse demonstrar ser gentil daquele jeito. Chanyeol quebrou todos os rótulos que a mente literária de Baekhyun havia involuntariamente criado. Era automático. Baekhyun vivia cercado de personagens, os rótulos eram naturais. Mas Chanyeol havia provado que sua leitura havia sido equivocada.

Não costumava dar chances a ninguém, muito menos quando se tratava de Kyubin, sua maior preciosidade, mas daquela vez resolveu abrir uma exceção.

- Não sou o pai biológico do Bin, Chanyeol. – Baekhyun explicou, andando até a cozinha e lavando as mãos na pia para poder voltar a cortar os legumes. Chanyeol o encarava com os olhos um pouco arregalados, sem reação. – O adotei quando ele nasceu, no mesmo dia. Na mesma noite. A mãe dele faleceu no parto, era minha melhor amiga. Não tinha mais ninguém além dela pro Bin ser registrado, e nunca iria permitir que ele fosse para a adoção.

- Puxa, eu sinto muito mesmo. Mas e... o pai biológico e... a família da sua amiga...

- Ninguém queria que esse bebê tivesse nascido. – Baekhyun explicou, odiando lembrar da verdade. - Nem o pai biológico, nem a família da Chaeyoung. Só ela quis ter ele, e só eu apoiei. Chaeyoung deu a vida por esse bebê e eu vou honrar a escolha dela. Kyubin vai ser o bebê mais feliz do mundo, mesmo tendo apenas um pai. – Ele terminou de falar e, distraído cortando os legumes, não notou Chanyeol limpando os cantos dos olhos discretamente, só o ouvindo pigarrear.

- É... o senhor é muito... muito corajoso. E leal. O admiro por isso. Kyubin não poderia ter ficado com um pai melhor, tenho certeza disso. Ele vai ser o bebê mais feliz do mundo, sim.

- Obrigado. – Baekhyun murmurou, sorrindo sem ânimo. Não gostava de lembrar da morte de Chaeyoung, ainda era muito recente e ele ainda chorava quando a saudade batia. Quando algo diferente ou desafiador acontecia e ele percebia que, se Chaeyoung estivesse viva, iria pegar o celular correndo para falar com ela. Quando o próprio filho da garota chorava e Baekhyun fazia de tudo para tentar entender o motivo e, mesmo assim, nada funcionava, seria para ela que ele iria ligar. Uma ironia odiosamente trágica. Precisava de Chaeyoung o tempo inteiro, principalmente quando se tratava de Kyubin, mas não havia mais Chaeyoung nenhuma. Apenas uma pequena parte dela havia ficado, uma parte que também precisava dela. Kyubin era tão precioso e Baekhyun passava a maior parte do tempo pensando que não era bom o suficiente para aquilo tudo. Era um bebê lindo e perfeito e ele era só um professor sem talento algum para paternidade.

Quando percebeu, seus olhos estavam marejados, e aquilo deixou Chanyeol um tanto nervoso.

- Desculpe por fazê-lo... – O garoto começou, completamente sem jeito. Baekhyun sorriu, piscando e mandando as lágrimas embora. Negou com a cabeça, voltando a atenção para a comida.

- Tudo bem. Acho que você precisava saber. É meu vizinho, afinal de contas. – Uma pausa tensa recaiu sobre os dois e Baekhyun, como anfitrião, se viu na obrigação de intervir, mudando aquele assunto pesado, quase impossível de ser carregado. – Espero que goste de sopa de legumes.

- Ah, eu adoro. Precisa de ajuda? – Chanyeol esforçou-se para ajudar Baekhyun a se distrair. Era, de fato, um bom garoto.

- Não, pode sentar – Baekhyun fez sinal para um dos bancos em frente a bancada onde cortava, agora, um pouco de cebola. O garoto pareceu pensativo por um instante enquanto observava o professor preparando o mise em place para a sopa.

Pigarreou novamente antes de falar.

- Eu estava falando sério... – Chanyeol começou a falar, atraindo a atenção de Baekhyun, que não levantou a cabeça, mas o olhou brevemente. - Quando disse que pode me chamar se precisar de ajuda. Parece trabalhar bastante e percebi esses dias que a babá de Kyubin chega bem cedo.

- É, tenho quatro empregos pra pagar a babá e sustentar Kyubin.

- Quatro?

- Dou aulas em três universidades e aulas particulares aqui em casa em algumas noites da semana e nos sábados. Nunca viu meus alunos chegando?

- Nunca notei, acho que é porque não saio de casa nunca. – O garoto confessou, franzindo o cenho. - Quando não estou na universidade, estou embaixo das cobertas. Por isso disse que, se um dia precisar que eu lhe ajude em algo ou olhe o Querubim por algum tempo... não sei cuidar de bebês muito bem, mas posso aprender. Quer dizer, imagino que você em algum momento... queira sair com alguém, ter um encontro ou sei lá... não precisa pagar babá quando for nesses casos, eu fico com ele...

- Não costumo sair com ninguém – Baekhyun o interrompeu, dando de ombros. Juntou todos os legumes cortados na tábua e deu as costas à Chanyeol por um momento, para colocá-los na panela com água. Limpou as mãos no pano de prato que estava pendurado em seu ombro e ajustou o fogo. Voltou-se novamente para o garoto, que o encarava com curiosidade. - Só quando me interesso profundamente.

- Achei que um cara como você era o tipo de pai solteiro que é o sonho das garotas, cheio de contatinhos... – Chanyeol confessou, sorrindo travesso pela primeira vez depois do momento pesado minutos atrás.

- Sou homossexual. – Baekhyun o interrompeu, virando-se novamente e esticando-se para alcançar, no armário em cima da pia, a lata de leite em pó de Kyubin. Um silêncio esperado se seguiu, no qual Chanyeol provavelmente processava a informação jogada em seu rosto.

- Ah. Desculpe.

Baekhyun virou o rosto de lado enquanto abria o pote e sorriu de canto, achando cômico deixar o garoto nervoso daquele jeito. Chanyeol levantou as sobrancelhas, assustado.

- Não precisa se desculpar, é esperado que a maioria das pessoas tenha expectativas heterossexuais.

- Não, não foi isso... não sou assim... – O garoto estava bem nervoso agora. Baekhyun manteve-se de costas para deixá-lo à vontade. - Eu também gosto de homens. Só achei mais seguro falar sobre garotas, já que não o conheço.

Deveria ter suspeitado, mas, obviamente, seu radar homossexual era péssimo. Nem com Chanyeol lhe cantando ele acharia que havia algo ali. Contudo, agora as coisas mudavam um pouco.

Então Chanyeol realmente o estava cantando quando o elogiou e flertou na primeira vez que se viram. Sentiu o rosto inteiro esquentar, porque, por mais que odiasse admitir, aquele garoto era bastante atraente. Seu corpo era bem bonito. Puxa vida.

Partiu para a ironia, era como conseguia escapar da humilhação.

- Ora, mas que cena temos aqui. Dois gays comendo sopa e falando de bebê. Previsível, eu diria.

O comentário fez Chanyeol soltar um som de risada pela garganta e começar a rir de verdade. Baekhyun lhe lançou um olhar irônico enquanto preparava o leite em pó, o misturando dentro da mamadeira com a quantidade certa de água que já havia fervido ao ter posto a panela para a sopa.

- Está rindo de si próprio? Não deveria, ainda tem vinte e um anos e já está passando seu tempo como um gay velho e histérico – Baekhyun murmurou distraído, balançando a mamadeira para misturar o conteúdo.

- Você não é velho, não pode ser. Quantos anos tem? – Chanyeol perguntou, depois de parar de rir.

- Vinte e oito.

- E chama isso de velho? Bem, histérico tenho que concordar. Mas eu também seria bem histérico no seu lugar. Vizinho nenhum iria tirar o sono do meu filho.

O professor sorriu tímido.

- Obrigado pela compreensão. Tudo pelo Bin, até deslocar o ensaio da sua banda para outro lugar sem nem ao menos te conhecer.

- Exatamente. Bem, agora já conhece um pouco, não?

- Não, só o que a maioria deve conhecer. Você deve ser muito mais do que sua banda de rock e seu cabelo vermelho. Não é? Me perdoe, mas sou obcecado por desenvolvimento de personagem na literatura. Todo personagem tem profundidade, a diferença está no fato de o autor decidir ou não se aprofundar. Escolhas. Geralmente muito importantes.

Chanyeol pensou por um momento, apoiando o rosto na mão e o cotovelo na bancada. Baekhyun largou a mamadeira na pia e voltou sua atenção para a sopa novamente.

- E o senhor quer se aprofundar?

A pergunta veio mansa, inesperada. Baekhyun parou de mexer a sopa e encarou o caldo com os legumes boiando. Aqueles legumes não faziam ideia do quão desconcertado estava. Queria ser um daqueles legumes. Não estava acostumado a ser pego de surpresa, sempre tinha controle de diálogo.

Engoliu em seco.

- Só se você quiser. Podemos ser apenas vizinhos e nada mais. Já está desculpado, já resolvemos nosso impasse. Estou muito grato pelos presentes, são lindos, apesar de desnecessários. Está tudo resolvido.

- Eu acho que Bin quer que o senhor se aprofunde. Ele sussurrou no meu ouvido, quase não pude ouvir, mas tenho orelhas grandes, como pode perceber. Consegui ouvir tudo.

- Bin quer que eu me aprofunde no vizinho barulhento? – Baekhyun perguntou, lhe lançando um olhar irônico. – Duvido.

- Ex-barulhento.

- Certo, ex-barulhento. Se meu filho pede, eu faço. Apesar de saber que dar tudo que filho pede não é nada bom.

- Ora, mas esse pedido vai beneficiar o senhor.

- E posso saber como?

- Claro que sim. Eu sou uma pessoa incrível, me ter como amigo é um grande benefício.

- Bobo. – Baekhyun tirou o pano de prato do ombro e jogou no garoto, que pegou no ar enquanto ria. – Vou checar Bin. Pode olhar a sopa rapidinho?

- Claro.

Chanyeol levantou da bancada e acabaram se cruzando quando Baekhyun partiu para o corredor dos quartos. Ficou nervoso sem saber o porquê. Odiava admitir, mas Park Chanyeol era divertido.

Encontrou Bin acordado, movendo as perninhas e os bracinhos como se estivesse com calor. Foi Baekhyun se aproximar e lhe afastar as cobertas que, como mágica, o bebê começou a chorar de fome. Já sabia os horários certos do filho. O pegou no colo, mantendo pelo menos uma cobertinha o envolvendo, e voltou para a sala. Sentou no sofá e pegou um dos babadores que Chanyeol o havia presenteado.

- Chanyeol... – Baekhyun murmurou, percebendo que o garoto o encarava curioso e encantado. – Pode desligar o fogo da sopa e me alcançar a mamadeira? Preciso ficar sentado.

- Claro! – O garoto prontamente desligou o fogão e pegou a mamadeira em cima da pia, atravessando a sala de jantar e sentando no sofá ao lado de Baekhyun. – Oi, Bin. O babador ficou irado. Meu Deus, ele é muito bonitinho.

- Gostou, meu amor? Foi presente do Chanyeol, que estava se sentindo culpado por ter tirado o seu sono... – Baekhyun conversou com o bebê enquanto o acomodava no colo e pegava a mamadeira de Chanyeol. Sem delongas, a posicionou na boca de Kyubin e o bebê começou a mamar, faminto.

- Uau... os olhinhos dele ficam vidrados em você – Chanyeol comentou, os próprios olhos brilhantes vidrados em Kyubin.

- Bin gosta de encarar o papai, não gosta? – Baekhyun perguntou, transformando-se completamente em um aegyo humano. Chanyeol o encarou, surpreso e impressionado. Ainda não havia visto seu modo aegyo quando falava com Kyubin. – Bin-Bin tá enchendo a barriguinha, meu mochi comilão? Uh, tá gotosinho, não tá? É o bebê mais nindo do mundo, iti, o papai te ama muito... isso, come bastante pra ficar bem foti...

Baekhyun esqueceu de Chanyeol por um momento e, quando voltou a se dar conta de sua presença, o encarou. O garoto lhe encarava com um sorriso empolgado.

- Você é tão fofo quanto o Bin. Seu aegyo é muito bom.

- Tenho meus talentos como pai. São poucos, mas existem. Na verdade, esse deve ser o único. – Chanyeol estava pronto para protestar, mas Kyubin pareceu estar satisfeito. Baekhyun largou a mamadeira no sofá e levantou o bebê, o apoiando no ombro e induzindo o clássico arroto, que acabou não vindo. – Às vezes eles não arrotam. É normal. Eu pensava que sempre arrotavam. Surtei nas primeiras vezes, mas o Youtube me salvou. Agora é a vez de alimentar o vizinho barulhento, Bin. – Baekhyun completou, fazendo Chanyeol rir. – Quer segurar o Bin enquanto eu preparo sua comida?

- Meu Deus, sim, mas eu não sei... tenho medo de...

- Besteira, é fácil. Sempre garanta que a cabecinha dele esteja firme, pois ele não tem controle do pescoço ainda. Está vendo como estou segurando, usando meu braço como base? – Chanyeol concordou com a cabeça, nervoso. – Se está inseguro, pode ficar sentado enquanto eu preparo os pratos. Pronto?

- Eu acho que sim.

Baekhyun se inclinou na direção do garoto e largou Kyubin em seu colo. Os olhos dele estavam muito arregalados, mas sorria empolgado.

- Ele é tão... macio. Achei que era mais pesado, é... é bom de segurar. – Kyubin o encarava com atenção e Baekhyun notou Chanyeol ficar vermelho. – Oi, Bin. Sou seu vizinho barulhento, não sei fazer aegyo como o seu pai, então teremos de conversar como dois adultos.

- Quer aprender meu aegyo? – Baekhyun perguntou, se afastando para a cozinha. Pegou duas tigelas no armário e serviu a sopa, as colocando no balcão logo em seguida.

- Minha voz é muito grave, não sei se combina...

- Sabe quando você acha algo tão fofo que tem vontade de explodir?

- Tipo agora?

- É. Coloca essa vontade pra fora, a voz vai afinar naturalmente. Transforma as palavras normais em palavras fofas.

- Oi Binnie Bin-Bin vuxe é muitu nenêzinhu sabia? O papi ti ama muitu, maix eli tá preparandu sopinha agora. Daqui a poco eli volta, tá?

Kyubin soltou uma risadinha, esticando a mãozinha e agarrando a camisa de Chanyeol. Baekhyun gargalhou, fazendo o garoto o encarar irônico e confuso.

- Qual a graça?

- Você conseguiu! Não acredito!

- Ele está agarrando minha camisa! O QUE ISSO SIGNIFICA?

- Que ele gostou!

- Posso beijar a testa dele? Meu Deus, eu preciso beijar a testa dele!

- Pode – Baekhyun concordou, rindo mais ainda. Chanyeol se inclinou e deu um beijinho rápido na pele macia do bebê, que sorriu de novo. – Acho que Bin gosta de você, Chanyeol.

- Eu quero chorar. Um bebê fofo como o Bin gosta de mim. Ganhei na vida. Não preciso de mais nada.

O professor riu de novo, resolvendo levar as tigelas até a sala e apoiando a de Chanyeol na mesa de centro enquanto começava a comer a sua.

- Quer apoiar ele nas suas pernas? O braço começa a doer depois de algum tempo. Segura a cabecinha dele e solta devagar.

Chanyeol fez o que Baekhyun orientou, colocando Kyubin apoiado em suas pernas fechadas. Segurou suas mãozinhas, acariciando os dedinhos, e Baekhyun o observou enquanto comia.

- É bom para o Bin ter contato com outra pessoa sem ser eu e a babá. Obrigado por se interessar. Como ele ainda é recém-nascido, não posso passear tanto com ele ainda, então ele passa a maior parte do tempo aqui dentro.

- Pode me chamar quando quiser que eu brinque com ele. Vou amar – Chanyeol confessou, sentindo os dedinhos se fecharem em volta de um único dedo seu. – Nunca pensei que iria ter vontade de ter um filho, mas agora me deu. Nossa, isso é tão estranho. Não costumo me interessar por crianças, mas Bin me cativou.

- Bebês são as coisas mais preciosas do mundo, podem mudar a nossa vida. Eu também nunca me imaginei sendo pai e agora não trocaria isso por nada.

Chanyeol sorriu, mudando o toque para os pezinhos de Kyubin. Baekhyun terminou sua tigela e a colocou na mesa.

- Quer me dar ele para poder comer?

- A menos que o seu pai dê comida na minha boca, acho que teremos de nos separar, Bin. – Chanyeol comentou, fazendo Baekhyun rir. O professor se abaixou na frente do garoto e pegou o filho nos braços, permanecendo em pé com ele. Chanyeol se esticou e pegou sua tigela, dando uma colherada na sopa.

- Está ótima, muito obrigado. Depois que eu terminar vou voltar pro meu apartamento, não quero ocupar seu tempo. Deve estar cheio de coisa pra fazer.

- Imagina, hoje é domingo. Pode ficar quanto quiser. – Nunca pensou que diria isso para o vizinho barulhento, que odiou tanto durante aquele último mês. Chanyeol agradeceu, mas, apesar de estar muito empolgado com Kyubin, ainda parecia ser muito educado para passar tempo demais na casa do vizinho teoricamente atarefado. Terminou de comer sua sopa e insistiu para que Baekhyun lhe deixasse lavar toda a louça antes de voltar para seu próprio apartamento.

Quando ficou sozinho, quase uma hora depois, devolvendo Kyubin para seu berço, sentiu as bochechas doloridas de tanto que sorriu naquela tarde.


* · * · * · *


Chanyeol estava atrasado, para variar. Estava sempre atrasado para tudo, e sempre culpava seu sono. Não, não era pelo fato de ser desorganizado, imagina. A culpa era sempre do sono anormal para um cara de vinte e um anos. Já havia saído da adolescência, mas continuava dormindo feito um adolescente. Quando tinha tempo, estava dormindo. Dormia até quando não tinha tempo, como havia acontecido naquela manhã. Seu orientador de curso havia solicitado um horário para que se encontrassem naquela terça-feira, e Chanyeol não fazia ideia do motivo. O semestre mal havia começado, já estava registrado em todas as aulas e não estava faltando muito. O que raios havia feito de errado? Era a única pergunta que pairava por sua cabeça enquanto atravessava o campus correndo.

Bae Joohyun era uma mulher séria, chegava a meter medo nele quando algo não funcionava como ela queria, mas sempre procurava resolver os impasses de Chanyeol da melhor forma possível. E, aparentemente, era o caso daquele encontro repentino.

- Sente-se, Chanyeol – A orientadora murmurou, atrás de sua escrivaninha. Seu escritório se localizava no prédio de Artes, porque ela própria era professora de música. Entendia pra caramba de partitura. – Como está?

Chanyeol largou a mochila nos pés ao sentar em uma das duas poltronas em frente a mesa da orientadora. Recuperou o fôlego antes de responder.

- Atrasado, aparentemente.

- Como sempre. Já me acostumei. Marquei esse encontro com você por conta das suas notas nas aulas de composição do semestre passado e retrasado. Não conversamos sobre isso até agora, sempre deixamos para depois, mas percebi que precisamos resolver isso o quanto antes. Sabe como composição é parte importante do seu curso, não sabe?

Chanyeol suspirou, concordando com a cabeça. Era verdade, suas notas nas aulas de composição eram péssimas, havia rodado em duas disciplinas em apenas dois anos de curso. Era péssimo compondo, nada criativo. E sabia que, parte disso era culpa do seu hábito inexistente de leitura. E sabia que Joohyun iria tocar naquele assunto.

- Já conversamos sobre isso antes, eu lhe aconselhei sobre a importância da leitura para a composição, Chanyeol. Música não passa de uma forma diferente de contar histórias. Precisa saber contar histórias. Suas notas foram baixas nas disciplinas obrigatórias de literatura, inglês e coreano. Apesar de terem sido baixas, você passou nessas disciplinas e não posso lhe forçar a fazê-las novamente. Então tive que buscar outra solução. – A orientadora voltou a atenção para a tela do computador na sua frente, clicando algumas vezes antes de continuar. – Um dos professores de literatura do nosso corpo docente está oferecendo aulas particulares para alunos com dificuldade em qualquer matéria dessa área, e acho que seria interessante você pensar sobre isso. Na verdade, estou falando com ele nesse momento, acabou de chegar no campus e pedi para que passasse aqui por um instante, tudo bem?

- Tudo bem. Mas sabe que odeio literatura, senhora Bae... não tem outro jeito? Não posso compensar em outras disciplinas?

- Não existe isso, Chanyeol. Você precisa aprender a escrever, infelizmente. Faz parte do seu curso.

- E se eu...

Chanyeol foi interrompido por três batidas na porta. Joohyun levantou de sua mesa e atravessou o escritório, abrindo a porta e sorrindo educada.

- Que bom que pode passar aqui rapidinho. Gostaria que conversasse um pouco com meu orientando. Sabia que ele iria relutar, e como você consegue convencer até um padre a dançar tango...

Joohyun lhe deu espaço para entrar e Chanyeol suspirou, fechando os olhos por um momento. Reuniu forças para aturar aquilo e levantou da poltrona, finalmente encarando o professor que aparentemente fazia milagres.

Baekhyun o encarava sem reação, parado no meio do escritório.

27. Juni 2018 02:32 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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