zephirat Andre Tornado

Quando o filho da senadora Leia Organa descobre a verdade que sempre lhe esconderam, a par de outras informações sobre a sua família e sobre si mesmo, a tempestade que se desata na sua alma tem apenas uma única consequência: a revolta. Se antes o chamamento da escuridão era estranho e repulsivo, agora parecia-lhe que fazia mais sentido do que nunca. Ele não iria recusar-se, nunca mais, a escutá-lo.


Fan-Fiction Filme Nur für über 18-Jährige. © Star Wars não me pertence. História escrita de fã para fã.

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I - Antes Havia uma Maneira de Regressar a Casa


Aquele dia em que conheceu a verdade ficou-lhe gravado no cérebro a fogo. Um sinal feito por um ferro em brasa, similar àquele que ele lia nos livros de História e que se costumavam usar para marcar os escravos, determinando a sua posse.


Era das matérias escolares que mais detestava, pois sabia que não passava tudo de uma apurada e global mentira. Não denunciava os factos históricos apresentados como falsidades. Sabia que tinham existido académicos e estudiosos que dedicaram anos incontáveis das suas miseráveis vidas monótonas para redigir aqueles compêndios cheios de narrativas destinadas a instruir e a prevenir, que tudo era a mais pura verdade. Antes considerava a História, enquanto disciplina, globalmente como uma mentira porque muitos dos acontecimentos apresentados como tendo sucedido no passado, em eras longínquas e primitivas, continuavam a ter a sua atualidade, ou seja, continuavam a acontecer.


Ele sabia que havia sistemas planetários, situados nos territórios desconhecidos, onde ainda existiam populações inteiras escravizadas, gentes com a pele marcada com o nome do seu senhor. Ele conseguia senti-lo. Não se interessava demasiado por esse sentimento, que era como uma aflição mitigada e embrulhada em sombras. Apreciava sobretudo sentir a dor alheia, distante, um ligeiro prurido e fixar como sua aquela capacidade inacessível para a maioria dos mortais.


Por outro lado, a História raramente se fazia pelo lado dos perdedores. Era sempre a visão deturpada e condescendente de quem tinha vencido a luta, qualquer que esta tivesse sido, que subsistia. Os mortos perdiam, necessariamente e devido à sua condição, a sua voz. E essa noção absoluta e maculada era a verdade?


Havia muitas verdades e uma delas, terrível e muito pessoal, tinha acabado de se transformar em revelação e atingira-o, abrindo uma ferida ígnea no seu cérebro. Uma marca.


Era interessante traçar aquela ligação entre os escravos da galáxia e a sua condição atual de escravo imaginário.


Percebia-se, portanto, como um escravo.


No sentido de ter ficado tolhido com a dor da vergonha e da humilhação, por oposição ao sentido de pertencer a alguém ou a ter perdido a sua liberdade pessoal.


Se meditasse sobre a questão veria que a palavra escravo compunha-se de todos esses elementos asquerosos, a vergonha, a humilhação, a falta de liberdade, a perda de alguma coisa fundamental.


Se aturasse no sinal que lhe tinha sido rasgado no cérebro com o poder da queimadura imaginária, via-a como um estigma que lhe queriam impor. E ele rugiu de indignação. Ninguém lhe imporia nada.


Respirou fundo, arrefecendo a raiva vermelha que o queimava como magma.


A verdade seria um novo ponto de partida. Tinha existido um antes e haveria um depois. Regressando à analogia com a História, disciplina odiada e que malogradamente ressurgia como norte em situação precária de desorientação, aquele era um momento tão extraordinário quanto tinha sido a Batalha de Yavin. O calendário oficial da galáxia passou a definir essa batalha, a primeira grande vitória da Aliança para a Restauração da República contra o Império Galáctico durante a terrível guerra civil, como o instante zero com que se deveriam classificar os eventos históricos. Havia um antes da Batalha de Yavin e um depois da Batalha de Yavin. Ele, por exemplo, tinha nascido cinco anos após a Batalha de Yavin.


Vinte e três anos depois de ter aberto os olhos para o mundo, vinte e oito anos depois da Batalha de Yavin, redescobria uma nova forma de contar o tempo, pelo menos, para si próprio e era só isso que lhe interessava agora, num delírio egoísta, engolindo a vontade de destruir o que o rodeava, acalmando-se com um paliativo imaginário destilado dos vapores onde se movia o seu espírito aos gritos.


Antes e depois da verdade.


O que tinha existido anteriormente já não lhe interessava. Não tinha a capacidade de viajar no tempo e de mudar o passado, nem tal empresa fantástica o seduzia. Havia erros que simplesmente era impossível corrigir, mesmo com toda a vontade dos seus intervenientes, direta ou indiretamente, mesmo dobrando todas as leis galácticas que ordenavam o caos naquele Universo perfeito na aparência.


Para ser inteiramente honesto, também não se interessava pelo futuro, composto por inúmeras variáveis descontroladas e, sobretudo, incontroláveis. Bastava carregar no botão errado e tudo se desmoronava, sacudido pelo mais tenebroso dos sismos, ondas tectónicas provocadas pelo ator do teatro que procurava evitar o drama mas que conduzia sempre na via desse desfecho trágico do qual se tentara prevenir.


Interessava-lhe o tempo presente, a solidez da certeza de que a existência se enformava na ação imediata, nem sempre pensada, planeada, refletida, no gesto brusco que seguia o que o olhar tinha fixado, na palavra dita que era sentença não revogável. Viver implicava uma escolha consciente de aceitação da própria personalidade com todas as qualidades e todos os defeitos. Acima de tudo, os defeitos.


Ele nunca se achara virtuoso. Existia sempre um qualquer senão em tudo o que se relacionava consigo. Se fosse um ser humano perfeito, não teria afastado todos aqueles que deveriam estar sempre a acompanhá-lo, a acarinhá-lo e a empurrá-lo nas direções corretas. Em suma, não teria criado aquela aversão à sua família, pois só podia explicar o seu isolamento e abandono por ser, de algum modo, coberto com tantas imperfeições e estranhezas.


Agora tinha mais aquele problema para lidar.


A verdade.


Marca a fogo, marca cronológica.


A metrópole próspera, cintilante, anónima, esplêndida, gigantesca estendia-se até ao horizonte recortado pelos edifícios esguios e harmoniosos. A arquitetura era delicada e altiva, numa afirmação de poder indelével. A modéstia disfarçava-se em iluminações de rebrilhos eternos, a riqueza exibia-se discreta, mas era inevitável não apontar a prosperidade que tornava cada canto mais limpo e mais ordeiro. A comparação com Coruscant, antiga capital imperial, era evidente, mas todos no sistema Hosniano e em particular ali, na principal cidade de Primeiro Hosniano, descartavam-na polidamente, com um certo azedume. Existia uma nova política galáctica, uma nova organização administrativa, não existiam imitações, ainda que encobertas, dos antigos costumes e vícios. O sistema Hosniano constituía, naquela época, a sede do Senado Galáctico e orgulhava-se desse estatuto, portanto achava curial que se estabelecesse uma cidade que fizesse jus a esse enorme privilégio. A construção e o embelezamento da capital eram constantes, pois novos serviços eram requeridos pelas delegações senatoriais provenientes de tantos e diversos sistemas. Alegações de que imitavam o que quer que fosse eram consideradas ofensivas.


Com a fundação da Nova República, mais de vinte anos antes, o local de reunião e deliberação do Senado Galáctico passara a ser rotativo, escolhido pelo voto da maioria dos senadores, uma forma de atestarem a importância fundamental da democracia. O sistema Hosniano era a terceira sede desse complexo órgão governativo.


Enquanto matutava na verdade que tinha recentemente vindo ao seu encontro, ele observava a fragilidade daquele mundo bonito desde a grande janela do seu quarto, situado num hotel que era usado, exclusivamente, pelos senadores e respetivas famílias. Os sons não lhe eram transmitidos, por causa do vidro grosso, mas todo o bulício conseguia afetá-lo se ele estendesse a sua perceção pelo local. Não o queria fazer, seria outra questão para aumentar a sua irritação, fazia-o quase inconscientemente, para se segurar a alguma coisa concreta. O seu poder, tão imenso, tão rico e idiossincrático como a cidade cosmopolita e vaidosa.


Sabia que ela viria, que estava prestes a chegar.


Claro que viria…


Estava agitada e nervosa, antecipando a conversa difícil e dura que iria ter com ele. Tentava controlar as suas emoções, tentava mostrar-se calma, mas a tempestade caíra primeiro sobre a sua cabeça, por arrasto tinha vindo bater nas costas desprotegidas dele que se fendiam açoitadas por esse furacão que, na essência, transportava a verdade.


Conseguia senti-la. Da mesma forma que sentia os escravos desconhecidos, a sofrer nos confins da galáxia.


Ao se tratar de sofrimento, sentia tudo.


Porque desde muito menino sabia muito bem como era sofrer.


A visita dele ao sistema Hosniano não era para ter terminado daquela maneira. Nem para ter começado como começou, pensou e já que se predispunha a essa análise inútil. Recebera uma licença para se ausentar do templo onde estava a ser ensinado, uma espécie de prémio por ter avançado nos treinos. Não achara interessante ou necessário ter uma pausa, quando estava a gostar, pela primeira vez na vida, do que estava a fazer, mas não emitiu a sua opinião, como era seu costume. Sempre a esconder o que queria dizer, o que imaginava, o que pensava ou sentia. Ninguém, nunca, se importara pelo seu estado, então habituara-se ao silêncio e a aceitar o que lhe propunham e ofereciam.


Não desejava visitar a mãe, mas conhecia os pedidos dela para vê-lo.


Na véspera de se ir embora tivera uma premonição em forma de sonho breve, que o despertara nessa madrugada. O tio dissera-lhe que estava ansioso por partir, ele interpretara a visão fugaz de um modo mais sombrio. O peso no peito, o coração acelerado, o negrume que lhe abafava a respiração e a voz eram mais do que um simples desejo de reencontrar a mãe, como lhe foi explicado. Era um sinal de que uma sombra se aproximava e que o iria transtornar.


A verdade, agora desvelada, era essa sombra.


A mãe estava próximo do quarto, em breve chegaria.


Compreender o seu sonho, fortaleceu-o. Foi capaz, uma vez esclarecido, de criar a armadura que o protegeria de toda a retórica que iria ser usada contra o que tinha acabado de saber, a denúncia de um mistério antigo que ele não podia conhecer, porque podia lançar novas perguntas numa mente já de si efervescente de dúvidas. Se a sombra o tinha petrificado no sonho, na sua presente condição – vigilante, sensível, desconfiado – iria libertá-lo.


A porta abriu-se num silêncio deslizante. A presença da mãe colocou um vulto de calor no ambiente arrumado, higiénico e impessoal do quarto. Estava limitado por um invólucro esbranquiçado que continha a energia e os verdadeiros sentimentos, resguardados num pequeno núcleo no meio da tepidez. Se ele aprofundasse a exploração, notaria que o calor era uma ilusão, que naquela alma morava a frieza de alguém que lutara desde o primeiro dia da sua existência.


Ele não se voltou para encará-la e recebê-la. Manteve os olhos fixos na janela que lhe mostrava o ambiente carregado de luzes, de movimento e de pressa da cidade, que mostrava o reflexo da imagem baça da mãe, entre essas luzes. A mesma janela que refletia também o seu rosto magro e anguloso, emoldurado por uma cabeleira escura desalinhada. A rebeldia dele começava no cabelo, dizia-lhe a mãe quando ele era uma criança. Afastou essa memória traiçoeira, não deseja ser compassivo naquela ocasião.


No final, a controvérsia deveria saldar-se na sua vitória.


Não admitia mais dissimulações.


- Obi-Wan Amidala Skywalker Antilles Organa.


A princesa Leia Organa era uma senadora exímia, dotada de uma eloquência contagiante, conhecedora do combate político, perita em todas as manhas, truques e compromissos. Decerto que estaria, em primeiro lugar, magoada com o que tinha acontecido recentemente, não por causa do acontecimento em si, mas porque não tinha sido suficientemente inteligente ao ponto de prever as ondas de choque que tal movimentação criaria. Era apenas uma questão de tempo até a verdade vir ao de cima. Nenhum segredo ficava por revelar, se estivesse ligado ao exercício do poder.


E como grande animal político que era, sabia que fio puxar para provocar a sua audiência da forma mais eficaz, dependendo da situação. Risos e lágrimas, indignação ou veneração, Leia Organa já tinha arrancado praticamente todas as emoções aos seus colegas no Senado Galáctico. Ao aproximar-se do filho, também lhe tocou no nervo certo, usando o seu nome completo como saudação.


Admirável! Sempre fora uma mulher prática, guerreira, empenhada à causa pública, lutando ou discursando. Infelizmente, nunca fora uma mãe…


Ele murmurou, também em jeito de saudação:


- Um nome impressionante.


- Os filhos das casas reais costumam ter nomes impressionantes. Não quis quebrar essa tradição. É uma honra que uses os apelidos da Casa Real de Naboo e da Casa Real de Alderaan.


Estava a tentar distraí-lo, procurava amansá-lo. Passava-lhe uma mão pelo cabelo despenteado, tentava ajeitar as madeixas com um sorriso, para a seguir dizer-lhe que o inscrevera noutra colónia de férias. Ele devia compreender, o pai estava a trabalhar, ela também não tinha assim tanto tempo para lhe dar atenção, havia uma qualquer missão diplomática que ela integrava, a um sistema que precisava de adquirir as vantagens de um sistema plural e democrático. Pela milésima vez…


Ele fechou os olhos. Através do reflexo do vidro ela estava de braços cruzados, uma perna à frente da outra, pescoço bem esticado, a equilibrar outro daqueles penteados severos que insistia em usar e que a faziam medonha.


- Talvez por causa dessa pompa, o meu pai gosta de evitar-me… A sua simplicidade impede-o de conviver com alguém que tenha um nome que o cansa, ao pronunciá-lo. Mesmo que eu seja o seu único filho. É curioso como o que parece extraordinário a alguém não passa de algo completamente desprezível para outro alguém.


Ela apertou os lábios.


- Precisamos de falar.


- Sim, precisamos… mãe.


- Podias voltar-te para mim? O contacto visual ajudava.


Relutante, ele afastou-se da janela. Colocou as mãos atrás das costas, projetando o peito.


- Vamos sentar-nos? – convidou ela, soltando os braços.


- Estou bem de pé. Queres sentar-te? Não me importo que fiques sentada… se te sentes cansada.


- Também estou bem assim – concedeu ela, embora desejasse que ocupassem o sofá do canto que tornaria aquela conversa mais íntima, mais fácil, menos perigosa. – E não, não me sinto cansada. Já tive sessões piores no Senado.


- És um grande orgulho para mim.


Ela franziu uma sobrancelha, desconfiada. Ele disfarçara o sarcasmo das suas palavras, mas a entoação não fora inteiramente sincera. Nunca poderia enganar a perspicácia e a intuição materna, embora ele tivesse tentado sempre, desde que se lembrava, provavelmente desde que tinha nascido. Fora uma criança difícil, um adolescente reservado, um jovem adulto problemático. Tudo no seu devido lugar, concluía satisfeito. Não lhe iria facilitar o percurso ali, pois nunca o tinha feito.


Mas ela sabia-o. Sabia-o demasiado bem, lamentavelmente. Estava armada com todas as possíveis proteções, defensivas e ofensivas.


- Falemos honestamente. Não tenho jogo escondido… Não estou a tentar manobrar-te… Não estou a querer convencer-te… Mencionei o teu nome completo para que te recordes de como és extraordinário, meu filho. Sei que o classificaste como uma provocação, mas quero que comecemos esta conversa sem qualquer preconceito. Não foi uma provocação, foi uma constatação. Uma recordação. O teu nome inclui a variedade de toda a tua família, as diversas origens de que te podes orgulhar, as múltiplas heranças que te cabem, por direito próprio. És um Amidala, tanto quanto és um Antilles ou um Organa. Mas mais importante… és um Skywalker!


A voz da mãe tinha enrouquecido com o tempo. Por usá-la demasiado durante as reuniões do Senado, por gritar para se fazer ouvir acima das críticas injustas, por gostar simplesmente de falar pois acreditava que a diplomacia ainda funcionava.


- E sou também… um Vader. Falta esse apelido. Tiveste vergonha de o recordar, quando me escolheste esse nome sonante? Talvez, hoje não estaríamos nesta posição. Não apenas tu, senadora Leia Organa, mas eu também, enquanto teu filho único.


As faces da mãe enrubesceram de fúria.


- Escuta-me.


Os ombros dele amoleceram.


- Estou a escutar-te. Terás alguma coisa para me dizer que eu já não conheça?


- Deverás escutar sempre a tua mãe, nem que seja pelo facto… de eu ser a tua mãe. E acredito que não conheças nada sobre este assunto. O que ouviste foi uma calúnia destinada a prejudicar a minha candidatura a Primeiro Senador. Uma vingança miserável proveniente de Lady Carise Sindian, recentemente empossada como monarca e governadora de Birren.


- Uma calúnia… Não a refutaste como uma mentira. De facto, parece-me que aceitaste o anúncio do senador Ransolm Casterfo como a verdade. A propósito, discurso muito inteligente e pragmático na sessão extraordinária do Senado que discutiu esse pequeno percalço na tua candidatura. Gostei de te ouvir, portaste-te muito bem.


- Não és Han, o teu pai… Por favor, não faças uma pobre imitação das suas graçolas inconvenientes.


Ele fingiu ignorar aquela observação ácida. Uma mãe normal não diria tal coisa ao seu filho. Lembrou-se que nunca existira normalidade entre eles. Engoliu a raiva que retornava e enchia as cavidades ocas da sua alma. Por fora, continuava calmo.


- O que significa que sou filho… da filha de Darth Vader – prosseguiu ele. – Portanto, o último dos lordes Sith era o meu avô. Isso explicaria muita coisa…


- Queres explicações? Eu estou aqui para dar-te todas as que desejares. E todas as que precisares de ouvir.


- Estou a ouvir-te. Ainda não me recusei a conhecer a tua versão da história que, pelo que aparenta, acaba de destruir a tua carreira.


- Não és um Vader! Vader não faz parte do teu sangue.


- Provavelmente… estás enganada.


- O teu avô foi Anakin Skywalker, nobre Jedi que foi traído e assassinado por Darth Vader, por ordens do Imperador Sheev Palpatine.


- Não me peças que aceite essa afirmação, depois do dia de hoje.


- Por que não? Se é a verdade!


Então, ele berrou enervado:


- A verdade é que sou neto de Darth Vader! Tu sempre o soubeste. Tu e Luke Skywalker! E nunca se dignaram a me contarem. E qual a razão?! Oh, claro… Tudo dependia do ponto de vista. A treta do ponto de vista! O meu pai também o sabia?


- Sim, sabia…


Pensar em Han Solo a guardar um segredo desanimou-o. Soprou:


- Pois…


A mãe entendeu que estava mais vulnerável para receber a sua explicação.


- Não faria qualquer diferença que soubesses dessa… suposta verdade, que parece ser tão importante para ti. Porquê? Não tem qualquer importância. Porquê? Diz-me, porquê… És e sempre foste um Skywalker, luminoso e uno com a Força. Vader foi uma doença. Sim, uma doença. – Leia começou a andar pelo quarto, agitando os braços, falando à medida que ia compondo a dissertação sobre aquele assunto. – Um vírus que transtornou o teu avô Anakin Skywalker, que era uma pessoa boa, um Jedi muito poderoso, um piloto dotado, um grande guerreiro que defendia a Antiga República e os seus ideais. Ao ser contaminado pela doença, entrou em coma, deixou de existir. Foi depois curado, recuperado, redimido.


- Essa doença de que falas… chama-se o Lado Sombrio da Força. Eu sinto-o em mim… Luke disse-te, um dia, como eu era sensível à escuridão e tu ficaste assustada. Pediste-lhe que me vigiasse, que me ensinasse. Agora, obedecendo mais uma vez às tuas ordens, juntei-me a ele nesse templo onde ensina outros para que ignore o que se passa dentro de mim. – Ele bateu com o punho fechado no peito. – Sabes o que se passa dentro de mim?!


- Sei, tens as mesmas dúvidas que qualquer aprendiz a Jedi possui.


Ele apertou os dentes, espetou o queixo.


- É mais do que isso. Não espero que compreendas.


- Talvez compreenda.


- Uma doença… Estou doente?


- Não, não estás doente. És jovem, tens as tuas dúvidas. Estás a aprender a ser um Jedi. É normal que tenhas ainda mais dúvidas.


- Uma dessas dúvidas é por que razão não sabia que Vader era o meu avô.


- O teu avô é Anakin Skywalker – insistiu ela, teimosa.


Ele virou o pescoço. Ela acercou-se devagar, com a precaução que se deve ter perante um animal perigoso que se quer domesticar. Movia-se lentamente, para não sobressaltar a besta com algum gesto brusco e inadequado, para chamar-lhe novamente a atenção.


- Meu filho, não deves deixar-te influenciar pelas notícias fantásticas, ou supostamente fantásticas, de hoje. Nada mudou contigo. Continuas a ser um Skywalker. O teu nome não foi alterado.


- Não disse que deixava de ser um Skywalker. Continuo a pertencer à luz, a ter a Força em mim, como todos da minha família. Continuo a ser Amidala, Antilles e também um Organa. Mas hoje aprendi que sou também… Vader.


- Não! – exclamou ela horrorizada. – Não admito que afirmes essa filiação!


- Trata-se do teu pai. Destruiu a tua atual carreira política, é certo, mas não nos devemos envergonhar dos nossos pais…


Ele abriu um sorriso sardónico, ela arreganhou os dentes.


- Ele não era o meu pai! – Leia Organa respirou fundo. Mostrou-lhe as mãos, num gesto aparente de rendição. Explicou com paciência: – Estive com Darth Vader muitas vezes. Era alguém abominável, odiava-o profundamente. Simbolizava o Império Galáctico que eu, enquanto rebelde, combatia. Torturou-me e maltratou-me, destruiu o planeta onde cresci, Alderaan. Vader entregou o teu pai ao caçador de recompensas que o bandido Jabba pagava, congelou-o em carbonite sem saber se ele iria sobreviver ao processo de hibernação forçada. Vader combateu e mutilou o teu tio. Dentro daquela armadura, por detrás daquela máscara, não existia ninguém vivo ou com uma leve humanidade.


- Uma folha de serviço quase tão impressionante como o meu nome…


- Vader não era o meu pai, porque ele não era alguém, não era uma pessoa. Mais próximo a uma maldito ciborgue desprovido de alma e de coração. O meu pai era Anakin Skywalker, o teu avô.


- Incomoda-te assim tanto, mãe?


- E a ti… Incomodou-te por não saberes que esse vil agente do Imperador terá, eventualmente, uma relação de parentesco contigo?


- Preocupa-te assim tanto, mãe?


- E a ti… Preocupa-te que tenha existido esse segredo?


Calaram-se. Estavam a pressionar-se mutuamente com as suas fraquezas. Não se iriam esclarecer, nem seriam compassivos com os sentimentos do outro. As razões eram compreensíveis, até um certo limite, depois esbarrariam nas convicções de cada um, tornando aquele um diálogo de surdos. A teimosia, para além da Força, também era característica de família.


Leia caminhou até ao móvel onde estava o holopad que ele tinha usado para conhecer as notícias chocantes daquele dia. Deveria ter visto o comunicado oficial destinado à comunicação social, emitido antes do discurso do senador Casterfo, deveria ter assistido ao holograma, provavelmente em direto que a curiosidade do seu filho, a par da exigência de um esclarecimento cabal, o tinha compelido a tal, do discurso desse senador que fazia a revelação que comprometia a senadora Organa, na sessão extraordinária do Senado onde ela tinha pedido a palavra e realizado uma primeira defesa, deveria ter escutado todas as curtas declarações dos demais senadores que reagiam ao caso, no fim do anúncio, os comentários dos analistas, as opiniões de certos governadores.


Ele entrou no roupeiro, agarrou no seu saco onde enfiara os seus parcos haveres, colocou-o ao ombro. O seu andar continuava desengonçado e indolente, derivado da sua estatura. Crescera demasiado em pouco tempo, não conseguira equilibrar a sua altura subitamente elevada, com a sua idade.


A mãe perguntou-lhe, admirada:


- Onde vais?


- Regresso ao templo. Não quero ficar mais aqui… Não me apetece assistir à tua queda e humilhação.


Já me basta a minha própria humilhação.


Queria também distanciar-se o quanto antes da influência turbulenta da mãe que, como todos os Skywalker, também tinha os seus poderes na Força. Eram ténues, incipientes, nunca aceitara um treino mínimo com o irmão, Luke Skywalker, o último cavaleiro Jedi da galáxia, desculpara-se sempre com a sua carreira política. Por isso, quando os tentava usar, naquela ocasião, para acalmar o filho, tornava-se patética, porque não conseguia penetrar corretamente na sua aura e deixar aí algum consolo. Havia um certo desespero da parte dela, uma certa troça da parte dele.


A senadora Leia Organa fez um som com a garganta, semelhante a uma risada reprimida.


- Ainda não caí, meu filho. Tive de retirar a minha candidatura a Primeiro Senador, fi-lo imediatamente para não alimentar especulações de que iria tentar rebater as acusações de Casterfo, pois é impossível rebater um facto comprovado, mas nunca desistirei de lutar enquanto tiver forças, enquanto acreditar que estou a fazer o correto. E estou a fazer o correto! Ao terem associado o meu nome ao de Vader e, por acrescento, ao Império, esperam silenciar-me, colher dividendos políticos para o partido dos Centristas, diminuir a influência dos Populistas. Não os deixarei vencer com tão pouca matéria…


O sorriso foi vazio, sem chama.


- Não serei humilhada.


Enfiou as mãos nos bolsos do casaco, mirou-o da cabeça aos pés, meneou a cabeça. Ele estava vestido com a túnica dos aprendizes a Jedi. Pesada e feia.


- Fazes bem em regressar ao templo – concordou. – Logo que chegares, vais falar imediatamente com o teu tio. Ele vai esclarecer-te, melhor do que eu. Quero que essa birra termine.


- Sim, mãe.


Não se chegaram a despedir. Ele simplesmente saiu do quarto.

17. April 2018 14:32 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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