caramelosama Caramelo Sama

"As mais lindas frases de amor são ditas no silêncio de um olhar". — Paulo Coelho. Sasuke acreditava nisso. Acreditava nessa verdade por que Naruto já havia dito muito para ele, e nunca houvera necessitado de palavras para isso. No alto do farol abandonado eles conversavam por horas e mesmo assim nunca trocaram duas palavras. Por que não precisavam disso. Porém tudo na vida é efêmero e, essas tais conversas, não fugiam a regra.


Fan-Fiction Nicht für Kinder unter 13 Jahren. © Todos os Direitos Reservados

#Naruto/Sasuke #Sasuke/Naruto #Yaoi #Tragédia #fanficsotaconda #snschurch
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Efêmero — Capítulo Único

Essa história foi feita a um tempo atrás para um desafio do Grupo Família Sasunaru no Facebook. O tema era Primeiro Beijo e minhas palavras sorteadas foram Lámen, Pássaros e Mercearia. Ela é um bebêzinho que eu amo e vou defender, espero que gostem dela tanto quanto eu gostei de escrevê-la outrora. Kissus de boa leitura <3


~>~<~
1924, 1º de Setembro

O vento gélido soprava rudemente e chocava-se contra a pele mais pálida do que o costume. Fustigando seus cabelos, que se revoltaram e sacudiram os fios mais compridos em frente aos olhos escuros. Cerrados para proteger-se das rajadas cortantes do início da manhã. A ponta do nariz em vermelho se destacando no rosto alvo, vulgarmente coberto por um cachecol preto já batido pelo tempo.

As mãos se apertando firmemente sobre o tecido do casaco escuro que trajava, feito de lã há muito tempo por sua mãe. Os lábios rachados pelo frio murmurando injúrias contra o clima hostil da pequena península onde vivia há muitos anos. Lugar da qual sempre desejou sair sem nunca olhar pra trás. Quando fosse embora dali jamais voltaria, jamais pensaria no lugar esquecido por Deus ou por qualquer coisa que fosse.

No entanto ainda teria de suportar por mais algum tempo a maldita vila, não iria embora sem o irmão, o mesmo que agora definhava lentamente em uma cama em casa. Motivo pelo qual estava ali no momento. Exposto a baixa temperatura enquanto praticamente corria até a única mercearia de Kirigakure. Precisava dos remédios.

A situação do irmão o preocupava, tinha medo de que se agravasse e ele viesse a falecer. Itachi era tudo o que tinha, sua única família viva. Se ele se fosse, não teria mais lugar no mundo. Não teria mais nada. Estaria à deriva naquele aglomerado imundo de pessoas que chamavam-se de humanidade. Ainda sim, sabia que Itachi era forte, tinha esperanças de que fosse apenas uma gripe mais intensa que assolava o pobre irmão.

Do contrário iria se desesperar e sabia disso melhor do que ninguém.

Todavia a preocupação do momento era entrar na mercearia e comprar o remédio que sempre deixava encomendado com o dono do lugar. Torcia para que já houvesse chegado. Seu humor ficaria péssimo se a entrega houvesse atrasado como no mês passado.

Mas julgando pelo sorriso que Minato lhe dera quando adentrou o estabelecimento, sabia que já havia chegado. Do contrário não seria recebido com um sorriso sincero, mas sim com certo constrangimento e um mudo pedido de desculpas impresso nas íris azuis. Do modo como houvera sido outrora.

— Bom dia, Sasuke. — a voz contente do homem chegou aos seus ouvidos e o moreno não pode deixar de expressar seu desagrado com aquela alegria logo pela manhã. Ainda mais em uma manhã que parecia castigo divino, tamanho era o frio que fazia.

— Hum. — foi o que se dignou a responder, sem se preocupar que poderia ofender o mais velho. Sabia que Minato estava acostumado com seu modo monossilábico e mau humor constantemente presente.

— Como está seu irmão? — não que o fato dele saber o impedisse de tentar puxar assunto. Na visão do loiro, Sasuke era um adolescente muito introspectivo.

— A melhora é lenta, mas progressiva. — respondeu sem grande interesse, os olhos atentos aos movimentos que o outro fazia enquanto procurava em uma gaveta o remédio que fora ali pegar.

— Espero que ele se recupere em breve, Itachi é um bom garoto. — Minato sorriu, entregando-lhe uma caixinha branca com um papelzinho escrito Sasuke em cima. Para que pudesse se lembrar a quem deveria entregar, sem que cometesse enganos. — Cuidado na volta, não ande muito perto do litoral; o nível da água sobe perigosamente nessa época.

— Certo, até mês que vem. — virou-se para ir embora quando de repente seus olhos passaram por uma figura loira espiando pela porta ao lado direito do balcão de Minato.

Um rapaz com aparentemente sua idade estava com metade do corpo encoberto pelo batente da porta e, a outra metade, lhe apresentava um garoto mais ou menos da sua altura. Cabelos tão loiros quanto o sol que despontava raramente entre as nuvens no verão e olhos tão azuis quanto os do pai. A pele naturalmente dourada contrastando com aqueles olhos tão penetrantes que eram dirigidos a si com fascínio e curiosidade.

Por um segundo sentiu-se preso ao olhar do outro — do mesmo modo que sentia-se todo mês ao ir até ali. Contudo logo quebrou o contato e foi embora, com muito custo, andando na direção contrária à qual desejava verdadeiramente ir.

Era sempre assim. Lembrava-se ainda da primeira vez que fora até a mercearia. Naquela tarde ele vira o garoto tímido escondido pelo batente da porta e inevitavelmente percebeu que gostaria de se aproximar dele. Alguma coisa no loiro mais jovem lhe chamava atenção e ele não sabia o que era exatamente. Para seu infortúnio, sua sede por descobrir só aumentava conforme os meses passavam. Pois toda vez que estava saindo do lugar, era possível ver o outro a espiar-lhe de longe.

Porém, para seu completo desagrado, nunca trocara mais do que alguns olhares com o mesmo. Nem sequer sabia o nome do rapaz, apesar de ter ciência que tratava-se do filho de Minato.

E duvidava muito de que alguém já tivesse tido a oportunidade de conversar com ele. Em todos esses seus dezoito anos de vida, nunca sequer avistou o loiro andando pela vila. Chegava a cogitar a possibilidade de que ele jamais houvera saído da própria casa. Que se fundia a mercearia da família pelos fundos.

Contudo tais pensamentos foram violentamente soprados de si quando o vento atingiu-lhe pela segunda vez ao dia. O que fez com que guardasse desajeitadamente a caixinha branca no bolso interno do casaco e corresse para casa. No abrigo quentinho que era seu lar, aquecido pela lareira na sala.

E como de costume lá estava Itachi observando aflito por uma das janelas. Não era novidade para Sasuke vê-lo ali. Sempre que saia para qualquer coisa que fosse, o mais velho montava vigília para espera-lo. Na cabeça do outro Uchiha, Sasuke fora de casa era perigoso, independente de onde ele estivesse indo. E honestamente isso aborrecia o menor, que sempre deixou claro que ao invés de encher a cabeça com paranoias, Itachi deveria estar de repouso em sua cama.

— O que pensa que está fazendo? — foi a primeira coisa que indagou assim que adentrou a residência. Olhando repreensivo para o irmão, que lhe sorriu pedindo desculpas. — Vai já pra cama, Itachi!

— Parece bem frio lá fora, otouto… — o mais velho dirigiu-se a uma poltrona perto da lareira, sentando-se confortavelmente ali. — Por que não vem se aquecer também?

— Vou pegar um copo da água para que possa tomar seu remédio. Espere um pouco. — ignorando o que o outro havia dito, Sasuke andou até a cozinha e encheu um copo. Voltando em seguida para onde se encontrava o irmão.

Tirou de dentro do casaco a caixinha de remédios e dela um frasco de vidro amarelado. Entregou para o irmão e então viu ele mais uma vez desenroscar a tampinha com contador de gotas. Levando sem hesitação até a língua e despejando lá cinco gotinhas. Ofereceu-lhe o copo com água assim que viu as feições de seu aniki contraindo-se em uma careta. O mesmo aceitou de bom grado a água ofertada.

— Não importa quantas vezes eu tome; o gosto jamais melhora. — murmurou Itachi, inspirando profundamente para então sorrir de canto. Como costumava fazer para tranquilizar o mais novo. Aquele sorriso suave e gentil que Sasuke já vira milhares de vezes nos últimos tempos.

— O que importa é que você vai melhorar, nii-san. — Sasuke levou o copo à cozinha novamente, aproveitando para guardar o remédio em um armário. Posteriormente retornou para onde o mais velho se encontrava.

Com um gesto sutil de mão, o Uchiha sentado chamou o caçula para perto e este logo foi. Sentando-se aos pés do próprio irmão e repousando casualmente a cabeça em suas pernas. Não negaria. O afago carinhoso em seus cabelos, somado ao calor que emanava da lareira, em muito o fazia sentir-se acolhido. Eram em momentos como aquele que Sasuke podia esquecer por um breve período de tempo que havia problemas em sua vida. Problemas que torcia para serem resolvidos.

— Então me diz otouto, como está Minato? — a voz calma do outro chegou até seus ouvidos e, sem muito interesse, Sasuke disse o que veio em sua mente. Não que deixasse de ser verdade.

— Parece bem.

O mais velho assentiu, embora o mais novo não visse, pois seus olhos estavam focados nas labaredas bruxuleantes das chamas.

— E Naruto?

Dessa vez Sasuke voltou seu olhar para o irmão, prestando verdadeiramente atenção à conversa que o mesmo mantinha naturalmente – ainda que soubesse que o caçula não falasse mais do que o necessário.

— Quem? — indagou com real interesse, por mais que já houvesse formado uma associação para o nome desconhecido que lhe era apresentado.

— Naruto, filho de Minato. — a princípio a ideia era apenas falar banalidades com o jovem sentado aos seus pés, porém era nítido que o assunto já não parecia muito banal para Sasuke. E Itachi se perguntou por quê.

— Então esse é o nome… — Sasuke murmurou consigo mesmo, tendo a certeza do que já havia concluído.

— Parece distante. Em que está pensando Sasu? — questionou após minutos de silêncio. A curiosidade palpável fluindo por si.

— Em nada com que deva ser preocupar aniki. — levantou-se rapidamente, estralando as articulações dos braços em seguida. — Vou preparar o almoço.

O mais velho bem que gostaria de saber o que se passava na mente do irmão, apesar deste não parecer inclinado a falar-lhe o que quer que tenha pensado a menção do nome do Uzumaki. Portanto não iria pressioná-lo, ainda que o brilho nos olhos do outro tenha o intrigado. De qualquer forma — enquanto seguia o irmão até a cozinha para poder ajudá-lo, sabendo que o mesmo ralharia consigo por isso — se permitiu sorrir com a perspectiva do que sua mente fugaz criava em sigilo.

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Dizem que dias bonitos tendem a gerar esperança e boas sensações nas pessoas, o que as deixam deveras mais felizes nesses dias. Mas o que seria, por definição, um dia bonito? Não era uma simples questão de gosto pessoal? Sasuke achava que sim, mas o que se encaixava na sua ideia de dia bonito eram os dias em que o sol raiava por entre as nuvens no céu — mesmo que não fosse o sol mais luminoso possível. Aqueles dias que Itachi se mostrava tão bem, com um sorriso tão sincero e feliz nos lábios, que até ele sentia-se contagiado pela alegria do irmão. Esses com certeza eram os mais belos.

Por isso naquela manhã, diferente de tudo o que fazia geralmente, Sasuke acordou e abriu as cortinas da casa. Deixando que alguns raios solares invadissem o local e iluminasse o ambiente. Claro, ele sabia que aquilo não era o que se poderia chamar de dia ensolarado. Vivia em uma das penínsulas mais frias e cobertas por névoa, onde o sol era um mero passageiro no céu durante poucas horas em alguns dias do ano. Ainda sim, para pessoas que não estavam acostumadas a ver o sol nem que por pouco, aquele era de fato o dia mais ensolarado de suas vidas.

E se deu conta disso quando olhou para fora e viu muito mais pessoas do que de costume. Passeando e sorrindo naquela manhã que, ainda que fria, era mais quente do que o habitual. Todos queriam aproveitar um pouquinho daquele pequeno e singelo presente que era concedido por entre as nuvens sempre tão pesadas.

Ainda sim, o que importava para Sasuke não era o sol, que às vezes escondia-se por alguns instantes, só para retornar, mas sim a felicidade que tomou conta do irmão mais velho quando acordou.

Itachi estava radiante e isso parecia estender-se para sua saúde também.

Apenas isso fazia o dia de Sasuke bonito.

Por esse motivo não reclamou ou se opôs quando o irmão decidiu que gostaria de ir até a praia. Não que Itachi pretendesse se banhar. Obviamente isso não aconteceria. Ainda estava frio, como de costume, mas o clima permitia um passeio na encosta. E como o mesmo aparentava estar em perfeitas condições de sair para caminhar, consentiu esse passeio bobo, mas tão significativo para seu aniki. Talvez, se Itachi continuasse assim, não precisaria ir até a mercearia na semana que vem comprar o remédio mais uma vez.

E essa perspectiva lhe agradava e muito. Pensar que o mais velho estava melhorando e logo estaria curado, era tudo o que ele mais queria. Pois era como se toneladas de ferro fossem retiradas de seus ombros, e toda a bendita preocupação escorresse por entre seus poros. Se deixando levar para longe de si. Deste modo até mesmo Sasuke sentia-se radiante. Não tanto quanto o irmão, que ostentava um sorriso, quase nada comedido, nos lábios durante o percurso até o mar. Cumprimentando a todos com muita simpatia.

Sasuke não chegara nesse nível ainda; ele apenas cumprimentava os outros com breves acenos de cabeça. Não tinha necessidade de esbanjar um enorme sorriso no rosto e dar ‘Oi’ para todos aqueles que encontrassem por aí. Não fazia sentido para si, apesar de fazer para seu nii-san. Todavia era indiscutível que o mais novo também estava feliz.

E seria mentira se o mesmo dissesse que, ao pôr os pés nos rochedos de onde podia vislumbrar o mar mais abaixo, ele não tenha se sentido mais satisfeito ao notar que não havia ninguém naquela parte em específico. Todos aqueles que tiveram a ideia de ver o mar, agora se agrupavam em outra parte da praia. Mais ao norte. Gostou imensamente disso. Não gostava de estar entre muitas pessoas.

— Amo o cheiro do oceano. — a voz suave do mais velho alcançou seus ouvidos, atraindo sua atenção para ele. Que virava o pescoço para que pudesse ver o mais novo. O sorriso pequeno ainda estava ali.  — Vou até a beira, quer vir comigo?

O mais baixo sorriu, negando o convite com um sutil balançar de cabeça.

— Prefiro ficar sentado aqui. — indicou os rochedos, onde já se acomodava diante os olhos escuros que o fitavam de cima. — Só tome cuidado.

— Às vezes tenho a impressão de que você é o irmão mais velho. — Itachi riu anasalado, mas logo desceu até a areia, cuidando para não escorregar nas pedras.

Sasuke ficou ali, vendo a figura esguia do irmão se afastando até que tudo o que ele podia enxergar do outro era um ponto preto em meio à imensidão cinza que era a visão do céu se fundido com o mar. Ele lembrava-se de quando era mais novo e seus pais traziam ambos os filhos para aquela mesma parte da costa. Lembrava que eles sentavam-se naquelas mesmas pedras enquanto Itachi o acompanhava até mais a frente e cuidava de si quando ficava pulando as pequenas ondinhas que acertavam seus tornozelos.

Recordava-se também de como o irmão gostava de simplesmente parar em frente ao mar e contemplá-lo em silêncio. Sasuke acreditava que era exatamente isso que Itachi fazia agora.

Após alguns minutos de silêncio, olhando para toda a vastidão que se estendia a sua frente, o som abafado de passos o despertou dos devaneios nos quais se perdia. Olhou para ambos os lados e não encontrou nada, não havia ninguém. Nem mesmo ao longe, contudo o som de passos estava perto e inegável.

Isso fez com que se levantasse, temendo ser um cão de rua ou algum outro animal com o qual não queria contato, que se esgueirava entre as pedras. Porém, para sua surpresa, o que surgiu no seu campo de visão foi um amontoado de cabelos loiros revoltos. Em seguida olhos tão azuis e curiosos encontraram o seus. Ele conhecia aqueles olhos, muitas vezes se pegou fitando-os durante o início de cada mês. Mas o que Naruto fazia ali? Era a primeira vez que via o loiro, e ele não estava na mercearia do pai.

Tinha a intenção de perguntar isso a ele, mas como sempre acontecia; já se encontrava submerso nas safiras raras que lhe encaravam tão intensamente. Não diferindo do modo como era toda vez, aqueles olhos pareciam ler a sua alma e o prendiam de um modo que não conseguiria explicar nem se tentasse. Que efeito era esse que caía sobre si quando o via? Como podia alguém, cujo Sasuke nunca sequer falara em sua vida, ter essa incrível habilidade de deixá-lo tão vidrado deste modo?

O encanto, contudo, foi quebrado quando o loiro se virou rápida e desajeitadamente, pronto para correr para longe quando seus pés deslizaram na planície fria das pedras. Diante das ônix tudo aconteceu rápido demais, de um jeito que o Uchiha sequer pode acompanhar. Pois se em um segundo estava mergulhando nos olhos azuis, no outro estava correndo para ampará-lo. Descendo o rochedo com pressa, mal se importando que poderia escorregar também. Tudo o que conseguia captar era o garoto loiro sentando na areia enquanto segurava o tornozelo esquerdo. Não precisou de muito para que o moreno compreendesse — assim que viu os olhos transbordando lágrimas — que Naruto o havia torcido.

— Deixe-me ver? — pediu, agachando-se ao lado do outro. Que recuou levemente quando tentou tocar-lhe a perna, mas que em seguida a estendeu dolorosamente para Sasuke, cujo notou com desagrado que a pele levemente dourada já começava a adotar uma tonalidade mais roxa. — Droga, não vai poder se apoiar nesse pé por um tempo.

Informou, levantando a cabeça até que seus olhos focassem mais uma vez o rosto do loiro, encontrando um olhar confuso e dolorido do mesmo.

— Seu pai está aqui? — questionou, olhando em volta para ver se encontrava Minato, não obtivera sucesso. — Está me ouvindo, Naruto? — mas o rapaz não parecia entender. Pois sua única atitude foi tombar a cabeça para o lado e olhar para si ainda mais confuso. Não dando o menor indício de que iria responder qualquer coisa.

— Sasuke, o que houve aqui? — a voz de Itachi o fez olhar para cima e observar o irmão aproximar-se rápido. Não foi uma surpresa perceber que o mais velho estava desconcertado por encontrar o loiro ali, ainda mais ao ver que os olhos azuis estavam lacrimejantes. — Oh, entendo. — Itachi sorriu simpático para Naruto, que retribuiu o sorriso de forma acanhada. — Minato provavelmente não está aqui, temos que levá-lo até a mercearia. — suspirou, ainda sorrindo de maneira afável.

— Certo, vem Naruto. Vou ter que te carregar. — Sasuke virou-se de costas para que o loiro pudesse passar os braços sobre seus ombros e nisso notou Itachi mordendo o lábio inferior, como se quisesse dizer algo, mas não achasse que fosse o momento certo. Foi a vez dele ficar confuso, principalmente quando o Namikaze não segurou-se em si. — Naruto?

Olhou para ele por sobre o ombro e notou que o garoto ainda parecia perdido com o que quer que estivesse acontecendo. Será que ele batera a cabeça? Ou não... Naruto entendera bem quando Itachi gesticulou para que ele subisse em suas costas, e foi o que fez. Passando devagar os braços por seus ombros, apertando-se contra si quando começou a levantar-se com ele em suas costas.

Durante o caminho até a mercearia Sasuke ainda tentou falar com o loiro, mas este estava distraído demais com a cabeça enfiada em seu pescoço, para notar que o Uchiha falara consigo. Isso, porém, deu ao moreno a oportunidade de observar ele de perto. E foi com certo fascínio que viu os cabelos loiros brilharem intensamente com o sol colidindo contra os fios bagunçados. Chegava até mesmo a ferir sua retina, tamanha a intensidade do brilho que emanava das madeixas curtas, mas não parou de observá-lo pelo canto da visão até chegarem e Minato mais do que rapidamente vir correndo desesperado ao ver o próprio filho sendo carregado.

— Oh meu deus! O que aconteceu? — perguntou aflito quando os alcançou.

— Ele caiu de uns rochedos e torceu o pé. — contou Sasuke, tendo cuidado ao afrouxar os braços para que Minato pudesse assumir dali pra frente. Ele mesmo tomando liberdade de colocar o filho nas costas com delicadeza.

— Ah, Naruto... — o loiro mais velho balançou a cabeça, deixando que um suspiro cansado escapasse por seus lábios. — Não sei o que deu nele, simplesmente saiu desse jeito. Só fui perceber que ele não estava há pouco.

— Talvez ele só quisesse aproveitar o sol. — Itachi intercedeu antes que Sasuke pudesse dizer algo. Ainda mantinha um sorriso gentil nos lábios.

— Provavelmente sim, ele não é de sair muito, mesmo que não seja a primeira vez que foge de mim assim. De qualquer modo eu me preocupo. Naruto é estabanado, e como sei que ele gosta de ir até o antigo farol... — outro suspiro. — Penso que ele pode cair de lá e como ele tem estado agitado por seu aniversário vir se aproximando...

— Não pense tais coisas, é ruim envenenar a mente com pensamentos negativos. — a voz de Itachi soava acolhedora, era confortável escutá-lo falando. E ouvi-lo parecia acalmar Minato.

— Tem razão, não irei. — sorriu agradecido, logo mudado o foco da conversa. — Como tem passado Itachi?

— Me sinto melhor, obrigada por se importar.

— É bom ouvir isso. — talvez Minato fosse dizer mais alguma coisa, mas se fosse o caso ele não disse, não quando Naruto se remexeu inquieto. As sobrancelhas loiras franzidas em indignação, enquanto olhava completamente confuso para todos os três. — Acho que vou indo, tenho que cuidar dessa raposinha fujona. Tenham um bom dia senhores. — despediu-se, virando e indo em direção à loja junto ao filho. Este, que antes de adentrar o estabelecimento, virou-se e olhou para Sasuke de um modo que o Uchiha não soube identificar.

— Vamos, otouto? — sentiu um leve cutucão em seu braço, o que o fez desviar os olhos do local no qual perdera Naruto de vista. — Parece contemplativo.

— Impressão sua. — murmurou, virando-se e acompanhando o mais velho rumo à moradia de ambos.

— O filho de Minato lhe chama a atenção, não é? — questionou Itachi, as mãos repousando nos bolsos da calça ao passo em que andava tranquilamente.

— Como assim aniki? — ergueu uma sobrancelha em direção ao outro, notando que havia na pergunta muito mais do que aparentava.

— Gosta dele? — Itachi decidiu reformular o que indagara, mas não contava que Sasuke se engasgasse com a saliva e tivesse uma crise de tosse no meio da rua. Chamando atenção daqueles que por ali passavam. Não que fossem muitas pessoas, a maioria ainda estava aproveitando o sol em alguma parte da encosta.

— E-eu nem o conheço direito nii-san! — defendeu-se rapidamente, controlando a vontade de acertar a própria testa ao se ver gaguejar.

— Mas olha para ele diferente, como se gostasse realmente do garoto. — Sasuke pensou, ele realmente pensou em revidar aquele comentário, mas sabia que havia algo no loiro desastrado que lhe chamava atenção de uma maneira distinta as outras coisas. Por isso, percebendo que talvez seu irmão estivesse certo, achou melhor mudar o assunto. Desviá-lo de si.

— Por que motivo ele não fala com a gente? É tímido demais para isso? — indagou com real interesse e viu a expressão no rosto do mais velho mudando. Já não era mais tão divertida, apesar dele ter notado a tentativa de fuga na conversa e a ter aceitado.

— Otouto... — novamente o outro mordia o lábio, pensativo. Parecia escolher as palavras certas. — Naruto não pode escutar.

De tudo o que seu aniki poderia dizer aquilo era com certeza a última coisa que esperava ouvir

— Como assim “não pode escutar”? — questionou, parando de andar sem que percebesse. — Ele não ouve nada?

— Absolutamente nada. — assentiu, crispando os lábios finos. — Minato me disse uma vez que ele nasceu assim e que por isso não fala ou escuta qualquer coisa, mas que de vez em quando murmura e emite alguns ruídos. Nada, além disso.

Não falou mais nada durante o resto do caminho, nem Itachi tentou falar, já que sabia que Sasuke tinha muitas coisas na cabeça. Pois agora o mais jovem compreendia o porquê das tentativas frustradas de conversar com o Namikaze. E divagava no quão triste poderia ser não escutar, não poder conversar. Nem mesmo ele, que não era dado a muita interação interpessoal, conseguiria ficar a vida inteira sem se comunicar com alguém. Ao menos entendia que não fora simplesmente ignorado pelo outro, como pensara ter sido. E apesar de achar triste a situação, não tinha a impressão de que Naruto se abalava por isso. Tal pensamento certamente — e Sasuke não negaria isso — fazia com que sua curiosidade a respeito do outro aumentasse. Naruto era como um baú de segredos, e Sasuke desejava ter a chave deste baú.

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Desde o encontro na praia já haviam se passado sete dias. Sete longos e nublados dias, onde os ventos e a névoa castigavam a península impiedosamente. Sasuke passara a semana inteira trancafiado dentro de casa junto a Itachi, divagando horas a fio. Apesar do mau tempo estar instalado do lado de fora da residência, o Uchiha sabia que a verdadeira tempestade acontecia em sua mente. Que travava uma incansável discussão consigo mesma, como se estivesse fragmentada em duas partes. Ambas procurando uma explicação, nenhuma obtendo real sucesso na tarefa.

Um lado seu dizia que não havia o menor sentido em todo tempo gasto pensando no filho de Minato, o outro lado simplesmente queria aceitar que ele estava, sim, atraído pelo loiro. E o conflito interno estava aí. Sasuke sempre se viu como alguém muito metódico e nem um pouco sentimentalista quando se tratava de alguém se não o irmão. Então era difícil para si aceitar que ele de fato estava sentindo algo a mais por um garoto que mal conhecia. Era confuso, e ele não saberia explicar como, mas o lado que queria se deixar levar parecia falar mais alto. Era quase magnético.

Devido a isso, em determinado dia, informou o irmão que iria sair e logo voltava, mas não contou que estava indo até a mercearia. Pela primeira vez iria até lá apenas para conversar, não para comprar o bendito remédio, que aparentemente já não precisava mais. Teria de comunicar o Namikaze sobre isso, para que as encomendas não fossem mais feitas.

No caminho para lá, Sasuke passou em frente a um jardim com algumas flores silvestres e cogitou levá-las para Naruto. Porém, pouco depois dessa ideia passar-lhe pela cabeça, ele a descartou de prontidão. Seria estranho levar flores a outro homem, principalmente um com quem só esteve realmente junto uma única vez. Além do que, flores denotavam cortejo e ele não tinha a intenção de cortejar Naruto, apesar de vontade não lhe faltar. Portanto chegou lá com apenas um mínimo sorriso, o mais gentil que podia ser, e viu a confusão no olhar azul do dono do lugar.

— Oh, Sasuke? — Minato estava entregando uma sacola parda a uma senhora de idade, que agradecida, saiu contente com suas compras. — Veio pelo remédio do seu irmão? Eu achei que ele estivesse bem.

— Na verdade não vim por isso. — o Uchiha desviou o olhar para algumas frutas em frente ao estabelecimento, fingindo grande interesse nelas. — Vim pelo Naruto.

Não precisou olhar novamente para o outro para que tivesse certeza da confusão estampada nas orbes azuis.

— O que tem o Naruto?

Sasuke suspirou, voltando a encarar o Namikaze.

— Pensei que talvez, sabe, pudéssemos ser amigos. — para o moreno soava estranho dizer aquilo. Não era acostumado com esta pequena palavra em si e o que ela representava, afinal, não possuía amigos.

Por outro lado o mais velho a sua frente não podia estar mais feliz. Preocupava-se muito com o isolamento do filho, que devido a não poder ouvir, ficava recluso dentro de casa junto ao pai, visto que Kushina morrera no parto de Naruto. Portanto ele não saia, não possuía amigos e não interagia com absolutamente ninguém. Portanto, para Minato, era muito bom escutar Sasuke, que possuía quase a mesma idade de seu filho, dizendo que gostaria de ser amigo de sua raposinha. Naruto era tudo o que tinha, a felicidade dele era sua felicidade também.

— Isso realmente seria ótimo Sasuke! Fico muito contente em ouvir isso. — o sorriso de Minato foi tão largo e sincero que por um momento o mais jovem sentiu-se constrangido.

— Bom, é... Ele está? — questionou, não sabendo como agir exatamente.

No entanto, para sua surpresa, Minato diminuiu o sorriso no mesmo segundo.

— Ele saiu escondido mais uma vez. — suspirou derrotado. — Não consegui ir atrás dele porque tenho fregueses, espero que ele não se acidente novamente. Naruto um dia vai me matar do coração com essas escapadas que ele dá.

Sasuke reprimiu um sorriso. Achava engraçado o modo arteiro como o loiro comportava-se, mas não demonstraria isso diante da preocupação evidente de um pai protetor com sua cria.

— Se não se importar posso ir procurá-lo. — sugeriu, e notou que foi a vez do outro de reprimir um sorriso. Manipulado por Minato, mal podia acreditar.

— Muito obrigado Sasuke, fico lhe devendo essa. — não respondeu nada, apenas acenou e virou-se para ir embora procurar o loiro. — Aliás, tenho motivos para acreditar que irá o encontrar no velho farol.

— Certo, tenha uma boa tarde.

Sasuke decidiu seguir pelo caminho da praia até o antigo farol, e no meio do percurso já estava arrependido. O vento que soprava do mar era congelante, fazia-o sentir que poderia gelar até mesmo seus ossos ali. Nem seu casaco grosso de lã estava dando conta do frio, mas ainda sim se aninhou dentro dele e escondeu o rosto no cachecol. As mãos fechadas em punho dentro dos bolsos, os passos rápidos para poder sair o quanto antes da exposição ao clima gélido.

Ao longe ele já era capaz de visualizar a construção vermelha, no alto de um precipício que levava direto as rochas que eram fustigadas pelo mar — que particularmente estava revolto hoje. O moreno realmente não achava capaz que o garoto estivesse lá em cima, não com o telhado quebrado como estava, deixando as rajadas de ar entrarem. Era visível ali de baixo a precariedade do farol. De qualquer modo se pôs a enfrentar o lance de escadas que circundava a construção até em cima. Serpenteando pela sua volta como uma cobra enroscada no cimento.

E foi só quando alcançou o topo que Sasuke notara como aquilo era alto. Tinha noção de que realmente era grande, mas olhando de baixo não se tinha ciência de como era de verdade. Contudo a subida interminável lhe mostrara que sim, o farol não era em nada pequeno. Se Naruto estivesse ali ele com certeza seria louco. Pois subir todos aqueles degraus no frio, e ainda por cima estar ali com o chão ameaçado ceder... Só podia ser loucura. Sem falar que era amedrontador ouvir o som das ondas contra as pedras lá embaixo quando se olhava para toda a vastidão do mar.

— Naru... — estava prestes a chamar pelo outro quando lembrou-se que de nada adiantaria. Não havia parado para pensar a respeito, mas como iria se comunicar com ele?

Ignorando isso foi entrando mais no interior do farol, estreitando os olhos para enxergar na parca iluminação local. E se não estivesse louco então de fato estava vendo muitas embalagens de lámen instantâneo pelo chão empoeirado. Muitas mesmo, tanto que tinha de tomar cuidado para não tropeçar em alguma delas — que por incrível que pareça, formavam uma espécie de trilha até um garoto loiro sentado em uma poltrona velha e surrada. Obviamente ele devorava mais uma das diversas embalagens.

O loiro, no entanto, não o notou até que Sasuke tivesse parado a sua frente. Fazendo os olhos azuis se erguerem assustados com a repentina aparição de outra pessoa no lugar. O susto do outro fora tão grande que o mesmo chegou a jogar longe seu potinho de lámen ao se inclinar para trás com brusquidão. A poltrona na qual sentava agora pendia para trás, e derrubaria Naruto caso Sasuke não houvesse agido rápido e segurado o rapaz pela cintura. Puxando-o para si antes que ele se fosse em um belo de um tombo.

O som alto da cadeira chocando-se contra o chão fez com que uma revoada de pássaros — que se escondiam nas vigas no teto — voassem para fora enquanto gorjeavam alto. O que só serviu para assustar ainda mais o loiro, que num ato involuntário, agarrou-se aos ombros e escondeu o rosto em seu peito. A diferença de altura não era muita, ainda sim Sasuke era suficientemente mais alto do que o loiro para que ele pudesse refugiar-se contra si desse jeito.

Após o cessar do barulho ficaram imersos em silêncio profundo. Naruto esperava suas batidas cardíacas desacelerarem, não percebendo que agarrava-se com afinco ao desconhecido. Já Sasuke não sabia como reagir ao contato repentino, mas não ousava afastar o Namikaze. Por algum motivo o calor que emanava do corpo alheio parecia muito convidativo. O fazia não ter vontade de soltá-lo. Seja como for não demorou muito para Naruto perceber que a situação estava ficando estranha e logo as ônix encontravam as safiras, o reconhecimento brilhava nelas.

Ficaram encarando-se por segundos que pareceram longos e demorados minutos, e conforme se olhavam, as bochechas de Naruto iam ficando cada vez mais vermelhas. Até um ponto que ele parecia um tomate — comparação que Sasuke não pode deixar de fazer. Nesse ponto o loiro não aguentou a intensidade dos olhos do mais alto e se afastou, imediatamente seu corpo sentiu frio; assim como o do Uchiha. Ele não havia percebido o quão quente estava quando tinha o outro nos braços.

E diante do constrangimento que tingia as maçãs do rosto de Naruto,  Sasuke sorriu. Sorriu de verdade e o Namikaze gostou do que viu, pois retribuiu o sorriso. Para Sasuke aquele era o sorriso mais lindo que já havia visto.

Posteriormente ambos sentaram-se de frente um para o outro, ali mesmo, e tentaram “conversar”. Naruto achava engraçado o modo como Sasuke ficava confuso com o que queria expressar, era fofo vê-lo tentando fazer gestos para que o loiro entendesse. E o moreno compartilhava deste mesmo pensamento. Era fofo ver Naruto gesticulando afobado, querendo fazer-se entender. Do jeito estranho e desastrado deles, ambos conseguiram se compreender, e em meio a isso, sorrisos surgiram involuntariamente nos dois rostos.

A tarde daquele dia passara voando diante dos olhos deles, que estavam tão entretidos um com o outro — procurando se conhecerem  — que só tiveram ciência da hora quando já não se enxergavam na escuridão e o frio castigava-os. Apenas neste momento Sasuke se lembrou que prometera a Itachi que logo iria voltar, assim como fizera com Minato. Não duvidava nem um pouco que eles estivessem desesperados. Naruto tinha o mesmo pensamento,  por isso foi fácil para que se acertassem e voltassem rápidos para a mercearia, sabendo que encontrariam dois homens furiosos por lá.

Não deu outra.

Assim que avistou os adolescentes, Minato e Itachi praticamente voaram na direção deles. Minato balançava as mãos nervosamente, Naruto entendia aquilo como um sermão. Já Itachi discursava o quão irresponsável Sasuke tinha sido. Saindo sem mais nem menos e ficando fora até aquele horário. Falando sobre congelar no frio e coisas do tipo. Sinceramente?  Nem um dos dois prestou muita atenção em seus responsáveis. Tiveram um dia ótimo, onde nem mesmo as más condições do farol ou o clima hostil pudera atrapalhar. Não esqueceriam isso tão cedo. A sensação calorosa de acolhimento que proporcionaram um ao outro neste dia.

Mal sabiam eles que, ao trocarem um último olhar aquela noite, estavam selando um acordo mudo. Novamente, no dia seguinte, iriam se encontrar no farol. E nem os céus poderiam proferir quem era o mais ansioso por isto.

~>~<~

Já era o terceiro dia que encontravam-se no farol, e dessa vez seria especial, pois era o aniversário do loiro. No dia anterior se viram ali novamente, dessa vez Naruto levara um bloco de notas para que pudesse escrever e conversar mais facilmente com o Uchiha. Foi realmente mais fácil a comunicação entre ambos, e assim puderam contar e descobrir tudo o que gostariam. Naruto mencionara no papel que dia 10 ele estaria completando dezoito anos, e questionara a data de aniversário de Sasuke. Honestamente ele havia até mesmo se surpreendido ao descobrir que era apenas dois meses mais jovem que o moreno.

No início, Sasuke admitia, fora um pouco embaraçoso sentar de frente a Naruto e escrever mensagens para ele. Apesar disso, conforme o assunto fluía, o constrangimento deu lugar a brincadeiras e sutis provocações vindas de ambos.

Mas o melhor de tudo era a sensação que se apossava dos corações deles quando tiveram que ir embora. Era ruim ter que esperar o dia seguinte para se verem, mas era maravilhosamente gostoso saber que no dia seguinte iriam preencher um ao outro apenas com suas companhias.

E era essa deliciosa sensação que Sasuke sentia tomando conta de si agora. Quando entrava de mansinho do farol, vendo Naruto observando o mar de costas para si. Era o aniversário dele e como não sabia o que dar ao loiro, questionou a Minato o que Naruto gostaria de ganhar. A resposta não poderia ter sido mais inusitada.

Por isso agora lá estava ele, as mãos atrás das costas para esconder a gaiola média onde trazia uma pequeno passarinho amarelo.

Tinha a intenção de dar um pequeno susto em Naruto, aproximando-se sorrateiro, porém o Namikaze se encontrava preparado para recebê-lo desta vez, e se virou antes que Sasuke tivesse a chance de chegar muito perto.  Quem acabou assustando-se fora justamente o moreno.

Claro que Naruto sorriu diante disso, ele parecia se divertir muito com a frustração do outro; que não tardou muito e já sorria mais uma vez. Sasuke não se lembrava quando fora a última vez que sorriu tanto assim em sua vida.

Mas ele não se importava com isso realmente, o importante no momento era mostrar a Naruto o seu presente de aniversário. E foi com grande satisfação que viu o maior sorriso que o Namikaze já lhe dedicara ao notar do que se tratava na gaiola. Ele parecia encantado, mas Sasuke desconfiava que não tanto quanto a si próprio se encontrava no momento. O aniversariante ali era Naruto,  mas quem estava recebendo de fato um presente era ele mesmo. Por que pelos deuses, era gratificante ver os olhos azuis brilharem de felicidade. Uma felicidade que ele estava proporcionando com um gesto tão simples. Maldição, ele realmente tinha se apaixonado.

Independente disso, nada preparou Sasuke para a próxima reação do loiro. De tudo, a última coisa que esperava era que Naruto “pulasse” em cima de si e colasse os lábios aos seus.

Naquele ínfimo instante o mundo parou.

Não existia o frio, o som das ondas violentas chocando-se contra os rochedos ou a poeira a volta deles. Não existia nada, apenas o doce sabor que aquele singelo selar permitiu que Sasuke apreciasse. Ele sentia-se leve e radiante como jamais houvera sentido-se antes.

Infelizmente não durou muito.

Logo o loiro se afastava rapidamente, nervoso pelo que acabara de fazer. Cedera aos impulsos e isso o assustava,  pois agora ele não tinha controle da situação. Não sabia como Sasuke ia reagir, mesmo que o toque dos lábios tenha sido mínimo. Verdade fosse dita, ele gostaria de poder ter feito mais do que simplesmente “beijar” Sasuke como se fosse avó dele.

Porém o Uchiha também não se encontrava satisfeito. Não quando sabia como seus sentimentos estavam bagunçados e revirados, fora de lugar e tudo por causa daquele loiro desajeitado. Que o encarava apreensivo, as mãos se apertando uma contra a outra em um claro sinal de ansiedade pelo que poderia estar por vir. Seja bom ou ruim. Foi a vez de Sasuke ceder.

Delicadamente colocou a gaiola no chão e se aproximou do outro. Muito suavemente ergueu as mãos e segurou o rosto dele, acariciando as bochechas com os polegares. Viu quando os olhos azuis se fecharam para apreciar o carinho singelo, e viu quando se inclinou para mais perto dele. Depois não viu mais nada, ele apenas sentiu.

Sentiu borboletas no estômago, sentiu um arrepio gostoso escorrendo por sua coluna, braços e pernas. Sentiu os dedos do outro acariciando sua nuca com carinho e sentiu ambos os lábios se entreabrindo para receber um ao outro. Suas mãos deslizaram levemente para a cintura alheia, segurando-o próximo de seu corpo. E  então foi mais ousado. Deixou que as línguas se procurassem e se achassem e tudo o que fez foi deleitar-se com o doce da boca de Naruto.

Aquele era o primeiro beijo dos dois. O primeiro beijo de Sasuke e o primeiro de Naruto também, mas principalmente, era o gesto que mostrava tudo o que não disseram nos bilhetes. Aqueles sentimentos guardados que nem um dos dois teve coragem de confessar. Por que não havia como o fazer. Não havia como expressar o modo como se sentiam em relação ao outro. Por que o sentimento era puro demais, era novo demais. Era fascinante demais para ser descrito com meras palavras tolas.

E mesmo depois quando beijaram-se novamente, desta vez ao chegarem ao fim de um mesmo fio de massa do lámen, continuou sendo novo e delicioso. Por que definitivamente era o melhor aniversário que Naruto já tivera. Havia ganhado um amigo, em seguida um pássaro; um “alguém especial” e então um jantar no cantinho que tornara-se apenas dos dois. Tinha tudo o que queria bem ali e isso o fez mais feliz do que jamais foi.

Ainda sim, Sasuke ainda achava que quem havia sido presenteado era ele.

Tal pensamento não duraria muito.

No entardecer, após levar Naruto para casa e corar horrores quando o loiro o beijou em frente a Minato — que não podia ter ficado mais surpreso — Sasuke decidiu voltar para casa e contar a Itachi como havia sido seu dia. Infelizmente ele nunca teve essa oportunidade.

Ao abrir a porta de casa encontrou seu aniki deitado no chão da sala, seu coração não mais batia dentro do peito.

Dizem que depois da tempestade sempre há um arco-íris, mas e se fosse exatamente ao contrário? Não haveria um arco-íris agora, pois está é a vez da tempestade. E Naruto compreendeu isso no dia seguinte, quando encontrou Sasuke sentado na murada do farol. As pernas balançando em direção a água estranhamente calma lá embaixo.

Até mesmo o mar sabia que algo estava para acontecer e por isso respeitava o momento em silêncio. Como um mero telespectador do momento em que Sasuke abraçou Naruto como se sua vida dependesse disso e chorou no ombro do loiro.

O mar foi testemunha do último beijo dos dois, antes de se tornar a sepultura de Sasuke e rugir em ondas violentas que acompanharam o único grito que eclodiria de Naruto. Um grito que ninguém iria ouvir, nem mesmo ele.

A felicidade dos dois havia sido efêmera.

~>~<~

Sim, Naruto era uma pessoa muda oralizada (não fala, mas emite ruídos). Sim, Sasuke e Itachi morreram. Sim, vou sair matando todo mundo nas minhas fanfics por que eu adooooooro. MUAHAMUAH

Fora isso, espero que tenham gostado e até a próxima!

17. März 2018 23:52 9 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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Caramelo Sama O sol nasce, a bicicleta anda, o lobo uiva e o urso panda.

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Amanda Luna De Carvalho Amanda Luna De Carvalho
Olá, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Sinceramente, eu adorei seu conto, de verdade. É simplesmente fantástico como tudo se entrelaça de modo coeso e firme ao longo do texto. A descrição é muito requintada. Eu passei os olhos com bastante admiração. A coerência está apropriada. A estrutura está excelente e bem colocada em todas as posições. Em alguns momentos, ao imaginarmos como é ruim testemunhar um ente querido estar doente, não é lá das melhores sensações desse mundo. A vida pode pregar inúmeras peças das quais não gostaríamos nunca de vivenciar. Os personagens são bem condizentes com aquilo que é proposto durante o decorrer do texto. A cena dos personagens se encontrando pelo olhar é muito suave e impactante ao mesmo tempo. É uma miscelânea de sentimentos que podem confundir nosso intelecto por alguns segundos. A gramática está boa, mas notei alguns deslizes e indico umas mudanças. "No entanto ainda teria de suportar por mais algum tempo a maldita vila" — Seria mais indicado colocar uma vírgula depois de "entanto". "encoberto pelo batente da porta e, a outra metade" — Seria mais indicado colocar a vírgula antes de "e". "Contudo logo quebrou o contato" — Seria mais indicado colocar uma vírgula depois de "Contudo". Outra coisa, sugiro evitar o uso de expressões como "loiro" ou "moreno" quando for se referir à personagens, pois algum leitor pode ficar confuso. Esses são meus apontamentos e espero ter sido útil em mencionar isso. Seu conto é primoroso em evidenciar os detalhes tão sutis que apenas olhos mais refinados conseguem captar. Desejo que continue escrevendo seus livros e tenha muita sorte em seus escritos futuramente. Até mais!
July 08, 2020, 17:09
NN Nusa Nusa
Como assim? Porque matou o Sasuke????
November 23, 2018, 22:45

  • Caramelo Sama Caramelo Sama
    Mas essa é a graça. Se não tem morte ou algum tipo de tragédia então não tem graça Ksksks November 23, 2018, 23:11
  • N N Nusa Nusa
    Tadinho do Naruto! 😫 November 23, 2018, 23:28
Alice Alamo Alice Alamo
Olá, tudo bom? Vim pelo Sistema de Verificação do Inkspired. Eu coloquei sua histórias como Verificada, contudo, há duas considerações que eu gostaria de fazer 1) Pontuação. O uso de vírgulas no texto precisa ser revisto em alguns momentos como "Por outro lado o mais velho" ou "Do contrário iria" ou "Todavia a preocupação", dentre outros momentos que deveriam levar vírgulas, mas não possuem; 2) Há um "lugar da qual", que deveria ser "lugar DO qual". 3) Algumas palavras estão sem acento como "sempre que SAIA" ou "espera-lo". São coisas pequenas e por isso Verifiquei mesmo tendo esses apontamentos, entretanto, aconselho revisar a história ;) Atenciosamente, Alice, Sistema de Verificação do Inkspired
November 22, 2018, 21:21
DV Dayane Virginio
Que tiro no coração 💔 Gostei muito da fanfic, achei que estória fluiu bem e o começo da relação deles não foi "forçado" sabe ... Não sei me expressar muito bem mas adorei embora o final me pegou despreparada e doeu, fico tentando pensar em como o Naruto ficou com isso 😭 Sasuke 👻 e Itachi 👻
April 28, 2018, 20:32
Lucielle Rangel Lucielle Rangel
Ta vendo aquele corpo caído ali no chão? Sou eu. Pra que eu ainda me iludo com vcs? 😩😩😩😩😩😩
April 11, 2018, 04:02
AB Ana Banana
Você me deixou jogada no chão,acabada,destruída,só o pó da rabiola,totalmente desconsolada.Amei
March 19, 2018, 17:20

  • Caramelo Sama Caramelo Sama
    Nossa kkk eu estou rindo, mas juro que é com respeito. Desculpe por você ter ficado só o pó da rabiola e obrigada pelo review <3 March 19, 2018, 18:15
~