Escrito por: @Flyinsunshine | @Sunflywer_
Notas Iniciais: Oláaa bem vindes! Espero que gostem dessa fanfic.. Tive dificuldades pra escrever e dei meu melhor no desenvolvimento dela. Espero que gostem!
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— Como expresso na Epístola de Tiago, capítulo 5, versículo 15: “A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E, se houver cometido pecados, ele será perdoado”. Logo, o homem sem fé nunca alcançará o reino de Deus, tampouco a vida eterna, meu irmão. Ajoelhe a Ele em suas orações com fé que nenhuma enfermidade será maior que a misericórdia Divina.
Dois meses atrás, estas palavras foram proferidas pelo padre da Igreja localizada no reino da linhagem Min, que se estendia por longos séculos. O motivo do sermão foram as “atitudes contraditórias” cometidas pelo príncipe contra os preceitos conservadores da família real, clero e todos os demais camponeses e nobres.
Basicamente — como qualquer ser humano que tenha o mínimo de senso crítico e, claro, coragem para refutar o tradicionalismo — ele se recusara a participar da organização de um baile de gala com o propósito único de lhe conseguir uma pretendente.
Casar? Ainda não era muito cedo? Poxa, tinha acabado de completar 17 anos e os pais já estavam enchendo sua cabeça com planos de filhos: quantos deveria ter; a moça que deveria encontrar dentro dos padrões adequados; seu respeito quanto ao povo e a responsabilidade de dar continuidade à linhagem.
Não era nenhuma surpresa que ele precisaria trilhar esse caminho, mesmo que nunca tivesse tido vontade de seguir os mesmos passos que seu pai ou a soberba e fome de possuir uma coroa em sua cabeça. De fato, não deveria se preocupar com as responsabilidades da vida adulta tempos antes, pois não era o primogênito. Ainda estava na lista, entretanto não tão perto de seguir estritamente as obrigações enraizadas em seu sangue real.
Porém tudo mudou quando o irmão do príncipe faleceu em uma convocação para coordenar o exército particular deles, a fim de auxiliar em uma rebelião de camponeses que acontecia no reino vizinho. A notícia foi dolorosa e abrupta. Seu irmão, Min Youngjae, era altamente treinado, mas a vida era inesperada, não?
Em um dia, Yoongi era o irmão mais novo vivendo suas regalias, dando perdidos noturnos, indo a festas clandestinas e usufruindo de sua mordomia. No outro, tinha o peso de toda a herança da família nas costas.
Era um garoto extremamente imaturo, inexperiente e completamente desesperado com todas as expectativas que deveria alcançar a partir dali. Nunca quisera aquilo. Sempre agradecera ao irmão por ter nascido primeiro e ficado com o cargo de herdeiro.
Passar a vida sabendo que seria treinado para ser o próximo na fila da coroa era diferente de ser surpreendido com todas as regras que antes pareciam ainda distantes. Yoongi almejava por liberdade, e ela estava sendo arrancada dele de uma maneira cruel e rápida demais para que conseguisse processar.
Assim, Yoongi foi arremessado em uma montanha imensa de responsabilidades, sendo obrigado a estar presente em quase todas as reuniões burocráticas ao lado do pai, acordar cedo para treinar, ir a tarefas quase teatrais nos vilarejos para "criar uma boa imagem" de futuro rei...
Para um adolescente que não tinha quase obrigação nenhuma, o baque repentino causou cansaços físicos e mentais evidentes. Então, dali em diante, os fios de cabelo loiros sempre impecáveis, caíam aos montes pelo estresse. O apetite sumiu, as noites de sono pareciam insuficientes e seu humor não era um dos melhores.
Lembrava-se dos dias em que se queixava com o falecido irmão quando este o tratava com ignorância, mas naquele momento entendia o motivo dos dias de mau humor. Todavia, não tentou ser aquele clichê de nobre rebelde que se recusava a seguir as regras.
Toda a raiva, ansiedade e angústia que queria gritar aos sete ventos, Yoongi decidiu engolir. O veneno queimava seu estômago e garganta; doía o peito. Contudo, o que poderia fazer? A realidade era aquela e não tinha como se livrar dela.
O que mais lhe irritava e, que Deus o perdoasse, deixava ainda pior era ficar sentado enquanto o padre passava horas proferindo seus sermões. As intermináveis missas sempre eram as mesmas: levanta, senta; levanta, senta, ajoelha, amém.
Os discursos de pecado, as exigências de tributos "para Deus", os pensamentos conservadores. Quando estava sentado nas cadeiras da igreja ao lado de seus pais, pensava o quanto aquilo era uma farsa, mera fantasia.
Conseguia olhar para quase todos que repetiam as palavras acusatórias e revelar cada um dos piores segredos deles. Deus disse: “quem nunca pecou que jogue a primeira pedra”, mas eles viviam matando pessoas apedrejadas. Mulheres adúlteras, crianças com fome que roubavam pão para comer, opositores dos sermões chamados de hereges e, os piores de todos, os denominados como servos do Demônio: os bruxos.
Yoongi não sabia exatamente o que aquelas pessoas queimadas em praça pública fizeram de tão grave para terem um final tão doloroso. Independentemente do que fosse, era incapaz de encontrar algo positivo ou uma desculpa razoável para tal medida punitiva. Sentia o estômago revirar só de lembrar da primeira e última vez que viu uma moça gritando; o cheiro da fumaça, da carne queimando…
Cada vez que entrava na igreja, sentia os pelos do corpo se arrepiarem e uma vontade enorme de sair correndo. A cada missa, tinha ainda mais certeza de que jamais entraria no Reino dos Céus.
Tinha que ser perfeito para ser aceito por Deus? Quem ali entraria nos céus então? Provavelmente apenas os bebês recém-nascidos nos colos de suas mães que nunca cometeram nenhum crime.
Assim como exposto em Mateus 18:1-4: Naquele momento, os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?”
Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse:
“Eu asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus."
Se queimar o pecado era o necessário, então todos ali deveriam ter uma fogueira acesa em seus pés, não? Yoongi tinha medo de ser um dos primeiros da fila, pois era egoísta, mal-humorado, ignorante, gostava de beber, tivera relações sexuais antes do casamento… Pecados, pecados e mais pecados.
Sentia-se cada dia pior, com medo de ter que aguentar aquela vida miserável e cheia de ordens para no fim morrer e sofrer ainda mais.
Qual o sentido disso tudo?
E finalmente brigou, indo contra uma de suas obrigações. Não queria mais pisar na igreja e ter crises de ansiedade nem se sentir o pior ser humano do mundo e ter cada dia mais medo da morte. Yoongi só queria tirar um pouco do peso em suas costas, portanto parou de frequentá-la. Seus pais odiaram a mudança repentina. Era ameaçado todos os dias e fazia questão de dar perdidos e só voltar quando a poeira tivesse abaixado.
Um príncipe, futuro rei, contrariando os dogmas da Igreja? Era uma vergonha!
O tempo foi exato. Quando completou sete dias se recusando a comparecer às missas diárias, Yoongi ficou doente.
Ele rejeitou a Igreja e a punição divina. assim como com Lilith. Agora estava amaldiçoado por seus pecados e, segundo o padre, a culpa daquela enfermidade era inteiramente sua.
A punição eterna começou antes mesmo de ele morrer.
Uma onda epidêmica assolava o reino, e Yoongi foi um dos eleitos para enfrentar o peso de suas escolhas. Assim que negou a Deus, como dissera o padre, os demônios se aproveitaram da sua fé abalada e o envenenaram.
Os pais o culpavam. Os servos cochichavam pelos cantos. As rezas dos clérigos em seu quarto, os óleos em sua testa e todas aquelas baboseiras religiosas começaram a deixá-lo ainda mais irritado.
Nenhuma oração o curou.
Nenhum versículo diminuiu sua dor.
O jovem Min estava morrendo, sem esperanças. Não conseguia mais andar como antes; as articulações doíam, a pele estava cheia de hematomas, as tosses eram tão fortes que nos últimos dias tossira sangue. A comida não ficava mais no estômago, e a respiração praticamente não saía.
Yoongi estava nas últimas, já tinha aceitado. Não tinha forças para lutar. Na verdade, não tinha vontade de lutar. Deixou-se ser engolido pela doença sem nem ao menos clamar por misericórdia.
— O pecado o engoliu. A oração feita sem fé não tem poder para curar uma alma corrompida — falou o padre.
— Eu disse ao seu pai que você ainda era uma criança para assumir tantas responsabilidades — resmungou a mãe ao lado do religioso.
Os dois adultos conversavam sobre o estado de Yoongi como se ele nem estivesse ali, mas já era rotineiro ficar deitado sem ter forças para se defender enquanto escutava as súplicas e reclamações dos pais.
Mais do que nunca, seus criados viviam ao seu dispor. A cada minuto alguém o vigiava, arrumava suas vestes, a cama, o travesseiro… E toda vez que reclamava, o príncipe pensava naqueles cidadãos que nem tinham uma água de qualidade para se hidratar, mesmo em tempos turbulentos de epidemias.
Se na sua realidade já era difícil, imagina na de outros claramente desfavorecidos?
— No livro de Levítico 26, versículo 21, temos a lição: "Se continuarem se opondo a mim e recusarem ouvir-me, eu os castigarei sete vezes mais, conforme os seus pecados". Sete dias após sua resistência a adorar ao Senhor, o príncipe Min fora atingido com o fatídico castigo.
— Eu tentei convencê-lo, senhor. Tentei mesmo, Deus sabe o quanto — lamentou a mãe.
Deus sabe o quanto você me ameaçou todos os dias, pensou Yoongi.
Foram horas escutando reclamações e sendo impedido de fazer as coisas que gostava. Até seu treinamento com os guardas aumentou nos últimos dias que conseguiu ficar em pé.
Já haviam se passado três semanas desde os primeiros sinais da doença. Sua cabeça doía e os olhos pareciam avermelhados, mas não se preocupou de imediato. Logo, os dias se estendiam e o estômago não aceitava mais nenhuma comida, seus músculos inferiores não conseguiam ficar muito tempo em pé e as mãos tremiam.
O peito gritava de dor a cada mínimo esforço. Respirar se tornou uma tortura, pois a queimação que exalava de seu pulmão fazia doer o corpo inteiro.
Yoongi sempre fora um garoto hiperativo e ansioso. Não conseguia ficar muito tempo com a cabeça desocupada, estava sempre ativo, mesmo que não tivesse as melhores escolhas de diversão.
Dessa forma, aquela doença era uma punição cruel e bem pensada. Se tinha alguma força superior culpada por aquilo, um dos maiores responsáveis por tudo aquilo era ele mesmo.
De fato, tudo começou a dar errado quando decidiu parar de frequentar a igreja.
Desde então precisava ouvir sermões, versículos e repetir orações incansavelmente. Tentara fugir da religião e ela o perseguira, impossibilitando que pudesse até mesmo levantar da cama.
Não tinha nada para fazer ou alguém legal para conversar — seu melhor amigo, Jeon Jungkook, tinha seus próprios afazeres e não podia visitá-lo diariamente. Vez ou outra aparecia, mas ficava apenas alguns minutos até ser designado para outra obrigação.
Suas únicas opções eram dormir, mesmo estando receoso de fechar os olhos e nunca mais acordar, olhar o teto sem graça por horas e horas, ou ficar ali sentindo a doença lhe corroendo.
Quanto mais pensava na dor, mais ela aumentava. Era como se seu castigo fosse ser lembrado diariamente de que estava à beira da morte. Quanto mais pensava na dor, mais ela aumentava.
Dessa forma, preferiu dormir e assim ele decidiu permanecer. Estava exausto pelas noites de sono reprimidas pelo medo de morrer, mas aquela era a única saída.
Não tinha como fugir dos castigos de Deus por negá-lo. No final das contas, o padre parecia estar sempre certo. Ou ele dormia o dia inteiro, ou sentia a dor carnal dilacerante enquanto ainda podia, ou esperava a morte e a punição eterna no fogo de seus pecados.
E então Yoongi fechou os olhos, ainda escutando a conversa da mãe assustada pelas palavras duras do padre. As vozes iam se afastando. Sua pulsação relaxava. A dor se distanciava e seu espírito viajava para o mundo dos sonhos um pouquinho.
Esperava ser visitado por algum demônio das sete linhas infernais. Qual dos sete pecados capitais ele mais cometera e qual dos espíritos das trevas o atormentava ao ponto de ser punido tão cruelmente?
Deitado e absorto de tudo, refugiado em seus sonhos e pensamentos dolorosos, Yoongi não percebeu nem o instante em que fora deixado sozinho no quarto, mas não fazia diferença, porque já estava no estágio de sono profundo.
Porém, não foi o demônio que o visitou naquela noite.
Talvez Deus não estivesse tão irritado quanto imaginou, pois ao seu encontro uma criatura de beleza estonteante o amparou.
Seria o Arcanjo Rafael vindo com o remédio da cura ou a morte vindo terminar o que a doença já fazia diariamente com sua vida?
As mãos divinas do bem foram postas em sua testa e o cheiro de plantas medicinais trouxera novamente o ar aos seus pulmões. Não estava mais no escuro. O príncipe Min se viu sentado na beira de um rio cristalino com um garoto loiro ao seu lado.
O anjo de forma humanoide, parecendo ter a mesma idade que a sua, sorriu em sua direção e o sol voltou a brilhar. Ele não tinha asas nem coroa, muito menos usava vestes brancas. Era um jovem normal, porém sua energia definitivamente não era comum. Os ventos lhe abraçaram, a grama era a mais macia que já encostara e a dor sumiu.
Quem quer que o desconhecido fosse, tinha proporcionado a Yoongi um último momento de alegria, senão o único que experimentou há anos.
Encarou o garoto, que se ajoelhou na sua frente, segurando uma tigela de barro com um conteúdo escuro dentro.
— Beba — disse apenas.
— Quem é você? — Franziu o cenho.
Não estava com medo do que se tratava aquele líquido, afinal, o que tinha a perder? Mas antes de morrer, queria ao menos o nome daquele belo jovem.
— No momento, tal informação não é relevante. — Dando mais um sorriso, estendeu a tigela mais uma vez. — Apenas acredite. Os ancestrais nunca nos abandonam e a força da natureza é capaz de curar qualquer doença.
— Eu estou morrendo. Não há escapatória. — Chorou.
Pela primeira vez o peso no peito de Yoongi transbordou e ele não se sentiu envergonhado por demonstrar tanta vulnerabilidade na frente daquele desconhecido. Era um sonho.
Talvez fosse Ele, o Senhor, perdoando-o por todos os seus pecados. Qualquer lugar que não fosse o inferno ou as palavras duras de sua família, Yoongi aceitava de prontidão.
— A alma é imortal. Você é o todo. Nós somos um só, e a natureza nunca esquece de um dos seus.
E finalmente Yoongi aceitou e bebeu, ainda chorando, emocionado. Seu corpo todo relaxou quase que automaticamente, como se estivesse sendo levado a mais um sono profundo.
Bendita seja a natureza. Salve as almas ancestrais que curam seus filhos e vingam os hereges sobreviventes pela Lei da Inquisição.
Salve as Bruxas de Salém. Oh, glória! Que as linhas de cura da natureza nos livrem de toda enfermidade e nos tirem das dores eternas do fogo do inferno. Livrai-nos, Grande Mãe.
O teu ensinamento iremos evangelizar e nenhum homem de má-fé irá destruir nossa magia.
Os anjos cantavam, juntamente às energias da natureza ao redor de todos. E o principal deles, Park Jimin, espírito da cura designado para auxiliar o príncipe, girava na roda de dança e molhava os pés na água pura do rio.
No instante em que a fé de Yoongi acabou e ele desistiu de sua vida, as mãos de Jimin lhe trouxeram o sopro da vida de volta.
Somos um, e a Lei da Inquisição jamais irá nos calar.
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Notas Finais: E chegamos ao fim do primeiro capítulo... Agradeço a todos que leram até aqui. Espero que gostem do desenrolar da estória e até o próximo capítulo. Agradeço também aos trabalhos impecáveis de betagem e capa. E claro, as adms perfeitas desse projeto, sem elas eu não teria conseguido finalizar essa estória.
Vielen Dank für das Lesen!
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