anaclimaperes Ana C Lima Peres

Patrick Crowley se depara com situações esquisitas em seu escritório e revisita seus maiores pesadelos que teve durante a sua vida quando é forçado a participar do projeto Suturb.


Übernatürliches Klar Alles öffentlich.

#perseguindosonhos #sonho #pesadelo
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Projeto Suturb

Anoiteceu, mais cedo do que o esperado e eu continuo preso aqui nesse escritório preenchendo os relatórios em silêncio. Apenas o som das teclas do computador e do relógio na parede eram ouvidos. A cada dez minutos, a severa Carmen adentrava a sala e empilhava pastas com relatórios para digitar e novos números para atualizar os dados dos pacientes.

— Senhor Crowley, preciso pedir que seja mais rápido. Os relatórios não se preenchem sozinhos.

— Parece que vai chover

Comentei apenas por comentar.

A pasta que peguei continha as palavras "Projeto Suturb"

Eu li aquelas palavras algumas vezes desde que fui recrutado para esse trabalho. Tenho uma esposa e dois filhos pequenos.

Nomes de pessoas e carimbos escritos " falecido"

Os sussurros nos corredores costumam ser aterrorizantes.

Terapias nunca antes vistas, testes em pessoas desavisadas que nunca retornam para suas famílias.

Fui convocado pelo governo e não tive escolha, passar meses preso aqui sem chance de ir para casa até o final do projeto.

Dias atrás enviei um email para um primo que investiga esses assuntos e expõe ao mundo, na esperança de ser resgatado dali.

— Senhor Crowley? O doutor Petersson o chama em sua sala.

Levanto meu olhar e Carmen olhava o chão, atrás dela tinham dois homens que nunca vi.

Os sigo por corredores brancos e muitos que ali estavam sussurravam coisas.

Entro no elevador e os vejo na porta.

— Avise o Doutor que Patrick Crowley se voluntariou para o projeto Suturb.

As portas se fecham e o desespero aumenta, tentava abrir a porta do elevador sem sucesso.

Quando a porta se abre, a escuridão é o que me aguardava.

Minha infância, preso no porão escuro e úmido de meus bisavós por quebrar um vaso por acidente.

Gritos e meu braço sendo arrastado até lá.

" Senhor Crowley, participará do projeto Suturb a partir de agora e com os termos de confidencialidade assinados deverá se mudar para nossa base e não poderá sair até o sucesso do projeto"

"Não podem fazer isso, você não pode fazer isso comigo, com seus filhos!"

Muitas vozes e lembranças enquanto caminhava tentando se manter firme o suficiente.

Não parecia haver saída.

— Onde estou? — Grito e tudo o que escuto é o silêncio.

Risos de crianças ao meu redor e canções infantis.

Eu estou sonhando? Adormeci no escritório? Ninguém conseguiria responder essas perguntas além de mim

Luzes se acendem e a sala branca e a luz eram tão claras que quase me cegam.

— Tarefa número 1: Senhor Patrick Crowley, assim que a porta for aberta deverá caminhar pelos corredores e escolher uma porta para entrar.

A porta se abre e caminho até encontrar o corredor, nomes escritos em cada porta.

Amélia Crowley, Jeremiah Crowley, Jenny Crowley, Patrick Crowley.

Suas fotos, escolher entre minha esposa, filhos e…

— Não vou escolher! Isso não é real.

— O que é a realidade? O que torna uma cena real ou imaginada?

— Se eu escolher Amélia, o que acontece com meus filhos?

— Apenas escolha.

— Patrick Crowley

— Abra a porta.

Abri e estou no porão, da minha infância, há uma criança chorando de joelhos para a porta batendo nela como se a sua vida dependesse disso.

— Olá? O que aconteceu? — Digo me aproximando, com a luz vindo apenas na porta aberta do corredor não consegui ver o rosto da criança.

— Vovó! Abra por favor, eu prometo não fazer isso novamente!

— Meninos maus devem ser punidos, seus pais não te quiseram e abandonaram você aqui por causa disso.

Me aproximo e toco o ombro do garoto enquanto pensava em algo para o consolar e vejo…

Jeremiah, me afasto e olho ao redor. Tentei abrir a porta na base da força mas não consegui.

O garoto tocou meu braço e vejo, eu mesmo.

Sempre tive medo de errar como pai quando Jeremiah nasceu, não confiava em ninguém após viver anos de sofrimento com meus bisavós que me criaram quando meus pais se separaram e viviam para o trabalho.

Passei horas nesse porão, chorando até as lágrimas secarem e gritando até não ter voz. Amedrontado na escuridão, esperando a porta ser aberta e ver minha bisavó me arrastar porta a fora reclamando por eu quebrar as coisas dela.

A sensação de não ser amado por ninguém, não poder confiar em ninguém.

Até, Amélia chegar durante as férias de verão. Minha avó cuidava dela para seus pais trabalharem.

Quando estava preso no porão, ela ficava sentada do outro lado da porta contando histórias ou cantando para me acalmar.

Ela sempre foi aquela mão que me tirava da escuridão e trazia luz e paz.

— Me tire daqui Senhora Carmen, doutor Petersson. Não fiz nada errado! — Grito chutando a porta que se abre.

Minha família caída no chão, no meio de uma sala mal iluminada.

Abro os olhos no escritório novamente.

— Senhor Crowley? O senhor Bianco pediu-me para lhe informar que a reunião foi adiantada e acontecerá daqui a cinco minutos.

— O que? Que reunião? Onde estou? — Pergunto — Cadê a minha esposa? E os meus filhos?

— Senhor, não sei do que o senhor está falando, mas depois de ontem o senhor Bianco está de olho em você, um passo em falso e está demitido.


Saio do escritório e vejo pontes levando para salas diferentes. As salas estavam iluminadas, não sabia o motivo, mas segui até o que parecia ser uma sala de reuniões, via através do vidro transparente pessoas sentadas esperando de maneira impaciente.

Sussurros de funcionários me trazem a realidade.

Eu estava sonhando, não sei quando começou.

Lá estava eu, na sala de reuniões sendo o alvo de piadas e abusos verbais pelo chefe e os meus colegas rindo.

Revisitando os piores momentos da minha vida sem conseguir sair dali.

Nunca fui o melhor em nada que fiz desde que me entendo por gente. Eu sei fazer muitas coisas mas sem conseguir ser o número 1 em nada.

O mediano, o colega de sala que as pessoas não se lembravam e fazia a diferença. O universitário que não fazia ideia do motivo de estar ali.

O funcionário alvo de piadas e que por alguma razão todos passavam por cima.

Aquele que nunca era o escolhido em nada, a última opção.

Amélia ter escolhido amar alguém como eu, diz mais sobre ela do que sobre mim.


"O pior funcionário dessa empresa, ele tem a coragem de entrar aqui com esses projetos sem pé e nem cabeça. Quando você vai crescer Crowley?" Escuto David Antonello dizer rindo. " Não acredito que Amélia preferiu ficar com você! Coitada dela"

Deixei meu corpo cair no chão, lágrimas desciam.

Seria possível que de todas as escolhas que eu já fiz em minha vida eu escolhi todas as erradas?

"Eu te amo Patrick, você é especialmente belo por dentro e por fora." A voz gentil me abraça. Seu cheiro me fazia recordar as tardes que minha avó fazia bolo de laranja e passava café novo para tomarmos assistindo o sol se pôr.

Amélia nunca a conheceu, de todos meus familiares ela é a única de quem sinto falta. Faleceu dormindo quando eu tinha dez anos, após isso eu tive que ficar com sua mãe, minha bisavó. Hoje sei que ela estava muito doente e faleceu jovem demais. Aos cinquenta anos, meu avô dez anos antes dela durante uma missão, ele era policial.


Me levanto, sinto forças retornarem em mim.

— Eu sou alguém, não quem eu gostaria de ser, mas irei me esforçar para ser essa pessoa.

Lembro das pessoas boas que passaram na minha vida e até das ruins e dos melhores momentos da minha vida que foi quando vi os olhos de meus filhos pela primeira vez. Quando me casei com Amélia e de sentar ao lado da minha avó e ver o pôr do sol enquanto ela me contava histórias incríveis sobre pessoas que aparentemente não tinham absolutamente nada que as faziam especial mas mesmo assim fizeram coisas fascinantes e se transformaram em verdadeiros heróis.

Se estou preso aqui nesse pesadelo, eu darei a vida para lutar contra tudo isso. Agora sei que não preciso temer, isso tudo sou eu. Meus medos, fracassos, erros e pensamentos.

Entendo que o projeto Suturb visa dominar pessoas e forçá-las a se submeterem aos caprichos de gente do alto escalão. Através de seus maiores medos, as fazendo esquecerem quem realmente são.


20. Mai 2023 17:19 1 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Ana C Lima Peres Sou Ana Caroline, apaixonada por criações de mundos e universos fictícios. Desde o colegial livros foram meu refúgio, minha fuga da realidade e então resolvi criar meu próprio mundo. Sejam Bem-vindos ! Meu Instagram de autora: ➡️ @anaclimaperes_autora https://linktr.ee/AnaCLimaPeres_Autora

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Fábio Everton Fábio Everton
Poxa, muito interessante! Tem tudo pra virar um livro intero até! Parabéns!
August 22, 2023, 07:00
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