Nosso relato começa na Câmara Municipal de Lortzafae, cidade pequena e pacata praticamente esquecida no mapa, mas com um ego de cidade grande, estranhamente o recinto que outrora vivi praticamente vazio, meio que “entregue as baratas”, estava lotado, uma aglomeração que ocupava todos os cantos, e que terminava na sala principal, chamada de “Salãozinhozinho Ouval”, escrito exatamente dessa forma, acima da porta de entrada, em uma tentativa falha de fazer referência ao local de trabalho do presidente dos Estados Unidos da América, o artista responsável por tal feito e também pela ideia do nome era o senhor Isaías que tinha uma ótima caligrafia mas não tinha tanto estudo, o prefeito da época não estava interessado em está certo ou errado, o que ele queria era superfaturar a pintura, colocando nos recibos de pagamento a cobrança por letra pintada.
Embora fosse batizada de “Salãozinhozinho Ouval”, de oval ela não tinha nada, já a característica de “Salãozinhozinho”, realmente fazia jus, pois era um cubículo de mais ou menos dois metros de largura e quatro de comprimento. Dentro ocorria uma acalorada discussão entre as vossas senhorias, os vereadores, também estavam presentes dentro da sala, alguns notórios cidadãos, o furdunço era tanto que o zum-zum-zum se estendia por toda a vizinhança.
Na parte superior da parede a uma altura de mais ou menos um metro e oitenta do chão, mesmo de frente para os espectadores e logo atrás da comissão que presidia a reunião, encontrava-se um telão preto com letras brancas em caixa alta onde se lia: “Câmara Municipal de Lortzafae”, abaixo a lista de representantes legitimados para votar: SGT. Cunha, Dona Cacilda, Mario Papudim, Júnior Pezão e por último pastor Ulisses, ao lado de cada nome havia a sigla do partido e seu referido voto.
Mas o que estava em votação? Por que tanto alvoroço? Parecia algo de suma importância, tanto que reuniu todos os vereadores. E realmente era um assunto muito polêmico, algo que dividia o povo lortzafaense.
“É BISCOITO OU BOLACHA?”.
No palanque terminando seu discurso que precederia seu voto, pastor Ulisses declamava:
— Pela família, pelo nosso município, pelo nosso amado país e principalmente pelo nosso pai todo poderoso, NOSSO SENHOR! Eu digo...
Um silêncio pairou no ar por alguns instantes, como se fosse um pênalti preste a ser batido em um estádio lotado e uma a torcida aflita roendo as unhas. Logo em seguida um som estridente fez ecoar na minúscula sala a palavra que muitos estavam esperando.
— BOLACHA!!!
As vibrações foram tantas que as pessoas sentiram o chão estremecer, uma euforia total. Alguns poucos gritavam: “marmelada”, “vendidos”. Mas não alto o suficiente para abafar os assobios, aplausos acompanhados de “BO-LA-CHA! BO-LA-CHA!”
O presidente da comissão encarregado de presidir a reunião gritou alto e em bom tom, “ORDEM! ORDEM! Mantenhamos o decoro vossas senhorias.”, seguido de marteladas raivosas na mesa, a multidão calou-se, o presidente pigarreou antes de ler o resultado final da votação.
— Com três votos a dois, a bolacha, ganhou. Ele bateu o martelo novamente e encerrou a reunião.
Algumas perguntas vêm à cabeça. Como uma questão tão supérflua foi para na Câmara Municipal para ser votada? E como esse tema é relevante para a população? Para responder a primeira pergunta, vamos voltar um pouco no tempo, apenas alguns dias. Era uma terça-feira, como de costume alguns vereadores passavam na Câmara todo santo dia para bater o ponto, quem pegasse a lista de frequência diria que esses eram parlamentares exemplares, sua assiduidade dava orgulho, mas era só no papel o que ocorria de fato era que eles assinavam a lista de frequência e iam embora. Nesse dia antes de ir embora o SGT. Cunha resolveu dar uma passadinha na copa para tomar um cafezinho, lá encontrava-se sentado com uma xícara na mão o vereador Júnior Pezão.
— Boa tarde! Disse o sargento.
— Boa tarde! Respondeu Júnior.
O Clima no ressinto era um pouco pesado, todos sabiam que os dois não se bicavam muito, mas não era nada grave a ponto de não se falarem. O ex-militar pega uma xícara e se serve com um café quentinho. Júnior por educação oferece.
— Biscoito!
Cunha retrucou:
— Você quis dizer bolacha?
— Não, disse biscoito.
— É bolacha, todo mundo sabe que, desde que o mundo é mundo que isso é BOLACHA.
A discussão foi tomando proporções maiores, como diriam, entornando o caldo, as vozes começaram a serem ouvidas cada vez mais longe, e antes que a confusão chegasse às vias de fato, ambos foram separados pelos copeiros. A polêmica alastrou-se feito rastro de pólvora por toda a cidade dividindo opiniões.
E cá estamos, nesse dia que entrará para a história de Lortzafal, o dia em que o biscoito enfim se tornou bolacha, ou será que é o dia em que a bolacha deixou de ser biscoito?
A matéria irá ser encaminhada para a prefeitura, só uma mera formalidade, já que Toinho Fubá, o prefeito, dizem as más línguas que ele não mandava nem em casa, quiçá na cidade, assim ele irá aprovar a medida e acabar de vez com o impasse.
O irônico disso tudo é que a maioria das pessoas da cidade brigavam a ferro e fogo quando era tocado no assunto, mas, nem se quer tinham dinheiro para comprar uma massa assada de farinha, misturado com qualquer cereal com ou sem açúcar, gordura ou levedura.
E com isso meus amigos, respondemos o segundo questionamento, a relevância do tema na vida das pessoas.
Vielen Dank für das Lesen!
Wir können Inkspired kostenlos behalten, indem wir unseren Besuchern Werbung anzeigen. Bitte unterstützen Sie uns, indem Sie den AdBlocker auf die Whitelist setzen oder deaktivieren.
Laden Sie danach die Website neu, um Inkspired weiterhin normal zu verwenden.