u15715377901571537790 Felipe Corvo

Caio e Wandinha formam um casal bem exótico. Ela gótica, ele todo mauricinho. Só que eles dão tão certo no namoro que estas diferenças — às vezes tão abruptas — não fazem diferença alguma na relação. Quer dizer; isso até chegar o dia de comemorarem o aniversário de 15 anos de Wandinha. Baseado na série 'Wednesday'.


Humor Schwarzer Humor Alles öffentlich.

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Capítulo 1

“Caio, o amor que sinto por você ultrapassa até as barreiras da morte” — Do nada, Wandinha sussurra isso ao me beijar, logo que nos sentamos no banco da praça.

Como de praxe, sorrio. Mas eu não me assusto ao ouvir isso, pois bizarrices como essa, ela me diz a todo o instante, — apesar de eu não ser chegado em ouvir coisas obscuras desse tipo. Mas gosto é gosto! E eu respeito. Principalmente o gosto de Wandinha que... — diga-se de passagem — beira a morbidez.

Depois do costumeiro abraço apertado, eu me viro pra ela e falo cheio de entusiasmo:

Nossa! Amanhã é sexta-feira! O grande dia do seu aniversário!

Suas bochechinhas coram.

— Meus parabéns! — continuo — E o que você quer ganhar de presente, minha gatinha do mal? — brinco, apesar de não ter um puto no bolso.

Wandinha se senta no meu colo e depois fica olhando no fundo das bolotas dos meus olhos. Depois de me desconcertar com seu olhar penetrante, ela fala a queima-roupa:

— Eu quero que você passe uma noite no cemitério comigo.

Quase pulo do banco.

Ela está com o dedinho apontado para o outro lado da rua, — justamente para o portão enferrujado do antigo cemitério Olavo de Carvalho — com seu rostinho pálido já fazendo um baita contraste com seu vestidinho de renda preta inundada de lantejoulas negras e brilhantes.

— Calma lá, meu amor! — eu retruco — Eu sei que amanhã é seu aniversário e coisa tal. Mas não se esqueça de que a estranha aqui é você. Quanto a mim, eu sou só um carinha normal.

— Mas, Caio — ela faz um beicinho — vou fazer 15 anos... Esqueceu-se?

— Me pede outra coisa. — digo num supetão, numa tentativa rápida de encerrar o tal assunto do cemitério.

E depois de ouvi-la dizer coisas diversas, ou melhor, — coisas bizarras e perversas — eu viro o rosto e me calo.

O vento começa a soprar. Nisso ouvimos o uivo de um lobo, seguido por piados de coruja lá pelas bandas do cemitério.

Daí Wandinha rebola em meu colo, puxa o meu rosto para que eu olhe em seus olhos enquanto refaz o pedido bem pertinho do meu ouvido: “Caio, passa uma noite no cemitério comigo, por favor?”.

Mas quanto mais eu balanço a cabeça em negativa, mais Wandinha chora; depois ela começa a praguejar sem parar; com suas duas bolotas de fogo a conjurar todo o tipo de mal sobre mim.

“Com tanta garota normal por aí, por que caralhos eu fui me apaixonar justamente por uma gótica?” — Suspiro.

Frustrada, Wandinha desce do meu colo pra sentar na beirada do banco. Primeiro ela cruza as pernas e os braços. Depois fita o horizonte; parece admirar a imensidão de um céu sem estrelas.

— Nos conhecemos nessa praça, lembra-se, Caio? Era uma noite igualzinha a essa. — Sua voz é doce, beira a melancolia — Eu lembro que era noite de lua cheia, como essa, e que também ventava muito, igualzinho a hoje.

Após dizer isso, o vento começa a soprar mais forte, agitando nossas roupas, fazendo o vestido e os lindos cabelos pretos de Wandinha se esvoaçarem sem parar, ocultando parte do seu rosto cheio de maquiagem escura. De repente ela se vira e fica me encarando. Sinto golfadas do seu perfume pairando no ar, aliás, —- o mesmíssimo perfume de quando nos conhecemos e nos apaixonamos.

— Minha borboletinha das trevas, — eu digo baixinho, quebrando meu silêncio — você não acha que o que está pedindo é um pouco demais? Você sabe que não sou chegado nessas coisas...

Por alguns segundos Wandinha não diz nada. Mas percebo que seus olhinhos estão úmidos, e que é como se dissessem: “Não faria isso por mim, Caio?”.

Logo me recordo das inúmeras loucuras que Wandinha já tinha feito só pra me agradar. A pior delas, — penso eu que pra ela foi — foi quando encarnou uma patricinha mimada, só para poder passar o réveillon com meus pais.

— Mas como seria esse negócio? — digo baixinho, tentando não me comprometer.

Wandinha sorri. Enxuga as lágrimas ocultas pela vastidão de seus cabelos negros e depois volta a se sentar ao meu lado. Ajeita o vestido, puxa os cabelos pra trás num rabo de cavalo, e depois me oferece um olhar cheio de ternura — parece ganhar tempo para escolher palavras menos tenebrosas.

— Esse é um sonho antigo, Caio. — de repente ela diz. Percebo um tênue fio de ansiedade e angústia que lutam entre si para não se extravasarem da sua voz — Que nossa primeira noite de amor aconteça neste cemitério.

Penso em refutar: “Mas no cemitério?”, mas desisto. Afinal, já faz bastante tempo que espero por esse dia, “o grande dia”, sem falar que coisas estranhas como essa é apenas o preço que um cara normal tem de pagar por namorar uma garota “anormal”.

— Fala mais... — dou corda, agora um pouco mais interessado que antes.

— Então, — ela continua, enquanto pousa de lado a mochila de caveira; abarrotada com seus livrinhos macabros — quando eu era pequena, tipo, quando eu tinha uns 8 anos, eu lembro que meu sonho mais recorrente era passar uma noite no cemitério.

— Sei,... — finjo interesse.

— Então, — ela diz radiante — eu quero que esse sonho se torne real. Não seria lindo, Caio? Passarmos uma noite inteirinha no cemitério no dia do meu aniversário?

— Mas comigo?! — brinco.

— É claro que é com você! — ela protesta. Depois viaja — Imagine só tomarmos champanhe à luz de velas, só com as tumbas como testemunha do nosso amor...

Penso em dizer coisas reais como: “O que tem de lindo nisso?!”, mas logo desisto ao ver seus lindos olhinhos negros cintilantes aguardando uma resposta afirmativa da minha parte.

Então, apenas concordo.

— Seria lindo mesmo, meu besourinho do pântano. — mas a seguir, (e juro que é sem querer!) eu acabo quebrando o encanto — Mas isso aí é coisa de gente desmiolada, Wandinha. Gente com parafuso solto na cabeça. Acho que você não chega a tanto, né?

De repente os olhinhos de Wandinha se endurecem num tom mais escuro. Tão escuro como o breu que já avança a passos largos ao nosso redor. Por isso respiro fundo e refaço o meu comentário.

— Bem, o que eu estou querendo dizer é que... Se isso é realmente o que você quer de presente, eu vou respeitar...

Logo minha flor negra torna a florescer. Depois de soltar um longo suspiro apaixonado, Wandinha se senta em meu colo e me rouba todo o resquício de fôlego que porventura eu havia guardado para argumentar.


Continua...


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16. Februar 2023 16:22 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Felipe Corvo Felipe Corvo é um escritor multifacetado, conhecido por criar narrativas cativantes que exploram temas profundos e universais. Sua escrita sensível e envolvente conecta-se emocionalmente com os leitores, levando-os a reflexões sobre a vida, o amor e o significado da existência. Com obras que vão da ficção à autoajuda, ele demonstra versatilidade e criatividade em cada página, inspirando e transformando vidas.

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