Não era de hoje que ela se perguntava o que tinha acontecido com sua escrita. Ela não sabia se o bloqueio tinha sido um reflexo de como sua vida pessoal andava, mas esperava sinceramente que esse não fosse o caso — ou ela teria que se preocupar com muito mais do que alguns dias sem escrever. Depois das ligações de sua editora, resolveu que se esforçaria um pouquinho mais para bater a data em que deveria entregar seu manuscrito, afinal “Ou você entrega ou pode se preparar para o cancelamento do livro” como disse sua editora. Ela podia imaginar o rosto furioso da mulher de cabelos cor de fogo enquanto ouvia sua voz ao telefone.
Ela olhou seu relógio — marcando 2:24 h da madrugada — e levou sua xícara de café à boca, só para lamber seu bocal ao perceber que o café tinha sido há muito consumido. Estalou o pescoço e girou seus pulsos — como eu um ritual de escrita — e passou a digitar em seu notebook, continuando de onde havia parado da última vez.
“Os dois homens estavam sentados de um jeito nada amigável e desconfortável, mesmo que quem passasse do lado de fora pudesse imaginar que trocassem confidências — o que não era uma mentira. Um deles era alto, tinha os cabelos tingidos de rosa e usava óculos amarelos. Era o que parecia falar mais enquanto o outro — cabelos desbotados de verde e pálido, terrivelmente pálido, com olheiras que deixavam seus olhos meia-lua com aparência de cansados — apenas ouvia.
Não foi o olhar frio que o amigo lhe deu, mas o jeito como ele falou as palavras seguintes.
– Você não deveria brincar com coisas que não entende, Y. — foi tudo que ele disse, antes de se levantar de repente e deixar o amigo pensativo na cadeira da lanchonete 24 h.
Mal ele sabia que tudo Y queria era entender o que estava acontecendo com ele. Era claro como o dia que alguém estava controlando sua vida… aquela mulher. Pelo menos agora ele tinha o endereço. Ele podia tirar todas as satisfações que quisesse e ela teria que ouvi-lo… ah, ela o ouviria mesmo que não quisesse.
– Maldita — ele diz baixo e se levanta.
É agora ou nunca.”
Ela deu uma pausa, não pensava que aquilo estivesse bom. Mas pelo bem de seu livro, era aquilo que iria para a editora. Levantou-se vagarosamente de sua poltrona e pegou sua xícara de café, levando até a cozinha. Ligou sua cafeteira para esquentar o restava ali, talvez por preguiça de passar um novo café, talvez porque não tivesse energia suficiente e precisasse de cafeína urgente ou desmaiaria de sono.
Pronto o café, sentou-se novamente e bebericou de sua xícara.
– Droga, doce demais — ela disse. Mesmo que aquilo não fosse realmente um problema, afinal, o açúcar ajudaria a mantê-la acordada. Voltou a digitar.
“Ele caminhou por quase 20 minutos pelas ruas escuras da cidade, o cheiro de lixo e podridão subindo às suas narinas, enquanto pensava no que falaria assim que a visse. Era tarde, mas se ela não o atendesse ele derrubaria sua porta. Não podia deixar para amanhã todas as questões que tinham sido reunidas durante essas últimas semanas desde que soube a verdade.
Enquanto subia as escadas, pensou no rosto dela e em como ela o encararia. O que ela diria ao vê-lo ali na sua frente. Sua mente ficou vazia por um momento enquanto encarava o número de seu apartamento. Ele respirou fundo, mãos suando e bateu firmemente…”
Ela tinha sido interrompida. Assim que escreveu aquilo, um arrepio correu por sua espinha. Eram três breves batidas em sua porta.
Ninguém a visitaria àquela hora da madrugada e ela tinha certeza que não tinha pedido nenhuma entrega.
Espiou pelo olho mágico, mas quem quer que fosse estava de costas e tudo que ela podia ver eram suas roupas escuras e a touca na cabeça.
– Quem é? — ela perguntou e como não obteve resposta, antes de conseguir pensar, abriu a porta.
O coração dela caiu para seu estômago ao ver o homem que se encontrava em sua frente. Cabelos verdes desbotados, pálido e de olheiras extremas. Ele a encarou sem nenhuma expressão, por mais que ela pudesse ver raiva em seus olhos.
– Tenho certeza que você sabe quem eu sou — ele disse, na voz que ela havia imaginado dezenas de vezes em sua cabeça enquanto escrevia — Agora me explique, por que você decidiu ferrar com a minha vida?
Vielen Dank für das Lesen!
Wir können Inkspired kostenlos behalten, indem wir unseren Besuchern Werbung anzeigen. Bitte unterstützen Sie uns, indem Sie den AdBlocker auf die Whitelist setzen oder deaktivieren.
Laden Sie danach die Website neu, um Inkspired weiterhin normal zu verwenden.