O vento fustigava o rosto da jovem que caminhava pelas ruas de paralelepípedos, segurando o chapéu clochê, impedindo-o de voar. Seu rosto encontrava-se abaixado, protegendo os olhos da água que lhe feria. O cabelo escondido, com o corte à la Chanel, estava encharcado. O casaco longo protegia o vestido, entretanto era visível seu tremor. Algo a deixara tensa.
Parou em frente a uma casa, olhando temerosa para a cerca viva, suspirando antes de entrar. Caminhou devagar por entre as sombras. As paredes pareciam ter olhos. Ela parou um instante, talvez testando sua coragem. Uma luz difusa nos fundos chamou sua atenção. Um estrondo no céu a fez estacar. A chuva apertara. Voltou o corpo em direção à rua, porém uma mão cobriu sua boca. Em poucos segundos ela havia sido engolida pela casa. Seus olhos assustados me causavam aflição e angústia. Senti quase uma necessidade de correr até ela e libertá-la das mãos daquele que a aprisionava com fúria. Cheguei a dar o primeiro passo em sua direção, entretanto encontrava-me presa ao chão. Gritei ao vê-la desaparecer nas sombras.
Acordei assustada. Olhei para o lado e Armand dormia profundamente. Não quis acender a luz. Deixá-lo dormir era o melhor remédio. O luar incidia no quarto, aquietando as sombras inertes, enquanto o coração parecia voltar ao lugar. Procurei analisar o sonho, sem chegar a nenhuma conclusão. Talvez fosse cansaço. Passei o dia a empacotar nossas coisas. Em dois dias estaríamos em outra cidade, outra casa, outra vida. Pensar nisso era desviar a mente para longe do estranho sonho. Queria voltar a dormir mas, a cada segundo, a imagem da moça insistia em aparecer diante dos meus olhos, como num filme noir.
Virei de lado, em silêncio, e as perguntas fluíram, mesmo tentando impedi-las: Quem era a moça? O que aconteceu a ela? Aquelas mãos sinistras selando sua boca me davam arrepios. Ver o chapéu clochê ao chão, fustigado pela chuva intensa enquanto ela era engolida, fixou-se em minha mente como um flash disparado por uma câmera. A minha incapacidade de ajudá-la me feria, deixando-me angustiada.
Nem de longe eu poderia desconfiar que a nossa ida para a vida que nos aguardava, revelaria os mistérios daquele sonho.
Vielen Dank für das Lesen!
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