baijingshen Mars Lopes

𝐃𝐄𝐒𝐃𝐄 𝐀 𝐏𝐑𝐈𝐌𝐄𝐈𝐑𝐀 𝐕𝐄𝐙 𝐄𝐌 que encarou aqueles grandes olhos castanhos, ele soube que iria ansiar por admirá–los através da fria eternidade. Singulares, harmônicos. Amaria–lhe em memória, pois Bella Swan já não se lembrava da sua existência. 🌹*̥˚─ENDGAME: Bella Swan X Ariel Cullen 🌹*̥˚─PARCIAL: Bella Swan X Edward Cullen


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[Cartas Para Bella] Ruptura

𝒜𝓇𝒾𝑒𝓁 𝒞𝓊𝓁𝓁𝑒𝓃, 𝟣𝟪 𝒹𝑒 𝒥𝒶𝓃𝑒𝒾𝓇𝑜 𝒹𝑒 𝟤𝟢𝟢𝟧;
𝐹𝑜𝓇𝓀𝓈, 𝒲𝒶𝓈𝒽𝒾𝓃𝑔𝓉𝑜𝓃.



Permaneci imóvel como uma estátua em frente do pequeno prédio, hesitante diante da perspectiva do que eu estava prestes a ter de fazer.

Meus olhos — provavelmente — haviam obscurecido pelo período de tempo mais longo em que não me alimentara devidamente; tal qual o restante da minha família. As grossas bordas enegrecidas abaixo de meus cílios tornavam a minha palidez mármorea, de aspecto doentio — como se eu estivesse me recuperando de um recente nariz quebrado —, e a frustração e a inquietação crescente mantivera os meus lábios em uma linha rígida.

Observando cautelosamente a pequena placa informativa diante de mim, instrui os meus pulmões num inspirar profundo. A mão que segurava o buquê de rosas vermelhas tremeu por causa da anormal suavidade com a qual era fechada, o embrulho frágil do plástico escorregava contra minha pele. Externei um inaudível xingamento, nervoso, mentalmente relutando para calcular a força correta que deveria utilizar para me impedir de esmagar aqueles caules efêmeros.

A indecisão permanecia dançando e entorpecendo os meus sentidos aguçados como um veneno, pois eu deveria entrar na secretaria e cumprir com o meu dever — afinal a função de nos manter devidamente seguros era minha — mas tampouco significava que esta era a minha tarefa predileta em meu dia.

Minha... família... era dotada de, me somando, quatro vampiros talentosos, mas era a minha habilidade que se destacava em certas circunstâncias. O trabalho de verificar a situação — desaparecer com as evidências — era de minha total responsabilidade e, francamente, a perspectiva de um vampiro vegetariano perder a luta contra seu instinto não era demasiadamente distante para mim. Eu era pessimista, como diria Alice.

Explodi uma rede de penumbra, arrastando─a por toda a extensão do campus, rastreando e detectando até a mais insignificante e inofensiva presença. Somente quando obtive a confirmação da localização de meus irmãos, é que expirei.

Minha mão empurrou a porta de entrada — no mínimo o possível de força que eu poderia usufruir —, cedendo a passagem, e então eu adentrei o ambiente com o magnetismo de um anjo caído. Sendo franco, esta talvez fosse a máscara ao qual eu melhor me adaptava, uma vez que pertencia ao inferno.

Balancei a minha cabeça para me desfazer dos resquícios da água da chuva em meu cabelo e ignorei a umidade em meus cílios. A iluminação simples não era um martírio para minha visão poderosa. O calor emanando da sala era como um sopro agradável contra a minha temperatura corporal fria. Os aromas e os rastros de cheiro — a maioria já fraca —, no entanto, me fizeram gastar um segundo para que eu pudesse organizá─los em uma lista adequada em minha mente. Jasper havia estado ali naquela manhã — sem Alice. O cheiro dele era muito familiar; carregava uma leve sensação picante, um anseio repentino por fugir para a direção contrária.

Mal havia terminado de piscar quando franzi o cenho para essa avaliação, o meu olhar preguiçoso estudando a face redonda da secretária. A mulher arregalara os olhos através de seus óculos e o seu coração bombeou num ritmo frenético que inevitavelmente socou o escudo imaginário que eu construíra para manter a resistência.

Desconforto.

Calor.

Dor.

Ardência.

Sede.

— Senhor Cullen! — ofegou, o olhar inseguro e hesitante recorrendo à porta fechada atrás da mim.

O sorriso dócil que repuxou os cantos dos meus lábios fizeram a fêmea humana estremecer com a necessidade de auto─preservação, embora a sua mente me catalogasse como um espécime atraente e agradável.

— Senhorita Cope, eu soube que se feriu esta manhã...

Foi fácil distinguir o cheiro característico e adocicado de sangue humano e pele rompida — eu estivera o inalando antes mesmo que tivesse paralisado diante da sacretaria — quando as dezenas de gavinhas de escuridão que se embrenhavam ao redor das minhas mãos e cabelos transitaram numa dança ilusória até a mulher como fumaça tóxica, nublando os seus sentidos somente o suficiente para silenciar o medo desenfreado.

Ela sorriu olhando para baixo, evitando o meu olhar.

— Foi um acidente bobo. Seu primo derrubou um jarro de enfeite e eu acabei cortando o pulso com um fragmento do vidro. O pobrezinho passou mal depois disso. Mas, eu estou bem. A senhora Hammond me fez um curativo.

Deslizei o embrulho pela madeira do balcão, feliz por me livrar de algo tão delicado. Pisquei.

— Que bom, senhorita Cope! Meu primo Jasper me pediu para te entregar essas rosas como um pedido sincero de desculpas por tê─la machucado.

Um suspiro mecânico; as mãos se moveram para agarrar o embrulho que foi cheirado, embora eu também tivesse anulado o seu olfato.

— É uma gentileza muito grande, mas não era necessário! São lindas, de qualquer forma. Diga ao seu primo que agradeço a preocupação, obrigada!

Touché.

Um sorrisinho bordou meus lábios. Irônico pensar que Jasper jamais teria uma atitude como aquela para com um ser humano devido a sua baixa resistência, e, ainda assim, ganhara um agradecimento da mulher que quase tirara a vida por um erro suspeito.

Inclinei meu tronco para perto, calmo, os meus braços apoiados no balcão abarrotado de cestas com bilhetes coloridos e empoeirados das quais não gastei um segundo olhar desinteressado.

— Isso certamente tirará o peso de seu coração... — dei de ombros, sardônico — Mas, cá entre nós senhorita Cope; estou aqui por um motivo particular...

— Um motivo em particular? É algo em que eu possa ajudar?

Sorri, umbroso.

— Na verdade, boneca, você é a única que eu quero que me ajude. Eu sei que você sabe coisas interessantes a respeito da nova transferida de Phoenix.

Shelly piscou.

— Tenho um pouco de conhecimento sobre, mas como...

— Hmn, ótimo. Quer compartilhar?

Esperei com paciência; quase avaliando os anéis em meus dedos enquanto o olhar apático de Shelly vasculhava alguma coisa em minha face.

— Hmmm, o que eu sei é o que todo mundo sabe, querido. A mãe dela não gostava da cidade e o casamento durou pouquíssimos anos. Provavelmente menos de cinco. Era uma mulher agitada demais para essa cidade, não durou muito depois da gestação. — explanou — Bom, de qualquer forma, o chefe Swan também não tentou tirar a criança da mãe, assim como também não pareceu seguir em frente, entende? Superar...

— Nem consigo imaginar um motivo bom o suficiente para alguém são não gostar daqui...

Zombei com desinteresse, esmagando minha bochecha com meu punho ao usá─lo como um apoio. Shelly ignorou o meu murmúrio.

—... A criança costumava vir visitar o pai nas férias de verão, pelo que sei. Até que parou, aos quatorze anos. Soube que ela se mudou para a casa de um parente materno. Dizem que odeia Forks, embora ninguém nunca tenha ouvido ela dizer essas palavras. Parecia um animalzinho ferido. Fugia sempre que outras crianças a convidavam para brincar...

— Que simpática! Se ela odeia essa cidade, por que está vindo?

Sorri largo, expondo fileiras de dentes afiados. Shelly tremeu levemente.

— Parece que a mãe se casou de novo e entrou em lua de mel no último ano, então como não podia ficar sozinha, a pobrezinha recorreu ao pai — suspirou —. Mesmo sendo um homem reservado, ele praticamente contou isso para a delegacia inteira e a delegacia espalhou para a cidade. Todo mundo sabe.

— Não me interesso particularmente na vida alheia, linda. Me interesso na novata. Me conte algo interessante.

— Isabella Marie Swan... — estudou o nome, interessada —. Filha única. Quase matou a mãe no parto. Houve alguns problemas...

— Oh, quais problemas? — indaguei me censurando pelo interesse repentino na informação que eu não deveria estar prestando atenção. Talvez fosse o suficiente para erguer a guarda da família.

Shelly anuiu com a cabeça. Em sua face havia uma leve indicação de pesar e culpa, mas os efeitos de meu talento tornavam─na pouco capacitada de usufruir corretamente de suas próprias emoções; era como uma droga em suas veias.

— Dizem que houve... bruxaria. Era para Isabella ser concebida em Forks, mas... de algum modo... Não foi o que aconteceu. Ouvi dizer que ela têm ligação com a reserva indígena.

Baixou o tom da voz, quase sussurrando, o corpo robusto se inclinando para mim ao mesmo tempo em que eu me aproximava dela, esquecendo─me de minha super audição. Franzi a testa. O lábio inferior de Shelly tremeu. Reserva indígena... Só podia ser La Push. O Tratado. Deixei de vislumbrar a dança astral dos grãos de poeira no canto superior da parede atrás da mulher para cravar meus olhos nos sem emoção de Shelly Cope.

— O quê houve, exatamente?

— Eu não sei muito bem, Ariel. Sei somente o que me contaram sobre. Esta é uma cidade pequena. As pessoas têm uma mente que julga antes de purificarem os fatos. Não quero pensar no que essa criança passará quando chegar aqui. Que Deus nos...

— Basta.

Senti que, se fosse humano, estaria arrepiado pelo modo severo como a humana induzida pronunciava as palavras, como se fosse um cântico, uma crônica de final ruim. Uma crônica premeditada. Mas sendo experimente, apenas fiz beicinho e armazenei as informações inesperadas em minha mente. Não perderia tempo com baboseiras que, muito provavelmente, foram inventadas pela mente fértil de alguém que não possuía o quê fazer com sua própria vida. Os cidadãos de Forks eram estranhos, afinal... Mas até que ponto a estranheza estava mesclada à verdade?

— Isso tudo é muito interessante... — murmurei, estreitando meus olhos — Considerando o quão reclusos e reservados são os nativos de La Push. Se algo desta magnitude acontecesse por lá, eles não hesitariam a abafar a situação. Seria como mais uma de suas lendas adoradas: privadas. Então, Shelly, querida, quer me contar como essa história saiu de onde não poderia ter saído e foi parar tão bem informada nos seus ouvidos? Como você sabe sobre o nascimento de um bebê tão peculiar, hm?

A mulher piscou com dificuldade, os olhos vidrados no nada. Eu a estudei com franqueza, me perguntando qual era o maldito problema com sua letargia. Era como se estivesse tentando se libertar das amarras invisíveis das minhas garras contra seu livre arbítrio.

Aquilo me causou uma verdadeira dor de cabeça.

— Não sei.

Aproximei─me mais, fixando meu olhar nas íris atordoadas de Shelly Cope com a atenção de um felino.

— Temo que você esteja encrencada, senhorita Cope.

Estremeceu.

Usufrui de somente uma fração de meu poder para sondar a frágil muralha que guardava sua lembrança de mim; o aspecto doentio deixava em evidência que se tratava de algo pouco agradável. Frustrado, aceitei que aquele era o máximo de informações que eu conseguiria.

— Cuide dos seus ferimentos — era mais uma ameaça do que um conselho —. Esqueça o meu rosto, mas se lembre da minha voz. Você achará que isso não passou de um delírio causado por carência e tédio. Pensará ter me imaginado como o personagem masculino que deseja, mas não abordará o assunto em voz alta. “Ele é novo demais”. Não diga sobre o assunto que conversamos com ninguém, mas se perguntarem, negue e negue e negue. — massageando as têmporas, ressaltei: — Não fique sozinha com Jasper Hale, não é seguro. Estarei prestando atenção em você.

— Sim, Ariel.

Fiz com que meu talento regressasse, libertando a humana que arfou e cambaleou em busca de apoio.

Demonstrando confusão, me inclinei sobre o balcão.

— Senhorita Cope, está se sentindo bem?

A humana arregalou seus olhos para mim, atônita, e arrumou rapidamente o cabelo desalinhado e o tecido de sua roupa, como se estar apresentável em minha frente fosse de algo de super importância. Achei graça.

— Estou bem, querido. Foi só uma vertigem boba! Acontece de vez em quando...

Moldei uma expressão preocupada, causando um tom de vermelho na face feminina. Salivei suavemente.

— Têm certeza? Não seria conveniente se ficasse em casa, por hoje?

Sempre era preferível que o alvo de meu talento repousasse. Principalmente se fosse um ser humano. Meu talento consumia energia vital, de modo que, se usado num ser vivo, poderia colocá─lo num coma na melhor das hipóteses e dentro de um caixão, na pior delas.

— Não, não é necessário. Eu me sinto ótima e... De quem são essas flores? Eu não me lembro de...

— Acho que são suas — disse inocentemente — Estavam aqui quando entrei, lembra? Eu até mesmo as elogiei...

Vi a confusão em seu olhar, a luta perdida de sua mente em buscar a veracidade dos fatos. Então, como eu esperava, ela ruborizou e inspirou.

— É verdade. Eu quase me esqueci disso.

Sorri docilmente para ela, que desviou o olhar para qualquer outro ponto que não fosse as fileiras de dentes que expus no ato.

— Eu preciso ir. Obrigado por sua ajuda, amor.

Minha voz gentil não abriu espaço para que ela questionasse exatamente no que havia me ajudado. Deixei um beijo educado na costa de sua mão antes de arrumar minha postura e me preparar para sair da saleta.

Foi quase como se estivesse verdadeiramente tentando me afrontar; uma criatura frágil adentrou a secretaria trazendo consigo o cheiro do sangue mais agradável que eu já pudera sentir em toda a minha quase─vida.

Pude sentir em todo meu ser a dor se alastrando de forma lânguida e desenfreada, e apenas uma forma de sanar tal fenômeno espreitava minha consciência. Não tinha no mundo vampírico uma sensação pior que aquela, que perdia apenas para o veneno que me transformara — não existia um método de tortura mais eficaz, brutal ou insuportável.

Em um instante eu estivera lúcido, e então fui afogado num oceano opressivo de penumbra e instinto, que pouquíssimas vezes havia experimentado em toda minha imortalidade — até aquele fatídico momento.

Cada ínfimo pensamento esboçava tal situação em ângulos diferentes, como um caleidoscópio criado unicamente para o problema. Cada fração de segundo era derivado do quão insanamente atrativa era aquela fragrância que surrara minha indiferença, que de uma hora a outra parecia miserável em sua resistência. Guiando─se pelo aroma adocicado, a ardência nos meus olhos e garganta se assemelhavam a labaredas hiperativas que ameaçavam me consumir de dentro para fora com volúpia.

Considerei que iria padecer, me esquecendo de que há muito já estava no limbo.

Mantive cada músculo do meu corpo paralisado, firmando meu peso corporal sob meus pés como uma — tola — medida para me impedir de me mover. Temi que fosse perder o controle. Eu não era um animal, mas o instinto puro latejando não dava importância a nada senão ao objeto de sede e caça que o ativara — me induzia à força a tornar─me um monstro cujos olhos deveriam ser rubros como o sangue roubado das vidas que ceifei.

Um novo segundo no mundo real se iniciou enquanto eu me sufocava entre a sede e o fogo.

Me privei do meu olfato, impedindo─me de respirar onde o cheiro impregnava cada molécula do ar como um vírus faminto. Não era o suficiente. Minha memória infalível era o suficiente para me atormentar; e havia o corpo quente e frágil marcando presença atrás de mim — o coração bombeando, o som molhado e o ritmo convidativo...

Ainda tinha a presença do monstro — era como eu enxergava aquela parte de mim, que se baseava em irracionalidade e desejo primitivo — raspando suas garras contra a prisão que eu o havia trancado, e ele não estava feliz. Ele queria e desejava e necessitava que eu atacasse. Eu podia ouvi─lo ronronando de prazer exultante, sua figura preguiçosa parecia tão amigável em minha mente que era devastador o esforço psicológico que eu impelia para me rebelar ao ímpeto de confiar nele.

Sentido o aumento do fluxo de veneno maculando meu paladar, trinquei meus dentes com força. Acima da nociva neblina que ludibriava minha lucidez, senti uma centelha de ódio tão profundo que não pude colocar esse sentimento em palavras.

Eu não odiava a humana — não, isso seria arrogante e fútil em demasiado mesmo para mim. O que eu abominava era a sensação de que eu não tinha uma escolha senão ceder, de que eu seria o responsável por romper o fio de uma existência.

Eu não era um assassino — eu sentia isso em todo o meu ser.

Tardiamente notei que perdia o controle do meu talento, quando toda a existência num pequeno raio de cinco quilômetros pesou em minha mente. Era informação demais, existências demais. Vidas surgindo e partindo, e eu era o telespectador invisível indesejado. Vi qualquer lembrança que bordava a cor do cálido fio em suas almas, da mais brilhante à mais opaca, da mais etérea à mais sombria, da mais vibrante à mais calma. Era como um denso nevoeiro, uma tempestade do deserto, ora enegrecia, ora clareava, sempre formando cenas em movimento: risadas, sons, paisagens, pessoas...

Era uma transição de uma vida que não me pertencia, dentro da minha cabeça. Um belo e frágil fio, e quando o “filme” terminava, o silêncio do luto se acomodava. Era o ciclo da vida, mas mesmo centenas de experiências externas ne ajudariam, pois não eram o suficiente para me distrair. Com meu corpo — já — levemente retesado, percebi que também não diminuía o fogo.

O ponteiro do relógio se moveu rigidamente, como um som de fundo aos meus pensamentos. Outro segundo havia terminado.

Eu precisava sair daquele lugar. Agora. Mas não conseguia — não queria — me mover, pois ficar imóvel parecia mais seguro do que perder o controle sem um freio. Eu não queria ser o assassino, o animal, e eu não o era, mas ser e querer eram profundamente diferentes quando seu próprio corpo se revolta contra a ideologia da sua mente.

Somente um único movimento errado, uma falha, e eu ceifaria uma vida. Eu, ou o monstro; a linha tênue que nos separava parecia frágil agora. Tudo em que acreditei ao longo das décadas, toda a dor de aprendizado, cada gota mínima de humanidade, se dissolvia sem relutância alguma diante da provação.

De repente, desejei olhar para a humana que ainda não havia fugido, e rosnar para que se movesse, gritasse, para que se afastasse de mim, por favor, antes que eu começasse a considerar uma boa ideia acabar com a minha dieta e drenar sua vida, pois se eu realmente perdesse a lucidez ali, minha família pagaria em fogo.

Minha mente era mais forte que o meu corpo, mas não parecia o suficiente.

Uma lufada de ar fresco irrompeu a saleta aquecida e eu a inspirei com necessidade. O coração humano dela batia rapidamente. Sua presença era agradável, seu cheiro era bom, bom e doloroso. Salivei outra vez.

— Algum problema, querido?

A ruiva se inclinou sobre o balcão, estudando meu rosto com cuidado e medo inconsciente em seu olhar. Para Shelly, meu conflito interno durara o tempo de duas piscadelas, para mim era como uma eternidade, e eu sabia bem quanto podia durar uma.

Desesperado para poupar meu estoque de oxigênio, apenas movi minha cabeça numa negativa. Ela não se contentou. Naquele momento era como se o sistema do mundo estivesse contra mim.

Uma nova presença surgiu de forma intrusa — o rápido abrir e fechar da porta trouxe uma súbita lufada de ar e me atingiu como um soco potente na boca do estômago.

Com assombro, notei que além do novo cheiro fraco e desinteressante, meu rancor havia sido grosseiramente sufocado com sucesso. Mas nada havia mudado: era apenas minha percepção da situação que se alterara.

Foi como se estivesse — agora — certo, como se uma entidade invisível e tardia estivesse tornando aquela atração perigosa, perfeita, ainda melhor. Equilibrada. O caleidoscópio girou e o monstro do desejo voltou a apenas arranhar as grades da sua prisão, desprezando a interrupção de seu frenesi. Eu, ao mesmo tempo, permaneci atraído pelo aroma, mas já não me sentia sedento e ferido por ele como antes.

Ah!

— Com licença.

Ouvi sua voz antes que seus passos pelo carpete velho, e me surpreendeu a maneira como seu caminhar era descoordenado e quieto.

A humana permaneceu parada há certa distância — curta — e, de sua sombra, senti timidez, tristeza e admiração em excesso. Franzi a testa. Podia sentir seu olhar arregalado em minha nuca — e não me agradava a sensação.

Shelly Cope se assustou e encarou, atordoada, a garota. Em constrangimento, franziu o cenho.

— Posso ajudá─la?

A humana pairou ao meu lado como se não notasse quão imóvel eu estava, e seu olhar encarou o de Shelly com determinação.

— Meu nome é Isabella Swan.

Minha mão hesitou sobre o balcão. As rosas de antes estavam opacas e mortas, como se minha sede quase descontrolada tivesse sugado sua vitalidade. Não duvidei. Essa humana era, de fato, estranha, mas eu não podia pensar num porque, somente permaneci olhando tolamente a jovem ao meu lado.

Suas feições eram incomuns e lisas. Seus olhos eram como o próprio oceano: pareciam carregar mistérios tão submersos que era sufocante tentar espiá─los por muito tempo. Era uma aquarela líquida do tom mais profundo de castanho e o mais denso de cinza, como um algodão umedecido em cafeína.

Pareceu─me que era um problema, e um do tipo que eu tinha o dever de dissipar. Minhas mãos se cravaram com tanta força contra a madeira do balcão que a leve marca dos meus dígitos ficou impressa ali. Tive de me certificar de raspar sutilmente quando ninguém estava olhando, pois não podia deixar pistas da minha anormalidade.

— Aqui estão seus horários, querida. Esses aqui são para seus professores assinarem, eu o quero de volta no final do dia. Qualquer dúvida ou problema, pode vir me procurar. — sorriu —. Seja bem─vinda à Forks.

— Obrigada.

O sorriso de Isabella era amistoso, mas não combinava com o forte traço de insegurança e melancolia que eu sentia ondulando dela.

Eu me virei quando tive a certeza de que estava bem o suficiente para sair dali, e me senti tenso ao, num movimento piamente sincronizado, Isabella Swan se virou na minha direção e arregalou os olhos para mim.

Seu coração humano falhou uma batida antes de recomeçar acelerado — eu tive quase certeza que ela estava assustada, mas, indo contra minha especulação, seus cílios pisaram e ela ergueu o queixo, sustentando meu olhar.

— Desculpe, algum problema?

Franzi a testa e recuei um passo para trás. Onde estava o instinto inato de sobrevivência dessa humana?

Tomando cuidado em não mostrar dentes demais, murmurei: — Sinto muito.

Fingi não reparar no olhar confuso de Shelly para mim. Com passos rápidos, disparei porta à fora. Fora apenas um mal entendido, eu disse a mim mesmo. Não iria se repetir.

30. August 2022 19:16 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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