silva_verso Silva

Atormentado por sonhos com a própria morte, Lörth, o rei dos anões, parte em uma jornada arriscada para salvar seu legado.


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O Rei e o Anão

Esta minissérie (em 3 capítulos) é parte do Universo Cennet, e em cronologia se passa muitos anos depois dos eventos do conto O Primeiro Enigma.


Princesa Alys em arte da querida leitora Larissa que acompanha meus surtos desde 2020. <3


Há muito e muito tempo, quando homens e elfos viviam em paz antes da Partilha, antes da guerra separar os senhores do Reino para sempre, o pacífico Magnus reinava em Pendragon e o anão Lörth nas montanhas. Era um dia florido de primavera quando o rei dos anões desceu da Cordilheira dos Tigres para o domínio do soberano de Cennet. A maioria dos lordes viajava com uma comitiva de cavaleiros para fazer a guarda, no entanto, o corpulento protetor das montanhas seguia sozinho independente do percurso. A longa barba negra chegava à altura do peito com três tranças, para os anões, era um símbolo de coragem. Seu pescoço era coberto por um manto com pele de urso, portava na bainha uma espada curta, sobre as costas carregava seu machado, e sob sua cela, Lörth montava um grande tigre dente de sabre, cuja pelugem branca se misturava na neve da cordilheira.


E assim rumou até a ensolarada Planície, baixando o capuz ao correr os olhos castanhos pela paisagem verdejante. Cruzou os férteis campos de Logyr sentindo o doce aroma das vinícolas subir às narinas enquanto agricultores locais trabalhavam na colheita das uvas e na sega do trigo. Não fosse a urgência da visita ao rei, certamente o anão levaria consigo um barril da melhor safra, afinal seu apreço pela bebida era somente superado pelo calor de mulheres e batalhas. Dentre os do seu povo, o rei dos anões era considerado um dos maiores, sua estatura mensurava a pouco mais de um metro e cinquenta. Não havia coroa sob sua cabeça, ainda que fosse um rei. Diferentemente dos homens e elfos, os anões usavam tranças na barba e no cabelo para mostrar sua autoridade, os maiores campeões exibiam os trançados mais longos.


Eis o brado que ecoa entre as montanhas: “Jamais prostrados, jamais vencidos.” E aquele que haveria de governar era escolhido não por linhagem de sangue, mas mediante um ato de bravura, pelo qual tornava-se digno de empunhar o machado ancestral concedido por Ílios ao primeiro anão. Ao finalmente chegar no Forte do Dragão, o imponente castelo da Dinastia Real, o tigre rugiu, assustando alguns dos novos juramentados do rei que estavam na vigia. Lörth divertiu-se e soltou uma risada.

“Cuidado cavaleiros! Ele não gosta de medrosos, nem suporta o cheiro dos que se borram!”

Os arqueiros na amurada comunicaram ao capitão da guarda, Sir Azyrel. Surgiu então um homem robusto de armadura dourada, o qual mantinha a mão esquerda ao redor do pomo da espada. No rosto sisudo, atentos e gélidos olhos negros corriam até o exterior da edificação, fitando o anão-rei. O semblante frio do campeão de Magnus era adornado pela cicatriz que ia acima da sobrancelha até a maça direita da face. Os cabelos cinzentos formavam um rabo de cavalo à altura do pescoço e presa às ombreiras em cabeça de lobo, uma capa púrpura cobria-lhe as costas. O cavaleiro deu o comando e a ponte levadiça foi baixada por espessas correntes de aço que sustentavam uma enorme porção de madeira de carvalho vermelho, material cuja fama de resistência era semelhante aos rochedos das muralhas.


O grande felino adentrou na fortaleza, e o cavaleiro conduziu o rei-anão até a sala do trono em silêncio, apesar das provocações de Lörth sobre um duelo com o mais célebre dos cavaleiros. Um juramentado da Ordem não entrava em combate senão em tempos de guerra, para proteção da família real ou quando sua própria vida dependesse disso. Os lanceiros abriram passagem enquanto a feroz montaria percorria o salão adornado com bandeiras e quadros pintados a óleo que retratavam a bela rainha Alassëa, as vitórias do Reino e um jovem Magnus junto ao leão alado ancestral, o próprio Íllios.

Quando o cavaleiro o deixou, finalmente o rei dos anões chegara á sala do trono onde erguia-se o suntuoso assento dourado com braços escarlates que lembravam o crânio de dragões. Acima do trono repousava um estandarte com a flâmula real, a espada e o dragão vermelho que a rodeava. Para surpresa do anão, o rei não estava lá. Mesmo confuso, desceu do tigre num salto. Deu alguns passos cautelosos olhando o salão quando uma flecha pousou traiçoeiramente perto do seu pé.


— Lörth! — Por detrás do trono, revelou-se uma garotinha elfa de sorriso zombeteiro segurando um arco. Nos olhos azuis de longe se via o divertimento, além dos bagunçados cabelos negros e o vestido sujo de terra que a denunciavam em mais uma travessura.


— Orelhudinha! — O anão abriu os braços e a menina correu até ele. Ergueu-a e rodopiou no ar, fazendo caretas enquanto a princesa Alys ria.


— Como se atreve a crescer tão rápido? Da última vez que estive aqui não era maior que uma porquinha e agora... Santo Ìllios! Logo vai estar maior do que eu! — Ela ainda mantinha o ar de riso quando ele a pôs no chão. Alys voltou-se para o tigre branco, o animal sentou-se poucos metros atrás de Lörth. Sem receio, a garota caminhou até a fera, sentindo a respiração quente chegar-lhe ao rosto. Esticou uma mão e acariciou a cabeça do animal.


— Ele é lindo! Qual o nome dele?


— Arken. No idioma antigo significa Coração da Montanha.


— Arken... Você tem um belo nome!


— E a mocinha um belo salão para limpar... — A voz da rainha surgiu no salão. Alassëa era uma elfa que Magnus salvara de um terrível dragão. Casou-se com ela ao ser coroado rei. Sua beleza era famosa em todo o Reino. Seus cabelos cor de fogo com algumas mechas douradas eram adornados por uma coroa prateada, na qual um fragmento de rubi se destacava. Recobria-se com uma túnica verde sobre um vestido de linho fino. Arqueando uma sobrancelha ao cruzar os braços, indagou à filha: — Quantas vezes eu disse para não entrar com os pés sujos de lama?


— Não se esconda atrás de mim, Orelhudinha... — Advertiu o anão. — É melhor enfrentar o Arken do que a fúria da sua mãe.


— Com toda a certeza! — Magnus juntou-se a eles. Era um homem alto e de semblante sereno, a barba lhe concedia um aspecto de maturidade, embora ainda fosse jovem. — Saudações meu amigo... O tempo lhe fez bem, até parece que não se passou um só dia. — Quando se viram pela última vez pouco depois da Batalha de Volz, havia sido a 7 anos, no terceiro aniversário de Alys. O rei trajava um manto azul bordado à mão com seda do oriente, sob o peito repousava um pingente de cristal dado pelos elfos e em sua cabeça repousava uma coroa dourada de três pontas, contando com uma pequena esmeralda ao centro. Lörth ficou diante de Magnus, olhando-o de cima abaixo antes de soltar uma troça.


— Deixou os pelos da fuça crescerem... agora sim está parecendo um rei de verdade! — A princesa Alys riu, pouco antes de ser pega pela mãe e levada para seus aposentos onde tomaria um bom banho. O anão deu um aceno para a pequena, e Magnus pareceu se divertir com a cena.


— Vejo que seu humor também é o mesmo. — Comentou o rei, assentando-se no trono. — Então, o que o fez descer a Cordilheira?


— Eu tive um... sonho. E você sabe, anões têm um sono de pedra, então deve significar alguma maldita coisa.


— E com o que sonhou? As beldades de Meir? — Magnus brincou.


— Minha morte. — Lörth suspirou, declarando gelidamente. — Morria ensanguentado numa vala qualquer e esquecido como um cão.


— É verdade que o sono é traiçoeiro as vezes, mas porque temeria tal coisa? Logo você, que nunca foi supersticioso?


— Já vivi metade da minha vida, Magnus. Olhei meu reflexo enquanto me banhava e vi alguns fios brancos na minha cabeça... Logo serei um velho gordo com o saco arrastando pelo chão, ou pior, nem chegarei a isso!


— Lörth... há poetas e trovadores menos dramáticos. Eu mesmo já tive sonhos horríveis e estou aqui na sua frente.


— Mas não estaremos aqui para sempre. Um dia eu e você não passaremos de uma pilha fedorenta de ossos secos... e o que restará depois? O que dirão de mim?


— Que foi um bom rei? Que seu povo tinha um teto e comida durante o inverno, que as crianças estavam aquecidas e as mulheres seguras?


— O que é um rei sem conquistas, sem histórias para celebrar? Há canções sobre você e o dragão que matou, sobre o orelhudo do Elfer e a batalha na Floresta, mas o que há para contar de Lörth, o anão? Que esvaziei os barris de vinho duma taverna e tive três esposas?


— Você matou um urso para salvar um menino.


— Era um animal velho e ferido, e nem há canções sobre.


— Bardos fazem canções Lörth, reis governam. — O rei fitou-o seriamente. — Metade dos versos são mentiras e o restante serve para encher o ego de homens pequenos. E você é maior do que pensa meu amigo, não se engane.


— Dane-se o ego! Eu não tenho medo de morrer, tenho medo de ser esquecido! — Disparou o anão, tirando do cinto um pergaminho feito de pele de carneiro. Jogou-o ao rei, que pegou o documento no ar. Magnus desatou o selo, passando os olhos pelo conteúdo.


— É um mapa do Reino. O que é isso, por acaso quer tomar o meu lugar?


— E ficar aqui entediado? — O anão provocou-o. — Prefiro não correr esse risco. Mas olhe bem, onde terminam essas malditas linhas?


— As ruínas de Vel-Mor.


— Aquelas “ruínas” um dia foram o lar dos meus avós, antes dos anões subirem às montanhas. E mesmo você com sua espada mágica não ousou ir até lá retomar aquele pedaço de terra.


— É perto demais de Dörcraban. — O rei tentou adverti-lo do perigo. — São os domínios de Arghon, é proibido cruzar aquelas terras. — Löth riu, cuspindo sua contestação.


— Não foi ele quem saiu com o rabo entre as pernas e se trancou naquela fortaleza escura para lamber as feridas? Covardes não me assustam!


— Arriscaria sua vida por linhas num mapa? Não seja tolo, que glória terá se estiver morto?

— Sou um anão, Magnus. Aquele que merecer morrer, morrerá. Mas minha glória e meu destino serão forjados pelo meu machado. — Disse-lhe convicto, esperando a decisão. O soberano insistiu, mas não houve trégua. Löth não retrocedeu em seu ímpeto e assim partiu do Forte do Dragão com a permissão para adentrar nos domínios de Arghon, o renegado de Íllios, o Senhor das Sombras. Sob a pena de uma vez ultrapassados os limites do Reino, Magnus não poderia intervir, não importando o que sobreviesse ao rei dos anões. Poucos se arriscaram a cruzar a fronteira com Dörcraban, e os que foram, jamais retornaram.

20. März 2022 14:24 2 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Wesley Deniel Wesley Deniel
Meu caro amigo Silva ! Que satisfação a minha encontrar esta história ! Como é bom sair de vez em quando de meu território (o terror, o suspense e o horror) para alguma aventura tão interessante ! Confesso que tem algum tempo que não leio fantasia de gênero algum. E olha que sou fã de carteirinha de O Senhor dos Anéis, Game of Thrones e outros. Mas tenho passado tanto tempo com King, Clive Barker, Neil Gaiman, Lovecraft, Irvine Welsh, Bukowski, Dean Koontz, que não tenho lido aventuras. Sinto falta, pode ter certeza. Então encontro o bom Rei Lörth ! Já pus logo para seguir. Gostei de tudo numa única tacada. Por singular que pareça, sempre gostei da raça dos anões. Até mais que elfos (que acho que acabam sendo os preferidos da galera), pois os acho corajosos, honrados e engraçados. Gimli, filho de Glóin está aí para provar ! Era um dos personagens que mais gostava; aliás, adorava "O Hobbit" justamente por acompanhar as aventuras de um grupo de anões. Arken, o fiel companheiro peludo de Lörth... Me fez lembrar a Pedra Arken. E me fez pensar em quão bela deve ser a criatura. Acompanharei com atenção esta história, e já irei daqui para a que se passa antes, neste mesmo universo. Quero conhecê-lo melhor. Como sempre, é uma satisfação prestigiá-lo, querido companheiro. Esteja em paz. 🙏🏻
June 26, 2022, 04:50

  •  Silva Silva
    Boa noite Wesley, tudo certo? Valeu mesmo por conferir essa minissérie (me lembrou que tenho de terminar quando a poeira por aqui baixar) 😅 Comecei a escrever quando tive covid no início desse ano e fiquei em isolamento, foi um bom passatempo. Obrigado pela leitura, fico muito feliz com esse seu comentário (fica até difícil responder kkk) e também pelas boas referências à Terra Média. Ah, li os capítulos 6 e 7 do Homem do Saco, logo mais deixo os comentários por lá. ✌️ June 27, 2022, 00:11
~

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