jjuliapinheiroo Júlia Pinheiro

Deus o rejeitou desde o momento de seu nascimento, concedendo-lhe uma vida de condenações, lamúrias e julgamentos diversos. Sua fisionomia deformada assustava à todos, fazendo até mesmo a igreja desacreditar de suas origens, excomungando-o injustamente, fazendo o mesmo pensar ser impuro demais e indigno para as graças e as glórias divinas, dado que, para todos que o cercavam, ele era uma perfeita personificação da profanação e a blasfêmia contra as leis dos céus sagrados. Ou melhor. Para muitos ali, ele era o próprio herdeiro do Diabo na Terra. Esgueirando-se pelas mais densas sombras e caminhando em passos silenciosos por longos e solitários corredores, uma figura indiferente se movimentava, deixando para trás sinais óbvios de sua passagem por ali. E quem tinha a infelicidade de vê-lo, ou até mesmo persegui-lo, sofria com as devidas consequências. Porém, àqueles afortunados que escapavam de suas mãos sangrentas e de seu instinto rancoroso, sempre o descreviam como as mesmas características, o que deixava claro a possível existência de um fantasma na casa; um ser extraordinário que voltara do além-tumulo para assombrá-los. Porém...esta não era a verdade. Nada disso era verdade. À quem eles se referiam como "O Fantasma", era apenas um homem. Um homem infeliz e amargurado que tão somente após trinta anos de sua triste existência conseguira encontrar e dar um novo sentido para sua vida. O infeliz Érik Rousseau estava apaixonado, entretanto, mal sabia ele que a dor do amor era três vezes pior do que todas as outras.


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I - L'Homme aus sous-sol.

I - Um homem no porão.


O AR FÚNEBRE PESAVA SOBRE TODO O AMBIENTE. A antiga residência da bondosa família Rousseau não era mais a mesma há tempos. E por mais que os anos e as gerações se passassem com rapidez, ou que outras boas famílias se mudassem e realizassem o sonho em morar em uma casa tão bela e grandiosa como aquela, as tensões dos fatos ocorridos no passado e as energias ruins de tudo continuavam impregnadas naquelas paredes, que, em outrora, costumavam ser tão vívidas e vibrantes, mas que agora tornaram-se cinzas e desgastadas. Assim como os donos, a paz e a tranquilidade ali haviam morrido.


Situada em uma zona rural – pouca isolada da tão movimentada capital parisiense – uma deslumbrante mansão roubava a atenção de todos que passavam nas proximidades, atraindo sempre olhares curiosos às suas formidáveis estruturas. E, como se não bastasse morar em um verdadeiro palácio como aquele, o proprietário da frondosa residência também era dono das terras que circundavam sua belíssima casa. Quase que infinitas terras verdejantes estavam no nome do ilustre patriarca daquela respeitável família. Muitos olhares de inveja e cobiça eram levantados, entretanto, o estimado senhor Jean-Claude Rousseau soube muito bem como desviar dos maus olhados que lhe lançavam, porém, a sua última-ação ocorreu no dia 18 de Novembro de 1889, quando comemorava, em família, o nono aniversário de seu filho mais novo.


Sofrendo acusações injustas e inverídicas de profanação e duras blasfêmias contra a santíssima trindade, a igreja local, os religiosos fervorosos, e outros simpatizantes ousaram em tomar todas as medidas que eles julgavam serem as mais corretas, o que facilmente poderiam ser ditas como as "condenações mortais", às quais eram altamente legalizadas, tendo suas práticas liberadas quando se era necessário. Então, em tempos tão conflituosos, onde a igreja manipulava as pessoas com falsos pretextos de salvamento e purificação de pecados, a existência daquela família era como uma espécie de ameaça à toda a comunidade religiosa.


Mas qual seria o motivo para tudo isso? Qual seria a razão para tamanha rivalidade contra uma família da mais alta estirpe francesa? E bem...a resposta para estas perguntas possuía um nome e um sobrenome que lhe era bastante relevante: Érik Rousseau. Ou melhor: Érik Alfred Garner Rousseau, o segundo e último filho de Jean-Claude.


Vivenciando tempos onde a informação sobre deformidades e doenças congênitas eram quase inexistentes, o pequeno Érik teve que aprender a lidar com a intolerância das pessoas ao seu redor, as muitas repreensões religiosas, e os comentários ruins que sobre si que rondavam por cada cidade ou em cada povoado próximo. Os boatos que corriam eram os mais absurdos possíveis acerca da então desconhecida condição genética do garoto, acusando seus pais de bruxarias ou até de pacto com o Diabo.


Érik Rousseau possuía o corpo de uma criança saudável e uma mentalidade genial, porém, para muitos, sua face era horrenda, contando, inicialmente, com apenas uma inofensiva má formação em um de seus olhos, e no canto direito de seus lábios, mas, que ao passar dos anos, a frágil pele de seu rosto minúsculo enfraqueceu: seus músculos faciais atrofiaram de maneira parcial e, em uma contagem mínima de meses após a sua primeira desgraça, sua pele apodreceu, dando-lhe uma aparência mortuária terrível. E, infelizmente, as únicas pessoas que lhe davam todo o carinho e apoio necessário foram mortas, vítimas de uma ação violenta proposta pela igreja e seus seguidores.


Correndo para os porões no subsolo - juntamente com seu irmão mais velho -, Érik conseguiu fugir e escapar da morte, porém seus pais não tiveram a mesma sorte. O senhor e a senhora Rousseau foram pisoteados até a morte, entretanto, no meio de toda aquela ação violenta, um grandioso lustre de cristal despencou do alto, matando mais de oito pessoas na sala principal da mansão Rousseau. O estrondo fora absurdo, assustando as duas crianças que haviam fugido da morte. Depois de muitos anos, a queda daquele lustre de cristal fora o único fato realmente assustador e misterioso ocorrido naquela casa.


E Érik pouco sabia que, a partir daquele momento, seu inferno eterno teria início.


• • •


Os anos se passaram, e aquela casa estava pronta para abrigar um nova família. O tempo mais parecia haver sido insuficiente para a casa, transformando-a em apenas pequenos detalhes. Após a morte do senhor Jean-Claude Rousseau, o seu grandioso palácio - isolado da movimentada capital - passou alguns anos desabitado, permanecendo lá todos os móveis originais, inclusive o lustre caído no centro da sala. Tendo uma má fama por conta de seus antigos moradores, ninguém, absolutamente ninguém, se atreveu em invadir aquelas terras para roubar algo. Para os religiosos mais fervorosos da igreja, a queda do lustre de cristal no meio da execução daqueles nobres acusados por práticas inverídicas de satanismo não tivera um bom presságio. Afinal, para eles, forças sombrias rondavam e circundavam todos os limites que compreendiam as vastas propriedades dos Rousseau.


E bem...como antes já foi explicado - de uma maneira bastante exagerada -, a maioria das pessoas não ousavam em se aproximar da mansão abandonada dos Rousseau, pois a temiam, dado que ali, segundo os relatos da igreja, serviu de lar ao filho do próprio Diabo por muitos anos. Entretanto em meio aos temerosos, havia um homem corajoso, que sempre batia de frente com aqueles religiosos, exigindo com fervor todo o respeito que aquela família injustiçada merecia, já que os mesmos foram mortos em vão. Um simples homem desempregado, de pouca idade, porém com uma aparência bastante judiada pelo tempo, e que vivia de favores nos suburbios de Paris, visitava todos os dias a formidável casa desabitada dos Rousseau. Ninguém sabia ao certo o motivo para as suas idas diárias ao palácio "amaldiçoado", porém, ao saber do novo dono daquelas terras, o homem de aproximados quarenta e sete anos apressou-se em oferecer seus serviços, talvez só assim ele poderia se manter por mais tempo conectado aos mistérios que àquela casa escondia.


França, 1910.


Um suave tropel de cavalos fora detectado, aproximando-se cada vez mais das vastas propriedades verdejantes e que agora estavam sob o domínio do tão estimado e impetuoso senhor Armand Leblanc. Conhecido por ser irmão de um famoso violista, que infelizmente falecera há alguns anos atrás, e por seu estilo de vida extravagante, este nobre homem não poupou seus esforços para conseguir ter novamente a atenção do público, usando, então, uma grande parte de sua fortuna familiar para comprar a grandiosa mansão abandonada e as terras que a circundavam. Cético, Armand ousou em abalar as crenças populares, tornando-se o mais novo dono do território "maldito" do Jean-Claude Rousseau. E, para abrigar esta nova e corajosa família, a casa precisou ser inteiramente reordenada, deixando tudo mais limpo e agradável aos olhos dos novos moradores.


A grande marca da segunda tragédia ocorrida naquele fatídico dia fora, pela primeira vez em anos, removida do interior da casa. Apesar de ter algumas partes danificadas, o lustre de cristal estava em ótimas condições. E decerto Armand Leblanc não perdera tempo quando ordenou aos seus servos para que o restaurasse por completo, devolvendo-o logo após alguns ajustes finais e o acréscimo de novos detalhes riquíssimos em suas estruturas. A ideia inicial assustou muito à todos, porém ninguém, sem mesmo sua amada esposa ousou em questioná-lo. Leblanc queria afrontar à todos, reconstruindo toda a imagem de um local que servira de palco a dois acontecimentos terríveis, os quais, ao todo, resultaram na morte de nove pessoas.


— Em pouquíssimos dias hei de realizar uma grande festa nesta casa! – montado em seu garboso alazão, Armand diz, exibindo um sorriso orgulhoso e satisfeito em seus lábios à Gene, um de seus servos recém-empregados. — Será inesquecível, memorável à todos!


— Meu senhor essa não seria uma atitude muito precipitada? – o servo questionou, o tom de voz incerto. — Bem...me refiro às crenças que estas pessoas têm com relação à casa...


— Isso não me importa. – o altivo senhor respondeu, direcionando novamente o seu olhar a frente, contemplando a bela visão de sua nova casa. — Um baile especial será dado, e todos poderão conhecer de perto todos os mínimos detalhes de meu novo lar.


Ao ouvir isto, o pobre servo deixou um suspiro pesaroso escapar seus lábios. Afinal, até aonde Armand seria capaz de chegar apenas para se promover e ganhar notoriedade entre muitos outros?


— Já que é assim – o servo diz, a voz abafada ao falar. —, como será o baile que pretende fazer, meu senhor?


— Um maravilhoso baile de máscaras, meu caro Gene! – a satisfação tornava-se cada vez mais presente em seu tom de voz, o que denunciara a extrema empolgação do homem com a realização de seu possível evento.


Reflexivo em seu lugar, o servo não disse mais nada, mantendo seu silêncio até que enfim conseguissem ao local onde guardavam os cavalos e seguissem em direção à majestosa casa. Gene François Carrier era, na verdade, o tal homem dos suburbios de Paris, sendo o único que ainda lutava pelo respeito de Jean-Claude Rousseau diante às acusações falsas que envolviam seu nome. E como um bom conhecedor de tudo ao seu redor, ele sabia que com esta atitude tão ousada da parte de seu senhor, Armand Leblanc não só apenas conseguiria atrair a atenção das pessoas, mas também atrairia algo a mais. Ou melhor: alguém à mais.


• • •


Casado há doze anos, Armand abriu mão de seus dias de solteiro para viver e dar vazão ao grande amor que encontrara no doce olhar de sua esposa. Ao contrário de muitos casais, eles, de fato, se amavam de forma genuína. Apesar da diferença gritante que havia, Angelique Dubois fora o mais improvável amor que surgira em sua vida, e, três anos após o formal casamento que os unira eternamente, a relação amorosa de ambos deu o seu primeiro e único fruto. Com conta de sua idade bem mais avançada e suas inúmeras disfunções sexuais, Armand conseguiu fazer sua esposa gerar e dar a luz à um único filho seu, sendo este uma linda menininha.


Aos nove anos de idade, Madeline Leblanc era uma linda menininha, de longos cabelos loiros, olhos de miosótis, e um sorriso tão brincalhão como o de qualquer outra criança, vivenciando o auge e os prazeres de sua confortável infância. Entretanto, não era apenas a pequena Madeline que estava sob os cuidados de Armand, dado que com ele também morava a sua querida sobrinha, a única filha de seu falecido irmão. E ao contrário de sua filha, sua sobrinha contava com mais idade, sendo alguns anos mais velha do que sua prima, à qual era dona de uma beleza arrebatadora e modos cativantes, a jovem Geneviève Leblanc - no ápice de seus 19 anos - tornara-se a imagem perfeita de uma jovem mocinha pura; um exemplo perfeito para à distinta sociedade francesa que pertencia.


Entretanto, quando este primeiro ato ganhou o conhecimento de todos na casa, não fora a jovem donzela quem o protagonizara, mas sim a pequena Madeline.


• • •


Guardando os cavalos nos estábulos, o audacioso senhor Armand Leblanc ainda tinha planos em dar um último passeio nos arredores da casa, afim de admirar, mais uma vez, a sua grandiosa conquista, porém, uma agitação incomum no interior da casa chamou a atenção de todos, inclusive de ambos os homens que agora caminhavam em silêncio nas áreas externas da belíssima mansão. Gritos desesperados fizeram-se presentes, ecoando por todos os lados. Leblanc sentiu seu coração irromper em fortes batimentos contra seu peito. Os gritos de Madeline eram desesperados enquanto a mesma corria de volta em direção à sala principal da casa, deparando-se logo em seguida com seu pai, que, ao ouvir seus berros estridentes, apressou-se em ir socorrer à filha.


— Madeline, minha filha, o que houve?! – Armand questionou, entrando na sala com rapidez. Gene François veio atrás de si, tendo em rosto as mesmas expressões assustadas que haviam na face de seu senhor.


Com os olhos cheios de lágrimas, a pequena menina desceu correndo os degraus da escada, indo-se em direção ao pai. Ela estava muito assustada, porém Armand não conseguia entender o motivo de seus prantos.

— O que te aconteceu, menina?! – questionou Gene, a voz assumindo um tom de voz mais assustado e temeroso.

Acalmando-se um pouco mais ao encontrar conforto nos braços do pai, Madeline enxugou suas lágrimas, e logo encontrou forças para falar.

— M-mamãe não me deixou sair, então decidi ir explorar os outros cômodos da casa... – ela respondeu, a voz trêmula e falha.

— Então...para quê tanto escândalo, Madeline?! – Armand rebateu, seriamente. — Será que não percebeu que você assustou à todos nós com os seus gritos?

— Me perdoe, papai! – ela diz, sentindo que novas lágrimas brotavam em seus olhos.

— Não irei tolerar isto novamente, Madeline! E da próxima vez, você estará de castigo! – Armand ameaçou, esboçando sem medidas o seu profundo desapontamento com a atitude da filha, entretanto, logo uma resposta bastante inusitada veio, o que fora deveras surpreendente ao novo servo de Leblanc.

— Eu não tive culpa, papai! – ela disse, os olhos marejados e os lábios trêmulos. — Eu estava no porão quando um homem no porão me assustou!

Surpreso, Armand elevou ambas as sobrancelhas. Ele sabia e conhecia todos os servos que empregara, e, foi exatamente por este motivo que Armand estranhou a tal declaração da garota. Em sua casa apenas as mulheres teriam a permissão para caminhar por aqueles corredores e adentrar os cômodos. Não havia nenhum homem ali.

— Mas não há nenhum homem no porão, Madeline! – Armand disse.

— Mas eu o vi, papai! – ela insistiu em dizer, passando por cima das justificativas de seu pai. — Ele estava lá e também se assustou quando gritei!

— Tudo bem...eu posso mandar agora mesmo alguém ir verificar os porões da casa, mas, mesmo assim, eu continuo repetindo: não há nenhum outro homem caminhando por estes corredores, minha filha!

— Mas ele estava lá, papai! – ela continuou insistindo. — Era um homem alto, e estava escondido atrás de algumas caixas!

— Madeline, eu já lhe disse que mandarei alguém averiguar os porões, então não insista mais nisto!

22. Dezember 2021 21:29 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Lesen Sie das nächste Kapitel II - La silhouette dans I'obscurité.

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