Seus olhos, rubros como o sangue, estavam vidrados naqueles quadros belíssimos. Analíticos, admiravam as peças tingidas por várias cores. Eram paisagens estonteantes, a maioria. Suas mãos tateavam as figuras desenhadas, como se quisesse mergulhar naquelas gravuras, enquanto trocava passos pelo salão e visitava cada obra bem-talhada com muito apreço.
Joane, autora daquela exposição, surpreendeu-se que havia, ainda, alguém visitando suas criações tão amadas. Sem dizer nada num primeiro momento, ela fitou os olhos num homem robusto de sobretudo cinza e um chapéu cartola a poucos metros à sua frente. Bem antiquado, pensou. Mas não se preocupava com aparências se o esquisito comprasse algum deles.
— Então, o senhor gostou de alguma tela?
O homem ficou imóvel de súbito, mas não que estivesse surpreso com a chegada da mulher, estava em excitação na verdade.
— De todos, senhora, oh sim.
Ele voltou a tocá-los, como se fossem as pinturas mais lindas do mundo. Aquilo começou a incomodar Joane, mas tentou ignorar as esquisitices.
— Espero que tenha muito dinheiro para comprar todos eles! — precisava arriscar.
— Ah sim, eu tenho alguma riqueza. Mas apenas comprar não me satisfaria.
Joan não entendeu muito bem e apenas deu de ombros.
— Bom, não se comparam aos grandes artistas do passado, mas é um talento que eu adoraria possuir.
— Vou ignorar esse comentário, — murmurou — mas se não vai comprar nada, eu realmente preciso fechar. Talvez deva voltar amanhã, senhor…?
— Pode me chamar de Vlad, Joane.
Seu sussurro arrepiou-a dos pés à cabeça.
Vlad virou-se quando tirou o chapéu para cumprimentá-la. Seus olhos sedentos encararam-na profundamente, parecia poder vê-la à alma. Sua pele, pálida como se fosse um fantasma, despertou-lhe repulsa. Mas quando ele sorriu, sim, foi como se enxergasse um animal pronto para atacar-lhe as vísceras. Eram dentes brancos e afiados, cobiçando-a como um alimento.
Em transe, Joan não sentiu as horas passar-lhe como um vulto.
O alarme tocou de repente, do celular no criado-mudo ao lado de sua cama. Ela não se lembra como havia chegado em casa, mas lá estava. Os olhos fixos no teto, o corpo dolorido e sentia-se quente e molhada - suando como se saísse de uma sauna. Por fim a surpresa.
— Mas que droga…
Tentava se sacudir, erguer os braços e espernear, todavia, não conseguia se mexer. Estava presa, imóvel. Como isso aconteceu? pensou. Joan gritou. Clamava por ajuda.
— Ah, desculpe, — ele atravessou a porta para observá-la em suas tentativas de escapar — Eu deveria estar aqui quando acordasse, Joan. Posso te chamar assim, não é?
Sorriu de novo, como uma hiena maldita, e depois mordeu uma maçã.
Em choque, ela lhe deu o silêncio, apavorada.
— Chegamos nessa parte. Não é fácil… para você. Mas eu realmente adoro isso.
Olhou-a na cama, nua, se não fosse o lençol branco, mas poderia lembrar-se como é; aterrorizada, vulnerável, apenas pronta para o seu abatedouro.
— Quem é você? Me deixa sair daqui! Alguém me ajude…! — Ela sentia muito, muito medo. A voz já falhava, em meio às lágrimas após vê-lo em toda a sua maldade.
— Não se lembra? Sou eu, Vlad... ou, como me chamam por aí, Drácula.
O conde rugiu. Sua feição animalesca com os terríveis dentes prontos para abocanhá-la, ainda que pudesse ver em seu rosto certa satisfação com o que ele faria a seguir.
Então o sino da catedral soou, à meia-noite, junto ao seu derradeiro grito.
Mundo-M é um universo compartilhado por vários personagens e histórias, que se passam num Brasil alterado pela ficção; ainda que, em essência, seja baseado na nossa realidade, mas com pequenas alterações em nomes de lugares e figuras. Geralmente, retratando seres heroicos e vilões no nosso mundo e os problemas decorrentes dessas particularidades. Erfahre mehr darüber Mundo-M.
Vielen Dank für das Lesen!
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