maxrocha Max Rocha

Muitas crianças urbanas em demasia não têm oportunidade de conhecer a natureza. Vamos corrigir isso...


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#criança #natureza #aventura #animais #ecologia
Kurzgeschichte
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Conto do Menino Urbano

Aquele era um menino urbano. Sempre foi. Sempre tinha sido. Tão urbano que admirar pardais, pombos e urubus ao longe, representava o seu maior contato com a natureza. Gostava de andar rapidamente por entre as pessoas e postes de luz, atravessando ruas e desviando-se dos carros, como se disputasse uma corrida.


Para ele, as ruas de asfalto e prédios de concreto eram seu mundo e o caos urbano sua igreja. Crescera respirando o puro ar metropolitano, impregnado de odores urbanos e ouvindo o cantar típico da cidade, com suas notas metálicas e dissonantes. Andar descalço? Não, não era civilizado e oferecia riscos. Sujar-se na lama ou chuva? Nem pensar!


Como todo menino de sua idade, plugava-se ao computador e viajava por todo o tipo de mundo e lugares, e tinha conhecimento instantâneo de todo e qualquer fato, mas sem sair do seu quarto urbano. Acompanhava às vezes horrorizado, pela TV ou computador, cenas de selvageria animal, na eterna luta predador-presa, e sentia-se aliviado por estar em seu mundo urbano, longe daqueles riscos. Assim era aquele menino. Totalmente urbano.


Até que um dia aquele menino urbano saiu enfim de sua toca urbana e teve contato com o mundo real, rude e impregnado de natureza. A princípio assustado e arisco, por não confiar naquele mundo que não lhe oferecia contato imediato com mundos distantes, pela Internet ou celular, e sim contato real com situações que jamais vivera.


Mas como poderia estar ali aquele casal de tucanos? Não estávamos na Amazônia! Como alguém viveria sem luzes elétricas ou tomadas na parede? Banho que não fosse quente? Mas, pouco a pouco, aquele menino foi adquirindo novas e excitantes experiências.


Descobriu que a noite real era mais negra em seu início, e ia se tornando mais clara, à medida que a lua surgia mais alta e banhava de luz prata o horizonte; descobriu que os vagalumes e cupinzeiros cintilavam ao luar; que os búfalos à noite eram tão negros, que não eram vistos; que os olhos dos jacarés se transformavam em faróis noturnos; que podia nadar em rios e remansos, sem medo das cobras, jacarés e piranhas, desde que respeitasse os limites da natureza; que as sucuris repousavam placidamente sobre galhos de árvore, à margem dos rios; que os filhotes de papagaio repousavam incógnitos, no oco do buriti, tentando se esconder da ganância do bicho-homem e seu infame tráfico de animais; que passarinhos multicoloridos podiam estar à solta, e não engaiolados; descobriu que as emas e seus filhotes andavam em fila indiana e que preferiam campo aberto, a fim de se proteger dos predadores com a velocidade que lhes fora dada por Deus; que as vacas podiam ser perigosas ao proteger suas crias; que bifes suculentos podiam ser preparados sobre antigas rodas de trator, e que podia dormir cedo e se preparar para o intenso dia de aventuras que logo chegaria.


E aquele menino descobriu, enfim, que seu mundo urbano não era o único; e que o estilo urbano de viver poderia estar assassinando a beleza real e singela do planeta, criado por Deus e esnobado pelos homens; e aquele menino urbano voltou para o seu mundo urbano, mas agora tocado pela graça da mãe natureza. Agora sim, ele entendia. E não mais agrediria o mundo, mas sim faria o possível para viver em comunhão com ele, a começar por desfazer-se corretamente do lixo ou economizar energia. Assim ele começaria a revolução verde, inclusive utilizando-se dos meios urbanos, tais como o celular ou a Internet.


Aquele menino agora não era mais somente urbano. Transformara-se apenas num menino. Como todos deveriam ser...





Obs: dedicado a todos os meninos e meninas que ainda não conhecem a natureza...



7. März 2021 17:25 4 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Max Rocha Médico e escritor amador, a procurar nas letras um alento para o cotidiano. Especialização na área do envelhecimento, mas com contato frequente com diversas faixas etárias, familiar e profissionalmente, fato inspirador de diferentes motivações literárias. Interesso-me por ficção histórica e científica, suspense, misticismo e mistério com um toque de humor. Às vezes enveredo pelo tom crítico e motivacional. Escrevo ouvindo música instrumental relacionada com o tema no Spotify.

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Wesley Deniel Wesley Deniel
Tocante ! Esta é a palavra para descrever sua breve, porém incisiva história. Nasci em uma cidade grande, São José do Rio Preto, em SP; mas, tive a sorte de crescer num bairro próximo à natureza. Hoje, a cidade e a modernidade já o engoliu, modificou e eu mesmo não o reconheço mais quando passo por lá (moro numa cidade próxima atualmente, uma pequena e pacífica chamada Fronteira, na divisa noroeste com o estado de São Paulo). O bairro era próximo a uma velha fazenda e um antigo monjolo, havia bosques e muito lugar para explorar (além de coisas inexplicáveis e sinistras que só lugares assim possuem) que uso até hoje como inspiração numa ou outra história. Amo a modernidade. Sou geek, nerd e gamer desde meus seis anos de idade (vou fazer 43), mas acredito ter sido uma benção ter crescido num lugar e numa época como a que cresci, brincando na enxurrada, no barro, nas matas, na paz que foram os anos 80 e 90, e gostaria que toda criança de hoje tivesse a chance de vivenciar algo assim.
March 22, 2021, 12:32
Afonso Luiz Pereira Afonso Luiz Pereira
Belo conto, Max. Este eu não conhecia. A visão de uma criação que tem apenas a perspectiva urbana no seu entorno deve ser algo muito triste. O contato com a natureza, mesmo que temporário, deve ser sempre muito prestigiado e importante para os pequenos. Passa um dia em uma fazenda, observando e brincando na mata deve ser, para quem vive enclausurado em apartamentos absorvidos pelos vícios das tecnologias, algo que pode entediar ou abrir novos horizontes à imaginação. Tenho pra mim que a segunda perspectiva, tão poeticamente descrita por você, deve ocorrer na maioria das vezes. Ótimo texto para se refletir sobre esta vida conturbada da vida urbana. Minha congratulações, meu bom!
March 09, 2021, 22:30
Welington Pinheiro Welington Pinheiro
Também acredito nesta premissa, viu?! Estamos querendo educar a próxima geração sobre a importância da natureza, mas sem promover o contato com a mesma, a valorização de uma estética do natural. Não há uma educação dos sentidos na direção de saber apreciar o a Terra oferece, de entender a dignidade dos animais e dos habitats. Perceba que até a noção de preservação envolve o isolamento do homem em relação às áreas protegidas, como se fôssemos alienígenas incompatíveis com a Terra. Isto precisa urgentemente mudar. O autor aqui não precisou ser professor ou qualquer profissional envolvido com educação ambiental para entender um dos maiores desafios nesta área. Este conto precisava ser publicado em jornais e em revistas de educação e o autor poderia seriamente procurar tais veículos. Há uma mensagem importantíssima nesta obra.
March 07, 2021, 19:35

  • Max Rocha Max Rocha
    Obrigado Will, por sua sensibilidade e experiência pedagógica... March 07, 2021, 23:49
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