mschneider21 Margot Schneider

Maria é uma dominicana que se casa feliz com um alemão e começa uma nova vida no país europeu, cheia de sonhos que parecem nunca se concretizar. O que ela achou que era o caminho da sorte acaba por se tornar uma realidade não muito fácil.


Kurzgeschichten Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

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Kurzgeschichte
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A estória de uma dominicana

Maria era mulata, jovem, bonita, pobre, mas muito alegre, risonha, comunicativa, gostava de se expressar e estava sempre cercada de gente. Maria era mãe de um menino de 6 anos e trabalhava ora como faxineira de um hotel, ora como garçonete de um bar de praia. Quando ia ao trabalho seguia saudando todos os rostos conhecidos que cruzavam o seu caminho. Fins de semana eram reservados para a familia e para passeios com os amigos.

Um dia pisou naquela terra, um europeu. Ele era um sujeito alto, na casa dos quarenta, muito branco, de falar firme, sorriso articulado e carteira recheada de dólares. Conheceu Maria em um bar perto da praia e com um castelhano ruim e carregado com sotaque alemão, se apresentou como Stéfan. Convidou Maria para uma cerveja e ela logo aceitou. Perguntou sobre a música daquele país que ele tanto gostava, comentou que aprendeu a dançar salsa e pediu a segunda cerveja. Percebeu a moça cheia de malícia e pediu a terceira e última cerveja daquela tarde. Dalí não tardou a seguirem para o seu hotel.

Como que hipinotizado pelos bons momentos que a alegria e sensualidade de Maria lhe causauram, Stéfan voltou a procurá-la nos dias seguintes. Os novos amantes passaram horas felizes e Maria convencida do bom caráter do namorado, até o levou para sua casa para apresentá-lo à familia. Stéfan foi bem recebido por todos, comeu, bebeu, mas também pagou. A família de Maria tinha poucos recursos e qualquer visita inesperada para o almoço sempre pesava muito no orçamento.

Stéfan calculou que suas férias estavam por terminar, pensou que não se acertara com qualquer moça europeia, que já não era mais jovem, ainda estava sozinho e tinha vontade de constituir uma família. Gostava de Maria, ainda não tinha certeza de quanto, mas se sentia bem ao lado dela, o que lhe bastava. Também se sentia à vontade com a simplicidade da nova namorada e lhe confortava saber que mesmo as maiores ambições de Maria, ele poderia atender. Stéfan estava longe de ser um homem rico, mas Maria não tinha nada. Stéfan era empregado em uma firma de médio porte e ganhava o suficiente para pagar o aluguel de um apartamento na Alemanha, manter um carro, colocar comida na mesa, pagar suas férias na maioria das vezes para lugares relativamente baratos de praia como essa viagem à República Dominicana; e às vezes, por ser Stéfan um homem controlado e precavido, ainda dava até para guardar um dinheirinho para casos de emergência. A ambição nunca fez parte de sua personalidade, portanto ele era satisfeito com o que tinha. Depois de refletir sobre sua condição, Stéfan resolveu se abrir com Maria. Começou contando um pouco de seu país, o quanto era bonito e desenvolvido. A época de Natal era como que mágica, com aquela neve toda caindo e a decoração caprichosa das casas e feiras nas ruas. Contou as vantagens que ele tinha por morar sozinho, ter um bom plano médico, um emprego seguro, um bom carro e ainda poder tomar sol na República Dominicana. Vantagens que Maria entendeu ser uma vida maravilhosa, sem problemas, sem preocupações e de luxo. Stéfan ainda lembrou que na Alemanha o filho de Maria poderia ter muito melhor educação do que em qualquer lugar do Caribe, que se ele se casasse, sua mulher poderia apenas trabalhar em casa e finalmente confessou sua forte atração por ela e a vontade de fazer dela sua esposa.

Stéfan lhe parecia tão cavalheiro, tão cortez, e principalmente tão abastado, que tomada pelo seu encantamento e suas aspirações de uma vida com mais conforto, não pensou nem mesmo cinco minutos para responder o “sim”.

Maria sonhava com uma casa grande, bonita só para ela, com móveis finos, com um carrão na porta, com roupas caras; sonhava em ir à um salão de beleza requintado em um casaco elegante e saltos altos. Logo já contava às amigas que viajaria de avião, que se tornaria madame e moraria em um país de gente chique, a Alemanha. Um mês depois os noivos se casaram. Ele realizou um dos sonhos de Maria e sua família, quando concordou em se casar não só no civil, mas também na igreja. Fizeram assim o casamento civil na Alemanha apenas com a presença dos padrinhos, um casal amigo de Stéfan, e o religioso na República Dominicana, com todos os familiares e amigos de Maria presentes. Ficaria muito caro para a família de Stéfan viajar para tão longe. Celebraram então a ocasião com uma grande festa servida com camarões, bolinhos de yuca, plátanos verdes fritos, doces de frutas e regada com muita cerveja, rum e pinacolada.

Passados alguns dias Maria, Enrico, o filho de Maria, e Stéfan viajaram de vez para a Alemanha. Depois de se instalarem no pequeno apartamento alugado onde ele já morava, Stéfan lembrou Maria que seria bom ela aprender o quanto antes a falar alemão de modo que ela pudesse se integrar com os costumes locais. Ele sugeriu um curso que o grande supermercado local oferecia à estrangeiros por um preço módico. Ela poderia ir a pé ou de ônibus, já que Stéfan precisava do carro para trabalhar. Ela não deveria se amolar em usar o transporte público, porque de qualquer forma ela não sabia dirigir e tão pouco saberia ler as placas de trânsito na Europa, pensou Stéfan. Um pouco desapontada por não ter encontrado a casa que imaginava ou os móveis com que sonhara e sem se ater muito ao que ele disse, ela apenas sorriu e o beijou como quem pensa que estava apenas vivendo o começo de uma nova vida feliz, ainda com muito mais luxo do que o que ela já havia tido em toda a sua vida; ademais, aprender alemão com a ajuda de um professor não lhe parecia um grande desafio. No dia seguinte Stéfan foi até a escola mais próxima para matricular o menino, fez compras de mantimentos para a casa e pagou algumas contas mensais.

Stéfan voltou a trabalhar depois de alguns dias. Enquanto Enrico ia para à escola, Maria ficava em casa cozinhando, limpando, passando, pensando na vida que tinha deixado para trás e aguardando ansiosa a volta do filho e do marido. O curso de alemão ficou para mais tarde. Maria só falava em castelhano com o Stéfan e só fazia compras em um supermercado onde sabia que não precisava trocar qualquer palavra com qualquer um. Depois de um ano Enrico já se virava bem com a nova língua, entretanto apesar de já ter feito quatro meses de curso de alemão intensivo, Maria ainda tinha sérios problemas para se comunicar com os outros, portanto não fizera quaisquer amigos. Mesmo entre os familiares, que se esforçavam para falar mais devagar, Stéfan tinha que traduzir tudo frequentemente para que Maria entendesse. Chegou o inverno na Europa e Maria acreditou que passaria o Natal na República Dominicana com a família dela, no calor, com a música, dança, comida e gente da terra dela. Infelizmente, porém, Stéfan disse que viajar para lá não ficava barato como ela supunha e ele não poderia pagar uma viagem daquelas com a frequência que ela gostaria. Maria se conformou em passar o Natal com a família de Stéfan, mas se mostrou triste. Na noite de Natal via Stéfan bebendo, rindo, conversando com seus parentes e Maria não entendia uma palavra do que falavam, nem podia adivinhar do que riam. Seria dela, ela se perguntava?

Aos poucos Stéfan foi revelando um outro lado de sua personalidade. Ele já não era tão gentil nem atencioso quanto no tempo em que os dois se conheceram, reclamava muito com Maria dizendo que já era tempo dela se acostumar com a nova vida, pessoas, novo país, e ela não fazia muito esforço para se ajustar a nova cultura.

Isso foi aos poucos deixando Maria deprimida, triste e desanimada com tudo. Lembrava sempre com saudades de seu país, seus amigos, família, hábitos. Maria passou a chorar em silêncio, acariciava o filho e tentando se consolar repetia a si própria que por mais infeliz que se sentisse, estar ali ainda era o melhor para o futuro de Enrico. E assim Maria foi levando a vida. Os bons sentimentos que Maria e Stéfan tinham um pelo outro foram dando lugar a outros sentimentos até então não experimentados entre si. Eram decepções, frustrações, iras e constantes aceitações antes não previstas.

Enquanto todos na terra de Maria a viam com orgulho e pensavam na boa sorte que o destino lhe reservara, Maria pensava o mesmo sobre os seus conterrâneos, que eles sim, sem o saberem eram mais felizes. Seu coração dizia que ela deveria voltar para seu país de origem, sua família, seus amigos, sua língua, seus costumes. A razão a lembrava que alí onde estava, ela sempre tería o que comer e seu filho tería mais chances de um dia ser alguém na vida. E na incerteza de saber se deveria ouvir a razão ou seu coração, Maria lamentava, chorava, pensava muito na sua angústia e não fazia nada para mudar sua vida. Um dia fazendo a costumeira limpeza no apartamento Maria encontrou em uma das gavetas de Stéfan um livro aparentemente nunca lido, já que estava com aspecto de novo. Sem sucesso ela tenta entender o título: “Andere Länder, andere Sitten”. Uma versão germânica do provérbio largamente usado em todo mundo “Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”.

8. Januar 2021 12:02 2 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Margot Schneider Margot Schneider é o pseudônimo adotado pela escritora brasileira, nascida em Santos. Mudou-se para São Paulo, estudou Ciências da Computação o que lhe permitiu mais tarde trabalhar como desenvolvedora de sistemas de informação na Suíça, onde mora desde o ano 2000. A escritora adora tocar piano, violão, ler, viajar, conhecer gente, conversar, aprender outras culturas, novas línguas e atualmente só usa os computadores para trocar e-mails e escrever, mais uma paixão descoberta.

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SF Simone Ferreira
Gostei!
January 12, 2021, 14:29
TZ Thomas Zoller
Muito bom!
January 09, 2021, 16:55
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