lara-one Lara One

Destinos que se cruzam. Uma estrada. Um ceifeiro. E ele vem buscar o que lhe ordenaram... Crossover: Supernatural. NOTAS: Supernatural: Referência até a quarta temporada da série. X-Files: Referência ao episódio 10 da sexta temporada: Tithonus. OBS: Alguns personagens da fic são da criação da autora em suas fics seriadas de Arquivo X e não constam na série da TV (os filhos de Mulder e Scully, Gold Coin, Leviathan e Gabriel)


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nur für über 18-Jährige.

#x-files #arquivo-x #supernatural #sobrenatural #winchester #suspense #terror #crossover
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S07#07 - SUPERNATURAL X


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Som: AC/DC - Highway to Hell]

North Road - Proximidades do quilômetro 66 - Sentido Virgínia/Maine - 10:36 P.M.

Chuva forte. Uma rodovia escura e sinuosa com pinheiros. De um lado montanhas, de outro penhascos.

O caminhão de combustível passa rapidamente pela pista molhada.

O motorista dirige o caminhão, sozinho, quase cochilando. No marcador de velocidade: 40 km/h.

Som de buzina repetidas vezes. O caminhoneiro se acorda, olha pelo retrovisor. O Chevrolet sedam azul escuro atrás dele, fazendo sinal com os faróis, pedindo para ultrapassar. Ele ignora, olha pra frente, tenta prestar atenção. Leva um cigarro à boca e acende. Movimenta o corpo com a música.

Olha pelo retrovisor, o sedam ainda pisca os faróis, pedindo passagem. O caminhoneiro leva a mão pra fora e faz um gesto obsceno com o dedo médio. Volta a atenção pra estrada, olhos pesados de sono.

Ele volta a pender a cabeça, cochilando com o cigarro na boca e pisando o acelerador indo para 100 km/h.

Close na placa indicando curva perigosa e a velocidade máxima de 20 km/h.


North Road - Proximidades do quilômetro 66 - Sentido Maine/Virgínia - 10:37 P.M.

[Som: AC/DC - Highway to Hell]

O Chevy Impala 67 preto vem pela estrada molhada, com os faróis acesos e os para-brisas ligados.

Dentro do carro, Sam no carona fecha o mapa. Bebe um gole de água mineral.

DEAN: - (IRRITADO) Não dá pra ver quase nada com essa droga de chuva!

Dean dirige, numa fisionomia irritada, batucando no volante ao ritmo da música. Sam observa a chuva pela janela.

SAM: - Não estamos perdidos. Vamos sair na Virgínia.

DEAN: - (IRRITADO) Podíamos ainda estar na Virgínia, não fosse a sua ideia estúpida de procurar antigas namoradas!

SAM: - Não era namorada, eu já falei, era uma pessoa que conheci no passado, eu devia favores e... Por que de repente ficou nesse mal humor?

DEAN: - Tá, pelo menos me poupe das suas desculpas esfarrapadas. Agora podemos procurar o tal Fox que não atende o telefone? Acha mesmo que esse cara é parente do Mulder?

SAM: - Se ele é do ramo da paranormalidade, deve conhecer o Mulder. Se não é o próprio Mulder.

DEAN: - Como você é idiota, Sam! Acha mesmo que o Mulder se chamaria Fox? (RINDO) Fox Mulder? Ridículo! Um cara como o Mulder deve ter um nome melhor, condizente com a imagem do cara fodástico que ele é! E depois Mulder não é detetive, é agente do FBI! Eu sou fã do cara, acredita em mim, sei do que estou falando!

SAM: - E vai fazer o papelão de pedir autógrafo quando encontrá-lo?

DEAN: -(DEBOCHADO) Vou, quero um autógrafo dele no traseiro da Scully e levar ela pra dar um rolê comigo. Ela não é asiática, mas é quente!

SAM: -Vou morrer de rir se Scully e Mulder estiverem dividindo o guarda-roupas... Bom, talvez esse Fox seja um caçador...

DEAN: - Nunca ouvi o velho ou o tio Bobby falarem sobre nenhuma raposa. Que eu saiba raposas é quem são caçadas. Deve ser outro embusteiro.

SAM: - Nossa, essa palavra difícil saiu da sua boca?

DEAN: - Não vai me irritar mais do que já me irritou, Sammy. Desista.

Dean acelera. Sam olha para o velocímetro. Suspira. Olha a paisagem pela janela.

O sujeito muito alto, de túnica e capuz pretos, segurando uma foice, caminha cabisbaixo pelo acostamento.

Sam arregala os olhos e vira-se pra trás para ver melhor. Sumiu.

SAM: -(ASSUSTADO) Você viu aquilo?

DEAN: - O quê?

SAM: -(MEDO) Dean, quem sabe a gente para num posto de gasolina?

DEAN: - Pra quê?

SAM: - A chuva está forte. A pista molhada. E você tá afundando o pé nesse acelerador.

DEAN: - Ah, tá com medinho de chuva, irmãozinho?

SAM: - Preciso ir ao banheiro.

DEAN: - Usa a garrafa.

SAM: - Eu não vou usar garrafa nenhuma, Dean! Você tá dirigindo feito um maluco sem parar! Diminui essa velocidade!

DEAN: - Tô com pressa.

SAM: - Pressa de morrer?

Eles passam pela placa: "Lanchonete e Conveniência - 10 Km"

SAM: - Tem uma lanchonete adiante. Vamos dar uma parada, comer e beber alguma coisa até essa tempestade passar.

DEAN: - Não. Eu quero chegar na Virgínia bem antes e ir atrás do tal Fox. Não vamos perder a viagem de novo! Parece criança, uma hora quer comer, outra quer fazer xixi...

SAM: - Dean, você é um saco, sabia?

DEAN: - É, mas sou eu quem tá dirigindo, o carro é meu e eu paro quando eu quiser! Não consegue segurar, neném? Vai fazer nas calças?

Sam ergue o olhar, num suspiro. Um carro quase encosta na traseira deles, pedindo passagem.

DEAN: - Oh o apressadinho aí atrás. Passa por cima! Eu já tô há 100!

O carro acelera e ultrapassa eles, dando um buzinada. Dean fica incrédulo e afunda o pé no acelerador.

DEAN: - (IRRITADO) Ah, não! Um caco velho daqueles achando que pode ultrapassar a minha belezinha? Isso é o fim do mundo!

SAM: -(IRRITADO/ GRITA FURIOSO) Dean, é sério! A lanchonete tá logo ali! Entra agora naquele estacionamento ou juro que vou molhar o banco do seu carro e mirar o resto em você!!!!!!!

Dean arregala os olhos.


North Road - Proximidades do quilômetro 66 - Sentido Virgínia/Maine - 10:37 P.M.

O caminhão de combustível reduz a velocidade e faz um ziguezague pela estrada. Atrás dele o Chevrolet sedam azul escuro.

[Som: Creedence Clearwater Revival - Bad Moon Rising]

Mulder dirige o carro, vestido de jeans, camiseta, camisa de flanela e um boné, batucando no volante ao som da música. Scully no carona, cabelos presos, camisa longa e calça legging. Bryan na cadeirinha de bebê, dormindo. Victoria ao lado dele, incomodada com alguma coisa, olhando para a janela traseira do carro.

MULDER: -(IRRITADO) Esse cara tá de palhaçada! Uma hora acelera, na outra trava a passagem!

Mulder buzina várias vezes.

MULDER: - Esses caminhoneiros roda presa ficam atrapalhando a estrada!

SCULLY: - Mulder, não vai ultrapassar aqui! Não conhecemos a estrada, a pista tá molhada, tá chovendo e temos duas crianças aí atrás!

Mulder tenta ultrapassar. O caminhoneiro vai pra outra pista, fechando Mulder, que desacelera. Victoria fica observando Mulder.

MULDER: - (IRRITADO) Filho da mãe! Esse cara tá de sacanagem, bêbado ou tá dormindo no volante!

SCULLY: - Mulder, você tá maluco? Pare esse carro agora porque eu vou dirigir! Tem uma curva à frente, não viu a placa para reduzir a velocidade? O que há com você, ficou todo irritado de repente?

Mulder olha pelo retrovisor. Um carro atrás dele dá sinal de luz, pedindo passagem.

MULDER: - Estou há 80, se eu reduzir o cara aí atrás vai me chamar na buzina!

SCULLY: - Se ele quer ultrapassar, dê espaço! Problema dele! Eu tenho crianças aqui dentro! Vamos parar na lanchonete. Tem uma logo adiante.

MULDER: - Acha que comprei minha carteira de motorista? Eu já tava cansado de dirigir enquanto você tirava as sardas do rosto!

Scully olha incrédula pra Mulder.

Victoria se vira novamente para a janela traseira. Percebe o manto negro que desliza o tecido pela janela traseira, subindo pra cima do carro. Victoria arregala os olhos.

VICTORIA: - (ASSUSTADA)Papai, eu quero ir ao banheiro!!!!

MULDER: - Dá pra esperar?

VICTORIA: - Não!!!

MULDER: - Você já tá grandinha, pode segurar. Deve ter outra lanchonete mais à frente.

Scully olha mais incrédula pra Mulder.

VICTORIA: - (GRITA/ HISTÉRICA) Eu não quero outra, eu quero aquela lanchonete!!!!! Eu juro que vou fazer xixi no seu carro se você não entrar agora naquele estacionamento!!!!!!!!!!

Mulder e Scully se entreolham, assustados com a reação da filha. Mulder dá sinal e entra no estacionamento do restaurante, ao mesmo tempo que o Impala de Dean. Os dois estacionam lado a lado.

O carro que vinha acelerado atrás de Mulder tenta ultrapassar a carreta de combustível. O motorista do caminhão dormindo, joga o caminhão pra cima do carro. O carro que vinha atrás de Dean, em sentido contrário, não tem tempo de desviar.

O acidente na curva é inevitável. Um carro colide de frente com a carreta de combustível e cai no desfiladeiro e o outro acaba embaixo da carreta.

Mulder e Scully se viram para trás, olhando assustados pra Victoria, que está em nervos.

Dean olha assustado pra Sam que está nervoso.

O sujeito, com seu manto negro de capuz e segurando a foice, está parado perto de algumas cruzes na estrada.

VINHETA DE ABERTURA:


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- ESPERA EDITOR!!! VINHETA ERRADA!!! VOCÊ COLOCOU O LOGO DE SUPERNATURAL E A FRASE DE ARQUIVO X!


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- ASSIM? ACERTEI AGORA?

- ESQUECE...

A ESTRADA ATÉ AQUI POIS A VERDADE ESTÁ LÁ FORA...




BLOCO 1:

Estacionamento da lanchonete - 10:39 P.M.

Chuva fina e fraca. Dois postes iluminam o estacionamento da lanchonete escura e fechada. O nome da lanchonete no alto está apagado pelo tempo. Há apenas o número do prédio: 917.

Os carros com os faróis ligados. Mulder e Scully descem do carro e correm até a estrada. Dean e Sam descem do carro deles. Dean leva as mãos à cabeça.

DEAN: - (HISTÉRICO) Cara, a gente ia morrer!!!! A gente ia morrer!!!

Sam morde os lábios, ainda tenso.

DEAN: - (HISTÉRICO) Fala sério, seu maluco! Você previu que isso ia acontecer?

SAM: - Não! E-eu não previ nada, tá legal? Eu só vi uma coisa andando no acostamento da estrada e tive um mal pressentimento. Eu acho que era a morte, Dean!

DEAN: - (HISTÉRICO) A morte? E como sabe que era a morte? Ela estava de capuz e foice?

SAM: - Pode rir, mas estava!

DEAN: -(HISTÉRICO) A morte mesmo ou um maldito ceifeiro? O que você tá dizendo?

SAM: - Eu não vi direito, você passou muito rápido, estava com o pé colado no acelerador!

Victoria desce do carro. Sam olha pra ela. Victoria sorri. Sam sorri pra ela. Dean está histérico, fora de si, com as mãos na cabeça, andando de um lado para outro.

DEAN: - Puta merda!

SAM: - Dean!

Sam sinaliza com a cabeça para Victoria. Dean sorri amarelo.

DEAN: - Aí, foi mal garotinha. Titio aqui vai colocar uma moeda no pote do palavrão, prometo!

Sam percebe Bryan dormindo no carro.

SAM: - Você e seu irmão estão bem?

VICTORIA: - Sim. E vocês?

SAM: - Também.

VICTORIA: - Certeza?

Victoria aponta pra Dean, que está mais adiante, vomitando.

SAM: - (SORRI) Ele vai ficar bem. Só está com a teimosia entalada na garganta.

Corta para a estrada:


Mulder e Scully procuram sobreviventes no meio dos destroços, sob a chuva fina. Há sangue, pedaços humanos e pertences pessoais espalhados na estrada. Mulder sobe no que sobrou da cabine do caminhão. Olha pela janela quebrada. Vira o rosto e leva a mão à boca.

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Meu Deus!

Mulder desce, aos nervos e angustiado. Leva a mão à boca, quase vomitando. Scully se aproxima dele.

SCULLY: - Não tem ninguém vivo, Mulder.

MULDER: - (EM CHOQUE) O motorista foi decapitado...

Mulder se agacha na estrada, perturbado. Perde os olhos no carro esmagado e um ursinho de pelúcia no asfalto. Mulder começa a chorar.

SCULLY: - Mulder?

Ele chora. Cai sentado na estrada molhada, levando as mãos ao rosto.

MULDER: - (EM CHOQUE) Eu ia matar os nossos filhos, deixar você viúva e sozinha... Eu ia ferrar nossas vidas...

SCULLY: - Mulder, se acalma por favor. Vamos sair dessa chuva...

MULDER: - (EM CHOQUE) Tinha criança naquele carro ali!

SCULLY: - (ANGUSTIADA) Eu sei, Mulder!!!

Scully se agacha ao lado dele, passando a mão nos cabelos do marido. Mulder tenta segurar as lágrimas.

SCULLY: - Mulder, não foi sua culpa, ok?

MULDER: -(PERTURBADO) Eu sei, mas poderia ser a gente naquele carro, embaixo do caminhão!!!! Os nossos filhos!!! E seria culpa minha!!! E-eu não sei o que deu em mim, e-eu nunca faria uma loucura dessas, tentar ultrapassar numa curva, numa noite, com chuva e minha família no carro!!! Se não fosse Pinguinho, eu teria matado a gente!!!

Scully se levanta. Olha para as cruzes na beira da estrada.

SCULLY: - É uma curva bem perigosa. Olha a quantidade de cruzes na estrada. Provavelmente muitos acidentes acontecem nesse trecho.

Scully olha pro céu, a chuva fina molha seu rosto. Ela fecha os olhos. Leva a mão ao crucifixo no pescoço e o segura com força, murmurando um agradecimento. Mulder se levanta, vira-se e olha para as cruzes.

SCULLY: - Muitas pessoas já perderam a vida aqui, Mulder.

MULDER: -(INCONSOLADO) Por que aquele desgraçado dirigia daquele jeito? Aposto que estava dormindo na direção!!! Esses caras conhecem as estradas, Scully! Eles vivem nelas! Como um cara assim comete uma imprudência dessas? Isso não faz sentido!

SCULLY: - Mulder, por isso se chama acidente. Pessoas cometem besteiras.

MULDER: - Não, não desse jeito e isso não foi acidente! Isso foi assassinato!

Scully morde os lábios. Mulder se aproxima das cruzes. Algumas com flores, outras com objetos pessoais. Scully olha para o carro e o caminhão. Percebe o combustível do caminhão tomando conta da pista. Olha para o carro debaixo da carreta, os fios começam a entrar em curto. Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Mulder!!!

Corta para a frente do restaurante:


Dean angustiado, apoiando as mãos no carro, cabisbaixo. Sam, preocupado, passa a mão nas costas do irmão, tentando consolá-lo.

DEAN: - (PERTURBADO) E-eu não sei o que deu em mim, Sam. Você sabe que sou louco, mas não a ponto de correr numa noite chuvosa e numa curva perigosa!!! E-eu pisei fundo naquele acelerador, eu ia matar a gente... E eu nem sei por que eu tava correndo!!!

SAM: -(NERVOSO) Dean, calma. Respira fundo.

DEAN: - (PERTURBADO) Eu tava louco, cego, eu sei lá! Eu não era eu!!! Se você não ameaçasse fazer xixi no carro eu ia acelerar mais e passar aquele cara que me ultrapassou! A gente teria dado de frente com o caminhão e teria caído naquele precipício!

Mulder e Scully voltam da estrada correndo.

SCULLY: - (GRITA) Vai explodir!!!!!!!!!!! A carreta está vazando a carga!!!

Mulder corre pro carro, tirando Bryan da cadeirinha. Scully pega Victoria pela mão. Eles se agacham na frente do carro, protegendo os filhos. Sam e Dean se agacham na frente do carro deles.

Explosão.

Detritos voam para todos os lados, incluindo sobre eles e os carros. Escombros deslizam da montanha e bloqueiam a estrada em ambos os lados. As luzes dos postes começam a piscar.

Duas pedras enormes da montanha saem rolando, uma de cada lado, atravessando a estrada e derrubando os postes. As luzes se apagam todas, apenas as luzes dos faróis dos carros permanecem ligadas.

As pedras rolam rente aos dois lados da lanchonete, devastando árvores e tudo pela frente, descendo a encosta. O único lugar intocado pela destruição é a lanchonete.

Dean olha espantado pra Sam.

DEAN: - Como sabia que a lanchonete era segura?

SAM: -E-eu não sei como, Dean. Eu apenas sabia.

Mulder olha incrédulo pra Victoria.

MULDER: - Como sabia que a lanchonete era segura?

VICTORIA: - Só sabia.


Estacionamento da lanchonete - 10:39 P.M.

A chuva parou. Victoria e Sam ficam atentos à estrada. Os dois veem alguma coisa que mais ninguém vê: o Ceifeiro de manto com capuz, segurando a foice, virado pra eles e perto das cruzes na beira da estrada. Ele bate três vezes com o cabo da foice no chão.

Victoria desvia sua atenção do Ceifeiro para os destroços. Então recua alguns passos. Se esconde com medo atrás de Scully, que embala Bryan. Sam vira-se de costas pra estrada, angustiado e olha no relógio.

Close no relógio de Sam: 10:39 P.M.

SAM: - Dean, você tem horas?

DEAN: - Com toda essa droga acontecendo e você quer saber as horas?

Dean olha no relógio.

DEAN: - Dez e trinta e nove... Espera... (IRRITADO) Essa porcaria parou! Droga, nunca confie na palavra "legítimo" vinda da boca do "turco do lojinha".

Sam fica angustiado. Dean se afasta. Scully olha para seu relógio no pulso.

SCULLY: - Dez e trinta e nove... Que estranho. Parou também.

Mulder vai para um lado da lanchonete e observa as árvores todas derrubadas. Dean faz o mesmo indo para o outro lado. Sam vai atrás dele. Todas as árvores derrubadas. Escuridão completa lá embaixo.

DEAN: - Duas vezes escapamos da morte certa! Duas vezes numa noite! Como sabia que esse lugar era seguro no meio de toda essa turbulência? O que tem essa lanchonete de especial?

Os dois olham para a lanchonete escura e com a placa na porta: FECHADO.

DEAN: - Nem nome essa porcaria tem! Só um número: 917. Vou comprar um bilhete da loteria!

SAM: - Tá apagado pelo tempo...

Dean respira fundo. Vai até a porta e tenta abrir.

SAM: - Ô Dean, se não percebeu está fechada!

Dean desiste. Mulder se aproxima de Scully, erguendo o celular, buscando sinal.

MULDER: - Não tem sinal, Scully.

Dean fica recostado no Impala, de braços cruzados observando o casal. Sam com as mãos nos bolsos da jaqueta.

SAM: - Ele chamou ela de Scully. Será que...

DEAN: - (RINDO)Tá maluco? Olha pra ela, Sam! Scully é sexy, mais alta e usa roupas sociais. Aquela ali é mãe de dois filhos, uma dona de casa que deve usar bobs na cabeça e cozinhar o dia todo. Deve ser a prima pobre da Scully! Igual é gostosona, mas e ele? Olha pra ele!Acha que aquele idiota ali trabalha no FBI e investiga paranormalidade? Se você falar em extraterrestres aquele babaca vai achar que você é doido!

SAM: - Pode ser o Mulder. Mas seria coincidência demais a gente estar atrás deles e...

DEAN: - Olha pro cara e me diz se ele se parece com o Mulder? Tá até de boné na cabeça e camisa de flanela, aposto que voltou da pescaria! Tem dois moleques no banco de trás! E cadê os crachás do FBI? Hum? Acha mesmo que esses dois caipiras são Mulder e Scully?

SAM: - Bom, eles não devem se vestir socialmente o dia todo, e Dean, nós usamos camisas de flanela e bonés. Somos do Kansas, acha que não somos considerados caipiras?

DEAN: - É, mas Mulder e Scully não são do Kansas. Manda esses dois dançarem country pra ver se não dão um show! Não são eles.

SAM: - Pergunto?

DEAN: - Vai lá se quiser pagar mico. Eu tô fora! (RINDO) Mulder e Scully... Tem certeza de que não bateu a cabeça quando eu freei?

Sam se aproxima deles. Victoria atrás de Scully, com medo de alguma coisa que só ela vê. Mulder desiste do celular.

SAM: - Sem sinal, a gente também não conseguiu chamar socorro.

SCULLY: - Acho que o motorista do caminhão estava dormindo...

SAM: - Fatal?

SCULLY: - Nenhum sobrevivente... Dentro dos carros há vítimas nas ferragens, mas não dá pra saber quantas. Foram prensados. Morreram na hora.

VICTORIA: - (AGONIADA) Mamãe, vamos embora! Eu não quero ficar aqui!

Sam olha para a estrada, angustiado. Victoria olha pra Sam, depois para a estrada, com medo. Começa a morder a manga da camiseta. Sam tira a mão direita do bolso e estende em direção à Scully.

SAM: - Eu sou Sam Winchester, aquele ali é o meu irmão Dean.

Scully o cumprimenta. Dean acena pra ela, sem muita vontade.

SCULLY: - Dana Scully.

Dean arregala os olhos.

SCULLY: - Aquele ali é o meu marido, o Mulder.

Dean abre a boca surpreso. Se aproxima empolgado.

DEAN: - Vocês são mesmo o Mulder e a Scully?

Mulder olha pra Dean.

MULDER: - Nos conhecemos?

DEAN: -(EMPOLGADO) Não, mas a gente já ouviu falar muito de vocês. Eu li sobre vocês, o trabalho nos Arquivos X e cara... Eu te admiro! É sério, eu admiro vocês dois pra caramba!

SAM: - Eu disse que eram eles.

DEAN: -(EMPOLGADO) Não, não pode ser. Vocês não se parecem com eles!

MULDER: - (IRRITADO) E como a gente deveria parecer? Como dois alienígenas? Estrelas de rock'n roll? Talvez como Sherlock e Watson? Ou Dr. Jekyll e Mr. Hyde? Hum? Ela é o doutor!

Scully abre a boca dando aquela olhada de indignação pra Mulder.

DEAN: - (IRRITADO) Como agentes do FBI. Bem arrumados, sérios, sacando os distintivos e agindo como agentes do FBI agem! Eles chegam chegando, na ignorância, metendo o pé na porta e a arma na cara! Depois perguntam o nome!

Sam olha incrédulo pra Dean.

MULDER: -(IRRITADO) E por que eu deveria sacar o meu distintivo pra vocês? Hum? Devo me preocupar com suas fichas? Vocês me parecem suspeitos, você mais ainda! Roubaram esse carro?

Scully dá uma olhada gelada em Mulder.

DEAN: -(IRRITADO)Isso é herança do meu pai, mas não vou mostrar os documentos pra um tira idiota. Ou foi rebaixado a guardinha de trânsito, Mulder, O Estranho?

Agora é Sam quem fica boquiaberto. Mulder e Dean estão irritados, se provocando na ironia, quase rosnando um pro outro. Scully tenta aliviar o clima.

SCULLY: - Ex-agentes. Não estamos mais no FBI.

DEAN: - Quê? Vocês saíram do FBI? Como? Por quê?

SCULLY: - Sim. Um motivo está no meu colo, o outro atrás de mim.

Victoria acena pra Dean.

DEAN: -(SURPRESO) Tá brincando que vocês dois... (SORRI) Sam, eu disse pra você que havia uma química rolando, que desse mato ia sair cachorro!

SAM: - Dean, você tá parecendo um fã chato, sabia?

Scully segura o riso. Victoria se agarra na cintura de Mulder.

VICTORIA: - Papai, vamos embora!

MULDER: - Pinguinho, a estrada está bloqueada. Precisamos pedir ajuda pra sair daqui.

VICTORIA: - (QUASE CHORANDO) Eu não quero ficar aqui fora, por favor!!!

Sam observa Victoria. Olha para a estrada e depois olha para a menina nervosa, com lágrimas nos olhos.

MULDER: - Filha, seu pai está aqui, ok? Onde está a minha garotinha corajosa? Hum?

SAM: - Ela tem razão. A chuva não vai demorar a cair novamente, está frio... Precisamos de um lugar pra esperar o socorro. E só tem essa lanchonete fechada.

Victoria sorri pra Sam, que sorri pra ela.

SCULLY: - E roupas secas. Victoria e Bryan estão molhados, Mulder. Não quero as crianças resfriadas.

Mulder vai até a porta da lanchonete e tenta abrir.

MULDER: - Trancada. E eles devem ter telefone.

DEAN: - Vai ver essa porcaria está fechada há séculos, nem funciona mais. Nem nome tem!

Scully olha para o céu.

SCULLY: - Vem mais chuva mesmo. Não quero ficar com as crianças no carro.

Mulder tira um canivete do bolso e começa a abrir a fechadura. Dean abre um sorriso.

DEAN: - (PROVOCANDO BRIGA) Aí, depois o criminoso sou eu!

SAM: - Dean...

DEAN: - (PROVOCANDO BRIGA) Sabia que arrombamento é crime? Ou não ensinaram isso no FBI?

SAM: - (GRITA) Dean!

Mulder volta até Dean e aponta o canivete no pescoço de Dean que arregala os olhos. Scully se assusta.

MULDER: -(ÓDIO) Aqui, seu otário do Impala, dirige a sua voz pra mim mais uma vez e vai fazer companhia pra aqueles cadáveres na estrada!

Mulder dá as costas e volta para abrir a porta da lanchonete. Scully está desconcertada, sem entender nada. Dean vai abrir a boca e Sam tapa a boca dele com a mão.

SAM: - Chega, tá bom? Vamos entrar, tirar essas jaquetas molhadas e se acalmar. Você tá muito nervoso, Dean!


Lanchonete - 10:39 P.M.

As luzes dos faróis dos carros iluminam dentro da lanchonete escura. Há um balcão no fundo, um acesso a cozinha, mesas com bancos, dois banheiros e um escritório fechado. Na frente o balcão do caixa, freezers e prateleiras com mercadorias, revistas e souvenires locais.

Scully anda pela lanchonete com Bryan no colo. Mulder vai até o balcão do caixa e encontra um telefone.

SCULLY: - Pela aparência lá fora, pensei que esse local nem funcionasse mais...

SAM: - Pelo jeito funciona. Pena não ser 24 horas.

Bryan estende a mão para a prateleira de biscoitos.

SCULLY: - Não mesmo! Você vai mamar.

BRYAN: - Rah!!!

SCULLY: - Sem rah e sem ranço, mocinho!

Scully ajeita o cabelo do filho. Dean se debruça no balcão de pedidos, fingindo falar com algum atendente.

DEAN: - Aí, sai um mega-hiper hambúrguer duplo com fritas no capricho, uma cerveja e um pudim???

Sam parado na porta, dá um tapa na testa. Victoria se aproxima de Dean, sentando no banco e entrando na brincadeira.

VICTORIA: - O mesmo que ele, mas troca a cerveja pelo refrigerante.

DEAN: - (SORRI) Ah, você também é boa de garfo? Não parece, é magrinha. Como pode caber tanta comida nesse corpo?

VICTORIA: - Minha mãe é baixinha e mesmo assim cabe muita sacanagem dentro dela.

Scully arregala os olhos, corada.

SCULLY: - Victoria!!!!

Dean abaixa a cabeça sobre os braços, rindo.

VICTORIA: - O quê? Mas é o papai quem vive dizendo isso! O que tem de errado?

Mulder desliga o telefone atrás do balcão do caixa.

MULDER: - Não funciona. Acho que o deslizamento deve ter derrubado os fios todos. Sem telefone, sem luz, sem saída... Droga! Que pesadelo dos infernos!

Mulder senta-se no banco atrás do balcão. Dean vai até ele.

DEAN: - Cara, eu ainda não tô acreditando que você é o Mulder. Será que é o mesmo Mulder que meu irmão e eu estamos procurando?

MULDER: - Não conheço outro Mulder.

Dean se debruça no balcão.

DEAN: - Tentei o FBI, mas disseram que você não estava.

MULDER: - Não falaram que eu não trabalhava mais lá?

DEAN: - Não, eles disseram que não localizaram você.

Mulder acena negativamente com a cabeça.

DEAN: - Meu irmão e eu estávamos atrás de um demônio. Estivemos no Saint Giles Asylum, um cara me deu o cartão de um tal de Fox Mulder, que é detetive paranormal...

MULDER: - Demônio? Atrás de demônio?

DEAN: - Aí pensamos que o cara de repente conhecia você e fomos no escritório do cara, mas tava tudo fechado. Você tem um parente que se chama Fox? (RINDO) Fox???? Isso é nome? Quem daria um nome desses ao filho?

MULDER: - (SÉRIO) Eu sou Fox. Fox Mulder. É a mesma pessoa. Agora sou detetive particular.

Dean tira o sorriso dos lábios.

DEAN: - Aí, foi mal... Até que Fox é um nome legal. Fala, eu não tô dando uma dentro hoje, né?

MULDER: - Não mesmo, garoto! E que história é essa de demônio? Quem são vocês e afinal de contas, como sabem tanto sobre Scully e eu? Não deveriam estar em casa assistindo TV e jogando vídeo game?

DEAN: - Ei, corta essa! Eu não sou garoto, tá legal? Meu irmão e eu somos caçadores de demônios!

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, por isso Winchester! Caçam demônios com espingarda? São parentes do Winchester das armas? Dois garotos mimados e ricos que cansaram de correr pela mansão maldita da família e resolveram encher o meu saco?

DEAN: - Não, "tio", a gente não é parente desses Winchester ricos, não. Se eu fosse rico estaria agora numa piscina, bebendo um drinque, cercado de gatinhas de biquíni e não na companhia de um velho frustrado e arrogante!

Mulder olha irritado pra Dean, que dá as costas indo para a porta.

DEAN: - Sam, vamos tentar sair daqui. O nosso ídolo não vai nos ajudar mesmo. Ele tá morto.

Scully, com Bryan nos braços, se aproxima olhando irritada pra Mulder.

SCULLY: - Ao menos pode ouvir o que eles têm a dizer, Mulder? O que está havendo com você?

SAM: - Dean, dá um tempo tá? Estamos todos nervosos com o que aconteceu...

DEAN: - Olha pra esse trouxa, Sam! Acredita mesmo que ele vai nos ajudar?

Mulder se levanta e encara Dean.

MULDER: - Olha aqui, eu não vou ouvir desaforo de um merdinha como você, ok? Vamos lá fora resolver isso!

Dean abre a porta.

DEAN: - (DEBOCHADO) Tá legal, vamos! Primeiro as moças.

Os dois vão se atracar no soco, mas Sam se enfia no meio. Scully fica incrédula. Victoria puxa Mulder.

VICTORIA: - Estou com sede, papai! Me arruma um refrigerante?

Victoria puxa Mulder pela camisa até a geladeira de refrigerantes. Mulder vai à contragosto.

DEAN: - Vai se esconder atrás da filha, é?

Mulder ameaça voltar, Victoria o impede.

SAM: - (GRITA) Dean, para com isso!!!! Vamos nos acalmar, certo? Brigas não irão nos ajudar agora, estamos presos aqui, provavelmente passaremos a noite até o socorro chegar. Vamos sentar e conversar como adultos pra resolver como vamos sair dessa?

Dean fecha a porta. Vai até uma das mesas e se atira no banco.

DEAN: - Idiota...

Mulder entrega um refrigerante pra Victoria. Dá dinheiro pra ela.

MULDER: - Coloca no balcão do caixa... Moleque arrogante...

SCULLY: - Mulder, vai lá fora respirar, ok? Pega a cadeirinha e a sacola do Bryan.

Mulder sai da lanchonete. Scully embala Bryan. Victoria coloca o dinheiro no balcão.

SCULLY: - (NERVOSA) Meu Deus! O que há com o Mulder hoje? Olha, rapazes, eu peço desculpas, o Mulder não é assim.

SAM: - Tudo bem, Scully. O Dean também não é assim.

Scully angustiada. Bryan esperneia. Ela embala o filho.


10:39 P.M.

Mulder entra na lanchonete com uma lanterna. Anda pelo lugar. Abre as portas dos banheiros, checando tudo. Tenta abrir a porta do escritório.

MULDER: - (IRRITADO) Trancado.

Dean sentado no banco olha pra Mulder com deboche. Sam percebe.

SAM: - Dean... Por favor.

Dean ergue as mãos e se deita no banco. Mulder pega o canivete e tenta arrombar a porta.

SCULLY: - Isso está virando hábito, Mulder.

MULDER: - Morei em Alexandria, esqueceu? Vizinhos instruídos.

Mulder gira a maçaneta e a porta abre. Mulder leva a mão ao interruptor. Não liga. Entra na sala, iluminando com a lanterna. Olha para o chão, o carpete está rasgado.

MULDER: - Cuidado aí, Scully. Não vá tropeçar.

Scully entra atrás dele, com o filho no colo. Mulder ilumina o mural com notas e rabiscos, a escrivaninha cheia de papéis e o telefone. Pega o telefone e leva a orelha.

MULDER: - Sem linha.

Mulder tenta ligar o computador. Nada.

SCULLY: - Não tem energia elétrica, Mulder. Desista. Estamos presos aqui. Pelo menos estamos abrigados do mal tempo.

Scully entrega Bryan pra Mulder.

SCULLY: - Toma conta do seu filho. Vou buscar a mala das crianças no carro e trocar a roupa delas antes que adoeçam. E vou pegar alguma roupa pra nós.

MULDER: - Vem, Campeão. Você parece um pinto molhado com esse cabelo em pé!



BLOCO 2:

10:39 P.M.

Scully, agora de roupa trocada, sentada num banco, tentando colocar uma blusa em Bryan que não para quieto. Victoria sai do banheiro usando outra roupa.

SCULLY: - Filho, para! Tem que colocar a roupa!

Bryan esperneia, se revira, dá risadas, pula no colo dela. Mulder se aproxima, colocando um moletom por cima da camiseta.

MULDER: -(IRRITADO) Ô carinha, dá pra você obedecer a sua mãe? Ou eu vou ter que vestir a roupa em você? Ahn?

Bryan se aquieta, olhos azuis arregalados para o pai. Scully olha assustada pra Mulder e finalmente veste a roupa no filho.

SCULLY: - Mulder, o que está havendo com você?

MULDER: - (IRRITADO) Nada. Só estou preso nesse fim de mundo sem telefone e sem ter como sair daqui. Só isso!

Victoria olha pra Scully, que está chateada. Olha pra Mulder que vai pra cozinha, irritado.

SCULLY: - Ok, filhote. Agora vai ficar quentinho.

Scully ergue Bryan e brinca com seu nariz no nariz dele. Bryan sorri. Victoria vai atrás de Mulder.

Corta para a cozinha:


Mulder abre a porta dos fundos. Ilumina com a lanterna. Há uma varanda. Mulder entra na varanda. Se encosta na proteção. Mira a lanterna.

MULDER: - Eu não acredito!

Victoria se aproxima.

VICTORIA: - O que foi, papai?

MULDER: - Essa coisa fica na beira de um penhasco! Não tem nem como sair pelos fundos, entrar na floresta e procurar ajuda!

Victoria espia pra baixo.

VICTORIA: - Nem dá pra ver o fundo. Melhor esperar o dia amanhecer.

MULDER: - (RESMUNGANDO) Droga, droga, droga!!!

Victoria olha pra ele e entra na cozinha.

Corta para a lanchonete:


Scully brinca com Bryan em seu colo. Victoria se aproxima.

VICTORIA: - Não tem saída pelos fundos. Temos uma varanda e um vale lá embaixo. E temos o papai reclamando. Do jeito que ele falou com o Bryan, até eu levei medo de tomar bronca!

SCULLY: - O pior não é estar presa aqui. O pior é aguentar o seu pai reclamando!

VICTORIA: - Ah, deixa a raposaregougar, mamãe! Ele fala, fala, fala e depois chuta alguma coisa, faz um beiço, xinga a mãe de todo mundo e por fim cansa porque ninguém dá atenção.

Scully olha surpresa pra Victoria.

SCULLY: - Hum, aprendemos os sons dos animais na escola?

VICTORIA: - Sim, mas eu que perguntei sobre as raposas porque ninguém lembra delas.

SCULLY: - E aprendemos a lidar com o Mulder também?

VICTORIA: - Mamãe, eu conheço o papai. Quando ele tá assim, virado no Chucky, é melhor deixar resmungar e se fazer de louca.

SCULLY: - (RINDO) Virado no Chuck Norris?

VICTORIA: - Não, o brinquedo assassino mesmo! Ele não fica valentão, ele fica possuído!

Scully recosta o rosto em Bryan e começa a rir. Sam sai do banheiro usando roupas secas. Vai até os expositores de souvenires locais e pega um moletom. Volta pro banheiro, abre a porta e entrega pra Dean.

DEAN: - Tá de sacanagem comigo?

Sam fecha a porta rindo.

SAM: - Quando eu digo pra trazer roupas extras... Agora se contente com uma lembrança local.

Dean sai do banheiro de jeans, segurando a jaqueta e usando um moletom marrom com um alce de óculos escuros fazendo sinal de positivo. Embaixo escrito: "Cool as a Moose. Maine". (Legal como um Alce. Maine)

Victoria se vira pra rir. Scully morde os lábios. Dean veste a jaqueta por cima.

DEAN: - É, tô legal como um alce mesmo. Doido pra chifrar o primeiro engraçadinho!

Dean vai até o balcão do caixa. Pega um óculos escuros do expositor e coloca no rosto, ainda com a etiqueta. Faz sinal de positivo.

DEAN: - E agora? Melhorou?

Victoria solta uma gargalhada. Scully não se aguenta e ri. Dean abre a jaqueta, mostrando o moletom. Sam começa a rir.

SAM: - É, tá igualzinho ao do moletom. É o próprio alce do Maine.

Dean coloca os óculos de volta no expositor.

DEAN: - Sério, agora que já se divertiram às minhas custas, vamos pensar em como sair daqui.

Mulder se aproxima.

MULDER: - Não tem saída pelos fundos. Só se arrumarmos uma corda e não sei o tamanho da descida... (SEGURA O RISO) Isso é um alce?

DEAN: -(DEBOCHADO) Não, é um elefante africano. Não tá vendo?

SAM: - Dean!

MULDER: - (DEBOCHADO) Gostei. Combina com um selvagem como você.

SCULLY: - Mulder!

DEAN: -(DEBOCHADO) Tem um pra você ali. Combina com a sua galhada.

MULDER: -(DEBOCHADO) Scully, já está aberta a temporada de caça aos alces? Ando doido pra dar uns tiros.

DEAN: -(DEBOCHADO) Não, agora é temporada de caça à raposa. Acho que vou esfolar uma. Pele de raposa cai bem.

MULDER: -(DEBOCHADO) Acho que quem vai sair esfolado não sou eu, porque vou ficar uma graça em cima de você.

Sam e Scully suspiram, desanimados.

DEAN: -(DEBOCHADO) Sério Fox? Você já levou tiro de um Winchester? O calibre da família é bem grosso.

Os dois ficam sérios e se peitam. Sam se mete no meio.

SAM: - Temos que sair daqui. Vamos nos concentrar nisso. Ok?

MULDER: - Manda o seu irmão caçula parar de encher o meu saco!

DEAN: - Caçula? Ele é o caçula! Eu sou o mais velho!

MULDER: - Não parece porque não tem juízo!

DEAN: - Olha quem fala de juízo!

MULDER: - Quem você pensa que é?

DEAN: - Eu sou o Batman!

SAM: - Dean, por favor!

DEAN: - Pede pra ele parar de torrar minha paciência, Sam!

MULDER: - Você começou!

DEAN: - Não, você começou!

MULDER: - Você!

DEAN: - Você!

MULDER: - Você!

DEAN: - Você!

Scully leva os dedos à boca e dá um assovio alto. Eles se assustam.

SCULLY: - (IRRITADA) Os dois alces aí querem parar de ficar brigando na chifrada pra mostrar quem é o macho dominante e pensarem num jeito de sairmos dessa situação?

Dean e Mulder se afastam, rosnando um pro outro. Bryan começa a chorar. Scully vai pra cozinha, embalando Bryan.

DEAN: -Alguma ideia de como vamos sair dessa?

MULDER: - E por que eu tenho que saber as respostas?

DEAN: - Você é o cara, o chefe, a raposa. O fodão da paranormalidade. O gênio. O rei da cocada!

Sam observa Dean com medo. Victoria se aproxima da porta de vidro. Olha para fora. O Ceifeiro agora está mais perto, parado na entrada do estacionamento, virado para a lanchonete. Victoria recua assustada, olhando pra Mulder.

MULDER: -É uma rodovia. Carros passam toda hora. Alguém vai comunicar as autoridades que houve um deslizamento, vão ver o incêndio... E o dono desse lugar deve chegar cedo pela manhã... Vamos ter que passar a noite aqui, "garoto".

DEAN: - Sem sacos de dormir?

MULDER: - Por quê? Quer entrar num saco de dormir comigo?

DEAN: -Prefiro entrar num saco de dormir com a Scully.

MULDER: - Lamento, Scully é uma mulher. Você, um fraldinha metido!

DEAN: - Eu não sou garoto e vou te dizer aonde eu meto...

Sam se intromete. Mulder e Dean irritados, se encarando.

SAM: - Ahn, Dean, tem lanternas no carro. Pode ir buscar? Talvez você ache alguma camisa nas minhas coisas. Dá uma procurada.

Dean sai da lanchonete, irritado. Mulder se afasta e vai para perto dos souvenires, procurando alguma coisa. Pega um livro. Então desvia os olhos para o fundo da lanchonete, para Scully, embalando Bryan, já cansada. Mulder solta o livro e sai da lanchonete, passando por Victoria que está parada na porta de vidro observando lá fora. Sam se aproxima dela, também olhando pra rua.

SAM: - Você é especial.

VICTORIA: - Você também é.

SAM: - Consegue vê-lo parado no estacionamento?

VICTORIA: - Sim. Está olhando pra nós. Antes ele estava na estrada, agora está mais perto.

SAM: - Ele não vai sair daqui enquanto não levar o que está buscando.

VICTORIA: - Tô com medo.

SAM: - (SORRI PRA ELA) Não vou deixar que nada aconteça com você.

VICTORIA: - Você também os vê?

SAM: - Quem?

VICTORIA: - Os mortos... E-eu não gosto disso. Eu tenho medo deles.

SAM: - Não, eu não os vejo... Olha, não precisa ter medo dos mortos, ok? São pessoas como a gente quando eram vivos e...

VICTORIA: - Não aqueles ali. Não foram como a gente, e agora estão furiosos e não querem ir embora, querem voltar para os corpos e não conseguem.

SAM: - (IMPRESSIONADO) É isso o que você está vendo? O que mais eles estão fazendo?

VICTORIA: - Não queira saber o que tô vendo. Não é bom. Eu tenho medo deles. Olham pra mim e querem me devorar!

Victoria se vira de costas pra porta, assustada e quase chorando.

SAM: - Lamento que veja essas coisas. Você é tão pequena pra isso.

VICTORIA: -(MEDO) Ele tá vindo, não tá?

Sam olha pra fora. O Ceifeiro agora está mais próximo, ainda olhando para a lanchonete.

SAM: - Tem razão. Ele está se aproximando.

VICTORIA: - Sente a energia?

SAM: - Sinto. E acho que as coisas vão ficar piores aqui dentro.

VICTORIA: - Temos que contar pra eles. Ou vamos todos morrer.

Mulder entra com a cadeirinha e a sacola de bebê, olhando irritado pra Sam.

MULDER: - Victoria, o que sua mãe e eu falamos sobre conversar com estranhos?

Victoria olha pra Sam, num suspiro e vai atrás de Mulder, contrariada. Sam coloca as mãos nos bolsos, atento ao Ceifeiro lá fora.


10:39 P.M.

A cadeirinha de bebê sobre a mesa. Scully segura Bryan no colo, agitando a mamadeira. Victoria sentada à mesa, brincando com o canudinho na lata de refrigerante e folhando um gibi. Algumas vezes alterna o olhar para Mulder andando lá fora sem perceber o Ceifeiro, e Dean, andando com uma cerveja na mão dentro da lanchonete. Os dois irritados, alienados e fora da razão.

Sam sentado na frente de Victoria. Scully senta-se ao lado da filha. Ajeita Bryan e começa a dar mamadeira pra ele. Sam observa Bryan e Scully num sorriso.

SAM: - Qual a idade dele?

SCULLY: - Seis meses. Se chama Bryan. O caçula da família.

SAM: - Bonito nome. Eu também sou o caçula. Geralmente nos inspiramos no irmão mais velho. Vai ter muita responsabilidade, Victoria.

Victoria sorri.

SAM: - E você, Victoria, quantos anos tem?

VICTORIA: - Sete! Vou fazer oito só em dezembro. Quer ir à minha festa?

SAM: - (SORRI)Adoraria, mas não sei aonde estarei. Mesmo assim, obrigado pelo convite.

Sam perde o olhar no zelo de Scully pelo filho. Enche os olhos de lágrimas e disfarça.

SCULLY: - Então, vocês são de onde?

SAM: - Lawrence, Kansas.

SCULLY: -E você e o seu irmão caçam demônios, é isso?

SAM: -Demônios e qualquer tipo de coisa esquisita do mal. Assim como Mulder e você.

SCULLY: -Bom, não acho que somos caçadores, somos investigadores.

SAM: - A gente caça mesmo. Corremos atrás deles. Acredita nessas coisas, Scully?

SCULLY: -Ainda tento achar explicação científica para elas. Hoje eu acredito em muitas, mas tenho que manter o lado racional porque Mulder quer acreditar em tudo... Eu não entendo porque vocês fazem isso. São livres e jovens, poderiam estar fazendo outras coisas...

SAM: - Como o meu irmão diz,não temos escolha: Salvar pessoas, caçar coisas. O negócio da família... Nossa mãe morreu quando Dean tinha quatro anos.

SCULLY: - Lamento por isso.

SAM: - Eu era um bebê, como o Bryan. Não a conheci muito bem. Dizem que ela era uma mãe muito amorosa e protetora... Eu... Eu queria lembrar do rosto dela, mas... Eu não consigo.

Scully olha pra Sam com ternura e percebe que ele olha pra Bryan e ela, numa expressão de carência.Dean passa por eles com uma cerveja.

SAM: - Ela morreu pra me salvar. Eu teria morrido também, mas o meu irmão me salvou do incêndio...

DEAN: - Sam, ela é a Scully. Pode dar a real pra ela.

Dean senta-se ao lado de Sam. Fica brincando com a garrafa sobre a mesa, num olhar perdido.

SAM: - ... O incêndio foi causado por um demônio, de nome Azazel. Desde então, o nosso pai caça demônios. Isso virou uma causa de família, entende? De pai pra filhos. A gente não quer que essas coisas acabem com a vida das pessoas, como acabou com a nossa.

DEAN: - A gente não tinha com quem ficar e ia junto com ele. De cidade em cidade. Crescendo sozinhos em motéis, casas de amigos caçadores e qualquer um que pudesse ficar com duas crianças enquanto John Winchester caçava.

Scully morde os lábios. Victoria de ouvido na conversa, disfarça que está lendo o gibi.

SCULLY: - Ficavam sozinhos em motéis? Mas quem cuidava de vocês enquanto seu pai estava fora? Quem cozinhava, lavava roupa e alimentava vocês?

DEAN: - Eu cuidava do Sammy. A gente comia lanche e eu levava a roupa pra lavar.

SCULLY: - Mas vocês eram duas crianças! Entendo que você cuidava do seu irmão menor, mas e quem cuidava de você, Dean?

DEAN: - Eu cuidava de mim mesmo, Scully.

Dean se levanta, olhos em lágrimas e se afasta entrando no banheiro. Scully abaixa a cabeça, emocionada, mordendo os lábios.

SCULLY: - ... Quanta responsabilidade nas costas de um garotinho! E-eu nem imagino o quão difícil foi não ter uma infância normal, ser jogado na realidade da vida... A falta que faz não ter mãe. A história de vocês só me faz ter a certeza de que se Mulder não mudasse suas prioridades talvez fizesse o mesmo com os nossos filhos.

SAM: - Mas o caso de vocês é diferente, Scully. Mulder ainda tem você, a esposa dele. Não precisa priorizar uma busca por justiça.

SCULLY: - Não, Sam... Se algo dessa natureza acontecesse comigo, como aconteceu com a sua mãe, o Mulder faria o que seu pai fez. Eu tenho certeza absoluta disso. Ele iria atrás do que me matou e Victoria acabaria largando a infância pra cuidar do irmão. E meus filhos viveriam numa estrada, de motel em motel ou na casa dos outros e sem saber quando o pai voltaria.

SAM: - É, você entendeu. Meu irmão carrega uma cruz enorme nos ombros. Dean acha que tem que ser o meu pai porque John Winchester virou um Fox Mulder... Nós não tivemos uma infância normal, casa, escola fixa, essas coisas... O Dean foi quem sofreu mais ainda, porque tinha a responsabilidade de me cuidar. E crianças não são adultos, não é mesmo? Algumas vezes o Dean esquecia das coisas, se distraía ou aconteciam acidentes e ele levava as broncas.

Scully olha ternamente pra Sam.

SAM: - Nós dois aprendemos bem cedo a atirar e a caçar essas coisas, mas depois que cresci, eu me revoltei com essa vida. Decidi que não iria mais dar continuação a essa loucura do meu pai, apesar do Dean seguir os passos dele, nosso velho é um herói pro Dean. Eu fui pra faculdade de Direito, tentar ser normal como todas as pessoas, mas... O destino não quis. Azazel matou minha noiva da mesma maneira que matou minha mãe e tentou me matar. Voltei e desde então estou com meu irmão no negócio da família.

SCULLY: - Eu... Eu nem sei o que dizer. Posso entender o seu pai e entender vocês... Não o culpe pelas suas atitudes, foram atitudes de homem. De um bom homem. As mulheres são diferentes. Se fosse seu pai a morrer e sua mãe a ficar viva, ela sentiria muito a perda do marido, com toda a certeza, mas uma mãe não priorizaria essa busca pela verdade e pela justiça às custas dos filhos. É uma coisa da natureza feminina colocar as crias em primeiro lugar. Então não o culpe, ele fez o melhor que podia.Como foi difícil pra vocês dois, também deve ter sido pra ele. Seu pai queria respostas e as encontrou, foi fazer justiça pra esposa e mãe dos filhos dele. E de um jeito ou de outro, ele fez um bom trabalho como pai. Vocês dois são unidos e são pessoas de bom coração e íntegras.

SAM: - Cada um tem uma sina, Scully. Não há respostas para a velha pergunta: por que comigo? Não era essa a vida que eu queria, mas é essa a vida que tenho. Pelo menos tenho o meu irmão comigo, família é importante. A gente briga, se desentende, mas a gente se ama. E um dia tudo acaba, tudo muda, não é mesmo?

SCULLY: - Em termos, Sam. Eu penso que uma vez que você se envolve com coisas paranormais, para sempre ficará preso nelas. Eu digo por experiência. E não que você as procure, elas encontram você.

Sam sorri.

SCULLY: - Olha pra nós aqui nesse momento? Vocês estavam indo atrás do Mulder. E Mulder e eu resolvemos tirar um final de semana em família, para relaxar e sair um pouco da agência. Estamos há semanas envolvidos na investigação do Saint Giles Asylum, ajudando a polícia, cansados, precisando de um pouco de ar e olha o que aconteceu! Sabe, algumas vezes, eu quero correr pra longe disso, afastar meus filhos do conhecimento dessas coisas, deixar Mulder sozinho, mas... Eu sei que pra onde eu correr, voltarei sempre que ele precisar. E os nosso filhos? Eles vão entender um dia as coisas que fazemos. Victoria já entende. E o que me preocupa, é que ela parece gostar.

Sam sorri, olhando pra Victoria, que finge ler gibi. Scully olha pra Bryan que dormiu mamando. Coloca a mamadeira na mesa.

SCULLY: - Está cansado, vai dormir a noite toda. Muita folia com a irmã.

Scully se levanta e coloca Bryan na cadeirinha. Ajeita a mantinha sobre ele.

SCULLY: - Filha, se o seu irmão chorar, chama a mamãe. Vou ver o que seu pai está fazendo lá fora.

VICTORIA: - Mamãe... Tira a arma do papai, por favor. Ele não tá em condição de ter uma arma.

Scully olha preocupada pra filha. Então sai pra fora. Victoria larga o gibi e olha pra Sam.

VICTORIA: - Eu tento ser uma criança comum para não assustá-los, mas nem sempre dá. É legal que você reconheça o esforço do seu irmão, sabe? Ele deixou muitas coisas pra trás por amor a você. Ele protege e ama você incondicionalmente, sabe disso né? Dean morreria por você.

SAM: - Eu sei. E eu morreria por ele. E o seu irmão... Ele é especial como você?

VICTORIA: - Acho que não, Sam. Nessa família a mais velha é o alvo do demônio e não o caçula. Mas eu vou ter que ser o Sam do Bryan, para evitar que o genioso entre em furadas. Igual... Aqui também temos um negócio de família numa herança deixada de pai pra filha. Parece que isso acontece mais do que você pensa.

SAM: - (CURIOSO) Como você sabe que eu sou alvo do demôn...

VICTORIA: -(SORRI) Mágica.


Estacionamento da lanchonete - 10:39 P.M.

Mulder escorado com as costas na traseira do carro, comendo sementes de girassol e olhando pra estrada. Scully se aproxima. Cruza os braços.

SCULLY: - O que está havendo com você, Mulder? Ahn? Uma coisa é ser antissocial, outra é ser grosseiro e mal educado. Até sua filha está preocupada com você!

Mulder continua olhando pra estrada, comendo sementes de girassol e a ignorando.

SCULLY: - Estávamos todos empolgados em ir ao Maine, você mesmo era o mais empolgado! De repente ficou desse jeito! Idiota, estúpido e ignorante!

Mulder dá as costas pra ela e abre o porta-malas. Pega a lanterna de camping. Entrega a lanterna pra ela.

SCULLY: - São bons rapazes! Eles têm você como ídolo! Precisa ouvir as coisas que Sam me contou! Por que está com raiva deles, nada fizeram pra você! Na verdade eles têm o mesmo assunto que você gosta. Poderiam trocar teorias, informações...

MULDER: - Vou desligar os faróis do carro ou vamos ficar sem bateria. Tenho mais lanternas na mochila.

SCULLY: - Por que está ignorando minhas perguntas, Mulder?

MULDER: - (IRRITADO) Porque eu não tenho as respostas, tá legal? Estou irritado, nervoso e com raiva daqueles dois! Principalmente do "Batman"! Se eu pudesse, matava aquele idiota agora!

SCULLY: - Por que encontrou outro tão irônico quanto você? Que coisa, não?

Mulder olha pra ela com irritação. Scully ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - Me empresta sua arma, Mulder.

MULDER: - Pra quê, você tem a sua.

Scully levanta o moletom de Mulder e tira a arma dele.

SCULLY: - Vou ficar com isso. Prudência e caldo de galinha não fazem mal à ninguém.

MULDER: - Tá maluca, Scully? Acha que vou sair atirando naqueles idiotas?

SCULLY: - Não sei mesmo, Mulder. Não estou reconhecendo você. Já ameaçou um deles com um canivete!

Scully guarda a arma atrás das calças e entra na lanchonete. Mulder bate a tampa do porta-malas com força e raiva.

MULDER: - Vai se ferrar, Scully! Você e sua piedade!!!

Scully vira-se e olha incrédula pra Mulder. Ele tira o celular do bolso e coloca os fones de ouvido. Vai caminhando em direção a estrada.

[Som: Silverchair - Freak]

Mulder olha para ambos os lados bloqueados pelo deslizamento. Olha para a pista e os destroços. Olha para as cruzes que ainda estão ali, intocadas pelo deslizamento.

Scully irritada se aproxima da porta da lanchonete. A porta se abre e Sam sai praticamente voando e caindo deitado no chão, levando a mão ao olho. Scully, assustada, olha pra Dean parado na porta, completamente fora de si, ainda com o punho fechado.

DEAN: - (GRITA) Vá se ferrar, seu otário!!!!!! Seu merda!!! Eu tô cansado de você, coraçãozinho mole!!!

Dean bate a porta da lanchonete. Scully se agacha ao lado de Sam, agora sentado no chão.

SCULLY: - O que aconteceu?

SAM: - Desentendimento entre irmãos, algo normal...

Scully afasta a mão de Sam e vê o corte no supercílio.

SCULLY: - Você está sangrando! Isso passou de briga de irmão!

SAM: - Scully, deixa isso pra lá.

SCULLY: -Tenta não deixar o sangue entrar no olho. Eu vou pegar minha maleta no carro.Meu Deus, é lua cheia por acaso? Tá todo mundo maluco?

Scully liga a lanterna e deixa no chão. Vai até o carro. Sam permanece sentado no chão, com a mão no olho. Se vira pra trás olhando pra Mulder parado na estrada e o Ceifeiro parado no estacionamento de costas pra Mulder e encarando a lanchonete. Sam se levanta e pega a lanterna.

SAM: - Scully, é melhor a gente entrar logo. Vai chover de novo.

Scully fecha a porta do carro e vem com a maleta. Sam abre a porta pra Scully que entra na lanchonete. Sam entra depois dela.


Lanchonete - 10:39 P.M.

A lanterna sobre a mesa, iluminando bastante o lugar. Scully parada na porta olhando pra Mulder ainda parado na estrada, debaixo da chuva, sem se mover. Scully começa a ficar nervosa. Olha para Sam, com um curativo no supercílio. Dean discute ele.

DEAN: - Eu vou esganar aquele cara, entendeu?

SAM: - Dean, quer se acalmar?

DEAN: - Quem aquele arrogante pensa que é pra humilhar a gente, Sam? Eu pensei que Mulder fosse uma pessoa do bem, mas aquele cara lá me decepcionou! Se eu pudesse atirava na cabeça dele!

SAM: - Dean, por favor, se controla, tá legal? Respira! Não é pra tanto!

Dean esmurra a parede.

SAM: - Tá com a sua arma aí?

DEAN: - Não, tá dentro do carro. Quer atirar nele?

SAM: - Dean, por favor, temos crianças aqui dentro!

Bryan dormindo na cadeirinha sobre a mesa. Victoria sentada à mesa, observando o clima tenso por cima do gibi que segura fingindo ler. Victoria fecha o gibi.

VICTORIA: - Mamãe, eu tô com fome. Posso pegar um salgadinho ou uns biscoitos?

SCULLY: - Não, sem porcarias. Vou até a cozinha ver se preparo alguma coisa um pouco mais nutritiva.

VICTORIA: - O que vai haver de nutritivo aqui dentro? Ai, mamãe, você podia fazer uns hambúrgueres. Todo mundo ia ficar feliz. Eu ajudo você.

SCULLY: - Pensarei no seu caso. Você fica aqui, de olho no seu irmão.

VICTORIA: - Eu tenho que ficar de olho é no papai, não no Bryan.

SCULLY: - Lembra da história do cavalinho e da borboleta? Hoje virou cavalinho.

VICTORIA: - Todos nós temos dias de cavalinho e borboleta. Deixa o papai relinchar e dar coice, mas eu tô de olho nele.

Scully passa a mão na cabeça da filha e a beija. Mulder entra, pega o livro na prateleira de souvenires e se atira no banco, em frente a Victoria, numa cara fechada e de poucos amigos. Scully olha com irritação pro marido. Mulder abre o livro e procura alguma coisa.

SCULLY: - Mulder, está com fome?

MULDER: - Um pouco, mas não quero comer nada. Vou ter azia se comer qualquer coisa na companhia desses idiotas.

Scully ergue os olhos e solta o ar pela boca. Sam vai até o refrigerador e pega quatro cervejas.

DEAN: - Vou desligar os faróis.

Dean sai batendo a porta. Sam aproxima-se da mesa. Victoria se afasta, dando lugar pra ele sentar. Sam coloca as cervejas na mesa. Mulder olha pra ele, com ódio.

SAM: - Acho que precisamos de uma bebida.

SCULLY: - Eu vou checar o que tem na cozinha, também estou com fome.

SAM: - Eu gostaria que você sentasse um pouco com o seu marido, Scully. Pode ser?

Scully senta-se ao lado de Mulder e pega uma cerveja. Brinda com Sam.

SCULLY: - À família, o bem mais precioso de todos!

Victoria pega a lata de refrigerante e brinda com eles. Mulder pega a cerveja e bebe sem brindar. Dean entra com outra lanterna de camping e vai até a mesa, Victoria recua mais, Sam também e Dean senta-se, pegando a cerveja.

DEAN: - Não lembrei que tinha essa porcaria no carro. Estou me sentindo...

SAM: - Descompensado? Esquecido? Dando foras? Irritado? Provocando as pessoas mais do que de costume? E socando o seu irmão por nada?

DEAN: - Sam, você resolveu tirar com a minha cara hoje?

SAM: - E você, Mulder? Hum?

MULDER: - ... Estou irritado, com ódio e com a mente fixa em socar vocês dois até a morte!

SAM: - ... É a coisa lá fora. Também irritou o Dean desde que nos aproximamos dessa curva.

Todos olham pra Sam.

SAM: - E Victoria pode confirmar.

VICTORIA: - Sam tem razão. Foi quando papai também ficou diferente. Está afetando vocês dois.

MULDER: - Que coisa lá fora?

DEAN: - É, que coisa lá fora? O tal ceifeiro? Eu não acho que tenha visto um ceifeiro, acho que você tá delirando, Sam. Se fosse um ceifeiro, você já tinha morrido!

Scully ao ouvir "ceifeiro" arregala os olhos.

SAM: - É, provavelmente, se fosse um ceifeiro comum eu já estaria morto, porque você não está dando ouvidos a nada do que estou falando desde que chegamos aqui. Está concentrado apenas em irritar o Mulder e ele em irritar você!

MULDER: - Que ceifeiro? Do que estão falando? Da morte? Grim reaper, anjo da morte, essas coisas?

DEAN: - Não, a morte é uma coisa, os ceifeiros apenas trabalham pra ela.

Mulder olha incrédulo pra Dean. Scully começa a ficar tensa.

SAM: - Essa coisa lá fora se parece com a figura estilizada do ceifeiro que as pessoas falam: usa um manto preto com capuz e carrega uma foice. Mas não é um ceifeiro comum. Ele mexe com as pessoas para que mudem o humor e façam loucuras impensadas. Foi como aquela gente morreu na estrada. Um dormiu em negligência e os outros queriam ultrapassar sem medir as consequências mesmo sabendo que havia uma curva!

Scully põe a mão nos lábios, assustada, fechando os olhos.

MULDER: - E por que afetaria apenas o seu irmão e eu?

SAM: - Porque vocês são os motoristas, os condutores, os que podem causar acidentes. A vida dos outros depende de vocês. Éramos pra ter morrido, mas escapamos. E vocês ainda estão sob o efeito daquela coisa lá fora. E ele vai continuar afetando vocês dois até que façam alguma porcaria um contra o outro.

Scully e Dean arregalam os olhos.

SAM: - Ele quer a nós todos aqui. Conseguiu levar aquela gente, mas nós escapamos. Ele não vai desistir. Até que Mulder e Dean cometam uma loucura um contra o outro levando todos nós juntos.

VICTORIA: - Ele está lá fora rondando e olhando pra cá, cada vez se aproxima mais e quanto mais se aproxima da lanchonete, mais o papai e o Dean ficam agressivos. E ele está feliz por ver vocês dois brigando e torcendo pra que percam o controle.

SCULLY: - E tem alguma coisa que possamos fazer?

SAM: - Nós não, Scully. Somos "passageiros", nossa vida depende do Dean e do Mulder lutarem contra o que estão sentindo. Antes que peguem uma arma, se matem e matem todos nós.

Dean abaixa a cabeça, pensativo. Mulder respira fundo, inclinando a cabeça pra trás.

MULDER: - Como pode saber disso?

SAM: - Victoria e eu conseguimos vê-lo. E tem outra coisa... Dean e eu conhecemos muito sobre essas criaturas porque estão no diário do meu pai. Já enfrentamos alguns ceifeiros e...

DEAN: - Você tá falando do tipo de ceifeiros que habitam rodovias perigosas causando acidentes fatais? Um ceifeiro coletivo? (PÕE AS MÃOS NO ROSTO) Droga, Sam! Como não pensei nisso? Quando você perguntou as horas, não liguei com o fato de que os ceifeiros podem parar o tempo!

MULDER: - Espera aí, tipo uma abdução? Um lapso de tempo?

DEAN: - Não, porque se fosse uma abdução, o lapso de tempo acabava assim que você fosse devolvido. Nesse caso, o nosso tempo acabou pra sempre quandoos relógios pararam às 10:39, horário da nossa morte que deveria ter acontecido. Ficaremos eternamente presos nesse tempo.

Todos olham para seus relógios. Todos marcam 10:39.

MULDER: -Espera, vocês falam muita coisa. Que diário? Quem é o pai de vocês?

SAM: - John Winchester, um caçador. Ele morreu. O mesmo demônio que levou nossa mãe, levou nosso pai há dois anos.

Mulder revira os olhos, colocando as mãos no rosto.

MULDER: - Não acredito...

SAM: - Ele escrevia em seu diário todas as coisas bizarras que encontrava, como um arquivo pessoal...

MULDER: - Eu sei quem é John Winchester. Não associei com vocês, porque estava com raiva, eu só pensava em me livrar de vocês... Tem razão, há alguma coisa aqui afetando o meu juízo.

DEAN: - E como conheceu o nosso pai?

MULDER: - Nunca o conheci pessoalmente, mas sei da fama dele como caçador de demônios e coisas do outro mundo. Ele está em um Arquivo X, de 1983, suspeito de ter matado a esposa Mary Winchester num incêndio criminoso e de tentativa de homicídio dos filhos. O problema é que os bombeiros não conseguiram explicar como o fogo começou e nem como atingiu tal intensidade superior a de qualquer elemento volátil conhecido. Uma pessoa anônima ligou para a polícia informando que Mary estava presa ao teto do quarto do filho, por um tipo de força invisível, contra todas as leis da física, e logo em seguida seu corpo explodiu em chamas.

SAM: -Deve ter sido o papai, tentando ser ouvido sem ser considerado louco.

MULDER: - A polícia de Lawrence ignorou todas as evidências, inclusive dos legistas. Culparam seu pai e no momento em que ele partiu com vocês do Kansas, o FBI entrou na investigação e ele passou a ser considerado um suspeito foragido com duas crianças. Arquivaram o caso por falta de provas. Foi parar no porão, nos Arquivos X.

DEAN: - Bom saber que alguém acreditou na inocência do nosso pai.

MULDER: - Eu tentei reabrir esse caso em 2005, quando li sobre um incidente semelhante que aconteceu com uma estudante de Stanford, chamada Jessica Moore.

SCULLY: - Espera! Eu lembro disso. Você comentou comigo.

SAM: - Minha noiva. Jessy era minha noiva.

Scully olha incrédula pra Sam.

MULDER: - A polícia acreditava que o noivo da vítima colocou fogo na casa.

Sam abaixa a cabeça, acenando negativamente, sorrindo de incredulidade.

MULDER: - Como o noivo, ou seja, você, tinha o mesmo sobrenome do caso igual a 1983, isso me deixou mais curioso ainda e tentei encontrar o seu pai. Só que nunca encontrei John Winchester porque ele não tinha paradeiro, era um foragido, e tudo o que eu encontrava sobre ele eram relatos das coisas que estava fazendo: caçando demônios. Isso me deixava mais intrigado, pois antes da mãe de vocês falecer, seu pai não tinha nem multa de trânsito, era um homem de família, respeitado e duvido que ele sequer pensasse na existência de coisas desse tipo. As pessoas que o conheciam e sabiam aonde John estava, ocultavam a informação do paradeiro dele, afinal eu era um agente do FBI. Caçadores não confiam em policiais e não os culpo por isso, talvez pensassem que eu queria prendê-lo. Lembro que um sujeito chamado Steven sempre desligava o telefone na minha cara.

SAM: - (SORRI)Tio Bobby. Ele é amigo do nosso pai. E quase um pai pra gente.

MULDER: - Eu tinha diversas teorias, desde combustão espontânea a algum tipo de maldição de família. O sobrenome Winchester já é bem conhecido por essas coisas, afinalSarah Winchester, depois da morte do marido, se mudou para a Califórnia, comprou uma mansão e começou a ampliar, construindo cômodos para espíritos. Para os mortos pelas armas que o marido fabricou, acreditando que com isso eles a deixariam em paz.

DEAN: - Mulder, não somos parentes daqueles Winchester fabricantes das armas, não que eu saiba. A resolução do seu Arquivo X é um demônio, de nome Azazel. E se quiser, eu posso contar depois toda essa história pra você, porque além de longa, é por ela que estamos aqui hoje e somos quem somos.

Mulder estende a mão pra Dean. Os dois trocam um aperto de mão.

MULDER: -Me desculpe, Dean Winchester. Nunca duvidei da inocência do seu pai.

DEAN: - Desculpe você, Mulder. Também fiquei cego de raiva.

MULDER: - Vamos começar de novo?

DEAN: - Da maneira certa? Como eu acho que Mulder faria?

MULDER: - É. Como você acha que eu faria e como eu penso que um filho de John Winchester faria.

Os dois se levantam. Sam e Scully olham pra eles.



BLOCO 3:

Estacionamento da lanchonete - 10:39 P.M.

Dean abre o porta malas do carro. Ergue a tampa falsa. Mulder arregala os olhos, empolgado.

MULDER: - Gostei da ideia do compartimento escondido. Evita problemas com a polícia. Acho que vou fazer um no meu carro.

DEAN: - E agora você precisa evitar problemas mesmo, já que não é mais um agente do FBI. Quer dizer... Ainda pode ser.

Dean retira credenciais do FBI e mostra pra Mulder.

DEAN: -Muitas vezes meu irmão e eu temos que chegar em lugares aonde as pessoas não nos abririam portas e informações.

MULDER: - Quer saber? Já pensei em fazer isso muitas vezes, mas é um crime federal e se eu estivesse sozinho nessa jornada, com certeza faria. Agora tenho muito a perder.

DEAN: - Entendo e acho que você tomou uma decisão bem certa. Não arrisque perder sua esposa e filhos. Se eu estivesse no seu lugar, também não arriscaria... Aqui temos roupas para todas as ocasiões, desde agentes do FBI a padres. Nunca se sabe.

MULDER: - (SORRI) É, vocês estão preparados pra tudo! Etem um arsenal aí dentro!

DEAN: - Armamento pesado. Tudo o que um caçador precisa para caçar coisas estranhas. Desde água benta até balas com sal grosso. Armas de choque até ingredientes para encantos e feitiços. E o item mais valoroso de todos:

Dean pega a Colt com cabo de madeira. Mulder olha fascinado.

DEAN: - Eu não deixaria ninguém tocar nela, porque meu pai varreu esse país atrás dessa belezinha. Mas como você é o Mulder...

Dean entrega a arma nas mãos de Mulder. Mulder analisa, empolgado.

DEAN: - Em 1835, quando o Cometa Harley passou e alguns homens morreram no Álamo, Samuel Colt fez essa arma pra um caçador. E fez treze balas numeradas de prata e ferro sagrado. Esse caçador usou a metade das balas e tempos depois ele desapareceu e a arma junto com ele. Essa arma pode matar qualquer coisa. É a primeira Colt fabricada. E não restam muitas balas. Portanto, só em caso de emergência. Espero que não estejamos numa emergência agora.

MULDER: - Acha que isso mataria Lúcifer?

DEAN: - Ah, "tio Lu" incomoda você também? Eu não sei, mas tentarei na primeira oportunidade que tiver.

MULDER: - "Tio Lu" incomoda muita gente. Ele é um pé no saco. Muda de aparência o tempo todo.

Mulder analisa a arma.

MULDER: - Tem um pentagrama de proteção no cabo de carvalho... E uma inscrição em latim no cano... "Non timebo mala"...

DEAN: - "Não temo nenhum mal".

MULDER: - Isso é... (RINDO) Isso é inacreditável! Estou com a primeira Colt nas minhas mãos!

DEAN: - Nunca pensou em ser um caçador, Mulder? Você leva jeito pra isso.

MULDER: - Não daria certo, eu sempre perco minha arma. E depois... Meu negócio é descobrir a verdade sobre essas coisas e tentar provar a existência delas.

DEAN: - Um caso meio perdido, Mulder. Eu não quero provar nada. Quero acabar com elas antes que façam mais estragos por aí e ferrem mais pessoas inocentes.

MULDER: - É justo e equilibrado, Dean. Eu descubro a verdade e falo dela. Você elimina o problema.

DEAN: -(SORRI) Aí, temos um parceria então, "tio" Mulder?

MULDER: - (SORRI) Mesmo à distância, temos, Dean "boy".

Mulder entrega a Colt pra Dean, que a guarda dentro da jaqueta. Mulder vai até o carro dele. Abre o porta malas. Os dois ao mesmo tempo tiram seus rifles. Olham um pro outro em desafio. Dean pega uma sacola de viagem. Mulder a mochila.

MULDER: - (DEBOCHADO) Aí, Dean Winchester, preparado pra colocar a capetada pra correr?

DEAN: - (DEBOCHADO) É nós, Fox Mulder! Vambora!

Os dois fecham os porta-malas ao mesmo tempo. Colocam os rifles apoiados nos ombros.


Lanchonete - 10:39 P.M.

Scully observa Dean e Mulder pela porta de vidro. Os dois conversam animadamente lá fora. Scully sorri. Bryan dormindo na cadeirinha em cima da mesa. Sam sentado ao lado de Victoria, os dois pintando o mesmo desenho numa revista, com giz de cera.

SCULLY: - Parece que finalmente fizeram amizade. Estão falando alguma coisa, talvez trocando teorias...

SAM: - Eles tem mais em comum do que pensam. Inclusive a cabeça dura.

SCULLY: - Pensava que era impossível existir outro cabeça dura como o Mulder...

Scully se aproxima da mesa.

SCULLY: - Bom, estamos numa lanchonete. Já verifiquei a cozinha e o melhor que conseguirei fazer é hambúrguer com batata frita.

VICTORIA: - Fico tão triste por isso...

SCULLY: - Já aprendeu a ironia do seu pai, mocinha?

Victoria sorri, sem tirar os olhos do desenho.

SCULLY: - Vou preparar alguns.

SAM: - Quer ajuda?

SCULLY: - É cozinheiro?

SAM: - Definitivamente não é o meu talento, Scully.

SCULLY: - (SORRI) Acho melhor vocês ficarem aqui jogando conversa fora. Victoria...

VICTORIA: - Já sei, "cuide do seu irmão"... Sam, acho que vermelho ficaria legal aqui.

SAM: - É. E aqui, amarelo?

VICTORIA: - Pode ser. Você pinta a parte amarela e eu a parte vermelha.

Scully vai pra cozinha. Bryan se acorda.

VICTORIA: - Ele ainda tá parado no mesmo lugar. Nem papai e nem Dean enxergam.

SAM: - Verdade. Não se moveu mais. Será que desistiu?

VICTORIA: - Acho que a amizade dos dois estragou os planos dele. Deve estar pensando em algum outro plano... Sam, quando você descobriu que era especial?

SAM: - Depois de adulto, Victoria.

Bryan começa a resmungar.

VICTORIA: - Pode me chamar de Tory... Eu já sei disso há muito tempo. Mas papai e mamãe falam que eu não devo mostrar as mágicas que faço porque elas podem assustar as pessoas.

SAM: - Você faz mágicas, Tory? Legal. Pode me mostrar algum truque?

VICTORIA: - Não conta nada, tá?

Victoria estende a mão para a sacola aberta de bebê sobre a outra mesa. Um brinquedinho de borracha vem flutuando até ela. Sam fica fascinado.

SAM: - Ok, admito que pensei em truques de circo, agora entendi o que é a "mágica" pra você.

O brinquedo cai na frente de Victoria sobre a mesa. Ela o pega e coloca nas mãos de Bryan.

VICTORIA: - Morde isso. Vai aliviar a coceira.

Bryan sacode o brinquedo na mão.

VICTORIA: - Não, seu tolinho! Coloca na boca, Bryan!

Sam ri. Victoria ajuda Bryan a colocar o brinquedo na boca e ele começa a morder.

VICTORIA: - Isso, assim. Tá vendo que ajuda? É que ele tá com os dentinhos nascendo e isso coça muito.

SAM: - Você é incrível! Eu raramente consigo fazer alguma coisa se mover. E pra isso, existe um processo bem bizarro...

VICTORIA: - Eu sei. Você precisa de sangue de demônio. Por isso Azazel estava atrás de você.

Sam olha pra ela, surpreso.

SAM: - Lê mentes?

VICTORIA: - Sim, eu sei que é uma coisa feia de se fazer, mas tem vezes que não consigo evitar. Eu não sei bem quem eles são, sabe? Mas o Iço... Lúcifer... Ele quer me pegar também. Ouvi papai dizer pra mamãe que é tudo culpa dele, dos genes dele.

SAM: - Estou confuso agora.

VICTORIA: - Eles são anjinhos caídos de outro planeta, sabe? E papai tem genes de anjinhos e isso passou pra mim. Você precisa do sangue deles para fazer mágica. Eu tenho o sangue deles.

Sam olha pra ela impressionado.

SAM: - Então... Você é modificada geneticamente com genes de anjo? Desculpe, estou falando coisas difíceis pra você entender...

VICTORIA: - Acho que é isso. Mas ainda não li a respeito dessas coisas pra aprender mais. E depois tem tanta bobagem que as pessoas inventam que não faz sentido com as coisas que eu sinto.

SAM: - Você é inteligente demais pra sua idade, sabia?

VICTORIA: - Isso é um problemão! Só tenho quatro amigos de verdade, as outras crianças não gostam de mim. E só dois deles estudam comigo.

SAM: - Quer ser minha amiga? Também não tenho muitos amigos.

VICTORIA: - Quero!

SAM: - Agora entendi o que você quis dizer por ter uma sina. Realmente, não tem como fugir dela.

VICTORIA: - Acha que isso é ruim? Ruim é que eu não vejo a hora de começar!

Os dois riem.

VICTORIA: - Você tem namorada, Sam?

SAM: - (SORRI) Não. E você, tem namorado?

VICTORIA: - Nah, seu bobinho! Eu sou criança ainda! Você é bonito, devia arrumar uma namorada.

SAM: - (SORRI) Sério? Me acha bonito?

VICTORIA: - Sim. Você é bonito, inteligente e educado. Aposto que as meninas ficam loucas por você.

SAM: - Acho que o Dean conquista mais garotas do que eu. Pelo menos a maior parte delas acha o Dean mais interessante.

VICTORIA: -Há gosto pra tudo, né?

Sam começa a rir.

VICTORIA: - O meu pai disse que eu só posso namorar quando tiver 40 anos. Eu acho que isso vai demorar muito.

SAM: - (RINDO) Seu pai nem é ciumento, né?


10:39 P.M.

Scully se aproxima com dois pratos com hambúrgueres e fritas. Coloca um na frente de Sam e outro na frente de Victoria.

SCULLY: - Espero que Victoria não tenha deixado você zonzo com tanto assunto.

SAM: - Na verdade eu gosto de conversar com ela.

VICTORIA: - Sam agora é meu amigo, mamãe.

SAM: - Isso parece delicioso. Obrigado, Scully.

SCULLY: -Será que chamo aqueles dois pra comerem? Estão tão empolgados lá fora, altos papos e risadas. A criatura ainda está lá?

SAM: - Sim, mas não se moveu desde que eles ficaram amigos. Continua parada e olhando pra cá... Scully, se você gritar a palavra hambúrguer, Dean entra correndo. Acredite.

SCULLY: - Essa palavra mágica também funciona com o Mulder, o sujeito mais fujão de dietas.

Scully vai até a porta e abre sem sair.

SCULLY: - Alguém quer hambúrguer com fritas? Tá na mesa!

Scully dá as costas e Dean e Mulder passam voando por ela.


10:39 P.M.

Dean dá outra dentada no hambúrguer e mastiga com prazer, com a fisionomia de quem está chegando ao nirvana. Mulder entope o dele com mais maionese.

SCULLY: - Mulder!!!!

MULDER: - Deixa de ser chata, Scully. Dá um tempo, fiscal do colesterol.

DEAN: - (BOCA CHEIA) Scully, eu achava que já tinha comido o melhor hambúrguer da minha vida... Mas esse... Esse é dos deuses! E eu sou fiscal de hambúrguer por todo esse país, acredite no que digo!

SAM: - É, pode acreditar. Se houvesse hambúrguer no inferno, o Dean nunca sairia de lá.

SCULLY: - (ORGULHOSA) Nossa, como é bom receber elogios. Faz tempo que não recebo nenhum pelos meus dotes culinários.

MULDER: - Receberia mais, se fizesse mais hambúrgueres em casa.

VICTORIA: - Apoiado, papai.

DEAN: - (BOCA CHEIA) Podia abrir uma lanchonete! Que tal Scully's Burguer?

MULDER: - (DEBOCHADO) Com ingredientes cientificamente selecionados e garantia de carne fresca e saudável, autenticada por uma médica legista experiente.

Scully atira uma batatinha na testa de Mulder.

SCULLY: - Deixa as vacas em paz, Mulder! Então, Dean... O que tem no seu carro que deixou Mulder, O Estranho, socializando e conversando animadamente com alguém que não os amigos malucos dele? E não estou falando do próprio carro.

DEAN: - Armas, água benta, bíblia, crucifixos, manuais de magia e uma Colt especial...

SCULLY: - Hum... E tem estacas pra matar vampiros? Balas de prata pra lobisomens?

DEAN: - (SORRI)Você não tá acreditando em mim, né Scully? Puxa, pensei que nunca diria isso!

SCULLY: - Pelo menos você anda "armado" de acordo com o que vai matar. Não como certas pessoas aqui que improvisam cruzes com baguetes...

Dean quase se engasga. Mulder acerta um tapão nas costas dele. Dean arregala os olhos.

MULDER: -Isso é pelo atrevimento, só eu posso reclamar do ceticismo da Scully. Então, Scully, eu sou detetive, nunca disse que era caçador.

Mulder abre o livro sobre a mesa.

DEAN: - (BOCA CHEIA) O que é isso?

MULDER: -Um souvenir. Um livro para turistas, que fala sobre essa localidade, Green Valley, desde a história até o que há de interessante pra se fazer aqui. Mas o mais interessante é que tem um capítulo inteiro dedicado a essa parte da rodovia.

SAM: - Isso é sério?

MULDER: - Aqui diz: A cidade começou a ser construída em 1842, mesma época da construção da primeira ferrovia do estado do Maine, em Portland. Green Valley começou como uma colônia de lenhadores, para a exploração de madeira. No lugar da rodovia havia uma estrada de terra, por onde levavam em carroças as madeiras extraídas até Portland... Devido ao relevo montanhoso do lugar, construir ferrovias era algo inviável, portanto, a estrada era o único meio de enviar e receber mercadorias... O primeiro acidente na "Curva da Morte" aconteceu em 1843, quando uma carroça virou com toras de madeira matando três homens esmagados...

DEAN: - Começou bem.

MULDER: - No mesmo ano, uma família que chegava de mudança teve sua carroça atolada na estrada. O homem tentou desatolar as rodas batendo com fúria nos cavalos, que assustados, com toda a força que tinham, puxaram a carroça até se desprenderam e fugiram, o que desatolou a carroça, mas ela perdeu o rumo e caiu no penhasco. Foi quando a população local começou a culpar os indígenas da região por uma suposta maldição... Em 1984 um ônibus de turistas japoneses caiu no penhasco matando 44 pessoas... E segue uma lista desde 1843 até agora... Num total de mais de 765 mortos nessa curva.

Mulder folheia o livro até os dados bibliográficos.

MULDER: - Mais de 765 porque esse livro foi publicado há cinco anos.

Mulder fecha o livro. Sam fica pensativo. Um silêncio se estabelece até Mulder o quebrar.

MULDER: - Seu pai pode ter razão sobre ceifeiros coletivos de estradas. Existem várias estradas amaldiçoadas pelo mundo. Só aqui temos várias estradas com trechos assombrados, como a Clinton Road, em Nova Jersey e outras com as chamadas "Curvas da Morte", como a "Curva do Homem Morto", em Cleveland. Relatos de assombrações e criaturas estranhas estão comumente ligadas a essas estradas. Talvez essas coisas sejam apenas a ponta do iceberg.

SAM: - Talvez essas assombrações existam porque um ceifeiro está agindo?

MULDER: - Provavelmente. É uma boa explicação para muitos acidentes que ocorrem sempre nos mesmos trechos chamados mortais. Se você fosse um ceifeiro, que lugar melhor do que uma estrada para apanhar várias vidas ao mesmo tempo? Melhor que esperar qualquer catástrofe da natureza. Mulher de branco, criança sozinha, caroneiros fantasmas, tudo isso devem ser almas presas a estrada que os matou. Ou podemos ter uma maldição indígena aqui, como a população local acredita. Um ceifeiro invocado por magia?

DEAN: - Faz sentido, eles podem ser invocados por magia.

MULDER: - Alguma outra teoria?

Victoria levanta a mão. Todos olham curiosos pra ela.

VICTORIA: - Sei que estão culpando essa coisa e ela é realmente culpada. Mas existem fantasmas nessas estradas que não vão embora e continuam aqui ajudando ele. Querem que outros morram também pelo simples prazer de se vingarem por terem morrido.

Dean acena positivamente com a cabeça, impressionado.

MULDER: - (SORRINDO/ ORGULHOSO) Essa é a minha filha! Concordo, Pinguinho.

SCULLY: - E eu concordo que você ficou estranho de repente naquela e estrada e ia matar todos nós. (DEBOCHADA) Mais estranho do que de costume. Vai culpar os índios agora, grande homem branco?

MULDER: - Todos não. E de novo você faz piadinhas pra aliviar o medo que está sentindo porque conhece aquela coisa lá fora e já quase olhou nos olhos dela.

Scully respira fundo, nervosa. Sai da mesa.

SAM: -O que houve com a Scully? Como assim ela conhece...

MULDER: - ... Me deem licença.

Mulder vai até Scully, que está de costas, derrubando lágrimas. Mulder a vira pra si e a abraça. Scully se abraça nele, recostando o rosto no peito dele e chorando. Victoria abaixa a cabeça, triste.

Dean olha para o casal e depois pra Sam. Sinaliza com a cabeça. Os dois saem da mesa e vão pra um canto.

DEAN: - Sam, tem alguma coisa errada aqui. Mulder insinuou que Scully já olhou nos olhos de um ceifeiro e...

SAM: - Sabemos que ninguém sobrevive a isso.

DEAN: - Então como ela sobreviveu? Como enganou a morte? Outra coisa que está me deixando nervoso é que apenas você e a garotinha veem aquela coisa. Se ele quer a todos, por que só aparece pra vocês dois? Sabemos que os ceifeiros só permitem serem vistos pelas pessoas que vão morrer.

SAM: - Eu não sei, Dean. E não me importo comigo, mas me importo com a Tory. Ela é apenas uma criança, jovem demais pra morrer.

DEAN: - Nós achamos que é um ceifeiro, tudo nos leva a crer nisso, mas por via das dúvidas, eu quero que pegue todo o sal grosso que encontrar e sele portas e janelas, inclusive com encantamento. Aquela coisa não vai entrar aqui se for demônio. Vai que o desgraçado tá possuído? Sabe que demônios podem possuir ceifeiros. E se ele não entrar aqui, vamos ter a certeza de que é um ceifeiro possuído, caso contrário, um ceifeiro comum... Merda, Sam! Eu tô cansado de ceifeiros! Mais um pouco e viro PHD no assunto!

SAM: - Dean, sabemos os poderes que os ceifeiros têm. Eles são invisíveis a olho nu, apenas se mostram se quiserem e não é algo que fazem comumente. Geralmente eles se mostram para quem eles vão levar. Eu só me preocupo com a menina...

DEAN: - Não, nem vem com essa, irmãozinho! Você não vai morrer essa noite! E nem aquela garotinha, entendeu?

SAM: - É por isso que estou preocupado! E se aquela coisa causou todas essas mortes porque está atrás de Victoria e eu? Por isso estava atiçando você e Mulder, um contra o outro, para matarem a todos e assim atingir o objetivo dele que não foi alcançado naquela estrada e... Isso não é coisa de ceifeiro, Dean! Isso é coisa de demônio!

DEAN: - E por que ele estaria atrás de vocês dois? Bom, de você até entendo, querem você, mas a menina... A não ser que... Não... Aquela garotinha não me parece uma casca pra anjo.

Os dois olham pra Victoria que está sentada e olhando triste pra Scully.

SAM: - Ela não é casca pra anjo, Dean. Ela é um parente direto deles! Ela me contou!

Dean arregala os olhos.

DEAN: - Sam, pegue a garotinha e cuide do sal grosso. E vamos ter um papo sério com aqueles dois. Ou eles nos contam o que sabem ou ninguém vai sair vivo dessa.


10:39 P.M.

Mulder e Scully sentados à mesa, um ao lado do outro, Mulder a envolve com o braço. Scully cabisbaixa, com um lenço de papel.

MULDER: - Eu sei que você nunca quer conversar sobre isso, mas adiar o assunto não vai resolvê-lo.

SCULLY: - (SECANDO AS LÁGRIMAS) Eu sei... O que Victoria está fazendo?

MULDER: - Ajudando o Sam a colocar sal grosso nas portas e janelas. Dizem que isso afasta demônios, talvez o que esteja lá fora não seja o ceifeiro. Até aqueles dois estão na dúvida.

SCULLY: - Eu não tenho nenhuma teoria, Mulder. Você concorda com eles?

MULDER: -Não sei se esses garotos sabem o que fazem, mas acredito neles.

Dean se aproxima curioso, segurando o diário do pai e senta-se à mesa.

DEAN: - Não quero ser indiscreto, mas já sendo... O que houve com você, Scully?

SCULLY: - ... Muitos anos atrás, eu fui designada para um caso em Nova Iorque, sem o Mulder, com outro agente do FBI. Eles tinham fechado os Arquivos X e nos deixado em trabalhos burocráticos...

MULDER: - Limpar as privadas teria sido mais animador, acredite.

SCULLY: - Estávamos atrás de um fotógrafo freelancer, Alfred Fellig. Ele fazia fotos sobre mortes, para jornais e para a polícia. O agente que trabalhava comigo acreditava que Fellig matava as pessoas e depois as fotografava, quando na verdade, Fellig podia ver quando as pessoas morriam e estava lá antes para tirar as fotos.

MULDER: - Fellig tinha mais de 150 anos com a aparência de uns 65. Ele não morria.

DEAN: - (EMPOLGADO) Sério? (GRITA) Sam, vem aqui escutar essa!

Sam se aproxima e senta-se.Victoria fica escutando, disfarçando que vê revistas no stand.

DEAN: - Mas acharam explicação do porquê esse cara não morria?

SCULLY: - Fellig me contou que durante o surto de febre amarela, conseguia ver a morte chegando e levando as pessoas. Que uma enfermeira sentou-se ao seu lado, para confortá-lo e quando a morte veio até ele, simplesmente não olhou para a morte e a enfermeira olhou e morreu.

MULDER: - No lugar dele. Ele perdeu sua vez. E ficou eternamente preso numa idade e sem morrer, mas com o dom de ver quando as pessoas iriam morrer.

SCULLY: - Você as vê em preto e branco, sem cor. Sinal de que vão morrer. Sabe quem e quando, mas não a forma como morrerão. Não há como impedir.

MULDER: - Aí o sortudo do agente que estava com ela... Sortudo, porque se Scully tivesse morrido, eu matava o desgraçado! Um idiota que nem deveria segurar uma arma. Ele entrou no apartamento e atirou em Fellig, a bala passou por ele e acertou Scully.

Dean e Sam arregalam os olhos.

SCULLY: - Antes disso, Fellig tinha me dito que eu morreria. Eu... Eu ia morrer mesmo. Eu cheguei a ver com o canto do olho, aquela coisa escura se aproximando...

SAM: - Um ceifeiro. Não era a morte, era um ceifeiro.

SCULLY: - Então Fellig me disse pra não olhar e olhou no meu lugar. Ele morreu finalmente, levando a minha morte e eu me recuperei rápido do ferimento fatal.

MULDER: - E desde aquele dia, Scully ficou no lugar de Fellig. Um tipo de imortalidade, presa numa idade aparente e vendo pessoas que vão morrer. Minha teoria é que isso é uma maldição. Então, para que Scully morra, alguém deve estar morrendo para que ela olhe para o ceifeiro no lugar dessa pessoa. Só assim Scully vai morrer.

Sam morde os lábios.

DEAN: - E pra que morrer? Deve ser maravilhoso viver pra sempre, sem nunca envelhecer.

MULDER: -E eu não condeno a Scully por não querer olhar pra morte. Quem quer morrer? Hum?

SCULLY: - Eu lido com cadáveres, eu sou médica, mas eu não aceito a morte, e-eu tenho medo.

SAM: - Scully, no fundo, todos nós temos medo de morrer. Por mais que as pessoas digam que estão prontas, nunca estão. A morte não manda aviso. Ela não tem volta. E tudo que não tem volta, nos assusta. É uma realidade que não conhecemos. O medo do desconhecido. O que virá depois? Fomos dignos em vida, o suficiente para o ir ao céu ou fomos pecadores destinados ao inferno?

DEAN: - Quanto a mim, tenho minhas dúvidas. Se revistas com garotas asiáticas forem pecado mortal, acho que o céu vai estar em greve quando eu partir...

MULDER: - Acho então que nos veremos no inferno.

DEAN: - Asiáticas peitudas?

MULDER: - Não, fitas que não eram minhas. Mas foi no passado, já estamos na era digital. Acha que ainda vale?

DEAN: - Ah! Bom, as revistas também não são minhas... Nem as asiáticas peitudas. Será que tem tempo de prescrição para pecados?

SAM: - Vocês dois brincam com coisas sérias!

SCULLY: - Eu me sinto cruel e desumana por fazer de conta que não vejo quando alguém está prestes a morrer, porque não posso impedir. E me sinto egoísta por não querer morrer, por não envelhecer, enquanto meu marido envelhece, as crianças crescem e começo a cada dia mais a entender o que Fellig dizia sobre 75 anos é mais do que justo sobre a Terra. E-eu não quero ver o Mulder morrer, meus filhos morrerem, meus netos e chegar a um ponto aonde esquecerei até o nome deles! Mas também tenho medo de morrer!

DEAN: - É, essa coisa Highlander tem um lado ruim mesmo...

Dean empurra o diário de John Winchester sobre a mesa.

DEAN: - É o diário do meu pai. Podem ler.

Mulder pega o diário e abre. Passa os olhos, empolgado.

MULDER: - Isso aqui é uma raridade!

DEAN: - É. Meu pai nunca confiou muito em teorias dos outros. Aí está tudo o que ele descobriu por ele mesmo, inclusive o modo de matar ou expulsar essas criaturas. E tem uma parte sobre ceifeiros. Acho bom você ler isso.

MULDER: - Plural?

DEAN: - Sim. Não é a primeira vez que Sam e eu encontramos com um. Ceifeiros são muitos comuns. E Castiel confirmou isso.

MULDER: - Quem é Castiel?

DEAN: - Nosso "anjo da guarda". Ceifeiros são filhos da morte. Eles ajudam na manutenção da ordem natural das coisas, eles não servem nem ao inferno, ao céu ou ao purgatório. E existem diferentes ceifeiros com métodos diferentes.

SAM: - Há ceifeiros comuns e de coletivos de pessoas. Há ceifeiros invocados por magia negra. E há...

DEAN: - Ceifeiros de estradas, que é o caso desse lá fora. Eles tem muitos poderes, podem ser possuídos por demônios e podem ser presos ou repelidos por magia. Mas tenho uma boa notícia: eles também morrem.

SAM: - E Deus e anjos de luz podem colocá-los pra correr.

DEAN: - É. O problema é onde conseguir um anjo!

Mulder olha pra Victoria. Scully olha incrédula pra Mulder.

SCULLY: - Não mesmo! Nem pensar!!!

Dean olha sério pra Mulder. Scully pega o diário das mãos do marido.

DEAN: - Eu abri meu jogo pra vocês dois e se vamos trabalhar juntos aqui, eu preciso de verdades, porque aquela coisa lá fora só se revelou pro meu irmão e pra filha de vocês. Estou com a sensação que vamos lidar com um ceifeiro dos infernos mesmo, então me digam com sinceridade: O que Victoria tem de diferente?

MULDER: - O que Sam tem de diferente?

DEAN: - Primeiro você. Eu perguntei primeiro.

SAM: - Tenho sangue de demônio dentro de mim. Isso me concedeu certos dons paranormais.

MULDER: - Como assim sangue de demônio? Você quer dizer que tem DNA de anjo?

SAM: - Não. Sangue de demônio mesmo, correndo nas veias, como uma contaminação. E Victoria?

MULDER: - DNA de anjo. Resultado das experiências genéticas que fizeram com minha família e comigo. Passei a desgraça pra minha filha.

DEAN: - O quanto de anjo? Dez, vinte, noventa ou cem por cento?

MULDER: - Eu não sei. Só sei que é bem mais do que eu. E que o dia em que ela tiver um filho, vai ser mais ainda que ela.

SAM: - Mas como você não vê o ceifeiro?

MULDER: - Minha filha é mais pura do que eu. Ela sabe que é diferente. Mas eu não tenho as explicações que você quer agora e nem as que ela precisará um dia. E como pode me garantir que é um ceifeiro lá fora?

DEAN: - Eu posso garantir que é um ceifeiro. Scully, eu vou ter que fazer essa pergunta: Você vê alguém aqui dentro em preto e branco? Pode ser sincera. Meu irmão e eu não temos medo de morrer.

SCULLY: - (EM NERVOS) ... Não. E não verei, porque ninguém aqui vai morrer.

Scully sai da mesa, nervosa. Vai para o banheiro, levando o diário. Mulder fecha os olhos num suspiro.

MULDER: - Isso não significa que ela não verá. Talvez nossa hora não chegou ainda. E só Scully vai sobreviver se isso acontecer.

DEAN: - Mulder, agora que a verdade foi jogada nessa mesa, eu acredito que aquela coisa lá fora causou o acidente para matar a todos nós por dois motivos: Sam e Victoria. Como os dois conseguem vê-lo, são os dois que ele veio pra levar. A gente ia junto como brinde. E se a Scully ainda não os viu em preto e branco... Ainda não é a hora mesmo.

MULDER: - Não sei o que é aquela coisa, se um ceifeiro ou não. Mas não vai levar a minha filha. E não quero ver a reação da Scully quando olhar pra Victoria e... Droga!

Mulder se levanta, passando a mão nos cabelos, angustiado. Victoria se aproxima deles, nervosa, apontando pra porta.

VICTORIA: - Sam!!!!!!!!!!!!!

Sam vai até ela. Olha pra porta. O ceifeiro está parado na porta. Não tem rosto, apenas escuridão debaixo do capuz. Sam coloca Victoria pra trás dele.

SAM: - Dean, temos um problema. Ele já chegou na porta.

Sam e Victoria recuam. Mulder e Dean se aproximam da porta, sem ver nada.

MULDER: - O que ele está fazendo?

SAM: - Nada. Está parado olhando pra cá.

DEAN: - Acha que o sal na porta está impedindo que ele entre?

SAM: - Eu não sei. Talvez. Coloquei um encanto contra demônios também.

O ceifeiro bate três vezes o cabo da foice no chão.

SAM: - Ok, ele bateu três vezes com a foice no chão. Não avança e nem recua.

MULDER: - Três é o número da trindade divina. E também é usado como blasfêmia por demônios.Saiam da frente da porta. Victoria, eu quero que fique com sua mãe no banheiro, entendeu? Não sai de lá até eu dizer que pode!

Victoria corre pro banheiro. Mulder pega a cadeirinha e leva Bryan para o banheiro. Scully olha pra ele.

MULDER: - Fique aqui com as crianças até eu dizer que pode sair. Tranca a porta. Está com sua arma?

SCULLY: - Estou com a sua. A minha ficou no carro.

MULDER: - Ok, use a minha. Tá carregada.

Mulder coloca a cadeirinha sobre a bancada da pia. Scully tranca a porta. Mulder se aproxima de Dean que tira os cartuchos da mochila e carrega a espingarda. Mulder pega a espingarda dele e mira na porta.

DEAN: - Não é pólvora. São recheados de sal grosso. Se ele entrar, eu atiro.

MULDER: - E funciona?

DEAN: -Se for demônio, não mata, mas parece destruir a casca deles. Vai levar tempo pra voltar.

MULDER: -Casca? Por casca, quer dizer corpo?

DEAN: -É isso aí, mestre. Essas coisas tem um corpo. Você sabe disso. Quer alguns cartuchos?

MULDER: - Não, eu prefiro balas de verdade. Pela minha experiência não adianta, mas eu posso atirar até essa coisa virar uma peneira. Ainda vou provar que se sangra, pode morrer.

Dean entrega outra espingarda pra Sam.

DEAN: - Manda sal, maninho. E se nada resolver...

Dean afasta a jaqueta, revelando a Colt na cintura.

DEAN: - Uma bala dessas vai acabar com os planos dele.

Os três mirando as espingardas na porta.

MULDER: - Sam, nos avise quando ele entrar.

SAM: - Está parado, não se moveu mais. Pode ser o sal ou o encantamento... Talvez esteja possuído por um demônio mesmo.

DEAN: - Não vou confiar nisso. Nunca confie em ceifeiros e metamorfos.

Corta para o banheiro:


Scully recostada na pia do banheiro, lendo o diário e afagando os cabelos de Victoria, que está agarrada nela.

SCULLY (OFF): - Fiquei acordado a noite toda, cuidando dos meninos, protegendo-os, estou ficando maluco? Não os deixo sair das minhas vistas desde o incêndio. Dean ainda não fala muito, tento fazer com que fale alguma coisa, ou ao menos que jogue um pouco de beisebol comigo. Qualquer coisa para faze-lo sentir-se um menino novamente. Ele nunca se separa de mim, está sempre ao meu lado, ou ao lado do seu irmão. Todas as manhãs quando acordo, Dean está dentro do berço, com seus braços em volta de Sam, como se tivesse que protege-lo do que está lá fora. Sammy por outro lado, chora muito pedindo por sua mãe (*).

Scully derruba lágrimas. Passa páginas.

SCULLY (OFF): - Mary nunca verá Dean pegar qualquer quadrangular. Nunca verá Sammy começar a andar ou escutar suas primeiras palavras. Não levará Dean ao seu primeiro dia de aula nem ficará a noite toda acordada, esperando que ele chegue de alguma festa. Não está certo o fato dela não estar aqui, este foi meu pensamento durante o dia todo, estou tão deprimido que não consigo pensar direito, quero a minha esposa de volta. A polícia declarou oficialmente que o caso foi encerrado. Isso que é um presente de natal, hein? (*)

(*) Extraído de O Diário de John Winchester, deAlex Irvine.

VICTORIA: - Mamãe?

SCULLY: - (LENDO/ OLHOS EM LÁGRIMAS) Fala, Docinho.

VICTORIA: - Do que você tem medo?

SCULLY: - (SEM OLHAR PRA FILHA) De perder vocês.

VICTORIA: - Você nunca vai me perder, mamãe.

Scully sorri, mas o sorriso sai de seus lábios e uma expressão de terror toma conta do seu rosto quando olha pra filha.

Imagem de Victoria em preto e branco, sorrindo pra Scully.



BLOCO 4:

Mulder, Sam e Dean continuam mirando as espingardas na porta.

SAM: - Não está se movendo. Continua parado, acho que está olhando pra nós.

MULDER: - Como assim "acho"?

SAM: - Não dá pra ver o rosto dele. É... É apenas escuridão.

DEAN: - (RAIVA) Vamos, filho da mãe! Entra aqui pra experimentar o que tenho pra você, seu covarde de vestido!!! Anda mocinha!!! Levanta essa saia e me deixa ver seus saltos altos!!!

Mulder olha incrédulo pra Dean.

MULDER: -(DEBOCHADO) Vai ficar provocando essa coisa, "Batman"?

DEAN: - (NERVOSO) Vou. Ou ele se afasta ou entra, mas ficar aí nos namorando tá me dando nos nervos!!!

MULDER: - (TENSO) Me digam que existe alguma maneira de afastar essa coisa.

DEAN: -(RAIVA) Se eu tivesse certeza do que é essa coisa!

SAM: - (NERVOSO)Ele não se parece com nenhum ceifeiro que já tenhamos enfrentado. Ele está observando, jogando com nossos nervos, como se não tivesse pressa de fazer o serviço. É como se alguma coisa o manipulasse.

DEAN: - Magia? Alguém invocou um ceifeiro de estrada pra cima de você e da garotinha? Quem conhecemos que conheça também a filha do Mulder? E quem odiaria uma garotinha? Você até entendo!

Sam olha contrariado pra Dean.

SAM: - Magia não. Possessão mesmo. "Tio Lú" diz alguma coisa?

MULDER: - Moedinha filho da... Eu vou matar aquele desgraçado!

DEAN: - É demônio! Tem um filho da mãe de um demônio dentro dele!!!

MULDER: -Ótimo! Então temos duas criaturas em uma e não fazemos a mínima ideia de como se livrar das duas!

Dean começa a suar, com o dedo no gatilho. Mulder em nervos, mal consegue mirar a espingarda. Sam atento, olho na mira e no ceifeiro.

DEAN: - Mulder, se quiser ficar com sua família, fique. Eu estou com a minha. E juro que não vou perder mais ninguém pra qualquer demônio!

MULDER: - Então juramos juntos, porque eu também não vou perder mais ninguém!

O Ceifeiro recua alguns passos. Então rapidamente pula pra cima da lanchonete. Dean e Mulder se entreolham.

DEAN: - Filho da...

Os três miram as armas para o teto. Nervosos, olhos procurando, atentos a qualquer ruído.

MULDER: - Me diz que ele não entrou por causa do sal.

DEAN: - Só vou ter essa certeza quando meter uma bala nele. Sam, colocou sal na porta dos fundos?

SAM: - Claro!

DEAN: - Ok, vamos ser cuidadosos.

Dean vira-se para os fundos da lanchonete. Sam e Mulder continuam mirando a espingarda pra cima. Scully sai em nervos do banheiro, olhos derrubando lágrimas, tirando a arma da cintura e mirando na porta da frente.

SCULLY: - Esse desgraçado não vai levar a minha filha!!!

Mulder olha em pânico pra Scully. Dean fica mais assustado.

SAM: - (MEDO) Scully... Olha pra mim. E seja sincera.

Scully olha pra Sam, sem baixar a arma.

Vemos Sam em preto e branco.

Scully derruba mais lágrimas e volta a olhar para a porta. A arma treme em suas mãos.

SAM: - (ANGUSTIADO) Entendi.

Dean começa a tremer a mão.

DEAN: - Sam, vai pro banheiro e fica lá com as crianças!

SAM: - Não, eu vou ficar aqui e lutar contra essa coisa.

DEAN: - (AOS GRITOS/ NERVOSO/ ANGUSTIADO) Eu disse pra ficar no banheiro!!! Eu não vou perder você!!!

SAM: - (AOS GRITOS) E eu não vou fugir da nossa luta, Dean! Só eu enxergo aquela coisa, vocês não podem atirar nela sem meu aviso!!!

Eles ficam em silêncio.

[Som: Silverchair - Freak]

Barulhos no telhado. Os quatro miram as armas pra cima, tentando adivinhar de onde vem o barulho. Mulder pede silêncio levando o indicador aos lábios. Anda alguns passos. Inclina a cabeça tentando ouvir alguma coisa.

A foice transpassa o forro passando rente ao ombro de Sam, que dá um grito.A foice é puxada de volta.

Mulder e Dean viram-se rapidamente, nervosos e assustados, atirando no forro sem parar quase que histéricos. Scully corre e puxa Sam para trás.

Um pedaço de forro desaba, abrindo um buraco no teto da lanchonete. Dean e Mulder param de atirar. Aproximam-se e ficam embaixo do buraco apontando as espingardas, olhares atentos e nervosos para cima.

Sam leva a mão ao ombro sangrando e senta-se no banco. Scully pega uma camiseta da prateleira e coloca no ombro de Sam, indicando para ele pressionar. Sam afirma com a cabeça. Scully puxa Sam e vai até a porta do banheiro. Se coloca na frente de Sam e da porta, com a arma em punho, olhando para o buraco no forro.

O suor escorre da testa de Dean. Olhos fixos, procurando algo lá em cima. Mulder, numa respiração quase presa, olhar atento de raposa. Scully em nervos, mal respira, atenta a todos os lados.

As telhas estalam. Os três apontam as armas para o outro lado do forro.

Barulho de algo correndo no telhado. Eles apontam as armas para o outro lado.

Silêncio completo.

VICTORIA: - (GRITA) Mamãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!

Scully arregala os olhos e abre a porta do banheiro. Sam puxa Bryan rapidamente enquanto ela observa a mão negra com luvas pela janela do banheiro, erguendo Victoria pelos cabelos. Scully mira a arma e começa a atirar.

O braço do ceifeiro some em fumaça, soltando Victoria que cai no chão.


10:39 P.M.

Sam sentado no banco, sem camisa. Scully sutura o ombro dele. Sam faz um semblante de dor e empina uma garrafa de uísque. Victoria sentada no banco, olhos vermelhos de tanto chorar. Bryan mordendo um brinquedo sentado na cadeirinha sobre a mesa.

Mulder anda de um lado pra outro, visivelmente nervoso. Dean também. Mulder olha para o relógio no pulso. Tira o relógio e atira contra a parede num acesso de raiva.

MULDER: - (RAIVA) Nunca vai amanhecer! O socorro não virá! Estamos presos nesse tempo e não aguento mais olhar pra dez e trinta e nove!!!

Dean pega um chocolate e começa a comer. Olha para o buraco no teto.

DEAN: -Precisamos fechar esse buraco. Ele pode entrar por aí. Só não entrou pelas portas e janelas por causa do sal e do encantamento. Pena que alguém aqui esqueceu de colocar sal e encantamento na janela do banheiro.

SAM: - É, pode me culpar! Eu sou sempre o culpado de tudo na sua vida, Dean!

DEAN: - Ô "Scully", dá um tempo tá? Deixa o "Mulder" aqui pensar numa solução, depois você reclama e faz beicinho enquanto ajeita esse cabelinho comprido.

Scully encara Dean. Mulder abaixa a cabeça, rindo disfarçado. Sam empina a garrafa, olhando atravessado pra Dean.

MULDER: -Tem mais munição de sal?

DEAN: - Com certeza.

Dean abre a sacola e tira alguns cartuchos. Mulder esvazia sua espingarda e coloca dois cartuchos de sal.

MULDER: - Seguinte, agora temos a certeza de que é um ceifeiro possuído. O que seu pai fala no diário sobre ceifeiros possuídos?

DEAN: - Muita coisa, mas esse daí é diferente dos que conhecemos. Eu tô pensando em como vamos botar esse bicho pra correr. Não vai ser fácil.

Mulder vai até Victoria e se agacha na frente da filha. Passa a mão no rostinho dela.

MULDER: - Pinguinho, sei que está assustada. Mas seus pais estão aqui, certo?

Ela afirma com a cabeça.

MULDER: - Papai quer que você faça uma coisa pra ele.

Scully olha pra Mulder. Quase erra o ponto cirúrgico e Sam grita.

SCULLY: - Me desculpe! Só falta mais um.

MULDER: - Eu sei que você não tem todas as respostas, Pinguinho. Que também precisa de tempo para pensar. O papai entende.Mas agora você sabe o que é essa coisa?

Victoria acena negativamente com a cabeça. Dean se aproxima. Pega o uísque de Sam e toma um gole enorme.

MULDER: - Certo. E o que você percebeu? Conta tudo para o papai. Ele é tipo um fantasma?

VICTORIA: - Nah. Ele é vivo.

MULDER: - Muito bem. Ele é vivo.

DEAN: - Então não é ceifeiro! Ceifeiros são espíritos!

SAM: - Mas o braço dele virou fumaça quando Scully atirou nele!

MULDER: - Demônios são anjos caídos, inteligências superiores.

DEAN: - (DEBOCHADO) Sério, Sherlock? Eu nem suspeitava disso!

MULDER: - Extraterrestres, como eu digo. Uma corja caída nesse planeta. Eles usam de manipulação mental. A mente superior domina a inferior. Eles nos fazem ver o que querem que a gente veja. Filha... Ele é tipo o "Iço"? Um anjo malvado?

Victoria afirma com a cabeça. Dean arregala os olhos.

DEAN: - Será que ele é o anjo da morte?

VICTORIA: - Ele tem cheiro ruim.

MULDER: - Como assim "cheiro ruim"?

VICTORIA: - Ele tem cheiro daquele bichinho verde que a Baba disse que ataca as plantações de algodão.

MULDER: - Que bichinho verde?

SCULLY: -Nezara Viridula. Da família dos percevejos. O popular "percevejo verde, fede-fede ou maria-fedida"...A substância malcheirosa é produzida em uma glândula no abdômen do inseto e depois expelida por um canal que fica próximo ao orifício anal.

Dean faz cara de nojo.

DEAN: -Dra. Scully, você tá me dizendo que o percevejo verde solta "pum" pra se defender?

Victoria cai na gargalhada. Sam começa a rir com ela. Scully termina o curativo de Sam, segurando o riso.

SCULLY: - Não é "pum". É uma glândula perto do orifício anal, não no ânus propriamente dito.

MULDER: -Viu? É perto! Poderia ser pior do que um simples "pum".

DEAN: - (INCRÉDULO)Pior do que um "pum"?

MULDER: - Sabe o dito, depois do "pum" vem o... "pom".

Dean leva a mão na boca, quase se matando de rir. Mulder começa a rir. Os dois riem alto, olhando um pro outro. Sam olha pra Scully.

SAM: - Qual a graça?

SCULLY: - Não faço a mínima ideia.

Agora é Victoria quem começa a rir da cara séria de Sam e Scully.

Dean se recupera. Mulder respira fundo.

DEAN: -Ok, ok... Então esse ceifeiro demoníaco fede a pum de percevejo verde? Não devia feder a enxofre?

MULDER: -Acho que analisando pelo aspecto fedido da coisa toda, não tem muita diferença de perfumaria.

Mulder pega a garrafa de Dean e toma um longo gole.

DEAN: - Calma aí, parceiro! Preciso de você!

MULDER: - Estou pensando se essa coisa não é apenas um anjo caído, disfarçado de ceifeiro. Um demônio, como vocês chamam. Aposto que vive nessa curva causando acidentes por diversão. Talvez até haja um ceifeiro de estradas aqui, mas não é ele.

SAM: - Por isso as almas que morreram e continuam ali o ajudam a perturbar os vivos, como Victoria disse... Sim, porque ceifeiros não precisam do apoio de almas, eles não tem interesse em céu ou inferno, em bem ou mal.

DEAN: - E essa coisa tem interesse no mal. E tem interesse em você e Victoria, porque já deixou isso bem claro.

Scully se aproxima de Victoria, que se levanta. Scully senta-se e coloca a filha no colo. Victoria se abraça nela. Scully a envolve nos braços, feito um bebê.

SCULLY: - Eu não sei o que ele é, mas não vai levar a minha filha! E de novo isso acontecendo! Será que nunca nos deixarão em paz, nem homens e nem demônios?

Dean morde os lábios, preocupado com Scully. Sam veste a camisa. Pega a garrafa de Mulder.

MULDER: - Vem, Dean. Preciso de você.

Mulder começa a empurrar uma prateleira. Dean o ajuda. As mercadorias caem no chão. Eles empurram até embaixo do buraco. Mulder sobe na prateleira. Dean entrega o rifle pra ele.

MULDER: - Você vai lá pra fora. Sam, vá com o seu irmão. Se ele descer, descarrega sal nesse bastardo.

Dean pega o rifle e sai pra fora. Mulder sobe no telhado. Scully apreensiva, pega a arma e segura, enquanto embala a filha.

SAM: - Não acha melhor se trancar no escritório? Não tem janelas ali.

Scully se levanta com Victoria. Pega Bryan e vai para o escritório levando os filhos. Sam pega a espingarda e sai pra fora.


10:39 P.M.

Dean anda pela lateral do restaurante, apontando a espingarda para o telhado. Sam também.

DEAN: - Vê alguma coisa?

SAM: - Nada.

Um assovio.

Dean e Sam voltam pra frente do restaurante. Mulder em cima do telhado.

MULDER: - Desceu?

DEAN: - Não! Quer que Sam suba aí?

MULDER: - Essa coisa não ficaria aqui quieta. Ele já teria tentado algo contra mim. Sinal de que não está aqui em cima.

Sam vai pra dentro.

DEAN: - E essa coisa pode voar?

MULDER: - E como é que eu vou saber?

DEAN: - Sei lá, você já viu tanta coisa estranha também. De repente viu um capeta voador!

MULDER: - Não conheço relatos nos Arquivos X de capetas voadores.

Sam surge no telhado atrás de Mulder.

SAM: - Não tá aqui.

Mulder toma um susto que quase cai do telhado.

MULDER: - (PÂNICO) Da onde você surgiu?

SAM: - Acho melhor a gente descer. Scully está sozinha com as crianças e...

Repentinamente Sam cai e começa a ser arrastado pelo telhado por algo invisível. Dean grita. Mulder se atira no telhado, segurando Sam pelos tornozelos, sem conseguir ver ninguém.

Nós vemos o Ceifeiro olhando pra Mulder, enquanto segura Sam pelo pulso e leva a foice até a nuca de Mulder.

Dean surge, metendo a cabeça pelo buraco, pra fora do telhado e tenta imaginar uma pontaria.

DEAN: - (NERVOSO/ AOS GRITOS) Aonde ele tá?

SAM: - (DESESPERADO/ AOS GRITOS) Em pé na minha frente!!! Ele vai matar o Mulder!!!

Mulder arregala os olhos em pânico. Dean atira com a espingarda.

Um grunhido alto e estridente ecoa pelo vale ao mesmo tempo que o ceifeiro se desfaz numa fumaça negra, se dissipando aos poucos no ar, diante dos olhos assustados dos três.


10:39 P.M.

Sentado no banco, Sam trêmulo, leva o uísque à boca. Dean sentado, olhar perdido no nada. Mulder sai do escritório.

MULDER: -Temos que sair daqui e procurar ajuda. Eu não sei mais o que pensar sobre a natureza dessa criatura. Nunca vi um demônio se dissipar assim no ar.

DEAN: - Nós já vimos. Acontece. Pode ser ilusão de ótica, como você sugeriu... O que sei é que se ficarmos aqui, continuaremos encurralados.

SAM: - É, mas o espaço é limitado pra ele também. Se saíssemos daqui, ele nos caçaria de qualquer maneira num espaço aberto, o que dificultaria mais ainda pra gente escapar dele. Assim temos como manter a atenção...

DEAN: - E o seu ombro?

SAM: - Tá doendo, né Dean?

MULDER: - Precisamos de um plano. Uma armadilha.

DEAN: - É, temos duas iscas que ele quer, sua filha e meu irmão.

SAM: - Nem vem, não vou servir de isca e Victoria menos ainda!

DEAN: - A gente tá ferrado! Essa coisa não vai desistir. Acredito que é capaz de nos seguir! Eu ainda acho que é um ceifeiro possuído. Não pode ser apenas um demônio!

MULDER: - Ok, então me faz entender por que um demônio precisaria de um ceifeiro? Pela minha experiência, demônios mostram a cara mais cedo ou mais tarde. Se soubéssemos o nome do desgraçado para expulsá-lo...

DEAN: - Você é exorcista? Não. Esse demônio está usando um ceifeiro para nos enganar. Lutaríamos contra um ceifeiro e perderíamos porque há um demônio com ele. Sem dúvida temos um demônio aqui, porque o alvo dele é Sam e Victoria. Mas acho também que temos um ceifeiro porque sua mulher viu meu irmão e sua filha em preto e branco!

SAM: - Ele saltou em cima de mim. É ágil como um demônio.

Mulder fica pensativo. Leva a mão ao bolso e começa a comer sementes de girassol. Dean olha pra ele.

DEAN: - Isso é bom?

Mulder entrega algumas pra Dean, que leva à boca e cospe fora.

DEAN: - Isso é comida de passarinho!

Sam pega uma e prova.

SAM: - Isso é bom, tem vitamina E... Faz bem pra pele...

DEAN: - Fresco...

MULDER: - Ok. Acho que você tem razão na sua teoria. Então me diz como vamos nos livrar disso. Precisamos primeiro exorcizar um ceifeiro e depois pegar o demônio e ele sozinhos?

DEAN: - Do jeito que você fala, acabo de me sentir outro maluco!

SAM: - Dean... Sabe o cadeado contra demônios?

DEAN: - O que tem?

SAM: - A gente podia tentar.

MULDER: - O que é isso?

SAM: - É um símbolo composto com um pentagrama e o nome de Miguel. Demônios não o rompem. Eu posso desenhar um no chão e ficamos dentro dele.

DEAN: - Sim e envelhecemos todos aqui, sentados dentro de um pentagrama pelo resto da vida, porque isso vai apenas afastar e não acabar com ele!

SAM: - Tem uma ideia melhor, Dean? Porque essa é a única que me ocorreu! Se eu tivesse acesso a internet ou telefone, com certeza já teríamos uma resposta! Olha, ele quer a mim e não a você. Quem sabe você vai embora? Ahn?

DEAN: - E perder a festa? Nem pensar!

SAM: - Você me irrita, Dean! Se eu não penso na solução, você nem mexe o traseiro! Só que sair atirando e reclamando!!!

Sam se levanta. Dean peita Sam, os dois se encaram e começam a discutir. Mulder suspira, levando uma semente à boca.

MULDER: - Pensei que só minha parceira e eu tínhamos desentendimentos...

DEAN: - Se não fosse por mim você nem estaria vivo, seu idiota!

SAM: - Ah, e por que não me deixou morrer quando podia? Ahn? Idiota é você, Dean!

DEAN: - Eu até posso ser idiota, mas não sou fresco!

Scully sai do escritório.

SCULLY: - O que aconteceu?

MULDER: - A sua versão alta e de calças está reclamando que a minha versão comedora de pudim só sabe reclamar e atirar.

SCULLY: - Pois a minha versão tem razão!

MULDER: - Sua versão e você nunca tem razão, Scully.

Sam discute com Dean e Scully com Mulder, ao mesmo tempo. Os diálogos se cruzam e se completam.

SCULLY: - Você se acha, não é Fox Mulder? Se não fosse por mim você...

SAM: - Já estaria morto! Agradeça a mim por livrar você das encrencas em que se mete!

DEAN: - Eu me meto em encrencas? Mas não sou eu quem fica...

MULDER: - Fazendo beicinho e reclamando das coisas o tempo inteiro, feito uma...

DEAN: - Mula! Uma mula teimosa, dona da razão!

SAM: - Eu não sou uma mula teimosa! Você que é um...

SCULLY: - Arrogante, acha que pode sair por aí encarando qualquer coisa desconhecida sem pensar na sua família e...

SAM: - Atirando pra todo o lado! Sim é só o que você sabe fazer! Além de...

SCULLY: - Me irritar! Me deixar louca!

MULDER: - Você fica louca porque tá sempre de dieta, comida saudável...

SAM: - E vive reclamando das minhas saladas enquanto se entope de porcaria em cada restaurante na estrada!

DEAN: - E o que você tem a ver com o que eu como ou deixo de comer? Você é...

MULDER: - Chata e fresca.

DEAN: - Chato e fresco!

SAM: - É, mas agradeça ao chato e fresco aqui, Dean, porque você não dá um passo...

SCULLY: - Sem mim! Nada, Mulder. Você não faz nada sem mim!

Os quatro param de discutir. Sam começa a procurar algo nas prateleiras.

SAM: - Aqui não vai ter giz...

Mulder pega um giz de cera de Victoria que está sobre a mesa.

MULDER: - Serve isso?


10:39 P.M.

Sam termina de fazer o símbolo no chão, dentro de um círculo.

SAM: - Ok. Agora precisamos ficar dentro dele e estaremos seguros. Ficaremos aqui até que o socorro chegue.

DEAN: - Ele não vai desistir, Sam! Nem com um batalhão do exército aqui dentro! Esse demônio é capaz de deixar o ceifeiro, apenas para que ele pegue a garotinha e você.

MULDER: - É, mas não vamos deixar.

DEAN: - E como vamos impedir?

MULDER: - Você cuida do ceifeiro. Eu cuido do demônio.

Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Mulder, eu não acho que carteiraço vá funcionar dessa vez, porque se essa coisa está aqui é porque Lúcifer enviou!

DEAN: -(RINDO) Quê? Mulder dá carteiraço em demônios? Como funciona? Eles temem o FBI?

MULDER: - (DEBOCHADO) Fica quieto, você não sabe de nada! E foi um golpe de sorte...

Scully olha para o desenho, num suspiro desconsolado.

SCULLY: - Você me garante que...

SAM: - Garanto, Scully. Deixe suas dúvidas e concepções científicas de lado, porque isso funciona.

SCULLY: - Vou pegar as crianças...

[Som: Silverchair - Freak]

Sam vai dar um passo para dentro do símbolo, mas voa de costas contra o balcão de pedidos. Dean arregala os olhos e corre em direção ao irmão, mas o corpo de Sam é arremessado contra o teto e fica preso. Dean olha pra cima, medo nos olhos. Traumatizado com o passado, ele não consegue reagir. Mulder pega a espingarda.

MULDER: - Onde ele está??? Eu não vejo o desgraçado!!!

SAM: - Eu não consigo me mexer, estou paralisado!!!Me esqueçam e salvem Victoria!!!!

Scully corre para o escritório. Sam começa a ser arrastado pelo teto, por uma força invisível.

SAM: - (MEDO/ GRITA)Dean!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Dean tenta segurá-lo, dando pulos no ar, mas não alcança o irmão.

DEAN: - (NERVOSO/ AOS GRITOS) Que merda tá acontecendo???

SAM: - (DESESPERADO/ AOS GRITOS) Salvem a menina!!! Ele deixou o ceifeiro!!! O demônio está comigo, mas o ceifeiro está indo até ela!!!!

Mulder corre. A porta do escritório se fecha. Mulder tenta abrir, mas não consegue. O desespero toma conta dele. Mulder olha pra Dean que também está desesperado.

Dean tenta pular para segurar o irmão que está no teto, sendo arrastado em direção ao buraco, dividido entre salvar Sam ou ajudar Mulder. Mulder também não sabe se ajuda Dean ou se arromba a porta pra salvar a filha.

DEAN: - Sammyeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!

MULDER: - Scullyeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

DEAN: -(GRITA/ DESESPERADO) Salva a sua família que eu salvo a minha!!!!!!!!!!!!!!!!

Mulder começa a chutar a porta. A porta não abre.

Dean toma impulso e pula agarrando Sam pela camisa. Segura o irmão, ficando pendurado na roupa dele. Dean olha para baixo, seus pés distantes do chão.

Corta para o escritório:

[Som: Silverchair - Freak]

Scully tenta abrir a porta. Não consegue.

SCULLY: - (DESESPERO) Mulder!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Bryan sentado na cadeirinha começa a chorar. Victoria olha para o lado e vê o ceifeiro parado. Ela assustada, recua. Scully desesperada força a maçaneta, puxando, sem sucesso.

SCULLY: - (AOS GRITOS) Mulder!!!!!!!!!!!!!!

MULDER: - Scully, se afasta da porta!!!!!!!!!!!!! Eu vou atirar na maçaneta!!!!!!!

Scully recua de costas. Victoria arregala os olhos, prevendo alguma coisa.

VICTORIA: -(GRITA) Mamãe, não!!!!!!!!!!!!!!!!

Scully tropeça no carpete rasgado e cai de joelhos na frente da porta. Sua cabeça fica na linha da maçaneta. Mulder atira.

Corta para Dean:


[Som: Silverchair - Freak]

As mãos de Dean começam a escorregar do tecido da camisa de Sam.

SAM: -(GRITA) Me solta ou ele vai levar você junto, Dean!!!

DEAN: -(GRITA) Então vamos juntos, irmão!!! Eu não soltarei você!!!

O corpo de Sam chega ao buraco no teto e agora vira-se na vertical. Dean lança um olhar de incredulidade.

DEAN: - (PÂNICO) Ferrou!!!!!!!!!!!

Dean escorrega e se agarra na perna de Sam, que já está com a metade do corpo pra fora do buraco. A calça de Sam começa a descer.

DEAN: -(DESESPERADO) Me diz que tá usando cinto ou a coisa vai ficar feia!!!!!!!!

SAM: - (DESESPERADO) Não tô!!!

DEAN: -(DESESPERADO) Eu disse que saladas iam matar você, seu magrela idiota!!!! Pelo menos está usando cuecas?

SAM: - (DESESPERADO) É claro que sim!!!

DEAN: - Ainda bem que não vou ter uma visão do inferno se olhar pra cima!!!

As calças de Sam vão caindo e Dean escorregando com elas. Dean se agarra nos tornozelos de Sam.

Corta para o escritório:


Mulder chuta a porta. Scully em prantos, ajoelhada e com a mão no pescoço de Victoria. O sangue da filha verte por entre os dedos dela. Victoria com os olhos parados. Mulder leva as mãos na cabeça e começa a chorar.

MULDER: - Eu matei a minha filha!!!

Mulder entra em desespero e total desatino. Cai de joelhos ao chão. Scully, chorando, tira o casaco e coloca no pescoço de Victoria, tentando apertar o sangramento, olhando pra Mulder em aflição e aos prantos. Mulder, culpado, olha pra ela esperando algum alento. Scully sinaliza que não com a cabeça. Mulder cai sentado, olhando aos prantos pra filha.

MULDER: - (CHORANDO) Por quê? (GRITA DE DOR) Deus por quê!!!!!!!!!!!!! Você prometeu!!!! Onde estão seus anjos que deviam proteger a minha filha????

Scully leva a mão à testa de Victoria, afastando os cabelos da filha, com carinho, derrubando lágrimas, tentando ser forte. Victoria dá uma tossida, expelindo sangue. Mulder se deita perto da filha, limpando o sangue que escorre dos lábios dela.

MULDER: - (CHORANDO) Não, minha Pinguinho... Não... Pedaço de mim...

SCULLY: - (CHORANDO) Docinho, olha pra mamãe, hum?

Victoria, assustada, vira os olhos pra mãe. Começa a respirar com dificuldades.

SCULLY: -(CHORANDO) Mamãe quer que você faça uma coisa pra ela. Tá bom, meu amor? Você é a menininha obediente da mamãe, vai fazer tá? Eu quero que feche os olhos e não olhe pra ele.

Mulder entra em mais desespero ainda, olhando pra Scully e entendendo o que ela vai fazer. Scully olha pra ele com ternura, num sorriso. Depois olha para a filha, num sorriso entre lágrimas.

SCULLY: -Não olha pra morte, meu amor. Tá bom? Feche seus olhinhos. Mamãe tá aqui com você.Eu amo você, minha vida. (CANTANDO) You are my sunshine, my only sunshine...

Victoria fecha os olhos.

MULDER: - (CANTANDO/ ALTERNANDO O OLHAR ENTRE SCULLY E VICTORIA) You make me happy when skies are gray...

SCULLY: - (CANTANDO EM LÁGRIMAS/ SORRINDO COM AMOR PRA FILHA) You'll never know dear, how much I love you...

MULDER: - (CANTANDO EM LÁGRIMAS) Please don't take my sunshine away...

Mulder chora de dor. Leva uma das mãos até Scully e outra na filha. Recosta a testa na testa de Scully.

SCULLY: - (MURMURA/ EM LÁGRIMAS) Me perdoa.

MULDER: - (MURMURA/ CHORANDO) Eu amo você.

Mulder beija a testa de Scully e chora mais ainda. Olha para Scully e olha para a filha, impotente, dividido e culpado.

Scully se afasta de Mulder e vira-se para trás.

Scully ergue o rosto e vê o ceifeiro que está parado, observando.

Um buraco de bala vai surgindo no pescoço dela e o sangue começa a jorrar. Scully sorri. Ao mesmo tempo o sangramento em Victoria cessa. Scully fecha os olhos e cai morta no chão.

Corta para Dean:


Sam já com as calças arriadas, só de cuecas. Dean segura Sam pelos tornozelos, olhando pra baixo.

MULDER: - (GRITO DE DOR) Scullyeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Dean olha para o escritório. Depois olha para cima. Enche os olhos de lágrimas, impotente.

SAM: - Vá ajudá-los!!! É nosso dever ajudar os outros!!!

DEAN: - Eu não posso. Se soltar você eu nunca vou me perdoar!!!

SAM: - Eu te perdoo, irmão! Vai salvar a garotinha!!!!

DEAN: - (CHORANDO/ ANGUSTIADO) Eu não posso Sam!!!

As forças de Dean estão acabando. Mas ele não desiste. Solta um dos tornozelos do irmão e abraça-se num tornozelo só. Recosta a testa nos tênis de Sam.

DEAN: - (CHORANDO) Não me deixa, irmãozinho! Você é tudo o que me resta na minha vida desgraçada! Sam, eu te amo!

Victoria sai do escritório. O buraco de bala sumiu do pescoço dela. Victoria fica parada olhando pra Dean desesperado. Vira-se para o escritório e vê Mulder, aos prantos, com Scully morta em seus braços.

Os olhos de Victoria se tornam cor de fogo. Ela se aproxima de Dean, parece hipnotizada. Dean olha pra ela e fica assustado. Victoria olha pra cima. Abre os braços e fecha os olhos.

VICTORIA: - El Elohim Eloho Elohim Sebaoth...

[Som de um estampido seco, como algo quebrando a barreira do som.]

Sam e Dean caem ao chão. Sam consegue se sentar, assustado, puxando as calças com vergonha. Dean arregala os olhos para Victoria.

DEAN: - Menina, o que você fez???

Victoria vira-se de costas e entra no escritório. Mulder embala Scully em seus braços, chorando inconformado, todo sujo de sangue. Victoria se aproxima e senta-se ao lado dele. Mulder envolve um braço na filha. Victoria se inclina e aproxima os lábios do ouvido de Scully, sussurrando alguma coisa.

Scully senta-se, buscando ar nos pulmões. Olhos azuis arregalados. Mulder olha assustado pra Victoria e depois pra Scully. Victoria se abraça na mãe. Scully a abraça com força, chorando, beijando a filha nos cabelos e a mantendo contra seu peito. Victoria chora abraçada nela. Mulder abraça as duas, também chorando.

Bryan continua mordendo o brinquedo alheio a tudo.


10:40 P.M.

Dean e Sam sentados no banco, calados e ainda em estado de choque.

Mulder e Scully abraçados, sentados de frente pra eles, também calados e em choque.

Victoria comendo um pacote de jujubas, parada na porta e olhando pra fora. Então empurra a porta e sai, caminhando até o estacionamento. Olha para o céu agora estrelado. A lua iluminada.

GABRIEL: - Oi, jujubinha.

Victoria olha para o carro de Mulder. Gabriel sentado sobre o carro, balança as pernas. Victoria sorri.

GABRIEL: -Seu pai ainda está culpando o Criador pela desgraça causada pelos desasados?

VICTORIA: - Um dia ele vai entender. Eu sei que você não fala muita coisa, mas por que Lúcifer fez isso?

Gabriel desce do carro. Pega Victoria e a coloca sentada em cima do carro.

GABRIEL: - Tem verdes aí? São minhas favoritas.

VICTORIA: - Tem... Espera, vou catar pra você.

Victoria vai catando as jujubas verdes e entregando pra Gabriel.

GABRIEL: - (BOCA CHEIA) Não foi Lúcifer. Mas agora vai ser problema dele. O bonitão vai cuspir fogo quando souber. Literalmente vai virar o dragão do Apocalipse. E juro, eu vou rir muito imaginando a cara dele.

VICTORIA: -Quem foi então?

GABRIEL: - Um fedido a pum de percevejo usando um espírito bem ruim pra isso.

Gabriel faz cara de nojo e afasta o ar do nariz com a mão. Victoria solta uma risada.

GABRIEL: - Imagina um muro no quintal. De um lado nós moramos com Deus. Do outro lado mora Lúcifer com os desasados dele. E em cima do muro mora o time desse fedido a pum, também um time de desasados, só que eles pensam que podem pular de volta para o nosso quintal se sacanearem o quintal de Lúcifer. Entendeu?

VICTORIA: - Entendi. Aqueles da segunda queda?

GABRIEL: - Esses mesmos... Serafim, nunca o mal vai vencer o bem. Porque o bem usa até o mal para consertar as coisas erradas. Entende?

VICTORIA: - (TRISTE) É, eu entendo. Mas agora, a mamãe ficou mortal como todo mundo. A maldição foi embora. Eu não quero que os meus pais morram, Gabriel. Eu sei que um dia eles vão ficar velhinhos e vão partir, mas eu choro quando penso nisso.

GABRIEL: -Isso aborrece você? Mesmo se eu disser que apenas o corpo morre, a alma é eterna?

VICTORIA: - Sim, porque um dia eu vou ficar sem eles.

GABRIEL: - Isso não é egoísmo? Um dia você vai crescer e vai sair de casa e deixá-los também.

VICTORIA: - Nah! É diferente. Eu vou estar longe deles, mas se eles morrerem...

GABRIEL: - Também vão estar longe de você. Num lugar melhor que esse.

Victoria abaixa a cabeça, triste.

VICTORIA: - Mesmo assim, vão estar muito mais longe do que eu estaria saindo de casa. E eu não vou poder vê-los por um longo, longo tempo. Vou sentir saudades. E tenho medo de que eles sofram muito na morte.

GABRIEL: - Existe outra maneira de ascender aos "céus" sem passar pelo sofrimento da morte. Alguns já conseguiram.

Victoria olha pra ele.

GABRIEL: - É o que posso dizer ao seu coraçãozinho triste. Hum? Captou?

VICTORIA: - (SORRI) Captei! ... Eu ia morrer mesmo?

GABRIEL: - Não posso dizer. Ainda.

VICTORIA: - Tá bom.

GABRIEL: - Você é a minha garotinha. Obediente como sempre. Gostei que tenha nos chamado.

VICTORIA: - Eu não vi outra saída. Como você disse, é pra chamar quando a coisa fica feia. E a coisa ficou muito, mas muito feia!

GABRIEL: - Imagino. Esses desasados só aprontam confusão... Tá vendo a lua lá em cima? Quando se sentir em perigo, nos chame. Estamos bem perto para ouvir.

VICTORIA: - Acabaram as jujubas verdes. Quer que eu pegue outro pacote?

GABRIEL: - Não. Eu quero que você continue obedecendo seus pais, aprendendo tudo o que puder e um dia eu poderei contar coisas pra você, que agora, ainda não posso.

VICTORIA: - Sou criança demais pra entender, né?

GABRIEL: - Não. É cedo demais para dizer. Não me decepcione. Não sabe quantos de nós tem em você uma esperança de paz.

Gabriel desce ela do carro. Agacha-se na frente dela. Leva o indicador aos lábios de Victoria.

GABRIEL: - O que você e eu conversamos sãosegredos. Não esqueça. Lei da não interferência.

VICTORIA: - Tá. Tipo Star Trek.

GABRIEL: - (SORRI) Tipo Star Trek, senhorita "Spooky".

Gabriel se levanta e recua de costas, acenando pra ela. Um facho de luz desce do céu e ele some com a luz. Victoria olha pra cima. Suspira.

VICTORIA: -Eu queria tanto andar numa nave dessas!!!


6:31 A.M.

Mulder termina de escrever um bilhete no balcão do caixa. Anexa seu cartão de visitas e coloca ao lado da registradora.

VICTORIA: - O que você tá fazendo, papai?

MULDER: - Deixando um pedido de desculpas e o meu telefone para o dono da lanchonete cobrar pelos estragos e o que a gente consumiu.

Scully segura Bryan no colo. Sam sorri pra Scully. Dean olha pra Mulder.

DEAN: - A única coisa que me preocupa é que o meu carro vai ficar aqui até eles abrirem a estrada.

SAM: - O que significa que você vai nos aturar por alguns dias, Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sabia que a desgraça não tinha acabado! Eu vou ter que aturar os irmãos Winchester mais ainda? Agora eu termino de pagar os meus pecados todos!

DEAN: - (DEBOCHADO) E eu os meus, aturando Fox Mulder! Que além de Mulder é Fox!

MULDER: - Até agora vocês dois não disseram porque estavam atrás de mim.

SAM: - O que queríamos de você e Scully eram respostas. Mas depois dessa noite, acho que assim como Dean e eu, vocês também não as têm.

MULDER: - E quem de nós tem as respostas?

Victoria abaixa a cabeça, segurando o riso.

[Som de helicóptero]

MULDER: - Finalmente, a cavalaria!!!

DEAN: - E como sempre, atrasada.

Scully corre pra fora. Dean e Sam vão atrás dela. Mulder suspira. Olha pra Victoria.

MULDER: - ... Eu pedi desculpas a Deus pelas besteiras que eu disse.

VICTORIA: - Isso é bom, papai. Ele sempre cumpre as promessas Dele. Todas.

MULDER: - Eu quero acreditar, Pinguinho. Em muitas coisas. Nele também.

VICTORIA: - Ele sempre cumpre Suas promessas. Todas. Até as que já deixou escritas. Mas logo você vai entender.

Victoria sorri e sai pra fora. Mulder olha para seu bilhete. Então percebe o cardápio ao lado do telefone. Pega o cardápio e lê. Arregala os olhos.

Corta para o estacionamento:


O helicóptero pousa no estacionamento. Paramédicos e resgate descem. A médica morena, linda e de traços asiáticos se aproxima rapidamente. Dean abre um sorriso bobo.

MÉDICA: - Estão todos bem? E o bebê?

SCULLY: - Sim. Estamos. Todos estão bem.

MÉDICA: - O que aconteceu aqui?

SAM: - Nem queira saber!

Dean analisa a médica de cima a baixo, interessado.

DEAN: - Eu não tô bem não, acho até que vou desmaiar. Preciso de uma médica. Temos uma aqui, mas ela já tem o paciente dela.

Sam abaixa a cabeça, segurando o riso. Scully vira o rosto pra rir.

MÉDICA: - Vamos levar vocês até desbloquearem as estradas. Tem um hotel aguardando por vocês, mas antes precisam ir para o hospital para um checape. E a polícia rodoviária quer o depoimento de vocês.

DEAN: - Tô muito mal... Acho até que vou desmaiar.

A médica envolve o braço nele.

MÉDICA: - Vem, vou te ajudar a ir até o helicóptero. Você consegue?

DEAN: - (MANHOSO/ FINGINDO DOR) Ai... Se me ajudar, eu acho que consigo... Ai...

Dean sai abraçado na médica e vira o rosto, piscando pra Sam.

SAM: - O Deannão tem jeito... Bom, pelo menos dessa vez ele se deu bem.

Mulder sai do restaurante. Então vira-se de frente para a fachada. Olha para o número do prédio. Victoria olha para Mulder e sorri.

MULDER: - (ASSUSTADO) Eu não acredito!

Scully e Sam se aproximam de Mulder.

SAM: - O que foi Mulder?

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Não era a lanchonete o lugar seguro.

SCULLY: - Como assim? Essa lanchonete nos salvou!

MULDER: - Vi o nome dela no cardápio.

SCULLY: - Mulder, você tá me assustando.

SAM: - Afinal de contas, qual o nome dessa lanchonete? Ela nos salvou mesmo.

MULDER: - Não foi a lanchonete. Foi a promessa. Salmos. O nome da lanchonete é Salmos. Agora olhem o número.

Sam e Scully arregalam os olhos.

MULDER: - 917... Salmos 91-7.

SCULLY: - (ESPANTADA) "Mil cairão ao teu lado, dez mil à tua direita"...

SAM: - (ESPANTADO) "Mas tu não serás atingido"...

Mulder olha incrédulo para Victoria.

VICTORIA: - Eu disse. Ele nunca quebra as promessas Dele.

Victoria dá as costas e corre para o helicóptero.



X



Orion Publishing & Entertainment Associates - Los Angeles - 10:13 A.M.

The Gold Coin brinca com a moeda de ouro na mão, observando a rua pela janela do escritório.

THE GOLD COIN: -Eu não sei o que me deixa mais irritado, se a desobediência a um superior ou a tolice de pensar que não haverá retaliação lá de cima! Quem foi o insubordinado desgraçado que cometeu essa insensatez sem a minha ordem?

Leviathan atirado numa poltrona, mascando chicletes.

LEVIATHAN: - Nenhum dos nossos, Lúcifer. Foi alguém de Samyaza.

Coin revira os olhos e cai sentado na poltrona. Apoia o cotovelo no encosto e leva a mão à testa.

THE GOLD COIN: -Como eles sabem da menina? Estão invadindo o nosso território?

LEVIATHAN: - Não precisam.As fofocas correm e atravessam o planeta.

Coin morde o polegar, fica pensativo.

LEVIATHAN: - É briga? Ando louco pra depenar uns parentes.

THE GOLD COIN: -Não. Vamos usar isso a nosso favor. Mande um recado para Samyaza. Diga que tenho algo pra ele.

LEVIATHAN: -Ele não virá, tem medinho de você. Vai mandar Azazel.

THE GOLD COIN: -Eu sei. Essa é a intenção. Vou voltar pra Washington. A aberração está crescendo e quero descobrir que droga aquela menina é. E nem precisamos nos expor a perigos desnecessários. Basta ter paciência, observar e deixar que o tempo nos revele. E dependendo da resposta, vamos eliminar o problema.



📷
24. August 2020 14:12 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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